3 Nov 2025, Seg

Entrevista com o Conselheiro para a Comunicação, P. Fidel ORENDAIN

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A comunicação, hoje mais do que nunca, é um terreno decisivo para a educação e a evangelização. Por isso, conhecer quem a coordena na Congregação salesiana significa também compreender o caminho que os Salesianos pretendem seguir ao lado dos jovens e da Igreja. Encontramo-nos com o novo Conselheiro para a Comunicação, dom Fidel Orendain, salesiano filipino, para nos contar brevemente sua história, sua vocação, os desafios da missão educativa e sua visão sobre o mundo digital.

Poderia se apresentar?
Sou o P. Fidel Orendain, Salesiano de Dom Bosco. Nasci nas Filipinas em 24 de abril de 1965. Professei como salesiano em 1º de abril de 1985 e fui ordenado em 8 de dezembro de 1993. Minha formação é em educação e comunicação, e ocupei diversos cargos — como professor, conselheiro, pregador, comunicador, planejador estratégico e, mais recentemente, em liderança. Mas mais do que as posições, o que me definiu foi um simples amor pelo aprendizado, pelo ensino e por estar com os jovens. Sempre fui curioso, alguém que gostava de organizar, mexer, construir e consertar coisas – e descobri que esse mesmo espírito também ajuda a construir vidas e a guiar comunidades. Um lema pessoal que me guia é “a disposição de estar sempre maravilhado” – nunca perder a abertura infantil para aprender, se maravilhar e descobrir a presença de Deus na vida cotidiana.

O que sonhava quando era criança?
Na verdade, queria fazer muitas coisas quando criança — ser cientista, astronauta, construtor, até professor. No fundo, queria entender como as coisas funcionavam e ajudar as pessoas. Amava ler e imaginar mundos diferentes, mas também era o tipo de criança que dizia o que pensava, gostava de consertar coisas e se divertia inventando ou reparando o que estava quebrado. Pensando bem, essas características simples ficaram comigo e moldaram meu caminho.

Poderia nos contar como descobriu sua vocação salesiana?
Meus irmãos entraram no seminário no ensino médio. Eu ouvia suas histórias quando voltavam para casa nas férias. Fiquei curioso, então entrei também. Os salesianos que conheci me inspiraram pela sua dedicação e cordialidade. Gostava de ouvir as histórias dos missionários, especialmente de um padre italiano, P. Pedro Garbero, que foi missionário na China.

Como sua família reagiu?
Minha família me apoiou, embora tivesse preocupações naturais. Acho que sabiam que eu era um pouco travesso e hiperativo e que talvez não me adaptasse à disciplina e rigidez do seminário. Mas quando viram que minha escolha de ser salesiano me dava alegria, me deram sua bênção.

Lembra-se de algum educador em particular?
Sim, vários. Lembro de um salesiano que sempre sorria, mesmo quando estava cansado. Um padre polonês, P. Félix Glowicki – sua gentileza e constância me marcaram profundamente. Ele me ensinou que a educação não é sobre grandes gestos, mas sobre fidelidade e presença diária. Os padres e irmãos salesianos durante meus anos no ensino médio e na universidade também foram muito inspiradores.

Houve algum momento de crise ou dúvida ao longo do caminho?
Claro. Toda vocação passa por momentos de escuridão. Para mim, a maior luta foi equilibrar a liberdade pessoal com a obediência. Em certo momento, depois de ser duramente repreendido por um formador, pensei em encontrar outro lugar, ir para outro lado. Mais tarde, nesses momentos de meia-idade, fiquei de certa forma excessivamente sensível e egoísta. Fico feliz por ter tido pessoas que me disseram que essa fase era uma transição que me convidava a “ir mais fundo”.

Qual é a sua experiência mais bonita?
Minhas melhores experiências sempre foram com os jovens. No começo, descobri a alegria de estar com eles – seja no esporte, no teatro ou simplesmente nas conversas do dia a dia. Esses momentos de risadas, brincadeiras e criatividade me mostraram o que significa compartilhar a vida e a fé juntos. Mais tarde, comecei a apreciar a riqueza mais profunda da vida comunitária, mesmo com pessoas muito diferentes de mim ou às vezes desafiadoras. Foi aí que aprendi paciência, humildade e o que agora chamo de otimismo radical: evitar reclamar, culpar ou atribuir más intenções, e em vez disso escolher ver o bem e as possibilidades nos outros.

Quais considera os maiores desafios em educar e acompanhar os jovens hoje?
Acredito que o maior desafio seja o enfraquecimento do senso do bem e do mal, e do sagrado. Muitos jovens crescem sem referências claras para a verdade, a bondade ou a santidade. Quando essa bússola interior está obscurecida, é fácil se deixar levar por distrações, tendências e escolhas superficiais. Nossa tarefa é ajudá-los a recuperar essa bússola interior – redescobrir sua dignidade, seus valores e sua vocação – para que possam viver livre e generosamente.

Há experiências particularmente significativas que viveu e gostaria de compartilhar?
Sim, muitas. Lembro de ter interagido com os jovens no esporte e no teatro – ambos muito próximos do meu coração. O esporte nos ensinou trabalho em equipe, disciplina e resiliência; o teatro despertou a criatividade e nos ajudou a entrar nas histórias dos outros. Ao mesmo tempo, procurei incutir neles o amor pelos sacramentos, especialmente a Eucaristia e a Confissão, e uma apreciação genuína pelos sacrifícios que seus pais faziam por eles. Essas lições simples, mas profundas, muitas vezes se tornaram a base do crescimento deles. Mesmo nos momentos comuns – conversas, risadas ou silêncio – senti a fraternidade crescer passo a passo. Anos depois, quando encontro alguns deles como adultos com suas próprias famílias, eles me dizem como essas experiências, tanto lúdicas quanto espirituais, deixaram uma marca duradoura em suas vidas.

Mídias sociais, jogos, inteligência artificial: como se relaciona com esses mundos para se manter próximo dos jovens?
Procuro abordá-los com curiosidade, não com medo. Essas ferramentas podem distrair, sim, mas também podem conectar. Meu papel é guiar os jovens – e, no meu atual cargo, também guiar e informar os salesianos – a usá-las com liberdade e responsabilidade, sempre em harmonia com seus valores mais profundos.

Como vê o diálogo entre fé e cultura digital, especialmente entre as novas gerações?
A fé não deve ter medo do mundo digital. Se vemos a comunicação não apenas como tecnologia, mas como comunhão, então a cultura digital se torna outro espaço para testemunhar e compartilhar o Evangelho. No entanto, como salesianos, também devemos estar conscientes de que o mundo digital pode criar isolamento, fragmentação ou superficialidade. Nossa tarefa é humanizá-lo, torná-lo um lugar de encontro, significado e fraternidade.

Quais são as práticas de oração ou devoções que considera mais significativas em sua vida?
A Eucaristia é central para mim. A missa diária, a adoração e simples momentos de silêncio sustentam minha vocação. Naturalmente, o Rosário e a devoção a Maria permanecem companheiros constantes.

Existe uma oração, uma “boa noite salesiana” ou um hábito que nunca deixa de fazer? Por quê?
Procuro não deixar de fazer meu rosário diário e de dar boa noite a Maria no final do dia. O exame de consciência diário e frequente, ensinado por Francisco de Sales, também me ancora, ajudando-me a viver com simplicidade e gratidão. Agora que a tecnologia está disponível, procuro escrever algumas linhas para os amigos antes do fim do dia para cumprimentá-los e assegurar minhas orações – minha versão digital de uma “boa noite”.

Poderia nos contar uma experiência que marcou particularmente seu ministério?
Uma experiência que me marcou profundamente é meu caminho na comunicação. No começo, pensei que se tratava de gerenciar ferramentas, mídias ou relações públicas. Mas descobri lentamente que, em sua essência, a comunicação é sobre comunhão: ajudar pessoas e comunidades a se conectarem mais profundamente, a crescerem na honestidade e a viverem com transparência. Percebi que o verdadeiro desafio não é a tecnologia, mas os relacionamentos – como ouvimos, como construímos confiança, como criamos espaços em que a verdade e a fraternidade podem florescer. Essa descoberta mudou a forma como abordo a liderança e o ministério.

Quais são os desafios mais relevantes para o futuro?
Permanecer fiéis à nossa identidade. Tecnologia, tendências e novos desafios irão e virão. Mas se permanecermos enraizados no carisma de Dom Bosco – alegria, presença, fraternidade e amor pelos jovens – sempre seremos relevantes.

Tem algum projeto que lhe seja especialmente querido?
Sim: formar uma cultura da comunicação como comunhão em nossa Congregação. Antes de falar ao mundo, nós salesianos precisamos aprender a falar entre nós – construir relacionamentos com honestidade, paciência e fraternidade. Se conseguirmos viver isso, então todo projeto que empreendermos dará frutos.

Editor BSOL

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