25 Set 2025, Qui

Quais são os requisitos para entrar na Sociedade Salesiana?

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Em várias partes do mundo está chegando o momento em que alguns jovens, atraídos pela graça de Deus, estão se preparando para dizer o seu “Fiat” no seguimento de Cristo, segundo o carisma que Deus instituiu por meio de São João Bosco. Quais seriam as disposições com as quais eles deveriam se aproximar da Sociedade Salesiana de São João Bosco? O próprio santo o diz em uma carta dirigida a seus filhos (MB VIII, 828-830 – MBp VIII, 889-892).


            No dia de Pentecostes, Dom Bosco enviava uma carta a todos os Salesianos sobre o objetivo que se devia ter ao entrar na Pia Sociedade de São Francisco de Sales. Dava a notícia de que, talvez, dentro de pouco tempo, esta seria definitivamente aprovada. Nos documentos que possuímos não há sinal de tal afirmação. Como seu autógrafo tem a data de 24 de maio, festa de Maria Auxiliadora de 1867, parece que a festa do dia lhe desse a inspiração de escrever e lhe tenha mostrado mais claramente a visão do futuro. Como quer que seja, mandou fazer várias cópias, depois, trocando ele mesmo a data, escreveu de próprio punho o endereço: Ao P. Bonetti e a meus filhos de São Francisco de Sales residentes em Mikrabello; – ao P. Lemoyne e aos meus filhos de São Francisco de Sales, residentes em Lanzo. Suas eram igualmente a assinatura e a determinação: O Diretor leia e explique onde for preciso.
            Eis a cópia destinada aos Salesianos do Oratório.

Ao Padre Rua e aos demais meus amados filhos de São Francisco que residem em Turim.

            Nossa sociedade será talvez, dentro em breve, definitivamente aprovada. Por isso teria necessidade de falar frequentemente com meus amados filhos. Como não posso fazer isto sempre pessoalmente, procurarei fazer ao menos por carta.
            Começarei dizendo algo a respeito do fim geral da Sociedade, depois, em outra ocasião, conversaremos das observâncias particulares da mesma.

            O primeiro objetivo da nossa Sociedade é a santificação de seus membros. Por isso, cada um ao entrar despoje-se de qualquer outro pensamento, de toda outra preocupação. Quem entrasse para ter vida tranquila, ter comodidade para continuar os estudos, sair das ordens dos pais, ou eximir-se da obediência a qualquer ordem Superior, teria uma finalidade distorcida, e não seria mais o sequere me (Segue-me) do Salvador, uma vez que procuraria sua vantagem temporal e não o bem da alma. Os apóstolos foram louvados pelo Salvador e lhes foi prometido um reino eterno, não por terem abandonado o mundo, mas porque abandonado-o se declararam prontos a segui-lo nas tribulações. Isto aconteceu de fato ao consumirem sua vida no trabalho, na penitência e nos sofrimentos, sustentando até o fim o martírio pela causa da fé.

            Também não tem bom objetivo quem entra ou permanece na sociedade porque está convencido de ser necessário a ela. Cada um grave bem na mente e no coração, começando pelo Superior-Geral até o último dos sócios: ninguém é necessário na Sociedade. Por isso, seus membros devem se voltar a seu chefe, a seu verdadeiro patrão, ao remunerador, a Deus, e, por amor dele, inscrever-se na Sociedade; por amor dele trabalhar, obedecer, abandonar o que possuía no mundo, para poder dizer ao Salvador no fim da vida, que escolhemos como projeto: Ecce nos relinquimos omnia et secuti sumus te; quid ergo erit nobis? (Eis que nós deixamos tudo e te seguimos. Que haveremos de receber? – Mt 19,27).

            Ao dizer que cada um deve entrar na Sociedade guiado só pelo desejo de servir a Deus com maior perfeição e de fazer o bem a si mesmo, entende-se fazer o verdadeiro bem a si mesmo, bem espiritual e eterno. Quem procura vida de comodidade, uma vida de bem-estar, não entra na nossa Sociedade com objetivo bom. Tenhamos por fundamento a palavra do Salvador: “Quem quiser ser meu discípulo, vá, venda tudo o que possui no mundo, distribua-o aos pobres e me siga”. Mas aonde ir, aonde segui-lo, se ele não tinha um palmo de chão onde repousar sua cabeça cansada? “Quem quiser ser meu discípulo, diz o Salvador, me siga com a oração, com a penitência e, especialmente, renegue a si mesmo, pegue a cruz das tribulações diárias, e me siga. Abneget semetipsum tollat crucem suam quotidie, et sequatur me.” Mas até aonde segui-lo? Até à morte e, se necessário, até à morte de cruz.

            Isto é feito por aquele que na nossa Sociedade gasta suas forças no sagrado ministério, no ensino ou em outro exercício sacerdotal, até também uma morte violenta de cárcere, exílio, trabalhos forçados, água, fogo, até que, depois de ter sofrido com Jesus Cristo na terra, possa ir gozar com ele no céu.

            Este parece ser o sentido das palavras de São Paulo ditas a todos os cristãos: Qui vult gaudere cum Christo, oportet pati cum Christo (Quem quer gozar com Cristo, é preciso sofrer com Cristo – cf. 2Tm 3,12).

            Um sócio que entra com estas boas disposições deve comportar-se sem pretensões e acolher com prazer o trabalho que lhe possa ser confiado. Ensino, estudo, trabalho, pregação, confissão na igreja e fora da igreja, as ocupações mais humildes devem ser assumidas com alegria e prontidão de espírito, pois Deus não repara a qualidade da função, mas o objetivo de quem a realiza. Portanto, todas as funções são igualmente nobres, porque igualmente meritórias aos olhos de Deus.

            Meus queridos filhos, depositem confiança nos Superiores de vocês. Eles têm de prestar a Deus severas contas das obras de vocês. Por isso, eles estudam as qualidades e propensões de vocês, delas dispõem de forma compatível com as forças de vocês, porém, sempre como lhes parece servir para a maior glória de Deus e proveito das almas.

            Oh, se nossos irmãos entrarem na Sociedade com essas disposições, nossas Casas serão certamente um Paraíso terrestre. Reinará paz e concórdia entre os indivíduos de toda a família; a caridade seria a vestimenta diária de quem manda; a obediência e o respeito precederão os passos, as obras e até os pensamentos dos Superiores. Haverá, então, uma família de irmãos ao redor de seu pai, para promover a glória de Deus na terra e, um dia, ir amá-lo e louvá-lo na imensa glória dos bem-aventurados no Céu.
            Deus cumule vocês e seus trabalhos de bênçãos e a graça do Senhor santifique suas ações e os ajude a perseverar no bem.


Turim, 9 de junho de 1867, dia de Pentecostes.
Af.mo em Jesus Cristo,
Sac. João Bosco”.