As sete alegrias de Nossa Senhora
No coração da obra educativa e espiritual de São João Bosco, a figura de Nossa Senhora ocupa um lugar privilegiado e luminoso. Dom Bosco não foi apenas um grande educador e fundador, mas também um fervoroso devoto da Virgem Maria, a quem venerava com profundo afeto e a quem confiava todos os seus projetos pastorais. Uma das expressões mais características dessa devoção é a prática das “Sete alegrias de Nossa Senhora”, proposta de forma simples e acessível em sua publicação “O jovem instruído”, um dos textos mais difundidos em sua pedagogia espiritual.
Uma obra para a alma dos jovens
Em 1875, Dom Bosco publicou uma nova edição de “O jovem instruído na prática de seus deveres nos exercícios de piedade cristã”, um manual de orações, exercícios espirituais e normas de conduta cristã pensado para os jovens. Este livro, redigido com um estilo sóbrio e paternal, tinha a intenção de acompanhar os jovens em sua formação moral e religiosa, introduzindo-os a uma vida cristã integral. Nele também havia espaço para a devoção às “Sete Alegrias de Maria Santíssima”, uma oração simples, mas intensa, estruturada em sete pontos. Diferentemente das “Sete Dores de Nossa Senhora”, muito mais conhecidas e difundidas na piedade popular, as “Sete alegrias” de Dom Bosco enfatizam as alegrias da Santíssima Virgem no Paraíso, consequência de uma vida terrena vivida na plenitude da graça de Deus.
Essa devoção tem origens antigas e foi particularmente apreciada pelos Franciscanos, que a difundiram a partir do século XIII, como Rosário das Sete Alegrias da Bem-Aventurada Virgem Maria (ou Coroa Seráfica). Na forma franciscana tradicional, é uma oração devocional composta por sete dezenas de Ave Marias, cada uma precedida por um mistério alegre (alegria) e introduzida por um Pai Nosso. Ao final de cada dezena, reza-se um Glória ao Pai. As alegrias são: 1. A Anunciação do Anjo; 2. A visita a Santa Isabel; 3. O nascimento do Salvador; 4. A adoração dos Magos; 5. O encontro de Jesus no templo; 6. A ressurreição do Filho; 7. A assunção e coroação de Maria no céu.
Dom Bosco, inspirando-se nessa tradição, oferece uma versão simplificada, adequada à sensibilidade dos jovens.
Cada uma dessas alegrias é meditada através da recitação de uma Ave Maria e um Glória ao Pai.
A pedagogia da alegria
A escolha de propor aos jovens essa devoção não responde apenas a um gosto pessoal de Dom Bosco, mas se insere plenamente em sua visão educativa. Ele estava convencido de que a fé deveria ser transmitida através da alegria, não do medo; através da beleza do bem, não do temor do mal. As “Sete alegrias” tornam-se assim uma escola de alegria cristã, um convite a reconhecer que, na vida da Virgem, a graça de Deus se manifesta como luz, esperança e realização.
Dom Bosco conhecia bem as dificuldades e sofrimentos que muitos de seus jovens enfrentavam diariamente: a pobreza, o abandono familiar, a precariedade do trabalho. Por isso, oferecia-lhes uma devoção mariana que não se limitasse ao pranto e à dor, mas que fosse também uma fonte de consolo e alegria. Meditar as alegrias de Maria significava abrir-se a uma visão positiva da vida, aprender a reconhecer a presença de Deus mesmo nos momentos difíceis e confiar com fé na ternura da Mãe celeste.
Na publicação “O jovem instruído”, Dom Bosco escreve palavras tocantes sobre o papel de Maria: apresenta-a como mãe amorosa, guia segura e modelo de vida cristã. A devoção às suas alegrias não é uma simples prática devocional, mas um meio para entrar em relação pessoal com Nossa Senhora, para imitar suas virtudes e receber sua ajuda materna nas provas da vida.
Para o santo turinense, Maria não é distante ou inacessível, mas próxima, presente, ativa na vida de seus filhos. Essa visão mariana, fortemente relacional, atravessa toda a espiritualidade salesiana e se reflete também na vida cotidiana dos oratórios: ambientes onde a alegria, a oração e a familiaridade com Maria caminham lado a lado.
Um legado vivo
Ainda hoje, a devoção às “Sete alegrias de Nossa Senhora” mantém intacto seu valor espiritual e educativo. Em um mundo marcado por incertezas, medos e fragilidades, ela oferece um caminho simples, mas profundo, para descobrir que a fé cristã é, antes de tudo, uma experiência de alegria e luz. Dom Bosco, profeta da alegria e da esperança, nos ensina que a verdadeira educação cristã passa pela valorização dos afetos, das emoções e da beleza do Evangelho.
Redescobrir hoje as “Sete alegrias” significa também recuperar um olhar positivo sobre a vida, a história e a presença de Deus. Com sua humildade e sua confiança, Nossa Senhora nos ensina a guardar e meditar no coração os sinais da verdadeira alegria, aquela que não passa, porque fundada no amor de Deus.
Em um tempo em que também os jovens buscam luz e sentido, as palavras de Dom Bosco permanecem atuais: “Se quiserem ser felizes, pratiquem a devoção a Maria Santíssima”. As “Sete alegrias” são, então, uma pequena escada para o céu, um rosário de luz que une a terra ao coração da Mãe celeste.
Aqui está também o texto original retirado de “O jovem instruído na prática de seus deveres religiosos”, 1952 (pp. 230-231), com nossos títulos.
As sete alegrias que Maria desfruta no Céu
1. Pureza cultivada
Alegrai-vos, ó Esposa imaculada do Espírito Santo, por aquele gozo que experimentais agora no Paraíso, porque por vossa humildade, pureza e virgindade fostes exaltada acima de todos os Anjos e sublimada além de todos os santos.
Ave Maria e Glória.
2. Sabedoria buscada
Alegrai-vos, ó Mãe de Deus, por aquele gozo que experimentais no Paraíso, porque da mesma forma que o sol cá na terra ilumina o mundo inteiro, assim vós com vosso resplendor embelezais e fazeis resplandecer todo o Paraíso.
Ave Maria e Glória.
3. Obediência filial
Alegrai-vos, ó Filha de Deus, pela sublime dignidade a que fostes exaltada no Paraíso, porque todas as Hierarquias dos Anjos, dos Arcanjos, dos Tronos, das Dominações e de todos os Espíritos Bem-Aventurados vos prestam honra e reverência e vos reconhecem como Mãe de seu Criador, e ao menor aceno vosso, vos prestam imediata obediência.
Ave Maria e Glória.
4. Oração contínua
Alegrai-vos, ó Serva da Santíssima Trindade, pelo grande poder que tendes no Paraíso, porque vos são imediatamente concedidas todas as graças que pedis ao vosso Filho Jesus, de tal sorte que, diz São Bernardo, não se concede nenhuma graça aos homens, sem que antes passe por vossas mãos santíssimas.
Ave Maria e Glória.
5. Humildade vivida
Alegrai-vos, ó Augustíssima Rainha, porque só vós merecestes sentar à direita do vosso Santíssimo Filho, que está assentado à direita do Eterno Pai.
Ave Maria e Glória.
6. Misericórdia praticada
Alegrai-vos, ó Esperança dos pecadores, Refúgio dos atribulados, ao ver que todos os que vos louvam e veneram neste mundo são premiados pelo Eterno Pai com a sua santa graça na terra e com a sua imensa glória no céu.
Ave Maria e Glória.
7. Esperança premiada
Alegrai-vos, ó Mãe, Filha e Esposa de Deus, porque todas as graças, todos os gozos, todas as alegrias e todos os privilégios que agora gozais no Paraíso não diminuirão jamais; antes, aumentarão até ao dia do juízo e durarão por toda a eternidade.
Ave Maria e Glória.
Oração à beatíssima Virgem
Ó gloriosa Virgem Maria, Mãe do meu Senhor, fonte de todas as nossas consolações, por estas vossas alegrias, que recordei com a maior devoção que me foi possível, rogo-vos me alcanceis de Deus a remissão dos meus pecados e o auxílio contínuo de sua graça, para que nunca me torne indigno da vossa proteção, mas pelo contrário tenha a dita de receber todos os favores celestes que costumais alcançar e conceder aos que fazem devota comemoração destas alegrias, que inundam o vosso belo Coração, ó Rainha imortal do Céu. Assim seja.
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