10 Dez 2025, Qua

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A figura de Vera Grita, humilde professora lígure e Cooperadora Salesiana, brilha como testemunho de paz no coração do século XX ferido pela crise, pela guerra e pelas contestações sociais. Marcada no corpo por graves doenças e pelas consequências de um bombardeio, Vera aprendeu a viver cada sofrimento como oferta de amor unida a Jesus Eucaristia e à Virgem Maria. Assim, na família, na escola, no hospital e na experiência mística que a levou à Obra dos Tabernáculos Vivos, tornou-se uma presença silenciosa, mas operosa, de reconciliação, de misericórdia e de esperança. Repercorremos o caminho dessa “mulher de paz”, deixando-nos guiar por sua palavra simples e forte e pelo Evangelho vivido no cotidiano.

Uma vida provada
            A vida de Vera Grita se desenrolou no breve espaço de 46 anos marcados por eventos sociais dramáticos como a grande crise econômica de 1929-1930 e a Segunda Guerra Mundial. Nasceu em Roma em 28 de janeiro de 1923, segunda de quatro irmãs. A grande crise econômica de 29-30 causou um colapso financeiro em muitas famílias, inclusive a de Vera, que nessa época se mudou de Roma para Savona. A vida de Vera terminou às vésperas de outro importante evento histórico: as contestações de 1968, que tiveram repercussões profundas nos níveis social, político e religioso, tanto na Itália quanto em muitas outras nações.
Mas foi a Segunda Guerra Mundial, com o bombardeio de Savona em 1944, que causou um dano irreparável que condicionou a saúde de Vera pelo resto da vida. Vera foi, de fato, atropelada e pisoteada pela multidão que, em fuga, buscava abrigo em uma galeria-refúgio localizada perto do Distrito militar onde Vera trabalhava como auxiliar. A medicina chama de síndrome de esmagamento as consequências físicas que ocorrem após bombardeios, terremotos, desabamentos estruturais, devido aos quais um membro ou todo o corpo são esmagados. Pelo esmagamento, Vera sofreu lesões lombares e dorsais que causaram danos irreparáveis à sua saúde, com febres, dores de cabeça, pleurites e favorecendo o surgimento de tuberculose que atingiu vários órgãos internos sem perspectivas de cura. Vera tinha 21 anos quando começou sua “Via Crucis”, que durou até sua morte, alternando o trabalho como professora primária com longas internações hospitalares. Aos 32 anos foi diagnosticada com a doença de Addison, que a consumiu, debilitando ainda mais seu organismo, chegando a pesar apenas 40 quilos. Morreu em Pietra Lígure em 22 de dezembro de 1969, em um setor do Hospital Santa Corona, após 6 meses de internação e submetendo-se a algumas intervenções cirúrgicas.

Vera e a Obra dos Tabernáculos Vivos
            Não foi, portanto, uma vida fácil a de Vera. Carregou em seu corpo, em sua carne, os sinais da guerra, mas seu coração estava voltado e confiava no Deus da Paz, Jesus Cristo, Príncipe da Paz. Sua história, de fato, evidencia como ela atravessou os eventos difíceis de sua vida enfrentando-os com a força da fé na Virgem Maria e em Jesus Cristo realmente presente na Santíssima Eucaristia. De fato, poucos meses após o início de sua experiência mística (setembro de 1967), que a levou a escrever a Obra dos Tabernáculos Vivos, Jesus lhe dizia: “A ti, minha filha, a ti que sofres e gemes sob o peso esmagador da tua fragilidade, a ti a minha força cada vez mais” (1º de janeiro de 1968). Não bastam, de fato, apenas as qualidades humanas, ainda que incomuns, para permanecer ileso das consequências negativas que uma vida marcada pela contínua dor física pode deixar a nível psicológico, moral e espiritual; é necessária a maturação pessoal no Mistério da Cruz, no Mistério da Eucaristia que introduz o crente na dinâmica da doação de si ao Pai em união com Jesus crucificado e ressuscitado para, por sua vez, ser transformado em dom para as necessidades do próximo e da Igreja, animados e movidos pela presença do Deus vivo em nós.

Mulher de paz na escola
            Justamente porque Vera foi uma alma profundamente eucarística e mariana, foi mulher de paz em todas as circunstâncias da sua vida: na família, na escola, no hospital durante suas longas internações, testemunhando assim uma fidelidade heroica a Jesus Cristo e ao seu amor por todas as criaturas. Fidelidade que, ao fim da sua vida, o Senhor recompensou dando-lhe o novo nome: Vera de Jesus. “Eu te dei o meu Nome santo, e doravante te chamarás e serás «Vera de Jesus»” (3 de dezembro de 1968). Não que faltassem em Vera as lutas interiores, as fadigas por causa de sua fragilidade física, os receios de sucumbir e naufragar sob o peso de seu sofrimento e dos limites que este lhe impunha, mas de tudo isso ela fez um dom a Jesus através da Santa Missa, da qual procurava participar diariamente, quando possível. Como testemunho, há as cartas que Vera escreveu ao sacerdote salesiano P. Bocchi de 1965 a 1969. Na sua simplicidade e imediaticidade de linguagem, as cartas lançam um raio de luz sobre suas lutas interiores, sobretudo quando sentia uma rebelião humana e instintiva contra as injustiças sofridas na escola ou na família. Mas bastava uma palavra do sacerdote, um simples cartão postal com o rosto de Dom Bosco enviado a Vera, para trazê-la de volta ao centro de sua vida doada, por amor, a Jesus e, superada a tempestade interior, Vera voltava a ser a mulher de paz, pois pacificada no coração. Vejamos um exemplo. No ano letivo 1966-67 lhe havia sido atribuída a sede escolar de Carbuta, distrito de Cálice Lígure, situada numa zona montanhosa, sem serviços de transporte. Vera, internada no hospital durante outubro e metade de novembro, havia pedido mudança de sede, dada a real dificuldade de chegar à escola a pé, dificuldade agravada por suas condições de saúde, mas tal pedido lhe foi recusado. Vera viveu essa recusa como uma grave injustiça e sentiu uma rebelião interior. Assim escrevia ao P. Bocchi: “… após a renúncia à Sua guia iluminadora, [devido à transferência do Padre de Savona para Sampierdarena] encontrei-me mais uma vez na solidão espiritual, tornada talvez mais dolorosa pelas tribulações de ordem moral e física… Tudo me pesava: internação em Santa Corona, tratamentos bastante dolorosos, situação escolar penosa (irei a Carbuta, distrito de Cálice Lígure). Minha natureza, tão frágil, rebelou-se várias vezes, sobretudo diante da injustiça enquanto eu ia esquecendo meu lugar no pensamento de Jesus (pequena vítima). Mas, uma noite, através do seu cartão postal, São João Bosco voltou para me recordar… (Savona 24 de novembro de 1966). Na carta de 20 de dezembro de 1966, de Corbuta, assim escreveu: “as lutas que sustentei para obter a sede de Cálice, com 1º de janeiro readmitida, eram para mim justas. Mas os Superiores dispuseram de modo diverso… Agora que retornei a mim mesma, a luz de Deus voltou. Quem se oferta com Jesus deve saber renunciar. Isso eu esquecera mais uma vez. Agora há uma grande paz em mim, agora estou contente porque sinto que Ele me mantém consigo. Após a Sagrada Comunhão, através do Evangelho, assim me falou «…se eu, Mestre, lavo os pés a vós, quanto mais deveis fazê-lo vós…». E eu meditava: «se eu, Jesus, te perdoo sempre, perdoa sempre quem consideras causa de renúncia ou de injustiça»”.
A diretora escolar de Carbuta, no relatório anual informativo daquele ano, assim se expressou sobre Vera: “Ao retomar o serviço (após um mês de internação no hospital) enfrentou com tenaz vontade o desconforto de uma escola situada em zona montanhosa sem serviços de transporte. Boa e sensível, participa com solicitude da vida da escola, dos alunos e de suas famílias, que aproxima com cordialidade. Com singular fervor cuidou da formação e do desenvolvimento das personalidades individuais dos alunos. Sustentada por viva fé religiosa é capaz de sacrifício, de trabalho sereno, de introspecção”. A rebelião interior pela injustiça sofrida, ofertada a Jesus, sustentada pela oração confiante e íntima, foi transformada pela Graça em “tenaz vontade”, em nova força para enfrentar o sacrifício.

Mulher de paz na família
            Outro episódio significativo encontra-se numa carta ao P. Bocchi de julho de 1967. Vera vive um forte conflito afetivo em relação aos familiares, pois, por causa da mudança para a nova casa onde a família se mudou, por vontade sobretudo da mãe, Vera não pode mais dispor de seu salário de professora, pois ele passou a ser comprometido para pagar o resgate da nova casa. Vera escreve uma longa carta-confissão ao P. Bocchi, expondo o estado de sua alma, as lutas interiores que enfrenta, a escuridão em que se encontra, a dificuldade de aceitar esse novo sacrifício que lhe foi imposto, mas ao final da carta o que triunfa nela é o amor por Jesus e, por reflexo, o amor por quem estava ao seu lado, os familiares, e Vera volta a ser mulher de paz. Transcrevemos apenas um trecho dessa longa carta: “… Mas agora sou eu que não sei submeter-me a este novo estado de coisas e às situações difíceis criadas na família. Os espinhos são enormes e eu me rebelo, às vezes fico atônita porque tudo me ferve começando por minha mãe. Diante de mim sinto duas vias abertas: uma me enlouquece, a outra… conduziria à santidade… Eu peço a «Luz de Jesus» porque não consigo caminhar sozinha, no escuro, nas minhas misérias. Não posso, não dou conta, sinto que me perco, que a minha alma está desorientada… Oh, Padre, se soubesse quanto a sinto chorar, como agonizar diante de Jesus… [referindo-se à alma]. Não quero nada, mas não me abandone; isto é, não permita que eu O pisoteie no meu próximo tão próximo que é a minha família. Oh, Padre, não consigo amá-los mais depois de ter realizado o maior sacrifício que podia fazer por eles (comprometi-me, enquanto viver, a dar £ 35.000 mensais, além do sustento e, isto é, outros 30.000 para o resgate desta nova casa). Não digo mais porque as feridas mais profundas as recebi da minha mãe e estas reabriram outras distantes… E em tudo isso minha mãe não se deu conta e nunca se dá conta de nada por sua natureza. Disto ela não tem culpa, portanto; enquanto eu sim… O Senhor me fez entender qual é o caminho: «esquecer-se e doar; oferecer-se sem pedir; deixar-se dominar porque eu como eu não devo ser…!». Isso acontece com o Amor, por meio do Amor, no Amor de Jesus… Não posso mais viver sem Ele, não posso. E, no entanto, Ele está ali na Santíssima Eucaristia, está aqui no meu miserável coração, está na miséria da minha alma. Eis por que sofro se O deturpo (no amor divino refletido nos meus familiares), se O sufoco, se O faço calar!”. Vera então conclui a longa carta com estas palavras: “Sinto a paz de Jesus, sinto que ele me guiou neste longo escrever. É sempre Jesus que me confia a você! Glória a Ti, ó Senhor! A imagem de Maria Auxiliadora sorri! Ter podido escrever, ter vencido as forças contrárias e horrendas que estão em mim, é o sorriso de Maria!”. (o itálico é nosso). Esses dois episódios relatados referem-se ao período imediatamente anterior ao início da experiência mística de Vera (1966-67).

Mensageira de paz para a humanidade
            Desde setembro de 1967, durante os últimos dois anos de sua vida terrena, Vera viveu uma experiência mística na qual Jesus Eucaristia lhe comunicou a Obra dos Tabernáculos Vivos. Vera escreveu sua experiência espiritual em 13 Cadernos que estão guardados no Arquivo da Diocese de Savona. No mesmo período, ela havia escolhido fazer parte da Associação dos Salesianos Cooperadores presente em Savona, na Igreja de Maria Auxiliadora. A Mensagem de amor, misericórdia e salvação para toda a humanidade da qual Vera é porta-voz pode ser resumida assim: Jesus, Bom Pastor, busca as almas que se afastaram d’Ele para lhes conceder perdão e salvação, por meio de seus novos Tabernáculos Vivos. Através de Vera, Jesus procura almas pobres, simples, dispostas a colocar Jesus Eucaristia no centro de suas vidas para deixar-se transformar em Tabernáculos Vivos, almas eucarísticas capazes de profunda vida de comunhão e entrega a Deus e aos irmãos. Os 13 Cadernos escritos por Vera foram publicados no livro “Leva-me contigo!” (Elledici 2017). Por vontade explícita do Senhor, a Obra dos Tabernáculos Vivos foi confiada à Congregação Salesiana para sua realização e difusão na Igreja.
Mulher de paz, Vera foi porta-voz de uma Mensagem de misericórdia e de paz para a humanidade, através da Obra dos Tabernáculos Vivos que Jesus Eucaristia lhe comunicava progressivamente. Eis a Mensagem em que vemos como Jesus amplia os horizontes de paz vividos por Vera até então – na família, na escola – para alcançar horizontes que abrangem toda a humanidade, sobretudo a humanidade ferida pela guerra. Ouçamos o que Jesus lhe comunica em 28 de fevereiro de 1968: “Jesus. Eu te chamo para a tua missão. Há um horizonte distante ao qual eu quero chegar para imergir minhas Chagas, para derramar meu Sangue: Sangue do Cordeiro Imaculado. Meu Sangue deve ser derramado onde há ódio, rivalidade, ambições. Os homens derramam seu sangue, sacrificam suas vidas, e o ódio não cessa. Eu, Jesus, irei visitar aqueles lugares em ruína, aqueles homens desolados. Eu quero doar também a eles o Sangue do Cordeiro imaculado. Iremos diante de Deus Pai e nos ofereceremos a Ele pela Paz entre os povos. Se os homens tramaram alianças para alimentar ódios e desencadear guerras, se eles se combatem e se destroem, eu sinto pena, sinto pena dos pobrezinhos, dos infelizes que sofrem as tiranias das alianças. A isso quero opor a minha Liga de Amor. Sim, eu vos reunirei, minhas almas abençoadas, ao redor de Mim, e vós em Mim vos oferecereis ao meu Pai pela Paz entre os povos, entre as Nações, entre as Pessoas. Vós sereis sempre o meu exército de Amor que quero opor ao exército dos homens: vós, o exército que avança em Mim diante do meu Pai, e Eu, como Cordeiro Imaculado, quero alcançar convosco, com a minha Liga de Almas, a Paz, como mensagem de Amor aos humildes, aos pobres, aos deserdados de bens, àqueles que amam e esperam em Mim. Os confins da Terra são vastos, e a todos os compreendo e os contenho na minha Misericórdia. Eu, Jesus, como Deus e Pai, dirijo a minha Voz ao Mundo, aos Povos, aos Irmãos. Eu passarei em breve a visitar-vos de um extremo ao outro da Terra, para que a minha mensagem de Amor seja dirigida a todos, para que as almas se voltem a Mim que sou o Autor da Vida. Minha Vida ainda passará entre vós, como tremor de amor e de Perdão… Eu me dou completamente a vós, e vós a Mim, e juntos nos ofereceremos no Amor do Pai, do Filho, do Espírito Santo. Sim, dou a minha Graça nestas Palavras: a Graça de Jesus Eucaristia que quer se tornar o alimento de todas as almas contidas no mundo, o sustento da alma, o consolo e a paz do mundo”.
Provada por diversas enfermidades, Vera manteve estabilidade e equilíbrio interior por meio de sua união com o Cordeiro imolado, Jesus Eucaristia, recebido quando possível diariamente. Por isso a Santa Missa foi o centro de sua vida espiritual, onde, como “pequena gota d’água”, ela se unia ao vinho para ficar inseparavelmente unida ao Amor infinito, Jesus Cristo, que continuamente se entrega, salva e sustenta o mundo. Poucos meses antes de morrer, em 6 de setembro de 1969, ela escreveu ao pai espiritual, o P. Gabriel Zucconi: “As doenças que carrego há mais de vinte anos degeneraram, devorada pela febre e pelas dores em todos os ossos, eu estou viva na Santa Missa”. Ainda: “Permanece a chama da Santa Missa, a centelha divina que me anima, me dá vida, depois o trabalho, os jovens, a família, a impossibilidade de encontrar (em minha casa) um cantinho tranquilo onde me isolar para rezar, ou o cansaço físico depois da escola”. (Carta de Vera ao P. Borra de 13 de maio de 1969).

Mulher de paz e de reconciliação
            Gostaria de concluir com um olhar sobre Vera, durante sua última internação no Hospital Santa Corona de Pietra Lígure, por meio do testemunho de uma paciente, Inês, sua companheira de quarto, que Vera, mulher de paz, ajudou a reconciliar-se com o Senhor para reencontrar a paz e a serenidade do coração: “Conheci Vera durante sua última internação em Santa Corona em ’69, tendo eu também sido paciente na mesma enfermaria por um curto período. Naquela enfermaria estavam internadas pacientes graves e pessoas idosas. Lembro até hoje nosso primeiro encontro. Deparei-me com uma moça ainda jovem, morena e muito magra, de estatura média, com grandes olhos castanhos escuros, expressivos e profundos, cabelos penteados em ‘rabo de cavalo’, que imediatamente me fez sentir à vontade, sorrindo-me com familiaridade e simplicidade. Tornamo-nos muito amigas. Lembro que, no início de nossa relação, notei nela, em seu comportamento e em todas as suas atitudes, algumas peculiaridades que considerei, com muita precipitação, contradições de seu caráter. Por exemplo, parecia dar muita importância aos outros, enquanto não me parecia preocupada com o desfecho de sua doença. Cuidava muito de sua aparência exterior não por ambição, mas por verdadeiro respeito por si mesma e, apesar dos graves sofrimentos que a doença lhe causava, nunca a ouvi lamentar-se de seu estado. Dava alívio e esperança a todos que se aproximavam e, quando falava de seu futuro, o fazia com entusiasmo e coragem. Amava muito seu trabalho de professora, que esperava retomar em uma vila acima de Varazze, e amava intensamente os jovens. Apesar disso, confidenciou-me também, de forma muito humana, algumas desventuras e desilusões, mas o fez com tanta moderação e humildade que, recordo, me impressionaram. Desde então vi Vera com outros olhos e comecei a entender… Seu grande e único amor que, a meu ver, toda moça guarda no coração, não era este terreno. Feita essa descoberta, para mim Vera não teve mais segredos e nossa amizade tornou-se muito mais profunda e quando ela me pediu para rezar o Santo Rosário com ela, eu o fiz com muita espontaneidade. Igualmente simples e natural foi para mim confessar-lhe que há quatro anos não recebia a Eucaristia, porque não me sentia nas condições materiais e espirituais adequadas para aproximar-me de Jesus. Ela me disse: «Receba Jesus, não o perca. Eu assumirei por ti, diante d’Ele, toda responsabilidade». E reencontrei, com a ajuda do Capelão do Hospital que me confessou, a alegria do perdão que traz tanta paz. Vera tinha um único propósito na vida, finalmente compreendi, que era sempre fazer a vontade de Deus com amor e alegria. Frequentemente recebia de seus entes queridos muitas coisas boas, que regularmente compartilhava conosco da enfermaria. Lembro que foi no final de outubro, quando Vera recebeu da família um belo cacho de uvas fora de época: ela o dividiu em várias pequenas partes que nos fez encontrar no café da manhã em nossos criados-mudos. O que me impressionou no episódio foi o desprendimento que ela demonstrou ao receber o presente, em nítido contraste com o evidente prazer que sentia ao dividi-lo com os outros. Meu marido, que frequentemente vinha me visitar, também tornou-se grande amigo de Vera e lembra, ainda hoje, com emoção, um episódio que, embora possa parecer insignificante, é para nós um segredo importante a guardar em nossos corações; e, se o conto, é porque, em perfeita boa-fé, creio testemunhar Vera como pessoa que Jesus quis no mundo, mas não deste mundo. Vera, já operada, jazia na sua cama, quando Guido percebeu que era importante remover-lhe a colcha e os lençóis sobre as pernas para lhe dar um pouco de alívio. Ao realizar a operação, descobrem-se involuntariamente os membros inferiores. Então Vera, muito sofredora, quase no limite da resistência, teve ainda coragem e espírito para nos fazer sorrir: «Não olhe minhas pernas, Guido!…», exclamou ela com certo humor e assim nos livrou imediatamente do constrangimento. Enquanto isso, eu, passando a mão sob o travesseiro para ajeitá-lo, senti a presença de um crucifixo de madeira…E assim era Vera, para meu marido e para mim: uma pessoa de grande humanidade e, ao mesmo tempo, uma pessoa muito… muito… muito próxima do Cristo Crucificado. Continuamos a sentir Vera viva e próxima… sentimos que ela existe e que agora, mais do que antes, está presente entre nós. Numa noite, em um período muito difícil da minha vida, enquanto dormia, Ela apareceu-me e falou comigo longamente e, pela manhã, ao despertar, enfrentei o novo dia com uma serenidade que há muito eu não possuía. Também meu marido recorre frequentemente a Ela em oração e lhe fala como se estivesse viva”.

Dois meses depois, em 22 de dezembro, Vera deixou a vida terrena para unir-se definitivamente ao seu Esposo e Príncipe da Paz, Jesus Cristo nosso Senhor.

Maria Rita Scrimieri
Presidente da Fundação Vera Grita e P. Gabriel Zucconi, sdb

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