26 Set 2025, Sex

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Mas quem acreditaria nisso? Com essa visão, Dom Bosco… viu tantas coisas!
Um velho sacerdote, ex-aluno de Valdocco, escreveu em 1889: “O que mais se destacava em Dom Bosco era seu olhar, doce mas penetrante até as profundezas do coração, que dificilmente se resistia a olhar para ele. Portanto, pode-se dizer que seu olhar atraía, intimidava, aterrissava no propósito desejado. Em minhas viagens pelo mundo nunca encontrei uma pessoa cujo olhar fosse mais impressionante que o dele. Geralmente retratos e pinturas não revelam essa singularidade, e me fazem dele um bom homem.
Outro ex-aluno dos anos 70, Pedro Pons, revela em suas recordações: “Dom Bosco tinha dois olhos que furavam e penetravam na mente… Ele andava por aí falando e olhando para todos com aqueles dois olhos que giravam para todos os lados, eletrizando os corações com alegria”.
O salesiano P. Pedro Fracchia, aluno de Dom Bosco, recordou um encontro que teve com o santo sentado à sua mesa. O jovem ousou perguntar-lhe por que escrevia assim de cabeça baixa e se virava para a direita, acompanhando a caneta. Dom Bosco, sorrindo, respondeu-lhe: “A razão é esta, veja! Deste olho Dom Bosco não enxerga mais, e deste outro bem pouco, bem pouco”. – “O senhor enxerga tão pouco mesmo? Mas então como é que outro dia, no pátio, enquanto eu estava longe, o senhor me lançou um olhar tão vivo, tão brilhante, tão penetrante como um raio de sol”? – “Mas vá lá…! Vocês pensam e veem logo quem sabe o quê…!”
E no entanto era assim. E os exemplos podiam ser multiplicados. Com seu olhar perscrutador, Dom Bosco penetrava e adivinhava tudo nos jovens: o caráter, a sagacidade, o coração. Alguns deles tentavam de propósito escapar de sua presença, porque não conseguiam suportar seu olhar. O Padre Domingos Belmonte assegurou que tinha testemunhado pessoalmente o fato: “Muitas vezes Dom Bosco olhava para um jovem de maneira tão especial que seus olhos diziam o que os lábios não expressavam naquele momento, e lhe faziam compreender o que ele queria deles”.
Muitas vezes, com seu olhar, ele seguia um jovem no pátio, enquanto conversava com os outros. De repente, o olhar do jovem encontrava o de Dom Bosco e ele o compreendia. Aproximava-se dele para lhe perguntar o que queria dele e Dom Bosco lhe sussurrava ao ouvido. Talvez fosse um convite à confissão.
Uma noite um aluno não conseguia pegar no sono. Ele suspirava, mordia os lençóis, chorava. O colega que dormia ao seu lado, acordado por essa agitação, perguntou-lhe: “Qual é o seu problema? O que se passa com você?” – “O que há de errado comigo? Ontem à noite Dom Bosco olhou para mim”. – “Grande coisa! Isso não é novidade. Não é preciso perturbar todo o dormitório por causa disso!” – Pela manhã ele contou a Dom Bosco e ele respondeu: “Pergunte-lhe o que sua consciência lhe diz”! Pode-se imaginar o resto.

Mais testemunhos na Itália, na Espanha e na França

Dom Bosco aos 71 anos – Sampierdarena, 16 de março de 1886

O P. Miguel Molineris, em sua Episódios da vida de Dom Bosco, publicado postumamente no Colle, em 1974, relata outra série de testemunhos sobre o olhar de Dom Bosco. Referimos apenas três deles, também para lembrar esse estudioso do santo que, além do mais, teve um conhecimento único dos lugares e das pessoas da infância de Dom Bosco. Mas vejamos os testemunhos que ele recolheu.
Dom Félix Guerra, recordando pessoalmente a vivacidade do olhar de Dom Bosco, declarou que ele penetrava como uma espada de dois gumes a ponto de sondar os corações e comover as consciências. Mas “de um olho ele não podia enxergar e mesmo o outro lhe era de pouca utilidade!”.
O Padre João Ferrés, pároco de Gerona, na Espanha, que viu Dom Bosco em 1886, escreveu que “tinha olhos muito vivos, um olhar penetrante… Olhando para ele, senti-me obrigado a inclinar-me e examinar como estava a minha alma”.
O Sr. Accio Lupo, porteiro do Ministério Francisco Crispi, que havia apresentado Dom Bosco ao escritório do estadista, lembrou-se dele como “um sacerdote muito magro… com olhos penetrantes!”

E finalmente, recordamos as impressões recolhidas de suas viagens à França. O Cardeal João Cagliero relatou o seguinte fato, que ele viu pessoalmente quando acompanhou Dom Bosco. Depois de uma conferência realizada em Nice, Dom Bosco deixou o presbitério da igreja para ir até a porta, cercado pela multidão que não o deixava andar. Um indivíduo de aparência sombria estava imóvel, observando-o como se estivesse tramando algo ruim. Dom Cagliero, que estava de olho nele, inquieto com o que poderia acontecer, viu o homem se aproximando. Dom Bosco dirigiu-se a ele: “O que o senhor deseja? – Eu? Nada!”. – “Mas o senhor parece ter algo a me dizer”. – “Não tenho nada a lhe dizer” – “O senhor quer se confessar?” – “Confessar-me? Nem por sonho!” – “Então o que o senhor está fazendo aqui?” – “Estou aqui porque… não posso ir embora!” – “Entendi… Senhores, deixem-me a sós por um momento”, disse Dom Bosco aos que o rodeavam. Os vizinhos se afastaram, Dom Bosco sussurrou algumas palavras ao ouvido daquele homem que, caindo de joelhos, se confessou ali no meio da igreja.
Mais curioso foi o acontecimento em Toulon, que aconteceu durante a viagem de Dom Bosco à França, em 1881.
Depois de uma conferência na igreja paroquial de Santa Maria, Dom Bosco, com um prato de prata na mão, deu a volta à igreja pedindo esmola. Quando Dom Bosco apresentava o prato, um operário virou o rosto, encolhendo rudemente os ombros. Dom Bosco, de passagem, olhou-o com carinho e disse: “Deus o abençoe! – Então o operário meteu a mão no bolso e colocou um centavo no prato. Dom Bosco, olhando-o de frente, lhe disse: – Deus o recompense! – O outro, repetindo o gesto, ofereceu dois centavos. E Dom Bosco: – Oh, meu caro, que Deus o recompense cada vez mais! – O homem, ouvindo isso, pegou sua bolsa e deu um franco. Dom Bosco deu-lhe um olhar cheio de emoção e foi embora. Mas aquele homem, como atraído por uma força mágica, o seguiu pela igreja, foi atrás dele até a sacristia, saiu atrás dele para a cidade e não deixou de segui-lo até vê-lo desaparecer. O poder do olhar de Dom Bosco!
Jesus disse: “Os olhos são como a lâmpada para o corpo; se seus olhos são bons, você estará totalmente na luz”.
Os olhos de Dom Bosco estavam totalmente na Luz!

By P. Natale CERRATO

Salesiano de Dom Bosco, missionário na China de 1948 a 1975, estudioso de Dom Bosco e da salesianidade, escreveu obras e artigos, realizando um trabalho valioso na divulgação da vida e das obras do Santo da Juventude. Faleceu em 2019.