30 Set 2025, Ter

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Neste relato vibrante, datado de 24 de fevereiro de 1865, Dom Bosco fala aos seus alunos sobre perigos espirituais e remédios concretos. Nestas linhas, o autor narra a estadia na casa do bispo de Cuneo e, sobretudo, o pesadelo em que vê criaturas monstruosas invadirem o Oratório, símbolo das insídias diabólicas que ameaçam os jovens. A brusca passagem da recreação alegre para o silêncio angustiante torna-se pretexto para indicar duas armas decisivas: a Comunhão bem feita e a visita frequente ao Santíssimo Sacramento. A introdução prepara, portanto, o leitor para um texto que entrelaça anedota, afeto educativo e catequese, convidando a captar a urgência espiritual e as escolhas concretas do dia a dia.

De fato, fui a Cuneo e nesses dias fiquei com o Bispo, que me tratou magnificamente; e na primeira noite, depois de ter comido bem e bebido ainda melhor (risos), chegou a hora de dormir. É gostosa uma boa cama depois do jantar, não é verdade? Pedi permissão ao Bispo para ficar um pouco mais na cama, na manhã do dia seguinte. O Bispo acrescentou:
– Sim, sim. Quero que não se levante antes das oito e meia.
– Oh, repliquei eu, ficarei somente até as seis e meia. Tenho de sobra para descansar.
– Não quero que se levante nessa hora, levantar-se-á às oito.
Por fim ficou decidido que poderia levantar-me às sete. Fui dormir. Eram 11h. Em seguida peguei no sono. Mas o que vocês querem? Comecei a sonhar, como habitualmente me acontece e, assim como a língua bate onde o dente dói, sonhei que estava no Oratório no meio de meus caros filhos.
Parecia-me estar em meu quarto sentado à mesa, enquanto os jovens estavam no recreio no pátio. O recreio estava animadíssimo, aliás, barulhento, diria. Gritavam, berravam, pulavam; parecia o fim do mundo. Eu estava contentíssimo, pois muito me agrada ver os jovens no recreio, e quando os vejo todos ocupados nos jogos, estou certo de que o demônio tem muito a fazer, mas nada consegue. Enquanto eu me satisfazia com a gritaria dos jovens, improvisamente acontece um silêncio mortal e não sei o motivo. Levanto-me espantado da escrivaninha para ver a causa desse silêncio repentino. Mal cheguei à antecâmara, vejo entrar pela porta um monstro horrivelmente feio. Andava com o rosto para baixo e   os olhos fixos no chão. Parecia não ter se apercebido da minha presença, mas caminhava sempre reto em posição de um animal feroz que está sempre em atitude de agredir alguém. Tremi, então, pelos meus caros filhos e, da janela, girei os olhos pelo pátio para ver o que tinha acontecido.
Vi o pátio cheio de monstros parecidos com o primeiro, mas menores. Meus jovens tinham sido empurrados ao longo e rente aos muros, e sob os pórticos. Muitos deles estavam estendidos aqui e ali no chão e pareciam mortos.
Com este espetáculo soltei, de susto, um grito tal que acordei. Àquele grito acordaram os caseiros do Bispo, acordou o Vigário, acordou o próprio Bispo, todos espantados por aquele grito. Meus caros jovens, aos sonhos não se deve dar fé. Mas quando sua explicação é moral, pode-se fazer alguma reflexão a respeito. De todas as coisas eu sempre quis procurar a explicação: por isso, procuro-a também deste sonho. Aquele monstro parece que queira significar o demônio, que continuamente se movimenta para nossa ruína. Dentre os jovens, há os que caem, e há os que fogem. Querem que eu lhes ensine a não ter medo dele e a resistir a seus assaltos? Escutem! Não há coisa mais temida pelo demônio do que estas duas práticas:
1º A Comunhão bem-feita.
2º As visitas ao Santíssimo Sacramento.
Querem que o Senhor lhes conceda muitas graças? Visitem-no frequentemente. Querem que lhes conceda poucas? Visitem-no raramente. Querem que o demônio os assalte? Visitem raramente Jesus no Sacramento. Querem que o demônio fuja de vocês? Visitem Jesus frequentemente. Querem vencer o demônio? Refugiem-se frequentemente aos pés de Jesus. Querem ser vencidos? Deixem de visitar Jesus. Meus caros! A visita ao Sacramento é um meio muito necessário para vencer o demônio. Vão, pois, visitar frequentemente Jesus e o demônio nunca vencerá vocês.
Amanhã os clérigos estarão em exames, por isso eu os exorto a ter coragem. Eu, como costumo fazer sempre, rezarei a S. Missa de amanhã nesta intenção, e espero que as coisas corram bem.

(MB VIII, 48-49 / MB PT VIII, 78-79)