27 Dez 2025, Sáb

⏱️ Tempo de leitura: 5 min.

A mensagem do Reitor-Mor, Padre Ángel FERNÁNDEZ ARTIME

A primeira expedição missionária foi abençoada pelas lágrimas de Dom Bosco, que disse:


“Estamos iniciando uma grande obra. Quem sabe, se esta partida não possa ser como uma semente da qual surgirá uma grande planta?”.

A profecia se tornou realidade.

A primeira vez foi inesquecível. Era a festa de São Martinho, em 1875. O mundo não sabia, mas naquele bairro de Turim chamado Valdocco estava começando um empreendimento extraordinário: dez jovens salesianos estavam partindo para a Argentina. Eles foram os primeiros missionários salesianos.

As Memórias Biográficas narram aquele momento com acentos épicos: “Eram 4 horas e as primeiras notas dos sinos tocavam, quando um barulho impetuoso surgiu na Casa com um violento bater de portas e janelas. Tinha se levantado um vento tão forte que parecia que iria derrubar o Oratório. Pode ter sido um acaso; mas o fato é que um vento semelhante soprou na hora em que a pedra angular da Igreja de Maria Auxiliadora foi colocada; um vento semelhante se repetiu na consagração do Santuário”.

A Basílica estava lotada. Dom Bosco subiu ao púlpito. “Ao seu aparecimento, houve um profundo silêncio naquele mar de gente; um tremor de emoção passou por toda a audiência, que avidamente bebeu suas palavras. Sempre que ele acenava diretamente aos Missionários, sua voz se embargava até quase morrer nos seus lábios. Com esforços viris ele retinha as lágrimas, mas o público chorava”.

“A voz me falha, as lágrimas sufocam a palavra”. Só posso lhes dizer que se neste momento minha alma está emocionada com vossa partida, meu coração sente grande consolo em ver nossa Congregação fortalecida; em ver que, em nossa pobreza, também nós estamos neste momento colocando nossa pedrinha no grande edifício da Igreja. Sim, parti corajosos; mas lembrai-vos que existe apenas uma Igreja que se estende pela Europa, na América e pelo mundo todo, e recebe os habitantes de todas as nações que desejam vir se refugiar em seu abraço materno. Como Salesianos, em qualquer parte remota do globo vos encontreis, não esqueçais que aqui na Itália tendes um Pai que vos ama no Senhor, uma Congregação que em qualquer contingência pensa em vós, vos sustenta e sempre vos acolherá como irmãos. Ide, então; vós tereis que enfrentar todos os tipos de cansaço, de dificuldades, de perigos. Mas não tenhais medo, Deus está convosco. Ireis, mas não ireis sozinhos; todos vos acompanharão. Adeus! Talvez nem todos poderemos mais nos ver nesta terra” (MB XI, 381-390). Abraçando-os, Dom Bosco deu a cada um uma pequena folha de papel com vinte lembranças especiais, quase um testamento paternal para os filhos que ele talvez nunca mais volte a ver. Ele os havia escrito a lápis em seu caderno de anotações durante uma recente viagem de trem.

A árvore cresce

Em 25 de setembro, revivemos esse momento de graça pela 153ª vez. Hoje eles se chamam Oscar, Sebastião, João-Maria, Antônio, Carlos… São 25, jovens, preparados, mas carregam nos olhos e no coração a consciência e a coragem dos primeiros. Eles são a vanguarda daquilo que eu pedi a toda a Família Salesiana para este sexênio: audácia, profecia e fidelidade.

Dom Bosco tinha feito uma pequena profecia: “Estamos começando uma grande obra, não porque tenhamos pretensões ou a crença de que converteremos todo o universo em poucos dias, não; mas quem sabe, que não seja esta partida e este pouco como uma semente da qual surgirá uma grande planta? Quem sabe, que não seja como um pequeno grão de milho ou uma semente de mostarda, que pouco a pouco vai avançando e possa fazer um grande bem? Quem sabe, que esta partida não tenha despertado no coração de muitos o desejo de se consagrar a Deus nas Missões, unindo-se a nós e fortalecendo nossas fileiras? Espero que sim. Vi o número imenso daqueles que pediram para ser escolhidos” (MB XI, 385).

“Ser missionário. Que palavra!” testemunha um salesiano após quarenta anos de vida missionária. “Uma pessoa idosa me disse: «Não me fale de Cristo; sente-se aqui ao meu lado, quero sentir o seu cheiro e se este é o cheiro do Senhor, então você pode me batizar»”.

O quinto conselho de Dom Bosco aos missionários era: “Cuidai especialmente dos doentes, das crianças, dos idosos e dos pobres”.

Vivemos numa época que deve ser enfrentada com uma mentalidade renovada, uma mentalidade que “saiba como superar as fronteiras”. Em um mundo onde as fronteiras correm o risco de se tornarem cada vez mais fechadas, a profecia de nossa vida consiste também nisto: mostrar que para nós não há fronteiras. A única realidade que temos é Deus, o Evangelho e a missão.

Sonho que, hoje e nos próximos anos, dizer ‘Salesianos de Dom Bosco’ signifique, para as pessoas que ouvem nosso nome, que somos consagrados um tanto ‘loucos’, ou seja, ‘loucos’ porque amamos os jovens, especialmente os mais pobres, os mais abandonados e indefesos, com um verdadeiro coração salesiano. Esta me parece a mais bela definição que pode ser dada hoje dos filhos de Dom Bosco. Estou convencido de que nosso Pai quereria exatamente isto.

Eles ainda partem para dar suas vidas a Deus. Não apenas com palavras. A Congregação também pagou o tributo do sangue. O lema sacerdotal que o mártir Rodolfo Lunkenbein escolheu para sua ordenação foi “Eu vim para servir e dar minha vida”. Em sua última visita à Alemanha em 1974, sua mãe implorou-lhe que tivesse cuidado, pois eles a haviam informado dos riscos que seu filho corria. Ele respondeu: “Mãe, por que você se preocupa? Não há nada mais belo do que morrer pela causa de Deus. Esse seria o meu sonho”.

Tenho a firme convicção de que nossa Família deve caminhar nos próximos seis anos em direção a uma maior universalidade e sem fronteiras. As nações têm fronteiras. Nossa generosidade, que sustenta a missão, não pode e não deve conhecer limites. A profecia que devemos testemunhar como Congregação não inclui fronteiras.

Um missionário contava que ele havia celebrado a missa para os indígenas das montanhas perto de Cochabamba, Bolívia. Ele era um padre jovem e mal conhecia a língua quíchua; e, no final, enquanto se dirigia para casa, sentiu que tinha sido um fracasso e não tinha conseguido se comunicar de maneira alguma. Mas um velho camponês, mal vestido, apareceu e agradeceu ao jovem missionário por ter vindo.

Depois ele fez um movimento incrível: “Antes que eu pudesse abrir a boca, o velho camponês coloca as mãos nos bolsos de seu casaco e tira dois punhados de pétalas de rosas coloridas. Ele se levanta na ponta dos pés e, com gestos, pede que eu o ajude, abaixando a cabeça. Então ele deixa cair as pétalas na minha cabeça, e eu fico sem palavras. Ele volta a colocar as mãos em seus bolsos e consegue tirar mais dois punhados de pétalas. Continua a repetir o gesto, e a reserva de pétalas de rosas vermelhas, rosas e amarelas parecia não ter fim. Eu fico apenas ali parado e o deixo fazer isso, olhando para minhas sandálias de couro, molhadas de minhas lágrimas e cobertas com pétalas de rosa. Por fim, ele se despede e eu fico sozinho. Sozinho com a suave fragrância das rosas”. Posso dizer-lhes por experiência própria que milhões de famílias no mundo inteiro estão cheias de gratidão para com os salesianos que se tornaram o “evangelho” no meio deles.

Ángel Card. FERNÁNDEZ ARTIME

Reitor-Mor dos Salesianos de Dom Bosco