José Augusto Arribat: um Justo entre as Nações

1. Perfil biográfico
            O Venerável José Augusto Arribat nasceu em 17 de dezembro de 1879 em Trédou (Rouergue – França). A pobreza de sua família obrigou o jovem Augusto a começar a escola secundária no oratório salesiano de Marselha somente aos 18 anos de idade. Devido à situação política da virada do século, ele começou a vida salesiana na Itália e recebeu a batina das mãos do Beato Miguel Rua. De volta à França, começou, como todos os seus coirmãos, a vida salesiana em um estado de semiclandestinidade, primeiro em Marselha e depois em La Navarre, fundada por Dom Bosco em 1878.
            Ordenado sacerdote em 1912, foi chamado às armas durante a Primeira Guerra Mundial e trabalhou como enfermeiro maqueiro. Depois da guerra, o P. Arribat continuou a trabalhar intensamente em La Navarre até 1926; depois foi para Nice, onde permaneceu até 1931. Retornou a La Navarre como diretor e, ao mesmo tempo, responsável pela paróquia de Santo Isidoro, no vale de Sauvebonne. Seus paroquianos o chamavam de “o santo do vale”.
            No final de seu terceiro ano, foi enviado a Morges, no cantão de Vaud, na Suíça. Em seguida, recebeu três mandatos sucessivos de seis anos cada, primeiro em Millau, depois em Villemur e, finalmente, em Thonon, na diocese de Annecy. Seu período mais perigoso e cheio de graça foi, provavelmente, a missão em Villemur durante a Segunda Guerra Mundial. Retornando a La Navarre em 1953, o P. Arribat permaneceu lá até sua morte, em 19 de março de 1963.

2. Profundamente homem de Deus
            Homem do dever cotidiano, nada era secundário para ele, e todos sabiam que se levantava muito cedo para limpar os banheiros dos alunos e o pátio. Tendo se tornado diretor da casa salesiana, e querendo cumprir o seu dever até o fim e com perfeição, por respeito e amor aos outros, muitas vezes terminava os seus dias muito tarde, encurtando as suas horas de descanso. Por outro lado, estava sempre disponível, acolhedor para com todos, sabendo adaptar-se a todos, fossem benfeitores e grandes proprietários de terras, fossem empregados da casa, mantendo uma preocupação permanente com os noviços e os coirmãos, e especialmente com os jovens que lhe eram confiados.
            Essa doação total de si mesmo se manifestou até o ponto do heroísmo. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele não hesitou em hospedar famílias e jovens judeus, expondo-se ao grave risco de indiscrição ou denúncia. Trinta e três anos após sua morte, aqueles que testemunharam diretamente seu heroísmo reconheceram o valor de sua coragem e o sacrifício de sua vida. Seu nome está inscrito em Jerusalém, onde ele foi oficialmente reconhecido como um “Justo entre as Nações”.
            Ele foi reconhecido por todos como um verdadeiro homem de Deus, que fez “tudo por amor e nada por força”, como costumava dizer São Francisco de Sales. Aqui está o segredo de uma irradiação, cuja extensão total ele mesmo talvez não tenha percebido.
            Todas as testemunhas notaram a fé viva desse servo de Deus, um homem de oração, sem ostentação. Sua fé era a fé radiante de um homem sempre unido a Deus, um verdadeiro homem de Deus e, em particular, um homem da Eucaristia.
            Quando celebrava a missa ou quando rezava, emanava de sua pessoa uma espécie de fervor que não podia passar despercebido. Um coirmão declarou que: “Ao vê-lo fazer o grande sinal da cruz, todos sentiam uma lembrança oportuna da presença de Deus. Seu recolhimento no altar era impressionante”. Outro salesiano recorda que “ele fazia suas genuflexões à perfeição com coragem, uma expressão de adoração que levava à devoção”. O mesmo acrescenta: “Ele fortaleceu minha fé”.
            Sua visão de fé brilhava no confessionário e nas conversas espirituais. Ele comunicava sua fé. Homem de esperança, ele confiava em Deus e em sua Providência em todos os momentos, mantendo a calma na tempestade e espalhando um senso de paz por toda parte.
            Essa fé profunda foi ainda mais refinada nele durante os últimos dez anos de sua vida. Ele não tinha mais nenhuma responsabilidade e não conseguia mais ler com facilidade. Ele vivia apenas do essencial e dava testemunho disso com simplicidade, recebendo todos aqueles que sabiam que sua semicegueira não o impedia de ver claramente seus corações. No fundo da capela, seu confessionário era um lugar cercado por jovens e vizinhos do vale.

3. “Eu não vim para ser servido…”
            A imagem que as testemunhas preservaram do P. Augusto é a do servo do Evangelho, mas no sentido mais humilde. Varrer o pátio, limpar os banheiros dos alunos, lavar a louça, cuidar e vigiar os doentes, limpar o jardim, varrer o parque, decorar a capela, amarrar os sapatos das crianças, pentear seus cabelos, nada lhe repugnava e era impossível desviá-lo desses humildes exercícios de caridade. O “bom padre” Arribat era mais generoso com ações concretas do que com palavras: ele cedia de bom grado seu quarto a um visitante ocasional, que corria o risco de ser acomodado com menos conforto do que ele. Sua disponibilidade era permanente, em todos os momentos. Sua preocupação com a limpeza e a pobreza digna não o deixava em paz, pois a casa precisava ser aconchegante. Como era um homem de fácil contato, aproveitava suas longas caminhadas para cumprimentar a todos e dialogar, mesmo com os fanáticos anticlericais.
            O P. Arribat viveu mais de trinta anos em La Navarre, na casa que o próprio Dom Bosco quis colocar sob a proteção de São José, chefe e servo da Sagrada Família, modelo de fé na clandestinidade e na discrição. Em sua solicitude com as necessidades materiais da casa e em sua proximidade com todas as pessoas dedicadas ao trabalho manual, camponeses, jardineiros, operários, trabalhadores manuais, pessoal da cozinha ou da lavanderia, esse sacerdote fazia pensar em São José, cujo nome também levava. E ele não morreu no dia 19 de março, a festa de São José?

4. Um autêntico educador salesiano
            “A Providência me confiou de modo especial o cuidado da infância”, disse ele para resumir sua vocação específica de salesiano, discípulo de Dom Bosco, a serviço dos jovens, especialmente dos mais necessitados.
            O P. Arribat não tinha nenhuma das qualidades particulares que facilmente se impõem exteriormente perante os jovens. Não era um grande esportista, nem um intelectual brilhante, nem um orador que atraía multidões, nem um músico, nem um homem de teatro ou cinema, nada disso! Como explicar a influência que ele exercia sobre os jovens? Seu segredo não era outro senão o que havia aprendido com Dom Bosco, que conquistou seu pequeno mundo com três coisas consideradas fundamentais na educação dos jovens: razão, religião e bondade. Como “pai e mestre da juventude”, ele sabia como falar a linguagem da razão com os jovens, motivar, explicar, persuadir, convencer seus alunos, evitando os impulsos da paixão e da raiva. Colocou a religião no centro de sua vida e ação, não no sentido de imposição forçada, mas no testemunho luminoso de seu relacionamento com Deus, Jesus e Maria. Quanto à bondade amorosa, com a qual ele conquistou o coração dos jovens, vale a pena lembrar o que São Francisco de Sales disse sobre o servo de Deus: “Pegam-se mais moscas com uma colher de mel do que com um barril de vinagre”.
            Particularmente autorizado é o testemunho do P. Pedro Ricaldone, futuro sucessor de Dom Bosco, que escreveu após sua visita canônica em 1923-1924: “O P. Augusto Arribat é catequista, confessor e lê as notas de comportamento! Ele é um santo coirmão. Só a sua bondade pode tornar menos incompatíveis os seus diferentes deveres”. Em seguida, ele repete o elogio: “É um excelente coirmão, não muito saudável. Por causa de suas boas maneiras, ele goza da confiança dos jovens mais crescidos, que quase todos vão até ele”.
            Uma coisa que chamava a atenção era o respeito quase cerimonioso que ele demonstrava por todos, mas especialmente pelas crianças. Para um garotinho de oito anos, ele o chamava de “Monsieur” [senhor]. Uma senhora testemunhou: “Ele respeitava tanto o outro que o outro era quase obrigado a se elevar à dignidade que lhe era conferida como filho de Deus, e tudo isso sem sequer falar em religião”.
            De rosto aberto e sorridente, esse filho de São Francisco de Sales e Dom Bosco não incomodava ninguém. Se a magreza de sua pessoa e o ascetismo lembravam o santo Cura d’Ars e o P. Rua, seu sorriso e sua doçura eram tipicamente salesianos. Como disse uma testemunha: “Ele era o homem mais natural do mundo, cheio de humor, espontâneo em suas reações, jovem de coração”.
            Suas palavras, que não eram as de um grande orador, eram eficazes porque emanavam da simplicidade e do fervor de sua alma.
            Um de seus ex-alunos testemunhou: “Em nossas cabeças de crianças, em nossas conversas de infância, depois de ouvir as histórias da vida de João Maria Vianney, costumávamos representar o Padre Arribat como se ele fosse o Santo Cura d’Ars para nós. As horas de catecismo, apresentadas em linguagem simples, mas verdadeira, eram seguidas com grande atenção. Durante a missa, os bancos do fundo da capela estavam sempre cheios. Tínhamos a impressão de que estávamos encontrando Deus em sua bondade e isso marcou nossa juventude”.

5. O P. Arribat, um ecologista?
            Aqui está uma característica original para completar o quadro dessa figura aparentemente comum. Ele era considerado quase um ecologista antes que esse termo fosse difundido. Como pequeno agricultor, ele aprendeu a amar e respeitar profundamente a natureza. Suas composições juvenis são cheias de frescor e observações muito finas, com um toque de poesia. Ele compartilhava espontaneamente o trabalho desse mundo rural, onde viveu grande parte de sua longa vida.
            Falando de seu amor pelos animais, quantas vezes ele foi visto “o bom pai, com uma caixa debaixo do braço, cheia de migalhas de pão, fazendo laboriosamente o caminho do refeitório para suas pombas com pequenos passos muito dolorosos”. Fato incrível para aqueles que não viram, diz a pessoa que testemunhou a cena, as pombas, assim que o viam, avançavam em direção à grade como se quisessem lhe dar as boas-vindas. Ele abriu a gaiola e imediatamente elas vieram até ele, algumas delas subindo em seus ombros. “Ele falava com elas com expressões que não consigo lembrar, era como se conhecesse todas elas”. Quando um menino lhe trouxe um filhote de pardal que havia tirado do ninho, ele lhe disse: “Você precisa dar liberdade a ele”. Também é contada a história de um cão lobo bastante feroz, que somente ele conseguiu domar e que veio deitar-se ao lado de seu caixão após sua morte.
            O rápido perfil espiritual do P. Augusto Arribat nos deu algumas das características espirituais dos rostos dos santos dos quais ele se sentia próximo: a bondade amorosa de Dom Bosco, o ascetismo do P. Rua, a gentileza de São Francisco de Sales, a piedade sacerdotal do santo Cura d’Ars, o amor à natureza de São Francisco de Assis e o trabalho constante e fiel de São José.