26 Set 2025, Sex

Mensagem do Reitor-Mor. Aquele jovem me disse: “Minha paixão é Cristo”

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Fazia muitos anos que eu não ouvia essa expressão de um jovem em um contexto tão descontraído, na presença de todos os seus companheiros que se apinhavam ao nosso redor.

Caros amigos do Boletim Salesiano, “ultrapassamos” o início do ano, como se diz no linguajar marítimo, e enfrentamos o Ano Novo. Cada começo possui algo mágico, e o novo sempre tem seu encanto especial. O ano de 2023 parecia distante, e, no entanto, aqui está. O Ano Novo é cada vez mais uma promessa de que uma boa notícia virá também para nós. O Ano Novo brota da luz e do entusiasmo que nos foram doados no Natal.

«Há um tempo para nascer», diz o Qoelet na Bíblia (cf. Ecl 3,2). Nunca é tarde demais para recomeçar. Deus começa sempre de novo conosco, cumulando-nos com a sua bênção.

Uma lição que aprendi nesses últimos anos: preparar-nos para as surpresas e para o inesperado. Como diz São Paulo em uma carta: “Nunca um coração humano pôde provar o que Deus preparou para os que o amam” (cf. 1Cor 2,9). O conteúdo da esperança cristã é viver abandonado nos braços de Deus. Hoje, mudaram muitas maneiras de viver, de se expressar, de se comunicar. Mas o coração humano, especialmente o dos jovens, é sempre o mesmo, como um rebento na primavera, cheio de vida pronta para irromper. Os jovens “são” a esperança que caminha. O que lhes estou dizendo agora me parece muito apropriado para esta saudação do Boletim Salesiano do mês de janeiro, o “mês de Dom Bosco”.

Há algumas semanas, visitei as presenças salesianas nos Estados Unidos da América (EUA); e um dia, de manhã cedo, cheguei à St Dominic Savio Middle and High School, em Los Angeles. Passei várias horas com centenas de alunos, seguidas de um painel de discussão com quarenta e cinco jovens da escola secundária. Falamos de seus planos e sonhos pessoais. Foi uma hora muito agradável e enriquecedora.

No final da manhã, partilhei um sanduíche com os jovens no pátio. Eu estava sentado em uma mesa de madeira no pátio, com meu sanduíche e uma garrafa de água. Quatro outros salesianos estavam comigo naquele momento; eu tinha cumprimentado muitos jovens, alguns sentados às mesas, outros de pé. Foi um almoço alegre. Em minha mesa havia dois assentos vazios, e em certo momento dois jovens se aproximaram e se sentaram conosco. Naturalmente, comecei a conversar com eles. Depois de alguns minutos, um dos jovens me disse: “Quero fazer-lhe uma pergunta”. “É claro, diga”.

O jovem disse: “O que tenho que fazer para ser Papa? Eu quero ser Papa”.

Fiquei surpreso, mas sorri. Respondi que nunca me haviam feito tal pergunta e que fiquei surpreso com sua clareza e determinação. Espontaneamente tentei explicar-lhe que entre tantos milhões de católicos há muita concorrência e que não é tão fácil ser eleito Papa.

Reitor-Mor no Centro Juvenil da Família Salesiana localizado em Boyle Heights, leste de Los Angeles, EUA, novembro de 2022

Eu lhe propus: “Escute, você poderia começar se tornando salesiano”.

O jovem disse sorridente: “Bem, não estou dizendo não” e acrescentou, muito seriamente: “porque o que é certo é que minha paixão é Cristo”. Devo dizer que fiquei impressionado e agradavelmente surpreso. Creio que já faz muitos anos que eu não ouvia essa expressão de um jovem em um contexto tão descontraído, na presença de todos os seus companheiros, que agora se apinhavam ao nosso redor.

O jovem tinha um sorriso genuíno em seu rosto e eu lhe disse que gostava muito de sua resposta, porque entendi que era absolutamente sincera. Acrescentei que, se ele concordasse, gostaria de contar nosso diálogo em outro momento e em outro lugar, e assim estou fazendo.

Mas já naquele momento meus pensamentos haviam voado para Dom Bosco. Certamente Dom Bosco teria apreciado um diálogo com um jovem como este. Não há dúvida de que em muitos diálogos que ele manteve com Sávio, Besucco, Magone, Rua, Cagliero, Francesia e muitos outros houve muito disso, o desejo desses jovens de fazer algo de belo com suas vidas.

E pensei como é importante hoje, 163 anos depois do início da Congregação Salesiana, continuar acreditando profundamente que os jovens são bons, que têm tantas sementes de bondade no coração, que têm sonhos e projetos que muitas vezes trazem consigo tanta generosidade e doação.

Como é importante continuar acreditando que é Deus quem age no coração de cada um de nós, de cada um de seus filhos e filhas.

Parece-me que hoje, em nosso tempo, corremos o risco de nos tornarmos tão práticos e eficientes em olhar tudo o que nos acontece e o que experimentamos que corremos o risco de perder a capacidade de surpreender-nos a nós mesmos e aos outros e, mais preocupantemente, de não nos deixarmos “surpreender por Deus”.

A esperança é como um vulcão dentro de nós, como uma fonte secreta que jorra em nossos corações, como uma fonte que irrompe no fundo de nossas almas: envolve-nos como um vórtice divino no qual estamos inseridos, pela graça de Deus. Penso que, como ontem com Dom Bosco, hoje há milhares e milhares de jovens que querem ver Jesus, que precisam fazer amizade com ele, que procuram alguém que os acompanhe nessa bela viagem.

Convido-os a juntarem-se a eles, caros amigos do Boletim, e desejo que tenham tempo para se maravilhar e tempo para confiar, tempo para olhar para as estrelas, tempo para crescer e amadurecer, tempo para ter esperança novamente e para amar. Desejo que vocês tenham tempo para viver cada dia, cada hora, como um presente. Desejo-lhes também tempo para perdoar, tempo para doar-se aos outros e muito tempo para rezar, sonhar e ser feliz.

By Ángel Card. FERNÁNDEZ ARTIME

Reitor-Mor dos Salesianos de Dom Bosco