26 Set 2025, Sex

Educar as faculdades do nosso espírito com São Francisco de Sales

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São Francisco de Sales apresenta o espírito como a parte mais elevada da alma, governada pelo intelecto, memória e vontade. O coração de sua pedagogia é a autoridade da razão, “tocha divina” que torna o homem verdadeiramente humano e deve guiar, iluminar e disciplinar as paixões, a imaginação e os sentidos. Educar o espírito significa, portanto, cultivar o intelecto por meio do estudo, meditação e contemplação, exercitar a memória como depósito das graças recebidas e fortalecer a vontade para que escolha constantemente o bem. Dessa harmonia nascem as virtudes cardeais – prudência, justiça, fortaleza e temperança – que formam pessoas livres, equilibradas e capazes de caridade autêntica.


O espírito é considerado, por Francisco de Sales, como a parte superior da alma. Suas faculdades são o intelecto, a memória e a vontade. A imaginação poderia fazer parte na medida em que a razão e a vontade intervêm em seu funcionamento. A vontade, por sua vez, é a faculdade mestra à qual convém reservar um tratamento particular. O espírito faz com que o ser humano se torne, segundo a definição clássica, um «animal racional». «Somos seres humanos somente mediante a razão», escreve Francisco de Sales. Depois das «graças corporais», há «os dons do espírito», que deveriam ser objeto de nossas reflexões e de nosso reconhecimento. Entre eles, o autor da Filotea distingue os dons recebidos da natureza e aqueles adquiridos com a educação:

Considerai os dons do espírito: quanta gente há no mundo idiota, tolas, mentalmente perturbadas. Por que não vos encontrais entre eles? Deus vos favoreceu. Quantos foram educados grosseiramente e na mais extrema ignorância: mas vós, a Providência divina vos fez crescer de um modo civil e honrado.

A razão, “divina tocha”
No texto Esercizio del sonno o riposo spirituale (Exercício do sono ou repouso espiritual), escrito em Pádua, quando tinha vinte e três anos, Francisco se propunha a meditar um argumento que surpreende:

Farei uma pausa para admirar a beleza da razão que Deus concedeu ao ser humano, para que, iluminado e instruído pelo seu maravilhoso esplendor, odiasse o vício e amasse a virtude. Oh! Sigamos a resplandecente luz desta divina tocha, porque nos é dada em uso para ver por onde caminhamos! Ah! Se nos deixarmos conduzir pelos seus ditames, raramente tropeçaremos, dificilmente nos machucaremos.

«A razão natural é uma árvore boa que Deus plantou em nós, os frutos dela só podem ser bons», afirma o autor do livro Teotimo; é verdade que ela está «gravemente ferida e quase morta por causa do pecado», mas seu exercício não é fundamentalmente impedido.
No reino interior do ser humano, «a razão deve ser a rainha, à qual todas as faculdades do nosso espírito, todos os nossos sentidos e o próprio corpo devem permanecer absolutamente submissos». É a razão que distingue o ser humano do animal, por isso é preciso ter cuidado para não imitar «os macacos e os símios que estão sempre amuados, tristes e lamentosos quando falta a lua; depois, ao contrário, na lua nova, saltam, dançam e fazem todas as caretas possíveis». É necessário fazer reinar «a autoridade da razão», reitera Francisco de Sales.
Entre a parte superior do espírito, que deve reinar, e a parte inferior do nosso ser, designada às vezes por Francisco de Sales com o termo bíblico de «carne», a luta por vezes se torna áspera. Cada frente tem seus aliados. O espírito, «fortaleza da alma», é acompanhado «por três soldados: o intelecto, a memória e a vontade». Atentos, portanto, à «carne» que conspira e busca aliados no local:

A carne usa ora o intelecto, ora a vontade, ora a imaginação, as quais, associando-se contra a razão, lhe deixam o campo livre, criando divisão e fazendo um mau serviço à razão. […]. A carne atrai a vontade, às vezes, com os prazeres e, às vezes, com as riquezas; ora solicita a imaginação a criar pretensões, ora suscita no intelecto uma grande curiosidade, tudo com o pretexto do bem.

Nesta luta, mesmo quando todas as paixões da alma parecem transtornadas, nada está perdido enquanto o espírito resiste: «Se estes soldados fossem fiéis, o espírito não teria nenhum temor e não daria nenhum peso aos próprios inimigos: como soldados que, dispondo de suficientes munições, resistem no bastião de uma fortaleza inexpugnável, apesar de os inimigos se encontrarem nos subúrbios ou até mesmo já terem tomado a cidade; aconteceu à cidadela de Nice, diante da qual a força de três grandes príncipes não conseguiu superar a resistência dos defensores». A causa de todas estas lacerações interiores é o amor-próprio. Com efeito, «os nossos raciocínios ordinariamente estão cheios de motivações, opiniões e considerações sugeridas pelo amor-próprio, e isso causa grandes conflitos na alma».
No âmbito educativo, é importante fazer sentir a superioridade do espírito. «Aqui está o princípio de uma educação humana», diz o P. Lajeunie, «mostrar à criança, assim que sua razão desperta, o que é belo e bom, e afastá-la do que é mau; criar deste modo em seu coração o hábito de controlar seus reflexos instintivos, em vez de segui-los servilmente; é assim, de fato, que se forma este processo de sensualização que a torna escrava de seus desejos espontâneos. No momento de escolhas decisivas, tal hábito de ceder sempre às pulsões instintivas, sem se controlar, pode se revelar catastrófico».

O intelecto, “olho da alma”
O intelecto, faculdade tipicamente humana e racional, que consente conhecer e compreender, frequentemente é comparado à visão. Afirma-se, por exemplo: «Eu vejo», para dizer: «Eu compreendo». Para Francisco de Sales, o intelecto é «o olho da alma»; daí sua expressão «o olho do vosso intelecto». A incrível atividade de que é capaz o torna semelhante a «um operário, o qual, com as centenas de milhares de olhos e de mãos, como um outro ‘Argo’, cumpre mais obras do que todos os trabalhadores do mundo, porque não há nada no mundo que não seja capaz de representar».
Como funciona o intelecto humano? Francisco de Sales analisou, com precisão, as quatro operações de que ele é capaz: o pensamento simples, o estudo, a meditação e a contemplação. O pensamento simples se faz sobre uma grande diversidade de coisas, sem nenhum fim, «como fazem as moscas que pousam sobre as flores sem querer extrair nenhum suco, mas somente porque as encontram». Quando o intelecto passa de um pensamento ao outro, os pensamentos que assim o entulham são ordinariamente «inúteis e danosos». O estudo, ao contrário, visa considerar as coisas «para conhecê-las, para compreendê-las e para falar bem delas», com o objetivo de «encher a memória», como fazem os besouros que «pousam sobre as rosas para nenhum outro fim senão para saciar-se e encher o ventre».
Francisco de Sales podia parar aqui, mas conhecia e recomendava outras duas formas mais elevadas. Enquanto o estudo visa aumentar os conhecimentos, a meditação tem como objetivo «mover os afetos e, em particular, o amor»: «Fixemos o nosso intelecto sobre o mistério do qual esperamos poder extrair bons afetos», como a pomba que «arrulha retendo a respiração e, mediante o murmúrio que produz na garganta sem deixar sair a respiração, produz o seu típico canto».
A atividade suprema do intelecto é a contemplação, que consiste em alegrar-se do bem conhecido, através da meditação, e amado, mediante tal conhecimento; desta vez assemelhamo-nos aos passarinhos que se divertem na gaiola somente para «agradar ao mestre». Com a contemplação o espírito humano atinge o seu vértice; o autor do Teotimo afirma que a razão «vivifica, enfim, o intelecto, com a contemplação».
Retornemos ao estudo, a atividade intelectual que nos interessa mais de perto. «Há um velho axioma dos filósofos, segundo o qual todo ser humano deseja conhecer». Retomando, por sua vez, esta afirmação de Aristóteles, como também o exemplo de Platão, Francisco de Sales pretende demonstrar que isso constitui um grande privilégio. O que o ser humano quer conhecer é a verdade. A verdade é mais bela do que aquela «famosa Helena, pela cuja beleza morreram tantos gregos e troianos». O espírito é feito para a busca da verdade: «A verdade é o objeto do nosso intelecto, o qual, por conseguinte, descobrindo e conhecendo a verdade das coisas, se sente plenamente satisfeito e contente». Quando o espírito encontra algo de novo experimenta uma alegria intensa e quando começa a encontrar alguma coisa de belo, é impelido a continuar a busca, «como aqueles que encontraram uma mina de ouro e são estimulados a ir sempre em frente para encontrar muito mais deste precioso metal». O espanto que produz a descoberta é um potente estímulo; «a admiração, de fato, deu origem à filosofia e à atenta busca das coisas naturais». Sendo Deus a verdade suprema, o conhecimento de Deus é a ciência suprema que preenche o nosso espírito. É ele que nos «doou o intelecto para conhecê-lo»; fora dele há somente «pensamentos vãos e reflexões inúteis!».

Cultivar a própria inteligência
O que caracteriza o ser humano é o grande desejo de conhecer. Foi esse desejo que «induziu o grande Platão a sair de Atenas e correr tanto», e «a induzir esses antigos filósofos a renunciarem às suas comodidades corporais». Alguns chegam até a jejuar diligentemente «para poder estudar melhor». O estudo, de fato, produz um prazer intelectual, superior aos prazeres sensuais e difícil de deter: «O amor intelectual, encontrando na união com o seu objeto uma satisfação inesperada, aperfeiçoa o conhecimento, continuando assim a unir-se a ele, e unindo-se cada vez mais, não cessa de continuar a fazê-lo».
Trata-se de «iluminar bem o intelecto», esforçando-se para «purgá-lo» das trevas da «ignorância». Ele denuncia «a obtusidade e a indolência de espírito, que não quer saber o que é necessário» e insiste no valor do estudo e do aprendizado: «Estudem sempre mais, com diligência e humildade», escrevia a um estudante. Mas não basta «purgar» o intelecto da ignorância, é preciso também «embelezá-lo e adorná-lo», «decorá-lo com considerações». Para conhecer perfeitamente uma coisa, é necessário aprender bem, dedicar tempo a «sujeitar» o intelecto, ou seja, a fixá-lo em uma coisa, antes de passar a outra.
O jovem Francisco de Sales aplicava a sua inteligência não só aos estudos e aos conteúdos intelectuais, mas também a certos assuntos essenciais para a vida do ser humano na terra, e, em particular, à «consideração da vaidade da grandeza, das riquezas, das honras, das comodidades e dos prazeres voluptuosos deste mundo»; à «consideração da maldade, abjeta e deplorável miséria, presentes no vício e no pecado», e ao «conhecimento da excelência da virtude».
O espírito humano é frequentemente distraído, esquece, contenta-se com um conhecimento vago ou vão. Através da meditação, não só das verdades eternas, mas também dos fenômenos e dos acontecimentos do mundo, é capaz de alcançar uma visão mais realista e mais profunda da realidade. Por este motivo, nas Meditações propostas pelo autor a Filotéia, há uma primeira parte dedicada a ela intitulada Considerações.
Considerar significa aplicar o espírito a um objeto preciso, examinar com atenção os seus diversos aspectos. Francisco de Sales convida Filotéia a «pensar», a «ver», a examinar os diferentes «pontos», alguns dos quais merecem ser considerados «à parte». Exorta a ver as coisas em geral e a descer depois aos casos particulares. Quer que se examinem os princípios, as causas e as consequências de uma determinada verdade, de uma dada situação, como também as circunstâncias que a acompanham. É preciso também saber «pesar» certas palavras ou sentenças, cuja importância corre o risco de nos escapar, considerá-las uma a uma, confrontá-las uma com a outra.
Assim como acontece com tudo, também no desejo de conhecer pode haver excessos e deformações. Atenção à vaidade de falsos sábios: alguns, de fato, «pelo pouco de ciência que têm, querem ser honrados e respeitados por todos, como se cada um devesse ir à sua escola e tê-los como mestres: por isso são chamados arrogantes». Ora, «a ciência nos desonra quando nos infla, tornando-nos arrogantes». Que coisa ridícula querer instruir Minerva, Minervam docere, a deusa da sabedoria! «A peste da ciência é a presunção, que infla os espíritos e os torna hidrópicos, como são ordinariamente os sábios do mundo».
Quando se trata de problemas que nos superam e que se enquadram no âmbito dos mistérios da fé, é necessário «purificá-los de toda a curiosidade», é preciso «mantê-los bem fechados e cobertos diante de tais vãs e tolas questões e curiosidades». É a «pureza intelectual», a «segunda modéstia» ou a «modéstia interior». Enfim, deve-se saber que o intelecto pode errar e que existe o «pecado do intelecto», como aquele que Francisco de Sales repreende à senhora de Chantal, a qual havia cometido um erro depositando uma exagerada estima no seu diretor.

A memória e os seus «armazéns»
Assim como o intelecto, a memória é uma faculdade do espírito que suscita admiração. Francisco de Sales a compara a um armazém «que vale mais do que os de Antuérpia ou de Veneza». Não se diz porventura «armazenar» na memória? A memória é um soldado cuja fidelidade nos é muito útil. É um dom de Deus, declara o autor da Introdução à vida devota: Deus a concedeu «para que vos recordeis dele», diz a Filotéia, convidando-a a fugir «das recordações detestáveis e frívolas».
Esta faculdade do espírito humano precisa ser treinada. Quando era estudante em Pádua, o jovem Francisco exercitava a sua memória não só nos estudos, mas também na vida espiritual, na qual a memória dos benefícios recebidos é um elemento fundamental:

Antes de tudo, dedicar-me-ei a refrescar a minha memória com todas as boas motivações, desejos, afetos, propósitos, projetos, sentimentos e doçuras que, no passado, a divina Majestade me inspirou e me fez experimentar, considerando os seus santos mistérios, a beleza da virtude, a nobreza do seu serviço e uma infinidade de benefícios que me concedeu livremente; porei ordem, também, nas minhas recordações acerca das obrigações que tenho para com ela pelo fato de que, pela sua santa graça, às vezes debilitou os meus sentidos enviando-me algumas doenças e enfermidades, das quais tirei grande proveito.

Nas dificuldades e nos medos é indispensável servir-se dela «para recordar-se das promessas» e para «permanecer firmes confiando que tudo perecerá, mesmo que as promessas não tenham sido cumpridas». Todavia, a memória do passado nem sempre é boa, porque pode gerar tristeza, como aconteceu a um discípulo de São Bernardo, que foi assaltado por uma má tentação quando começou «a recordar os amigos do mundo, os parentes, os bens que havia deixado». Em certas circunstâncias excepcionais da vida espiritual «é necessário purificá-la da recordação de coisas caducas e de assuntos mundanos, e esquecer por um certo tempo as coisas materiais e temporais, ainda que boas e úteis». No campo moral, para exercer a virtude, a pessoa que se sentiu ofendida tomará uma medida radical: «Recordo-me demais das flechadas e injúrias, de agora em diante perderei a memória».

«Devemos ter um espírito justo e razoável»
As capacidades do espírito humano, em particular do intelecto e da memória, não são destinadas só a gloriosas empresas intelectuais, mas também e sobretudo à condução da vida. Procurar conhecer o ser humano, compreender a vida e definir as normas referentes aos comportamentos conformes à razão, estes deveriam ser os deveres fundamentais do espírito humano e da sua educação. A parte central da Filotea, que trata do «exercício das virtudes», contém, quase no fim, um capítulo que resume de certo modo o ensinamento de Francisco de Sales sobre as virtudes: «Devemos ter um espírito justo e razoável».
Com fineza e uma pitada de humor, o autor denuncia numerosas condutas bizarras, insanas ou simplesmente injustas: «Acusamos o próximo por pouco, e desculpamos nós mesmos por muito mais»; «queremos vender com um preço alto e comprar a bom preço»; «o que fazemos pelos outros nos parece sempre muito, e o que fazem os outros por nós é nada»; «temos um coração doce, gracioso e cortês para conosco, e um coração duro, severo e rigoroso para com o próximo»; «temos dois pesos: um para pesar as nossas comodidades, com a maior vantagem possível para nós, o outro para pesar as do próximo, com a maior desvantagem que se pode». Para julgar bem, aconselha a Filotéia, é necessário sempre colocar-se no lugar do próximo: «Façam-se vendedoras ao comprar e compradoras ao vender». Não se perde nada em viver como pessoas «generosas, nobres, corteses, com um coração real, constante e razoável».
A razão está na base do edifício da educação. Certos pais não têm uma atitude mental justa; de fato, «há rapazes virtuosos que pais e mães não conseguem quase suportar porque têm algum defeito corporal; e há outros rapazes, ao contrário, mal-acostumados e continuamente mimados porque têm algum tipo de beleza física». Há educadores e responsáveis que se deixam levar a preferências. «Mantenham a balança bem direita entre as vossas filhas», recomendava a uma superiora das irmãs visitandinas, para que «os dons naturais não vos façam distribuir injustamente os afetos e os favores». E acrescentava: «A beleza, a boa graça e a palavra amável conferem frequentemente uma grande força de atração às pessoas que vivem segundo as suas inclinações naturais; a caridade tem como objeto a verdadeira virtude e a beleza do coração, e se estende a todos sem particularismos».
Mas é sobretudo a juventude aquela que corre os riscos maiores, porque se «o amor-próprio nos afasta geralmente da razão», isso acontece talvez ainda mais nos jovens tentados pela vaidade e pela ambição. A razão de um jovem corre o risco de perder-se sobretudo quando se deixa «levar por paixões». Atenção, portanto, escreve o bispo a um jovem, «a não permitir que os vossos afetos sejam mais fortes que o juízo e a razão na escolha dos sujeitos a amar; pois, uma vez que se pôs em marcha, o afeto arrasta o juízo, como se arrastaria um escravo, a escolhas muito deploráveis, das quais poderia arrepender-se muito em breve». Explicava também às visitandinas que «os nossos pensamentos estão geralmente cheios de razões, opiniões e considerações sugeridas pelo amor-próprio, que causa grandes conflitos na alma».

A razão, fonte das quatro virtudes cardeais
A razão assemelha-se ao rio do paraíso «que Deus faz correr para irrigar todo o ser humano em todas as suas faculdades e atividades»; ele se divide em quatro braços correspondentes às quatro virtudes que a tradição filosófica chama virtudes cardeais: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança.
A prudência «inclina o nosso intelecto a discernir verdadeiramente o mal a evitar e o bem a cumprir». Ela consiste em «discernir quais são os meios mais apropriados para alcançar o bem e a virtude». Atenção às paixões que correm o risco de deformar o nosso juízo e de provocar a ruína da prudência! A prudência não se opõe à simplicidade: seremos, conjuntamente, «prudentes como serpentes para não sermos enganados; simples como pombas para não enganar ninguém».
A justiça consiste em «render a Deus, ao próximo e a si mesmos o que se deve». Francisco de Sales começa com a justiça para com Deus, conectada com a virtude da religião, «mediante a qual rendemos a Deus o respeito, a honra, a homenagem e a submissão a ele devidos como nosso soberano Senhor e primeiro princípio». A justiça para com os pais comporta o dever da piedade, a qual «se estende a todos os ofícios que se podem legitimamente render a eles, seja em honra, seja em serviço».
A virtude da fortaleza ajuda a «superar as dificuldades que se encontram ao cumprir o bem e ao repelir o mal». É bem necessária, porque o apetite sensitivo é «verdadeiramente um sujeito rebelde, sedicioso, turbulento». Quando a razão domina as paixões, a ira dá lugar à doçura, grande aliada da razão. A fortaleza é acompanhada frequentemente pela magnanimidade, «uma virtude que nos impele e inclina a cumprir ações de grande importância».
Enfim, a temperança é indispensável «para reprimir as inclinações desordenadas da sensualidade», para «governar o apetite da avidez» e «frear as paixões conectadas». Com efeito, se a alma se apaixona demais por um prazer e por uma alegria sensível, degrada-se, tornando-se incapaz de alegrias mais elevadas.
Em conclusão, as quatro virtudes cardeais são como as manifestações desta luz natural que nos fornece a razão. Praticando estas virtudes, a razão exerce «a sua superioridade e a sua autoridade no regular os apetites sensuais».

By P. Wirth MORAND

Salesiano de Dom Bosco, professor universitário, estudioso bíblico e historiador salesiano, membro emérito do Centro de Estudos Dom Bosco, autor de vários livros.