Dom José Malandrino e o Servo de Deus Nino Baglieri

Dom José Malandrino, IX bispo da diocese de Noto, retornou à Casa do Pai, no último dia 3 de agosto de 2025. Nesse dia se celebrava a festa da Padroeira da Diocese de Noto, Maria Scala del Paradiso [Maria, Escada do Paraíso]. Estava com 94 anos de idade, 70 anos de sacerdócio e 45 anos de consagração episcopal. São números respeitáveis para um homem que serviu a Igreja como Pastor com “o cheiro das ovelhas”, como o Papa Francisco costumava enfatizar.

Para-raios da humanidade
Na experiência como pastor da Diocese de Noto (19.06.1998 – 15.07.2007), teve a oportunidade de cultivar a amizade com o Servo de Deus Nino Baglieri. Quase nunca faltava uma “parada” na casa de Nino quando motivos pastorais o levavam a Módica. Em seu testemunho, Dom Malandrino diz: “…encontrando-me ao lado de Nino, tinha a percepção viva de que este nosso amado irmão enfermo era verdadeiramente um ‘para-raios da humanidade’, segundo uma concepção dos sofredores que me é muito cara e que quis propor também na Carta Pastoral sobre a missão permanente ‘Sereis minhas testemunhas’ (2003).” Dom Malandrino escreve: “É necessário reconhecer nos doentes e sofredores o rosto de Cristo sofredor e assisti-los com o mesmo cuidado e amor de Jesus em sua paixão, vivida em espírito de obediência ao Pai e solidariedade aos irmãos.” Isso foi plenamente encarnado pela querida mãe de Nino, a senhora Peppina. Ela, típica mulher siciliana, com um caráter forte e muita determinação, respondeu ao médico que propôs a eutanásia para seu filho (dadas as graves condições de saúde e a perspectiva de uma vida de paralisia): “se o Senhor quiser, Ele o levará, mas se me deixá-lo assim, fico feliz em cuidar dele por toda a vida.” A mãe de Nino, naquele momento, estava consciente do que estava por vir? Maria, mãe de Jesus, estava consciente da dor que teria que sofrer pelo Filho de Deus? A resposta, vista com olhos humanos, parece não ser fácil, especialmente em nossa sociedade do século XXI, onde tudo é efêmero, flutuante, consumido num “instante”. O “Fiat” da mãe Peppina tornou-se, como o de Maria, um Sim de Fé e adesão àquela vontade de Deus que se cumpre no saber carregar a Cruz, no saber dar “alma e corpo” à realização do Plano de Deus.

Da dor à alegria
A relação de amizade entre Nino e Dom Malandrino já estava iniciada quando este último ainda era bispo de Acireale; de fato, já em 1993, por meio do Padre Atílio Balbinot, um camiliano muito próximo a Nino, ele presenteou-o com seu primeiro livro: “Da dor à alegria”. Na experiência de Nino, a relação com o Bispo de sua diocese era uma relação de filiação total. Desde o momento em que aceitou o Plano de Deus para ele, fazia sentir sua presença “ativa” oferecendo seus sofrimentos pela Igreja, pelo Papa e pelos Bispos (bem como pelos sacerdotes e missionários). Essa relação de filiação era renovada anualmente no dia 6 de maio, data da queda vista depois como o início misterioso de um renascimento. No dia 8 de maio de 2004, poucos dias após celebrar o 36º aniversário da Cruz de Nino, Dom Malandrino foi à sua casa. Em memória daquele encontro, Nino escreveu em suas memórias: “é sempre uma grande alegria toda vez que o vejo e recebo muita força e energia para carregar minha Cruz e oferecê-la com tanto Amor pelas necessidades da Santa Igreja e, em particular, pelo meu Bispo e pela nossa Diocese; que o Senhor lhe conceda cada vez mais santidade para nos guiar por muitos anos sempre com mais ardor e amor…”. Ainda: “… a Cruz é pesada, mas o Senhor me concede muitas Graças que tornam o sofrimento menos amargo e a Cruz se torna leve e suave, a Cruz se faz Dom, oferecida ao Senhor com muito Amor pela salvação das almas e pela Conversão dos Pecadores…”. Por fim, é importante destacar que, nessas ocasiões de graça, nunca faltava o pedido insistente e constante de “ajuda para me tornar Santo com a Cruz de cada dia”. Nino, de fato, queria absolutamente se tornar santo.

Uma beatificação antecipada
Momento de grande relevância foram, nesse sentido, as exéquias do Servo de Deus em 3 de março de 2007, quando justamente Dom Malandrino, no início da Celebração Eucarística, com devoção se inclinou, mesmo com dificuldade, para beijar o caixão que continha os restos mortais de Nino. Foi uma homenagem a um homem que viveu 39 anos de sua existência em um corpo que “não sentia”, mas que irradiava alegria de viver em 360 graus. Dom Malandrino ressaltou que a celebração da Missa, no pátio dos Salesianos que se tornou para a ocasião uma “catedral” a céu aberto, foi uma autêntica apoteose (milhares de pessoas participaram em lágrimas) e se percebia claramente e comunitariamente que não se tratava de um funeral, mas de uma verdadeira “beatificação”. Nino, com seu testemunho de vida, tornou-se um ponto de referência para muitos, jovens ou menos jovens, leigos ou consagrados, mães ou pais de família, que graças ao seu precioso testemunho conseguiam ler sua própria existência e encontrar respostas que não conseguiam achar em outro lugar. Dom Malandrino também enfatizou esse aspecto várias vezes: «de fato, cada encontro com o querido Nino foi para mim, como para todos, uma forte e viva experiência de edificação e – na sua doçura – um poderoso estímulo à doação paciente e generosa. A presença do Bispo lhe conferia imensa alegria porque, além do afeto do amigo que o visitava, ele percebia a comunhão eclesial. É óbvio que o que eu recebia dele era sempre muito mais do que aquele pouco que eu podia lhe dar». A “fixação” de Nino era “se tornar santo”: ter vivido e encarnado plenamente o evangelho da Alegria no Sofrimento, com seus padecimentos físicos e seu dom total para a amada Igreja, fez com que tudo não terminasse com sua partida para a Jerusalém do Céu, mas continuasse ainda, como ressaltou Dom Malandrino nas exéquias: “… a missão de Nino continua agora também através de seus escritos. Ele mesmo havia antecipado isso em seu Testamento espiritual”: “… meus escritos continuarão meu testemunho, continuarei a dar Alegria a todos e a falar do Grande Amor de Deus e das Maravilhas que Ele fez em minha vida”. Isso ainda está se cumprindo porque não pode ficar escondida “uma cidade situada sobre um monte e não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo do alqueire, mas no candelabro, para iluminar todos os que estão em casa” (Mateus 5,14-16). Metaforicamente, quer-se destacar que a “luz” (entendida em sentido amplo) deve ser visível, mais cedo ou mais tarde: o que é importante virá à luz e será reconhecido.
Relembrar nestes dias – marcados pela morte de Dom Malandrino, seus funerais em Acireale (5 de agosto, Madonna della Neve [Nossa Senhora da Neve]) e em Noto (7 de agosto) com sepultamento na sequência na catedral que ele mesmo desejou fortemente reformar após o desabamento de 13 de março de 1996 e que foi reaberta em março de 2007 (mês em que Nino Baglieri faleceu) – significa revisitar esse laço entre duas grandes figuras da Igreja de Noto, fortemente entrelaçadas e ambas capazes de deixar nela uma marca que não se apaga.

Roberto Chiaramonte




Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho, testemunha de esperança

Uma mulher de fé inabalável, de lágrimas fecundas, atendida por Deus após dezessete longos anos. Um modelo de cristã, esposa e mãe para toda a Igreja. Uma testemunha de esperança que se transformou em poderosa intercessora no Céu. O próprio Dom Bosco recomendava às mães, aflitas pela vida pouco cristã de seus filhos, que se encomendassem a ela nas orações.

Na grande galeria dos santos e santas que marcaram a história da Igreja, Santa Mônica (331-387) ocupa um lugar singular. Não por milagres espetaculares, não pela fundação de comunidades religiosas, nem por feitos sociais ou políticos de destaque. Mônica é lembrada e venerada sobretudo como mãe, a mãe de Agostinho, o jovem inquieto que, graças às suas orações, às suas lágrimas e ao seu testemunho de fé, tornou-se um dos maiores Padres da Igreja e Doutores da fé católica.
Mas limitar sua figura ao papel materno seria injusto e redutor. Mônica foi uma mulher que soube viver sua vida ordinária – esposa, mãe, crente – de forma extraordinária, transfigurando o cotidiano pela força da fé. É um exemplo de perseverança na oração, de paciência no casamento, de esperança inabalável diante dos desvios do filho.
As informações sobre sua vida chegam até nós quase exclusivamente pelas Confissões de Agostinho, um texto que não é uma crônica, mas uma leitura teológica e espiritual da existência. Ainda assim, nessas páginas Agostinho traça um retrato inesquecível da mãe: não apenas uma mulher boa e piedosa, mas um autêntico modelo de fé cristã, uma “mãe das lágrimas” que se tornam fonte de graça.

As origens em Tagaste
Mônica nasceu em 331 em Tagaste, cidade da Numídia, Souk Ahras na atual Argélia. Era um centro vibrante, marcado pela presença romana e por uma comunidade cristã já enraizada. Proveniente de uma família cristã abastada: a fé já fazia parte de seu horizonte cultural e espiritual.
Sua formação foi marcada pela influência de uma ama austera, que a educou na sobriedade e na temperança. Santo Agostinho escreverá sobre ela: “Não falarei, portanto, de seus dons, mas dos teus dons a ela, que não se fez sozinha, nem foi educada sozinha. Tu a criaste sem que nem o pai nem a mãe soubessem que filha teriam; e a ensinaste no teu temor com a vara do teu Cristo, ou seja, a disciplina do teu Unigênito, numa casa de crentes, membro saudável da tua Igreja.” (Confissões IX, 8, 17).

Nas mesmas Confissões, Agostinho também relata um episódio significativo: a jovem Mônica havia adquirido o hábito de beber pequenos goles de vinho da adega, até que uma serva a repreendeu chamando-a de “bêbada”. Essa repreensão foi suficiente para que ela se corrigisse definitivamente. Essa historieta, aparentemente sem importância, mostra sua honestidade em reconhecer seus pecados, em deixar-se corrigir e em crescer em virtude.

Aos 23 anos, Mônica foi dada em casamento a Patrício, um funcionário municipal pagão, conhecido por seu temperamento colérico e sua infidelidade conjugal. A vida matrimonial não foi fácil: a convivência com um homem impulsivo e distante da fé cristã colocou à prova sua paciência.
No entanto, Mônica nunca caiu em desânimo. Com uma atitude de mansidão e respeito, soube conquistar progressivamente o coração do marido. Não respondia com dureza às explosões de raiva, não alimentava conflitos inúteis. Com o tempo, sua constância deu frutos: Patrício se converteu e recebeu o batismo pouco antes de morrer.
O testemunho de Mônica mostra como a santidade não se expressa necessariamente em gestos grandiosos, mas na fidelidade cotidiana, no amor que sabe transformar lentamente as situações difíceis. Nesse sentido, é um modelo para muitas esposas e mães que vivem casamentos marcados por tensões ou diferenças de fé.

Mônica mãe
Do casamento nasceram três filhos: Agostinho, Navígio e uma filha cujo nome desconhecemos. Mônica derramou sobre eles todo seu amor, mas sobretudo sua fé. Navígio e a filha seguiram um caminho cristão linear: Navígio tornou-se sacerdote; a filha seguiu o caminho da virgindade consagrada. Agostinho, por sua vez, tornou-se logo o centro de suas preocupações e lágrimas.
Desde garoto, Agostinho mostrava uma inteligência extraordinária. Mônica o enviou para estudar retórica em Cartago, desejosa de garantir-lhe um futuro brilhante. Mas junto com os progressos intelectuais vieram também as tentações: sensualidade, mundanismo, más companhias. Agostinho abraçou a doutrina maniqueísta, convencido de encontrar nela respostas racionais para o problema do mal. Além disso, começou a conviver sem casar com uma mulher, da qual teve um filho, Adeodato. Os desvios do filho levaram Mônica a negar-lhe acolhida em sua casa. Mas não por isso deixou de orar por ele e de oferecer sacrifícios: “do coração sangrante de minha mãe te era oferecido por mim noite e dia o sacrifício de suas lágrimas”. (Confissões V, 7,13) e “derramava mais lágrimas do que jamais derramam as mães pela morte física dos filhos” (Confissões III, 11,19).

Para Mônica foi uma ferida profunda: o filho, que ela havia consagrado a Cristo no ventre, estava se perdendo. A dor era indescritível, mas ela nunca deixou de esperar. O próprio Agostinho escreverá: “O coração de minha mãe, atingido por tal ferida, nunca mais sararia: porque não sei expressar adequadamente seus sentimentos por mim e quão maior foi seu trabalho ao me dar à luz em espírito do que aquele com que me deu à luz na carne.” (Confissões V, 9,16).

Surge espontânea a pergunta: por que Mônica não batizou Agostinho logo após o nascimento?
Na verdade, embora o batismo infantil já fosse conhecido e praticado, ainda não era uma prática universal. Muitos pais preferiam adiá-lo para a idade adulta, considerando-o um “banho definitivo”: temiam que, se o batizado pecasse gravemente, a salvação estaria comprometida. Além disso, Patrício, ainda pagão, não tinha interesse em educar o filho na fé cristã.
Hoje vemos claramente que foi uma escolha infeliz, pois o batismo não só nos torna filhos de Deus, mas nos dá a graça de vencer as tentações e o pecado.
Uma coisa, porém, é certa: se ele tivesse sido batizado quando criança, Mônica teria poupado a si mesma e ao filho muitos sofrimentos.

A imagem mais forte de Mônica é a de uma mãe que ora e chora. As Confissões a descrevem como uma mulher incansável em interceder junto a Deus pelo filho.
Um dia, um bispo de Tagaste – segundo alguns, o próprio Ambrósio – a tranquilizou com palavras que ficaram célebres: “Vai, não pode se perder o filho de tantas lágrimas”. Essa frase tornou-se a estrela guia de Mônica, a confirmação de que sua dor materna não era em vão, mas parte de um misterioso desígnio de graça.

Tenacidade de uma mãe
A vida de Mônica foi também uma peregrinação nos passos de Agostinho. Quando o filho decidiu partir às escondidas para Roma, Mônica não poupou esforços; não deu a causa como perdida, mas o seguiu e o procurou até encontrá-lo. Ela o alcançou em Milão, onde Agostinho havia conseguido uma cátedra de retórica. Ali encontrou um guia espiritual em Santo Ambrósio, bispo da cidade. Entre Mônica e Ambrósio nasceu uma profunda sintonia: ela reconhecia nele o pastor capaz de guiar o filho, enquanto Ambrósio admirava sua fé inabalável.
Em Milão, a pregação de Ambrósio abriu novas perspectivas para Agostinho. Ele abandonou progressivamente o maniqueísmo e começou a olhar para o cristianismo com novos olhos. Mônica acompanhava silenciosamente esse processo: não forçava os tempos, não exigia conversões imediatas, mas orava, apoiava e permanecia ao lado dele até sua conversão.

A conversão de Agostinho
Parecia que Deus não a ouvia, mas Mônica nunca deixou de orar e oferecer sacrifícios pelo filho. Após dezessete anos, finalmente suas súplicas foram atendidas – e como! Agostinho não só se tornou cristão, mas também sacerdote, bispo, doutor e padre da Igreja.
Ele mesmo reconhece: “Tu, porém, na profundidade dos teus desígnios, atendeste ao ponto vital do seu desejo, sem te importares com o objeto momentâneo de seu pedido, mas cuidando de fazer de mim aquilo que sempre te pedia que fizesse.” (Confissões V, 8,15).

O momento decisivo chegou em 386. Agostinho, atormentado interiormente, lutava contra as paixões e resistências de sua vontade. No célebre episódio do jardim de Milão, ao ouvir a voz de uma criança dizendo “Tolle, lege” (“Toma, lê”), abriu a Carta aos Romanos e leu as palavras que mudaram sua vida: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não atendais aos desejos e paixões da vida carnal” (Rm 13,14).
Foi o início de sua conversão. Junto com o filho Adeodato e alguns amigos, retirou-se para Cassicíaco para se preparar para o batismo. Mônica estava com eles, participando da alegria de ver finalmente atendidas as orações de tantos anos.
Na noite de Páscoa de 387, na catedral de Milão, Ambrósio batizou Agostinho, Adeodato e os outros catecúmenos. As lágrimas de dor de Mônica se transformaram em lágrimas de alegria. Continuou a servi-los, tanto que em Cassicíaco Agostinho dirá: “Cuidou como se fosse mãe de todos e nos serviu como se fosse filha de todos.”.

Óstia: o êxtase e a morte
Após o batismo, Mônica e Agostinho se prepararam para voltar à África. Parando em Óstia, aguardando o navio, viveram um momento de intensa espiritualidade. As Confissões narram o êxtase de Óstia: mãe e filho, à janela, contemplaram juntos a beleza da criação e se elevaram a Deus, antecipando a bem-aventurança do céu.
Mônica dirá: “Filho, quanto a mim não encontro mais nenhum atrativo nesta vida. Não sei por que ainda estou aqui e o que faço aqui. Este mundo não é mais objeto de desejos para mim. Havia apenas um motivo para querer ficar um pouco mais nesta vida: ver-te cristão católico antes de morrer. Deus me atendeu além de toda minha expectativa, concedeu-me ver-te a seu serviço e liberto das aspirações de felicidade terrena. Para que estou aqui?” (Confissões IX, 10,11). Ela havia alcançado seu objetivo terreno.
Alguns dias depois, Mônica adoeceu gravemente. Sentindo a proximidade da morte, disse aos filhos: “Meus filhos, sepultem aqui sua mãe: não se preocupem com o lugar. Só lhes peço uma coisa: lembrem-se de mim no altar do Senhor, onde quer que estejam”. Essa foi a síntese de sua vida: não importava o local do sepultamento, mas o vínculo na oração e na Eucaristia.
Morreu aos 56 anos, em 12 de novembro de 387, e foi sepultada em Óstia. No século VI, suas relíquias foram transferidas para uma cripta escondida na mesma igreja de Santa Áurea. Em 1425, as relíquias foram transladas para Roma, na basílica de Santo Agostinho no Campo de Márcio, onde ainda hoje são veneradas.

O perfil espiritual de Mônica
Agostinho descreve sua mãe com palavras bem medidas:
“[…] feminina na aparência, viril na fé, vigilante na serenidade, maternal no amor, cristã na piedade […]”. (Confissões IX, 4,8).
E ainda:
“[…] viúva casta e sóbria, assídua na esmola, devota e submissa aos teus santos; que não deixava passar um dia sem levar a oferta ao teu altar, que duas vezes ao dia, de manhã e à noite, sem falta visitava tua igreja, e não para conversar inutilmente e tagarelar como as outras velhas, mas para ouvir tuas palavras e fazer ouvir suas orações. As lágrimas de tal mulher, que com elas te pedia não ouro nem prata, nem bens volúveis ou instáveis, mas a salvação da alma de seu filho, tu poderias desprezá-las, tu que assim a fizeste com tua graça, recusando-lhe teu socorro? Certamente não, Senhor. Tu, ao contrário, estavas ao lado dela e a atendias, operando segundo a ordem com que predestinaste que devesse operar.” (Confissões V, 9,17).

Desse testemunho agostiniano, emerge uma figura de surpreendente atualidade.
Foi uma mulher de oração: nunca deixou de invocar a Deus pela salvação de seus entes queridos. Suas lágrimas tornam-se modelo de intercessão perseverante.
Foi uma esposa fiel: em um casamento difícil, nunca respondeu com ressentimento à dureza do marido. Sua paciência e mansidão foram instrumentos de evangelização.
Foi uma mãe corajosa: não abandonou o filho em seus desvios, mas o acompanhou com amor tenaz, capaz de confiar nos tempos de Deus.
Foi uma testemunha de esperança: sua vida mostra que nenhuma situação é desesperadora, se vivida na fé.
A mensagem de Mônica não pertence apenas ao século IV. Fala ainda hoje, em um contexto em que muitas famílias vivem tensões: filhos se afastam da fé, pais experimentam a dificuldade da espera.
Ensina aos pais a não desistir, a crer que a graça opera de maneiras misteriosas.
Mostra às mulheres cristãs como a mansidão e a fidelidade podem transformar relações difíceis.
A quem se sinta desanimado na oração, testemunha que Deus escuta, mesmo que os tempos não coincidam com os nossos.
Não é por acaso que muitas associações e movimentos escolheram Mônica como padroeira das mães cristãs e das mulheres que rezam pelos filhos afastados da fé.

Uma mulher simples e extraordinária
A vida de Santa Mônica é a história de uma mulher simples e extraordinária ao mesmo tempo. Simples porque vivida no cotidiano de uma família; extraordinária porque transfigurada pela fé. Suas lágrimas e suas orações moldaram um santo e, através dele, marcaram profundamente a história da Igreja.
Sua memória, celebrada em 27 de agosto, na véspera da festa de Santo Agostinho, nos lembra que a santidade muitas vezes passa pela perseverança oculta, pelo sacrifício silencioso, pela esperança que não decepciona.
Nas palavras de Agostinho, dirigidas a Deus pela mãe, encontramos a síntese de sua herança espiritual: “Não posso dizer o quanto minha alma lhe é devedora, meu Deus; mas tu sabes tudo. Recompensa-a com tua misericórdia pelo que te pediu com tantas lágrimas por mim” (Conf., IX, 13).

Santa Mônica, através dos acontecimentos de sua vida, alcançou a felicidade eterna que ela mesma definiu: “A felicidade consiste, sem dúvida, em alcançar o fim e devemos confiar que podemos ser conduzidos a ele por uma fé firme, por uma viva esperança, por uma ardente caridade”. (A Felicidade 4,35).




Tornar-se um sinal de esperança em Essuatíni – Lesoto – África do Sul após 130 anos

No coração da África Austral, entre as belezas naturais e os desafios sociais de Essuatíni, Lesoto e África do Sul, os Salesianos celebram 130 anos de presença missionária. Neste tempo de Jubileu, de Capítulo Geral e de aniversários históricos, a Inspetoria África Meridional compartilha seus sinais de esperança: a fidelidade ao carisma de Dom Bosco, o compromisso educativo e pastoral entre os jovens e a força de uma comunidade internacional que testemunha fraternidade e resiliência. Apesar das dificuldades, o entusiasmo dos jovens, a riqueza das culturas locais e a espiritualidade do Ubuntu continuam a indicar caminhos de futuro e comunhão.

Saudações fraternas dos Salesianos da menor Visitadoria e da mais antiga presença na Região África-Madagascar (desde 1896, quando os primeiros 5 coirmãos foram enviados pelo P. Rua). Este ano agradecemos aos 130 SDB que trabalharam em nossos 3 países e que agora intercedem por nós do céu. “Pequeno é belo”!

No território da AFM vivem 65 milhões de pessoas que se comunicam em 12 línguas oficiais, entre tantas maravilhas da natureza e grandes recursos do subsolo. Estamos entre os poucos países da África subsaariana onde os católicos são uma pequena minoria em relação às outras Igrejas cristãs, com apenas 5 milhões de fiéis.

Quais são os sinais de esperança que nossos jovens e a sociedade estão buscando?
Em primeiro lugar, estamos tentando superar os famigerados recordes mundiais da crescente disparidade entre ricos e pobres (100.000 milionários contra 15 milhões de jovens desempregados), da falta de segurança e do aumento da violência no cotidiano, do colapso do sistema educacional, que produziu uma nova geração de milhões de analfabetos, lidando com várias dependências (álcool, drogas…). Além disso, 30 anos após o fim do regime do apartheid em 1994, a sociedade e a Igreja ainda estão divididas entre as várias comunidades em termos de economia, oportunidades e muitas feridas ainda não cicatrizadas. De fato, a comunidade do “País do Arco-Íris” está lutando com muitas “lacunas” que só podem ser “preenchidas” com os valores do Evangelho.

Quais são os sinais de esperança que a Igreja Católica na África do Sul está buscando?
Participando do encontro trienal “Joint Witness” [Testemunha Conjunta] dos superiores religiosos e bispos em 2024, percebemos muitos sinais de declínio: menos fiéis, falta de vocações sacerdotais e religiosas, envelhecimento e diminuição do número de religiosos, algumas dioceses em falência, perda contínua/diminuição de instituições católicas (assistência médica, educação, obras sociais ou mídia) devido à forte queda no número de religiosos e leigos comprometidos. A Conferência Episcopal Católica (SACBC – que inclui Botswana, Essuatíni e África do Sul) indica como prioridade o atendimento aos jovens dependentes de álcool e outras substâncias.

Quais são os sinais de esperança que os salesianos da África Meridional estão buscando?
Rezamos todos os dias por novas vocações salesianas, para poder acolher novos missionários. De fato, terminou a época da Inspetoria Anglo-Irlandesa (até 1988) e o Projeto África não incluía a ponta sul do continente. Após 70 anos em Essuatíni (ex-Suazilândia) e 45 anos no Lesoto, temos apenas 4 vocações locais de cada Reino. Hoje temos apenas 5 jovens coirmãos e 4 noviços em formação inicial. No entanto, a menor Visitadoria da África-Madagascar, através de suas 7 comunidades locais, é responsável pela educação e cuidado pastoral em 6 grandes paróquias, 18 escolas primárias e secundárias, 3 centros de formação profissional (TVET) e vários programas de assistência social. Nossa comunidade inspetorial, com 18 nacionalidades diferentes entre os 35 SDB que vivem nas 7 comunidades, é um grande dom e um desafio a ser acolhido.

Como comunidade católica minoritária e frágil da África Austral
Acreditamos que o único caminho para o futuro é construir mais pontes e comunhão entre os religiosos e as dioceses: quanto mais fracos somos, mais nos esforçamos para trabalhar juntos. Como toda a Igreja Católica busca focar nos jovens, Dom Bosco foi escolhido pelos bispos como Padroeiro da Pastoral Juvenil e sua Novena é celebrada com fervor na maioria das dioceses e paróquias no início do ano pastoral.

Como Salesianos e Família Salesiana, nos encorajamos constantemente uns aos outros: “work in progress” (um trabalho constante)
Nos últimos dois anos, após o convite do Reitor-Mor, temos buscado relançar nosso carisma salesiano, com a sabedoria de uma visão e direção comum (a partir da assembleia anual inspetorial), com uma série de pequenos e simples passos diários na direção certa e com a sabedoria da conversão pessoal e comunitária.

Somos gratos pelo encorajamento do P. Pascual Chávez para nosso recente Capítulo Inspetorial de 2024: «Vocês sabem bem que é mais difícil, mas não impossível, “refundar” do que fundar [o carisma], porque existem hábitos, atitudes ou comportamentos que não correspondem ao espírito do nosso Santo Fundador, Dom Bosco, e ao seu Projeto de Vida, e que têm “direito de cidadania” [na Inspetoria]. Há realmente necessidade de uma verdadeira conversão de cada coirmão a Deus, tendo o Evangelho como suprema regra de vida, e de toda a Inspetoria a Dom Bosco, assumindo as Constituições como verdadeiro projeto de vida».

Foi aprovado o conselho do P. Pascual e o compromisso: “Tornar-se mais apaixonados por Jesus e dedicados aos jovens”, investindo na conversão pessoal (criando um espaço sagrado em nossa vida, para deixar que Jesus a transforme), na conversão comunitária (investindo na formação permanente sistemática mensal segundo um tema) e na conversão inspetorial (promovendo a mentalidade inspetorial através do “One Heart One Soul” [Um só coração e uma só alma] – fruto da nossa assembleia inspetorial) e com encontros mensais online dos diretores.

Na foto de lembrança da nossa Visitadoria do Beato Miguel Rua, ao lado dos rostos de todos os 46 coirmãos e 4 noviços (35 vivem em nossas 7 comunidades, 7 estão em formação no exterior e 5 SDB aguardam visto; um está nas catacumbas de São Calisto e um missionário faz quimioterapia na Polônia). Também somos abençoados por um número crescente de coirmãos missionários enviados pelo Reitor-Mor ou por um período específico por outras Inspetorias africanas para nos ajudar (AFC, ACC, ANN, ATE, MDG e ZMB). Somos muito gratos a cada um desses jovens coirmãos. Acreditamos que, com a ajuda deles, nossa esperança de relançamento carismático está se tornando tangível. Nossa Visitadoria – a menor da África-Madagascar, após quase 40 anos da fundação, ainda não tem uma verdadeira casa inspetorial. A construção começou, com a ajuda do Reitor-Mor, apenas no ano passado. Também aqui dizemos: “trabalhos em andamento”…

Queremos compartilhar também nossos humildes sinais de esperança com todas as outras 92 Inspetorias neste precioso período do Capítulo Geral. A AFM tem uma experiência única de 31 anos de voluntários missionários locais (envolvidos na Pastoral Juvenil do Centro Juvenil Bosco de Joanesburgo desde 1994), o programa “Love Matters” [O amor é o que importa] para um crescimento sexual saudável dos adolescentes desde 2001. Nossos voluntários, de fato, envolvidos por um ano inteiro na vida da nossa comunidade, são os membros mais preciosos da nossa Missão e dos novos grupos da Família Salesiana que estão crescendo lentamente (VDB, Salesianos Cooperadores e Ex-alunos de Dom Bosco).

Nossa casa-mãe na Cidade do Cabo celebrará já no próximo ano seu centésimo trigésimo (130º) aniversário e, graças ao centésimo quinquagésimo (150º) aniversário das Missões Salesianas, realizamos, com a ajuda da Inspetoria da China, uma especial “Sala da Memória de São Luís Versiglia”, onde nosso Protomártir passou um dia durante seu retorno da Itália para a China-Macau em maio de 1917.

Dom Bosco ‘Ubuntu’ – caminho sinodal
“Estamos aqui graças a vocês!” – Ubuntu é uma das contribuições das culturas da África Meridional para a comunidade global. A palavra na língua Nguni significa “Eu sou porque vocês são” (“I’m because you are!”. Outras possíveis traduções: “Eu existo porque vocês existem”). No ano passado iniciamos o projeto “Eco Ubuntu” (projeto de conscientização ambiental com duração de 3 anos) que envolve cerca de 15.000 jovens das nossas 7 comunidades em Essuatíni, Lesoto e África do Sul. Além da linda celebração e da partilha do Sínodo dos Jovens 2024, nossos 300 jovens [que participaram] guardam principalmente o Ubuntu em suas memórias. O entusiasmo deles é uma fonte de inspiração. A AFM precisa de vocês: Estamos aqui graças a vocês!

Marco Fulgaro




Dom José Luis Carreño, missionário salesiano

O P. José Luís Carreño (1905-1986) foi descrito pelo historiador José Thekkedath como “o salesiano mais amado do sul da Índia” na primeira metade do século XX. Em todos os lugares onde viveu – seja na Índia britânica, na colônia portuguesa de Goa, nas Filipinas ou na Espanha – encontramos salesianos que guardam com carinho sua memória. Estranhamente, porém, ainda não dispomos de uma biografia adequada deste grande salesiano, exceto pela extensa carta mortuária redigida pelo P. José Antônio Rico: “José Luís Carreño Etxeandía, operário de Deus”. Esperamos que em breve essa lacuna seja preenchida. O P. Carreño foi um dos artífices da região da Ásia Sul, e não podemos nos dar ao luxo de esquecê-lo.

José Luís Carreño Etxeandía nasceu em Bilbao, na Espanha, em 23 de outubro de 1905. Órfão de mãe aos oito anos, foi acolhido na casa salesiana de Santander. Em 1917, aos doze anos, entrou no aspirantado de Campello. Lembra que naquela época “não se falava muito de Dom Bosco… Mas para nós um P. Binelli era um Dom Bosco, sem falar do P. Rinaldi, então Prefeito Geral, cujas visitas nos deixavam uma sensação sobrenatural, como quando os mensageiros de Javé visitaram a tenda de Abraão”.
Após o noviciado e pós-noviciado, realizou o tirocínio como assistente dos noviços. Devia ser um clérigo brilhante, pois o P. Pedro Escursell escreveu ao Reitor-Mor sobre ele: “Estou falando neste momento com um dos clérigos modelo desta casa. Ele é assistente na formação do pessoal desta Inspetoria; me disse que há muito tempo pede para ser enviado às missões e que desistiu de pedir porque não recebe resposta. É um jovem de grande valor intelectual e moral.”
Na véspera de sua ordenação sacerdotal, em 1932, o jovem José Luís escreveu diretamente ao Reitor-Mor, oferecendo-se para as missões. A oferta foi aceita, e ele foi enviado para a Índia, desembarcando em Mumbai em 1933. Apenas um ano depois, quando foi criada a Inspetoria da Índia do Sul, foi nomeado mestre dos noviços em Tirupattur: tinha apenas 28 anos. Com suas extraordinárias qualidades de mente e coração, tornou-se rapidamente a alma da casa e deixou uma profunda impressão em seus noviços. “Nos conquistou com seu coração paterno”, escreve um deles, o arcebispo Hubert D’Rosario de Shillong.
O P. José Vaz, outro noviço, contava frequentemente como Carreño percebeu que ele tremia de frio durante uma conferência. “Espere um momento, hombre,” disse o mestre dos noviços, e saiu. Pouco depois voltou com um suéter azul que entregou a Joe. Joe notou que o suéter estava estranhamente quente. Então lembrou que sob a batina seu mestre usava algo azul… que agora não estava mais lá. Carreño lhe dera seu próprio suéter.
Em 1942, quando o governo britânico na Índia aprisionou todos os estrangeiros provenientes de países em guerra com a Grã-Bretanha, Carreño, sendo cidadão de um país neutro, não foi incomodado. Em 1943 recebeu uma mensagem pela Rádio Vaticana: deveria substituir o P. Eligio Cinato, inspetor da Inspetoria da Índia do Sul, também preso. No mesmo período, o arcebispo salesiano Luís Mathias de Madras-Mylapore o convidou para ser seu vigário geral.
Em 1945 foi oficialmente nomeado inspetor, cargo que ocupou de 1945 a 1951. Um de seus primeiros atos foi consagrar a Inspetoria ao Sagrado Coração de Jesus. Muitos salesianos acreditavam que o extraordinário crescimento da Inspetoria do Sul se devia justamente a esse gesto. Sob a liderança do P. Carreño, as obras salesianas dobraram. Um de seus atos mais visionários foi o início de uma faculdade universitária na remota e pobre vila de Tirupattur. O Sacred Heart College acabaria por transformar todo o distrito.
O P. Carreño foi também o principal artífice da “indianização” do rosto salesiano na Índia, buscando desde o início vocações locais, em vez de depender exclusivamente dos missionários estrangeiros. Uma escolha que se revelou providencial: primeiro, porque o fluxo de missionários estrangeiros cessou durante a guerra; depois, porque a Índia independente decidiu não conceder mais vistos a novos missionários estrangeiros. “Se hoje os salesianos na Índia são mais de dois mil, o mérito desse crescimento deve ser atribuído às políticas iniciadas pelo P. Carreño,” escreve o P. Thekkedath em sua história dos salesianos na Índia.
Como dissemos, o P. Carreño não era apenas inspetor, mas também vigário de Dom Mathias. Esses dois grandes homens, que se estimavam profundamente, eram, porém, muito diferentes em temperamento. O arcebispo defendia medidas disciplinares severas contra os coirmãos em dificuldades, enquanto o P. Carreño preferia procedimentos mais brandos. O visitador extraordinário, P. Albino Fedrigotti, parece ter dado razão ao arcebispo, definindo o P. Carreño como “um excelente religioso, um homem de grande coração”, mas também “um pouco poeta demais”.
Não faltou também a acusação de ser um mau administrador, mas é significativo que uma figura como o P. Aurélio Maschio, grande procurador e arquiteto das obras salesianas de Mumbai, tenha rejeitado firmemente tal acusação. Na verdade, o P. Carreño era um inovador e visionário. Algumas de suas ideias – como a de envolver voluntários não salesianos para um serviço de alguns anos – eram, na época, vistas com desconfiança, mas hoje são amplamente aceitas e ativamente promovidas.
Em 1951, ao término de seu mandato oficial como inspetor, Carreño foi chamado a retornar à Espanha para cuidar dos Salesianos Cooperadores. Esse não era o verdadeiro motivo de sua partida, após dezoito anos na Índia, mas Carreño aceitou serenamente, embora não sem dor.
Em 1952 foi enviado a Goa, onde permaneceu até 1960. “Goa foi amor à primeira vista,” escreveu em Urdimbre en el telar. Goa, por sua vez, o acolheu no coração. Prosseguiu a tradição dos salesianos que serviam como diretores espirituais e confessores do clero diocesano, e foi até patrono da associação dos escritores em língua concani. Acima de tudo, governou a comunidade de Dom Bosco Panjim com amor, cuidou com extraordinária paternidade dos muitos meninos pobres e, mais uma vez, dedicou-se ativamente à busca de vocações para a vida salesiana. Os primeiros salesianos de Goa – pessoas como Thomas Fernandes, Elias Diaz e Rômulo Noronha – contavam com lágrimas nos olhos como Carreño e outros passavam pelo Goa Medical College, bem ao lado da casa salesiana, para doar sangue e assim conseguir algumas rúpias para comprar mantimentos e outros bens para os meninos.
Em 1961 ocorreram a ação militar indiana e a anexação de Goa. Naquele momento o P. Carreño estava na Espanha e não pôde mais retornar à terra amada. Em 1962 foi enviado às Filipinas como mestre dos noviços. Acompanhou apenas três grupos de noviços, porque em 1965 pediu para voltar à Espanha. A origem de sua decisão foi uma séria divergência de visão entre ele e os missionários salesianos vindos da China, especialmente com o P. Carlo Braga, superior da visitadoria. Carreño se opôs fortemente à política de enviar os jovens salesianos filipinos recém-professos a Hong Kong para os estudos de filosofia. Como aconteceu, no final os superiores aceitaram a proposta de manter os jovens salesianos nas Filipinas, mas naquele momento o pedido de Carreño para retornar ao país já havia sido aceito.

Dom Carreño passou apenas quatro anos nas Filipinas, mas também ali, como na Índia, deixou uma marca indelével, “uma contribuição incomensurável e crucial para a presença salesiana nas Filipinas”, segundo as palavras do historiador salesiano Nestor Impelido.
De volta à Espanha, colaborou com as Procuradorias Missionárias de Madri e de New Rochelle, e na animação das inspetorias ibéricas. Muitos na Espanha ainda lembram o velho missionário que visitava as casas salesianas, contagiando os jovens com seu entusiasmo missionário, suas canções e sua música.
Mas em sua imaginação criativa estava tomando forma um novo projeto. Carreño dedicou-se de todo coração ao sonho de fundar um Pueblo Misionero com dois objetivos: preparar jovens missionários – em sua maioria vindos da Europa Oriental – para a América Latina; e oferecer um refúgio para missionários “aposentados” como ele, que também poderiam servir como formadores. Após uma longa e sofrida correspondência com os superiores, o projeto finalmente tomou forma no Hogar del Misionero em Alzuza, a poucos quilômetros de Pamplona. O componente vocacional missionário nunca decolou, e foram pouquíssimos os missionários idosos que efetivamente se juntaram a Carreño. Seu principal apostolado nesses últimos anos permaneceu o da caneta. Deixou mais de trinta livros, entre os quais cinco dedicados ao Santo Sudário, ao qual era particularmente devoto.
O P. José Luís Carreño faleceu em 1986 em Pamplona, aos 81 anos. Apesar dos altos e baixos de sua vida, este grande amante do Sagrado Coração de Jesus pôde afirmar, no jubileu de ouro de sua ordenação sacerdotal: “Se cinquenta anos atrás meu lema como jovem padre era ‘Cristo é tudo’, hoje, velho e dominado por seu amor, eu o escreveria em letras de ouro, porque na verdade CRISTO É TUDO”.

P. Ivo COELHO, sdb




Casa Salesiana de Castel Gandolfo

Entre as colinas verdes dos Castelli Romani e as águas tranquilas do Lago Albano, surge um lugar onde história, natureza e espiritualidade se encontram de forma singular: Castel Gandolfo. Neste contexto rico em memória imperial, fé cristã e beleza paisagística, a presença salesiana representa um ponto firme de acolhimento, formação e vida pastoral. A Casa Salesiana, com sua atividade paroquial, educativa e cultural, continua a missão de São João Bosco, oferecendo aos fiéis e visitantes uma experiência de Igreja viva e aberta, imersa em um ambiente que convida à contemplação e à fraternidade. É uma comunidade que, há quase um século, caminha a serviço do Evangelho no coração da tradição católica.

Um lugar abençoado pela história e pela natureza
Castel Gandolfo é uma joia dos Castelli Romani, situada a cerca de 25 km de Roma, imersa na beleza natural dos “Colli Albani” e de frente para o sugestivo Lago Albano. A cerca de 426 metros de altitude, este lugar se destaca pelo seu clima ameno e acolhedor, um microclima que parece preparado pela Providência para receber quem busca descanso, beleza e silêncio.

Já na época romana, este território fazia parte do Albanum Caesaris, uma antiga propriedade imperial frequentada pelos imperadores desde os tempos de Augusto. Foi, porém, o imperador Tibério o primeiro a residir ali de forma estável, enquanto Domiciano, mais tarde, mandou construir uma esplêndida vila, cujos restos são hoje visíveis nos jardins pontifícios. A história cristã do local começa com a doação de Constantino à Igreja de Albano: um gesto que simbolicamente marca a passagem da glória imperial para a luz do Evangelho.

O nome Castel Gandolfo deriva do latim Castrum Gandulphi, o castelo construído pela família Gandolfi no século XII. Quando, em 1596, o castelo passou para a Santa Sé, tornou-se residência de verão dos Pontífices, e o vínculo entre este lugar e o ministério do Sucessor de Pedro tornou-se profundo e duradouro.

O Observatório do Vaticano: contemplar o céu, louvar o Criador
De particular relevância espiritual é o Observatório do Vaticano, fundado pelo papa Leão XIII em 1891 e transferida nos anos 30 para Castel Gandolfo devido à poluição luminosa de Roma. Ela testemunha como também a ciência, quando orientada para a verdade, conduz a louvar o Criador.
Ao longo dos anos, o Observatório contribuiu para projetos astronômicos de grande importância como a Carte du Ciel [Mapa do Céu] e para a descoberta de numerosos objetos celestes.

Com o agravamento das condições de observação também nos Castelli Romani, nos anos 80 a atividade científica mudou-se principalmente para o Observatório Mount Graham, no Arizona (EUA), onde o Vatican Observatory Research Group [Grupo de Pesquisas do Observatório do Vaticano] continua as pesquisas astrofísicas. Castel Gandolfo permanece, porém, um importante centro de estudos: desde 1986 recebe bienalmente a Vatican Observatory Summer School [Escola de Verão do Observatório do Vaticano], dedicada a estudantes e graduados em astronomia de todo o mundo. O Observatório também organiza congressos especializados, eventos de divulgação, exposições de meteoritos e apresentações de materiais históricos e artísticos com tema astronômico, tudo em um espírito de pesquisa, diálogo e contemplação do mistério da criação.

Uma igreja no coração da cidade e da fé
No século XVII, o papa Alexandre VII confiou a Gian Lorenzo Bernini a construção de uma capela palatina para os funcionários das Vilas Pontifícias. O projeto, inicialmente concebido em honra a São Nicolau de Bari, foi finalmente dedicado a São Tomás de Villanova, agostiniano canonizado em 1658. A igreja foi consagrada em 1661 e confiada aos Agostinianos, que a administraram até 1929. Com a assinatura dos Pactos de Latrão, o papa Pio XI confiou aos mesmos Agostinianos o cuidado pastoral da nova Paróquia Pontifícia de Santa Ana no Vaticano, enquanto a igreja de São Tomás de Villanova foi posteriormente confiada aos Salesianos.

A beleza arquitetônica desta igreja, fruto do gênio barroco, está a serviço da fé e do encontro entre Deus e o homem: hoje ali se celebram numerosos casamentos, batismos e liturgias, atraindo fiéis de todas as partes do mundo.

A casa salesiana
Os Salesianos estão presentes em Castel Gandolfo desde 1929. Naqueles anos, a vila conheceu um notável desenvolvimento, tanto demográfico quanto turístico, ainda mais graças ao início das celebrações papais na igreja de São Tomás de Villanova. Todo ano, na solenidade da Assunção, o papa celebrava a Santa Missa na paróquia pontifícia, uma tradição iniciada por São João XXIII em 15 de agosto de 1959, quando saiu a pé do Palácio Pontifício para celebrar a Eucaristia entre o povo. Essa prática se manteve até o pontificado do Papa Francisco, que interrompeu as estadias de verão em Castel Gandolfo. Em 2016, de fato, todo o complexo das Vilas Pontifícias foi transformado em museu e aberto ao público.

A casa salesiana fez parte da Inspetoria Romana e, de 2009 a 2021, da Circunscrição Salesiana Itália Central. Desde 2021 está sob a responsabilidade direta da Sede Central, com diretor e comunidade nomeados pelo Reitor-Mor. Atualmente, os salesianos presentes vêm de diferentes países (Brasil, Índia, Itália, Polônia) e atuam na paróquia, nas capelanias e no oratório.

Os espaços pastorais, embora pertençam ao Estado da Cidade do Vaticano e sejam considerados zonas extraterritoriais, fazem parte da diocese de Albano, à qual os Salesianos participam ativamente da vida pastoral. Estão envolvidos na catequese diocesana para adultos, no ensino na escola teológica diocesana e no Conselho Presbiteral como representantes da vida consagrada.

Além da paróquia de São Tomás de Villanova, os Salesianos também administram outras duas igrejas: Maria Auxiliadora (também chamada de “São Paulo”, pelo nome do bairro) e Madonna del Lago [Nossa Senhora do Lago], desejada por São Paulo VI. Ambas foram construídas entre as décadas de 60 e 70 para atender às necessidades pastorais da população crescente.

A igreja paroquial projetada por Bernini é hoje destino de numerosos casamentos e batismos celebrados por fiéis vindos de todo o mundo. Todo ano, com as devidas autorizações, são realizadas dezenas, às vezes centenas, de celebrações.

O pároco, além de guiar a comunidade paroquial, é também capelão das Vilas Pontifícias e acompanha espiritualmente os funcionários do Vaticano que ali trabalham.

O oratório, atualmente administrado por leigos, conta com o envolvimento direto dos Salesianos, especialmente na catequese. Em finais de semana, festas e atividades de verão como o Verão dos Meninos, colaboram também estudantes salesianos residentes em Roma, oferecendo um apoio valioso. Na igreja de Maria Auxiliadora existe também um teatro ativo, com grupos paroquiais que organizam espetáculos, um lugar de encontro, cultura e evangelização.

Vida pastoral e tradições
A vida pastoral é marcada pelas principais festas do ano: São João Bosco em janeiro, Maria Auxiliadora em maio com uma procissão no bairro de São Paulo, a festa da Madonna del Lago – e portanto a festa do Lago – no último sábado de agosto, com a estátua levada em procissão em um barco no lago. Esta última celebração está envolvendo cada vez mais as comunidades vizinhas, atraindo muitos participantes, incluindo motociclistas, com os quais foram iniciados momentos de encontro.

No primeiro sábado de setembro celebra-se a festa patronal de Castel Gandolfo em honra a São Sebastião, com uma grande procissão pela cidade. A devoção a São Sebastião remonta a 1867, quando a cidade foi poupada de uma epidemia que atingiu duramente as cidades vizinhas. Embora a memória litúrgica seja em 20 de janeiro, a festa local é celebrada em setembro, tanto em lembrança da proteção obtida quanto por razões climáticas e práticas.

No dia 8 de setembro celebra-se o padroeiro da igreja, São Tomás de Villanova, coincidindo com o Nascimento da Bem-Aventurada Virgem Maria. Nesta ocasião também ocorre a festa das famílias, dirigida aos casais que se casaram na igreja de Bernini: são convidados a retornar para uma celebração comunitária, uma procissão e um momento de confraternização. A iniciativa teve ótima aceitação e está se consolidando com o tempo.

Uma curiosidade: a caixa de correio
Ao lado da entrada da casa salesiana encontra-se uma caixa postal, conhecida como “Buca delle corrispondenze” [caixa das correspondências], considerada a mais antiga ainda em uso. Data de 1820, vinte anos antes da introdução do primeiro selo postal do mundo, o famoso Penny Black (1840). É uma caixa oficial dos Correios Italianos ainda ativa, mas também um símbolo eloquente: um convite à comunicação, ao diálogo, à abertura do coração. O retorno do papa Leão XIV à sua residência de verão certamente o aumentará.

Castel Gandolfo continua sendo um lugar onde o Criador fala através da beleza da criação, da Palavra proclamada e do testemunho de uma comunidade salesiana que, na simplicidade do estilo de Dom Bosco, continua a oferecer acolhimento, formação, liturgia e fraternidade, lembrando a quem se aproxima dessas terras em busca de paz e serenidade que a verdadeira paz e serenidade só se encontram em Deus e em sua graça.




O voluntariado missionário transforma a vida dos jovens no México

O voluntariado missionário representa uma experiência que transforma profundamente a vida dos jovens. No México, a Inspetoria Salesiana de Guadalajara desenvolveu, há décadas, um percurso orgânico de Voluntariado Missionário Salesiano (VMS) que continua a impactar de forma duradoura o coração de muitos rapazes e moças. Graças às reflexões de Margarita Aguilar, coordenadora do voluntariado missionário em Guadalajara, compartilharemos o caminho referente às origens, evolução, fases de formação e motivações que levam os jovens a se comprometerem para servir as comunidades no México.

Origens
O voluntariado, entendido como um compromisso em favor do outro nascido da necessidade de ajudar o próximo tanto no plano social quanto no espiritual, fortaleceu-se ao longo do tempo com a contribuição de governos e ONGs para sensibilizar sobre temas como saúde, educação, religião, meio ambiente e outros. Na Congregação Salesiana, o espírito voluntário está presente desde as origens: Mamãe Margarida, ao lado de Dom Bosco, foi uma das primeiras “voluntárias” no Oratório, dedicando-se ao cuidado dos jovens para cumprir a vontade de Deus e contribuir para a salvação de suas almas. Já o Capítulo Geral XXII (1984) começou a falar explicitamente sobre voluntariado, e os capítulos seguintes insistiram nesse compromisso como uma dimensão inseparável da missão salesiana.

No México, os salesianos estão divididos em duas Inspetorias: Cidade do México (MEM) e Guadalajara (MEG). Foi justamente nesta última que, a partir da metade dos anos 80, estruturou-se um projeto de voluntariado juvenil. A Inspetoria de Guadalajara, fundada há 62 anos, oferece há quase 40 anos a possibilidade para jovens desejosos de experimentar o carisma salesiano de dedicar um período de vida ao serviço das comunidades, especialmente nas zonas de fronteira.

Em 24 de outubro de 1987, o inspetor enviou um grupo de quatro jovens junto com salesianos para a cidade de Tijuana, numa zona de fronteira em forte expansão salesiana. Foi o início do Voluntariado Juvenil Salesiano (VJS), que se desenvolveu gradualmente e se organizou de forma cada vez mais estruturada.

O objetivo inicial era proposto a jovens de cerca de 20 anos, disponíveis para dedicar de um a dois anos para construir os primeiros oratórios nas comunidades de Tijuana, Ciudad Juárez, Los Mochis e outras localidades do norte. Muitos lembram os primeiros dias: pá e martelo na mão, convivendo em casas simples com outros voluntários, tardes passadas com crianças, adolescentes e jovens do bairro brincando no terreno onde surgiria o oratório. Às vezes faltava o teto, mas não faltavam a alegria, o senso de família e o encontro com a Eucaristia.

Essas primeiras comunidades de salesianos e voluntários levaram nos corações o amor a Deus, a Maria Auxiliadora e a Dom Bosco, manifestando espírito pioneiro, ardor missionário e cuidado total pelos outros.

Evolução
Com o crescimento da Inspetoria e da Pastoral Juvenil, surgiu a necessidade de itinerários formativos claros para os voluntários. A organização se fortaleceu por meio de:
Questionário de candidatura: cada aspirante a voluntário preenchia uma ficha e respondia a um questionário que delineava suas características humanas, espirituais e salesianas, iniciando o processo de crescimento pessoal.

Curso de formação inicial: oficinas teatrais, jogos e dinâmicas de grupo, catequese e ferramentas práticas para as atividades de campo. Antes da partida, os voluntários se reuniam para concluir a formação e receber o envio nas comunidades salesianas.

Acompanhamento espiritual: convidava-se o candidato a ser acompanhado por um salesiano em sua comunidade de origem. Por um certo período, a preparação foi realizada junto com aspirantes salesianos, fortalecendo o aspecto vocacional, embora essa prática tenha sofrido modificações conforme a animação vocacional da Inspetoria.

Encontro anual da Inspetoria: todos os anos, em dezembro, próximo ao Dia Internacional do Voluntário (5 de dezembro), os voluntários se reúnem para avaliar a experiência, refletir sobre o caminho de cada um e consolidar os processos de acompanhamento.

Visitas às comunidades: a equipe de coordenação visita regularmente as comunidades onde atuam os voluntários, para apoiar não apenas os jovens, mas também salesianos e leigos da comunidade educativo-pastoral, fortalecendo as redes de apoio.

Projeto de vida pessoal: cada candidato elabora, com a ajuda do acompanhante espiritual, um projeto de vida que ajude a integrar a dimensão humana, cristã, salesiana, vocacional e missionária. Prevê-se um período mínimo de seis meses de preparação, com momentos online dedicados às várias dimensões.

Envolvimento das famílias: encontros informativos com os pais sobre os processos do VJS, para fazer compreender o percurso e fortalecer o apoio familiar.

Formação contínua durante a experiência: a cada mês é abordada uma dimensão (humana, espiritual, apostólica etc.) por meio de materiais de leitura, reflexão e trabalho de aprofundamento em andamento.

Pós-voluntariado: após a conclusão da experiência, organiza-se um encontro de encerramento para avaliar a experiência, planejar os passos seguintes e acompanhar o voluntário na reinserção na comunidade de origem e na família, com fases presenciais e online.

Novas etapas e renovações
Recentemente, a experiência passou a se chamar Voluntariado Missionário Salesiano (VMS), em linha com a ênfase da Congregação na dimensão espiritual e missionária. Algumas novidades introduzidas:

Pré-voluntariado breve: durante as férias escolares (dezembro-janeiro, Semana Santa e Páscoa, e especialmente o verão) os jovens podem experimentar por curtos períodos a vida em comunidade e o compromisso de serviço, para ter um primeiro “gosto” da experiência.

Formação para a experiência internacional: foi instituído um processo específico para preparar os voluntários a viver a experiência fora das fronteiras nacionais.

Maior ênfase no acompanhamento espiritual: não mais apenas “enviar para trabalhar”, mas colocar no centro o encontro com Deus, para que o voluntário descubra sua vocação e missão.

Como destaca Margarita Aguilar, coordenadora do VMS em Guadalajara: “Um voluntário precisa ter as mãos vazias para poder abraçar sua missão com fé e esperança em Deus.”

Motivações dos jovens
Na base da experiência VMS está sempre a pergunta: “Qual é a sua motivação para se tornar voluntário?”. Podem ser identificados três grupos principais:

Motivação operacional/prática: quem acredita que realizará atividades concretas ligadas às suas competências (ensinar numa escola, servir em refeitório, animar um oratório). Muitas vezes descobre que o voluntariado não é apenas trabalho manual ou didático e pode ficar desapontado, se esperava uma experiência meramente instrumental.

Motivação ligada ao carisma salesiano: os que já se beneficiaram de obras salesianas e desejam aprofundar e viver mais intensamente o carisma, imaginando uma experiência intensa como um longo encontro festivo do Movimento Juvenil Salesiano, mas por um período prolongado.

Motivação espiritual: quem pretende compartilhar sua experiência de Deus e descobri-lo nos outros. Às vezes, porém, essa “fidelidade” é condicionada por expectativas (ex.: “sim, mas só nesta comunidade” ou “sim, mas se eu puder voltar para um evento familiar”), e é necessário ajudar o voluntário a amadurecer o “sim” de forma livre e generosa.

Três elementos-chave do VMS
A experiência do Voluntariado Missionário Salesiano se articula em três dimensões fundamentais:

Vida espiritual: Deus é o centro. Sem oração, sacramentos e escuta do Espírito, a experiência corre o risco de se reduzir a um simples compromisso operacional, cansando o voluntário até o abandono.

Vida comunitária: a comunhão com os salesianos e com os demais membros da comunidade fortalece a presença do voluntário junto a crianças, adolescentes e jovens. Sem comunidade não há apoio nos momentos de dificuldade nem contexto para crescer juntos.

Vida apostólica: o testemunho alegre e a presença afetiva entre os jovens evangelizam mais do que qualquer atividade formal. Não se trata apenas de “fazer”, mas de “ser” sal e luz no cotidiano.

Para viver plenamente essas três dimensões, é necessário um percurso de formação integral que acompanhe o voluntário do início ao fim, abraçando todos os aspectos da pessoa (humano, espiritual, vocacional) segundo a pedagogia salesiana e o mandato missionário.

O papel da comunidade de acolhida
O voluntário, para ser um instrumento autêntico de evangelização, precisa de uma comunidade que o apoie, sirva de exemplo e guia. Da mesma forma, a comunidade acolhe o voluntário para integrá-lo, apoiando-o nos momentos de fragilidade e ajudando-o a se libertar de vínculos que dificultam a dedicação total. Como destaca Margarita: “Deus nos chamou para ser sal e luz da Terra e muitos dos nossos voluntários encontraram a coragem de pegar um avião deixando para trás a família, os amigos, a cultura, seu modo de viver para escolher esse estilo de vida centrado em ser missionários.”

A comunidade oferece espaços de diálogo, oração comum, acompanhamento prático e emocional, para que o voluntário possa permanecer firme em sua escolha e dar frutos no serviço.

A história do voluntariado missionário salesiano em Guadalajara é um exemplo de como uma experiência pode crescer, se estruturar e se renovar aprendendo com erros e acertos. Colocando sempre no centro a motivação profunda do jovem, a dimensão espiritual e comunitária, oferece um percurso capaz de transformar não apenas as realidades servidas, mas também a vida dos próprios voluntários.
Margarita Aguilar nos diz: “Um voluntário precisa ter as mãos vazias para poder abraçar sua missão com fé e esperança em Deus.”

Agradecemos a Margarita por suas preciosas reflexões: seu testemunho nos lembra que o voluntariado missionário não é um mero serviço, mas um caminho de fé e crescimento que toca a vida dos jovens e das comunidades, renovando a esperança e o desejo de se doar por amor a Deus e ao próximo.




Beatificação de Camille Costa de Beauregard. E depois…?

 A diocese de Saboia e a cidade de Chambéry viveram três dias históricos, nos dias 16, 17 e 18 de maio de 2025. Um relato dos fatos e das perspectivas futuras.

            As relíquias de Camilo Costa de Beauregard foram transferidas do Bocage para a igreja de Notre-Dame (local do batismo de Camille), na sexta-feira, 16 de maio. Uma magnífica procissão percorreu as ruas da cidade a partir das vinte horas. Após os alphorn (as trompas alpinas), as gaitas de foles assumiram a dianteira para abrir a marcha, seguidas por uma carruagem florida que transportava um retrato gigante do “pai dos órfãos”. Em seguida, vinham as relíquias, em um andor carregado por jovens estudantes do liceu do Bocage, vestidos com magníficos moletons vermelhos nos quais se podia ler esta frase de Camilo: “Quanto mais alta a montanha, melhor vemos ao longe”. Centenas de pessoas de todas as idades desfilavam em uma atmosfera “bon enfant” [bom menino], isto é, descontraído. Ao longo do percurso, os curiosos, respeitosos, paravam, maravilhados, para ver passar essa procissão incomum.
            Na chegada à igreja de Notre-Dame, um sacerdote estava lá para animar uma vigília de oração apoiada pelos cânticos de um belo coro de jovens. A cerimônia ocorreu em um clima descontraído, mas recolhido. Todos passaram, ao final da vigília, para venerar as relíquias e confiar a Camilo uma intenção pessoal. Um momento muito bonito!
            Sábado, 17 de maio. Grande dia! Desde Paulina Maria Jaricot (beatificada em maio de 2022), a França não conhecia um novo “Beato”. Assim, todo o Regional estava representado por seus bispos: Lyon, Annecy, Saint-Étienne, Valence etc… A eles se juntaram dois ex-arcebispos de Chambéry: Dom Laurent Ulrich, atualmente arcebispo de Paris, e Dom Philippe Ballot, bispo de Metz. Dois bispos de Burkina Faso viajaram para participar dessa festa. Numerosos sacerdotes diocesanos vieram concelebrar, assim como vários religiosos, entre eles sete salesianos de Dom Bosco. O núncio apostólico na França, Dom Celestino Migliore, tinha a missão de representar o cardeal Semeraro (Prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos), retido em Roma para a entronização do papa Leão XIV. Nem é preciso dizer que a catedral estava lotada, assim como os capitéis, o átrio e o Bocage: mais de três mil pessoas no total.
            Que emoção, quando após a leitura do decreto pontifício (assinado apenas no dia anterior pelo papa Leão XIV), lido pelo P. Pierluigi Cameroni, postulador da causa, o retrato de Camille foi desvelado na catedral! Que fervor na grande igreja! Que solenidade sustentada pelos cânticos de um magnífico coro interdiocesano e pelo grande órgão maravilhosamente tocado pelo maestro Thibaut Duré! Enfim, uma cerimônia grandiosa para este humilde sacerdote que deu toda a sua vida ao serviço dos mais pequenos!
            Um reportagem foi garantida pela RCF Savoie (uma estação de rádio regional francesa que faz parte da rede RCF, Radios Chrétiennes Francophones – (Rádios Cristãos Francófonos) com entrevistas de várias personalidades envolvidas na defesa da causa de Camille, e, por outro lado, pelo canal KTO (o canal televisivo católico de língua francesa) que transmitiu ao vivo essa magnífica celebração.
            O terceiro dia, domingo, 18 de maio, coroou essa festa. Realizou-se no Bocage, sob uma grande tenda; foi uma missa de ação de graças presidida por Dom Thibault Verny, arcebispo de Chambéry, cercado pelos dois bispos africanos, o provincial dos salesianos e alguns sacerdotes, entre eles o P. Jean François Chiron, (presidente, há treze anos, do Comitê Camille criado por Dom Philippe Ballot) que proferiu uma homilia notável. Uma multidão considerável veio participar e rezar. Ao final da missa, uma rosa “Camilo Costa de Beauregard fundador do Bocage” foi abençoada pelo P. Daniel Féderspiel, Inspetor dos Salesianos da França (essa rosa, escolhida pelos ex-alunos, oferecida às personalidades presentes, está à venda nas estufas do Bocage).
            Após a cerimônia, as trompas alpinas deram um concerto até o momento em que o papa Leão, durante seu discurso, no momento do Regina Coeli, declarou estar muito alegre com a primeira beatificação de seu pontificado, o sacerdote de Chambéry Camilo Costa de Beauregard. Foi um troar de aplausos sob a grande tenda!
            À tarde, vários grupos de jovens do Bocage, liceu e casa das crianças, ou escoteiros, se revezaram no palco para animar um momento recreativo. Sim! Que festa!

            E agora? Tudo acabou? Ou há um depois, uma continuação?
            A beatificação de Camilo é apenas uma etapa no processo de canonização. O trabalho continua e vocês são chamados a contribuir. O que resta fazer? Divulgar cada vez melhor a figura do novo beato ao nosso redor, por múltiplos meios, porque é necessário que muitos o invoquem para que sua intercessão nos obtenha uma nova cura inexplicável pela ciência, o que permitiria considerar um novo processo e uma rápida canonização. A santidade de Camilo seria então apresentada ao mundo inteiro. É possível, é preciso acreditar! Não vamos parar no meio do caminho!

            Dispomos de vários meios, como:
            – o livro Le bienheureux Camille Costa de Beauregard La noblesse du cœur (O beato Camille Costa de Beauregard A nobreza do coração), de Françoise Bouchard, Edições Salvator;
            – o livro Prier quinze jours avec Camille Costa de Beauregard (Rezar quinze dias com Camilo Costa de Beauregard), do P. Paul Ripaud, Edições Nouvelle Cité;
            – uma história em quadrinhos: Bienheureux Camille Costa de Beauregard (Beato Camilo Costa de Beauregard), de Gaëtan Evrard, Edições Triomphe;
            – os vídeos podem ser localizados no site dos “Amis de Costa” (Amigos de Costa), e o da beatificação;
            – as visitas aos locais da memória, no Bocage em Chambéry; são possíveis entrando em contato tanto com a l’accueil du Bocage (recepção do Bocage) quanto diretamente com o senhor Gabriel Tardy, diretor da Maison des Enfants (Casa dos Meninos).

            A todos, obrigado por apoiar a causa do beato Camilo, ele merece!

P. Paul Ripaud, sdb




Visita à Basílica do Sagrado Coração de Jesus em Roma (também em 3D)

A Basílica do Sagrado Coração de Jesus em Roma é uma igreja de grande importância para a cidade, localizada no bairro Castro Pretório, na via Marsala, do outro lado da rua da Estação Términi. Ela é sede paroquial e também título cardinalício, tendo ao lado a Sede Central da Congregação Salesiana. Celebra sua festa patronal justamente na solenidade do Sagrado Coração. Sua posição próxima à Estação Términi a torna um ponto visível e reconhecível para quem chega à cidade, com a estátua dourada no campanário que se destaca no horizonte como símbolo de bênção para moradores e viajantes.

Origens e história
A ideia de construir uma igreja dedicada ao Sagrado Coração de Jesus remonta ao papa Pio IX, que em 1870 colocou a primeira pedra de um edifício, inicialmente desejado em honra a São José; no entanto, já em 1871 o pontífice decidiu dedicar a nova igreja ao Sagrado Coração de Jesus. Foi a segunda grande igreja dedicada ao Sagrado Coração de Jesus após a de Lisboa, Portugal, iniciada em 1779 e consagrada em 1789, e antes da famosa Sacré-Cœur de [Sagrado Coração] de Montmartre, Paris, França, iniciada em 1875 e consagrada em 1919.
A obra começou em condições difíceis: com a anexação de Roma ao Reino da Itália (1870), os trabalhos foram interrompidos por falta de fundos. Foi somente graças à intervenção de São João Bosco, a convite do pontífice, que a construção pôde ser retomada definitivamente em 1880, graças ao seu esforço sacrificado de arrecadar doações na Europa e reunir recursos para a conclusão do edifício. O arquiteto encarregado foi Francesco Vespignani, “Arquiteto dos Sacros Palácios” sob Leão XIII, que completou o projeto. A consagração ocorreu em 14 de maio de 1887, marcando o fim da primeira fase construtiva.

Desde sua construção, a igreja assumiu uma função paroquial: a paróquia do Sagrado Coração de Jesus em Castro Pretório foi instituída em 2 de fevereiro de 1879 com decreto vicarial “Postremis hisce temporibus” [Nestes últimos tempos]. Posteriormente, o papa Bento XV elevou-a à dignidade de basílica menor em 11 de fevereiro de 1921, com a carta apostólica “Pia societas” [Pia sociedade]. Em época mais recente, em 5 de fevereiro de 1965, o papa Paulo VI instituiu o título cardinalício do Sagrado Coração de Jesus em Castro Pretório. Entre os cardeais titulares destacam-se Maximilien de Fürstenberg (1967–1988), Giovanni Saldarini (1991–2011) e Giuseppe Versaldi (desde 2012 até hoje). O título cardinalício reforça o vínculo da basílica com a Cúria papal, contribuindo para manter viva a atenção sobre a importância do culto ao Sagrado Coração e sobre a espiritualidade salesiana.

Arquitetura
A fachada apresenta-se em estilo neorrenascentista, com linhas sóbrias e proporções equilibradas, típicas da retomada renascentista na arquitetura eclesiástica do final do século XIX. O campanário, concebido no projeto original de Vespignani, permaneceu incompleto até 1931, quando foi colocada no topo a imponente estátua dourada do Sagrado Coração abençoando, doada pelos ex-alunos salesianos na Argentina: visível de longa distância, constitui um sinal identificador da basílica e um símbolo de acolhimento para quem chega a Roma pela estação ferroviária próxima.

O interior é organizado segundo uma planta em cruz latina com três naves, separadas por oito colunas e dois pilares de granito cinza que sustentam arcos de meio ponto, incluindo transepto e cúpula central. A nave central e as naves laterais são cobertas por teto em caixotões, com lacunas decoradas no registro central. As proporções internas são harmoniosas: a largura da nave central de cerca de 14 metros e o comprimento de 70 metros criam um efeito de amplitude solene, enquanto as colunas de granito, com veios marcados, conferem um caráter de sólida majestade.
A cúpula central, visível do interior com seus afrescos e lacunas, capta a luz natural através de janelas na base e confere verticalidade ao espaço litúrgico. Nas capelas laterais conservam-se pinturas do pintor romano Andrea Cherubini, que realizou cenas devocionais em sintonia com a dedicação ao Sagrado Coração.
Além das pinturas de Andrea Cherubini, a basílica conserva várias obras de arte sacra: estátuas de madeira ou mármore que representam a Virgem, os santos padroeiros da Congregação Salesiana e figuras carismáticas como São João Bosco.

Os ambientes de São João Bosco em Roma
Um elemento de grande valor histórico e devocional é constituído pelos “Aposentos de Dom Bosco” nos fundos da basílica, ambiente onde São João Bosco ficou hospedado em nove das vinte vezes que esteve em Roma. Originalmente dois cômodos separados – escritório e quarto com altar portátil –, foram depois unidos para acolher peregrinos e grupos em oração, constituindo um local de memória viva da presença do fundador dos Salesianos. Aqui são conservados objetos pessoais e relíquias que remetem a milagres atribuídos ao santo naquele período. Este espaço foi recentemente renovado e continua a atrair peregrinos, estimulando reflexões sobre a espiritualidade e a dedicação de Bosco aos jovens.
A basílica e os edifícios anexos são propriedade da Congregação Salesiana, que fez deles um dos centros nevrálgicos para sua presença romana: desde a estadia de Dom Bosco, o edifício ao lado da igreja abrigava a casa dos Salesianos e posteriormente tornou-se sede de escolas, oratórios e serviços para jovens. Hoje a estrutura acolhe, além das atividades litúrgicas, um trabalho significativo voltado a migrantes e jovens em dificuldade. Desde 2017, o complexo é também a Sede Central do governo da Congregação Salesiana.

Devoção ao Sagrado Coração e celebrações litúrgicas
A dedicação ao Sagrado Coração de Jesus se traduz em práticas devocionais específicas: a festa litúrgica do Sagrado Coração, celebrada na sexta-feira seguinte à oitava de Corpus Christi, é vivida com solenidade na basílica, com novenas, celebrações eucarísticas, adoração eucarística e procissão. A piedade popular em torno do Sagrado Coração – difundida principalmente desde o século XIX com a aprovação da devoção por Pio IX e Leão XIII – encontra neste lugar um ponto de referência em Roma, atraindo fiéis para orações de reparação, consagração e agradecimento.

Para o Jubileu de 2025, à Basílica do Sagrado Coração de Jesus foi concedido o privilégio da indulgência plenária, como a todas as outras igrejas do Iter Europaeum.
Lembramos que, para celebrar o 50º aniversário das relações diplomáticas entre a União Europeia e a Santa Sé (1970-2020), foi realizado um projeto da Delegação da União Europeia junto à Santa Sé e as 28 Embaixadas dos Estados-membros acreditadas junto à Santa Sé. Este projeto consistia em um percurso litúrgico e cultural no qual cada país indicava uma igreja ou basílica de Roma à qual está particularmente ligado por motivos históricos, artísticos ou de tradição de acolhimento dos peregrinos provenientes daquele país. O objetivo principal era duplo: por um lado, favorecer o conhecimento mútuo entre os cidadãos europeus e estimular uma reflexão sobre as raízes cristãs comuns; por outro, oferecer a peregrinos e visitantes uma ferramenta para descobrir espaços religiosos menos conhecidos ou com significados particulares, evidenciando as conexões da Igreja com toda a Europa. Ampliando a perspectiva, a iniciativa foi então reapresentada no âmbito dos caminhos jubilares ligados ao Jubileu de Roma 2025, com o nome latino “Iter Europaeum”, inserindo o percurso entre os caminhos oficiais da Cidade Santa.
Iter Europaeum prevê paradas nas 28 igrejas e basílicas de Roma, cada uma “adotada” por um Estado-membro da União Europeia. A Basílica do Sagrado Coração de Jesus foi “adotada” por Luxemburgo. As igrejas do Iter Europaeum podem ser vistas AQUI.

Visita à Basílica
A Basílica pode ser visitada fisicamente, mas também virtualmente.

Para uma visita virtual em 3D clique AQUI.

Para uma visita virtual guiada, você pode seguir os seguintes links:

1. Introdução
2. A história
3. Fachada
4. Campanário
5. Nave central
6. Parede interna da fachada
7. Piso
8. Colunas
9. Paredes da nave central
10. Teto 1
11. Teto 2
12. Transepto
13. Vitrais do transepto
14. Altar-mor
15. Presbitério
16. Cúpula
17. Coro Dom Bosco
18. Naves laterais
19. Confessionários
20. Altares da nave lateral direita
21. Afrescos das naves laterais
22. Cúpulas pequenas da nave esquerda
23. Batistério
24. Altares da nave lateral esquerda
25. Afrescos das cúpulas pequenas da nave esquerda
26. Sacristia
27. “Aposentos” de Dom Bosco (versão anterior)
28. Museu de Dom Bosco (versão anterior)

A Basílica do Sagrado Coração de Jesus no Castro Pretório é um exemplo de arquitetura neorrenascentista ligada a eventos históricos marcados por crises e renascimentos. A combinação de elementos artísticos, arquitetônicos e históricos – desde as colunas de granito às decorações pictóricas, da célebre estátua no campanário aos Aposentos de Dom Bosco – torna este lugar um destino de peregrinação espiritual e cultural. Sua localização próxima à Estação Términi faz dela um sinal de acolhimento para quem chega a Roma, enquanto as atividades pastorais voltadas aos jovens continuam a encarnar o espírito de São João Bosco: um coração aberto ao serviço, à formação e à espiritualidade encarnada. Vale a visita.




Entrevista com o Reitor-Mor, P. Fabio Attard

Fizemos uma entrevista exclusiva com o Reitor-Mor dos Salesianos, P. Fabio Attard, percorrendo as etapas fundamentais de sua vocação e de sua trajetória humana e espiritual. Sua vocação nasceu no oratório e se consolidou através de uma rica formação que o levou da Irlanda à Tunísia, de Malta a Roma. De 2008 a 2020, foi Conselheiro Geral para a Pastoral Juvenil, função que desempenhou com uma visão multicultural adquirida através de experiências em diferentes contextos. A sua mensagem central é a santidade como fundamento da ação educativa salesiana: “Gostaria de ver uma Congregação mais santa”, afirma, sublinhando que a eficiência profissional deve estar enraizada na identidade consagrada.

Qual é a história da sua vocação?

Nasci em Gozo, Malta, em 23 de março de 1959, quinto de sete filhos. Na época do meu nascimento, meu pai era farmacêutico em um hospital, enquanto minha mãe tinha uma pequena loja de tecidos e costura, que com o tempo cresceu e se tornou uma pequena rede de cinco lojas. Ela era uma mulher muito trabalhadora, mas o negócio sempre foi familiar.

Frequentei as escolas primárias e secundárias locais. Um elemento muito bonito e particular da minha infância é que meu pai era catequista leigo no oratório, que até 1965 era dirigido pelos salesianos. Quando jovem, ele frequentava aquele oratório e acabou ficando lá como único catequista leigo. Quando comecei a frequentá-lo, aos seis anos, os salesianos tinham acabado de deixar a obra. Assumiu um jovem padre (que ainda está vivo) que continuou as atividades do oratório com o mesmo espírito salesiano, tendo ele próprio vivido lá como seminarista.
Continuávamos com o catecismo, a bênção eucarística diária, o futebol, o teatro, o coro, as excursões, as festas… tudo o que se vive normalmente num oratório. Havia muitas crianças e jovens, e eu cresci nesse ambiente. Na prática, minha vida se passava entre a família e o oratório. Eu também era coroinha na minha paróquia. Assim, depois do ensino médio, me orientei para o sacerdócio, porque desde criança tinha esse desejo no coração.

Hoje percebo o quanto fui influenciado por aquele jovem sacerdote, que eu admirava: ele estava sempre presente conosco no pátio, nas atividades do oratório. No entanto, naquela época os salesianos já não estavam mais lá. Entrei então no seminário, onde na época se faziam dois anos de curso preparatório como internos. Durante o terceiro ano – que correspondia ao primeiro ano de filosofia – conheci um amigo da família de cerca de 35 anos, uma vocação adulta, que havia entrado como aspirante salesiano (hoje ainda está vivo e é coadjutor). Quando ele deu esse passo, acendeu-se uma chama dentro de mim. E com a ajuda do meu diretor espiritual, comecei um discernimento vocacional.
Foi um caminho importante, mas também exigente: eu tinha 19 anos, mas aquele guia espiritual me ajudou a buscar a vontade de Deus, e não simplesmente a minha. Assim, no último ano – o quarto de filosofia –, em vez de segui-lo no seminário, vivi como aspirante salesiano, completando os dois anos de filosofia exigidos.

Na família, o ambiente era fortemente marcado pela fé. Participávamos todos os dias da missa, rezávamos o rosário em casa, éramos muito unidos. Ainda hoje, embora nossos pais estejam no céu, mantemos essa mesma unidade entre irmãos e irmãs.

Outra experiência familiar me marcou profundamente, embora só tenha percebido isso com o tempo. Meu irmão, o segundo da família, morreu aos 25 anos de insuficiência renal. Hoje, com os avanços da medicina, ele ainda estaria vivo graças à diálise e aos transplantes, mas naquela época não havia tantas possibilidades. Estive ao seu lado nos últimos três anos de sua vida: dividíamos o mesmo quarto e muitas vezes eu o ajudava à noite. Ele era um jovem sereno, alegre, que vivia sua fragilidade com uma alegria extraordinária.
Eu tinha 16 anos quando ele morreu. Passaram-se cinquenta anos, mas quando penso naquela época, naquela experiência cotidiana de proximidade, feita de pequenos gestos, reconheço o quanto isso marcou minha vida.

Nasci em uma família onde havia fé, senso de trabalho, responsabilidade compartilhada. Meus pais são dois exemplos extraordinários para mim: viveram com grande fé e serenidade a cruz, sem nunca sobrecarregar ninguém, e ao mesmo tempo souberam transmitir a alegria da vida familiar. Posso dizer que tive uma infância muito bonita. Não éramos ricos, nem pobres, mas sempre sóbrios, discretos. Eles nos ensinaram a trabalhar, a administrar bem os recursos, a não desperdiçar, a viver com dignidade, com elegância e, acima de tudo, com atenção aos pobres e aos doentes.

Como sua família reagiu quando o senhor tomou a decisão de seguir a vocação consagrada?

Chegou o momento em que, junto com meu diretor espiritual, esclarecemos que meu caminho era o dos salesianos. Eu também precisava comunicar isso aos meus pais. Lembro que era uma noite tranquila, estávamos jantando juntos, só nós três. A certa altura, eu disse: “Quero lhes dizer uma coisa: fiz meu discernimento e decidi entrar para os salesianos”.
Meu pai ficou muito feliz. Ele respondeu imediatamente: “Que o Senhor te abençoe”. Minha mãe, por outro lado, começou a chorar, como todas as mães fazem. Ela me perguntou: “Então você vai se afastar?” Mas meu pai interveio com doçura e firmeza: “Quer ele se afaste ou não, este é o seu caminho”.
Eles me abençoaram e me encorajaram. São momentos que ficam gravados para sempre.

Lembro-me particularmente do que aconteceu no final da vida dos meus pais. Meu pai faleceu em 1997 e, seis meses depois, descobriram um tumor incurável em minha mãe.
Naquela época, os superiores me pediram para ir lecionar na Universidade Pontifícia Salesiana (UPS), mas eu não sabia que decisão tomar. Minha mãe não estava bem, estava perto da morte. Conversando com meus irmãos, eles me disseram: “Faça o que os superiores pedem”.
Eu estava em casa e conversei com ela: “Mãe, os superiores estão me pedindo para ir para Roma”.
Ela, com a lucidez de uma verdadeira mãe, respondeu: “Ouça, meu filho, se dependesse de mim, eu pediria que você ficasse aqui, porque não tenho mais ninguém e não gostaria de ser um fardo para seus irmãos. Mas…” – e aqui ela disse uma frase que guardo no coração – “Você não é meu, você pertence a Deus. Faça o que seus superiores lhe dizem.”
Essa frase, pronunciada um ano antes de sua morte, é para mim um tesouro, uma herança preciosa. Minha mãe era uma mulher inteligente, sábia, perspicaz: sabia que a doença a levaria ao fim, mas naquele momento soube ser livre interiormente. Livre para dizer palavras que confirmavam mais uma vez o dom que ela mesma havia feito a Deus: oferecer um filho à vida consagrada.

A reação da minha família, desde o início até o fim, foi sempre marcada por um profundo respeito e um grande apoio. E ainda hoje, meus irmãos e irmãs continuam a levar adiante esse espírito.

Qual foi o seu percurso formativo desde o noviciado até hoje?

Foi um percurso muito rico e variado. Comecei o pré-noviciado em Malta, depois fiz o noviciado em Dublin, na Irlanda. Uma experiência realmente bonita.

Depois do noviciado, meus companheiros se mudaram para Maynooth para estudar filosofia na universidade, mas eu já tinha concluído esse curso anteriormente. Por isso, os superiores me pediram para permanecer no noviciado por mais um ano, onde ensinei italiano e latim. Depois, voltei para Malta para fazer dois anos de estágio, que foram muito bonitos e enriquecedores.

Depois, fui enviado a Roma para estudar teologia na Pontifícia Universidade Salesiana, onde passei três anos extraordinários. Esses anos me deram uma grande abertura mental. Vivíamos no seminário com quarenta coirmãos provenientes de vinte nações diferentes: Ásia, Europa, América Latina… até o corpo docente era internacional. Era em meados dos anos 80, cerca de vinte anos após o Concílio Vaticano II, e ainda se respirava muito entusiasmo: havia debates teológicos animados, a teologia da libertação, o interesse pelo método e pela prática. Esses estudos me ensinaram a ler a fé não apenas como conteúdo intelectual, mas como uma escolha de vida.

Após esses três anos, continuei com mais dois de especialização em teologia moral na Academia Alfonsiana, com os padres redentoristas. Lá também encontrei figuras significativas, como o famoso Bernhard Häring, com quem fiz uma amizade pessoal e ia regularmente todos os meses para conversar com ele. Foram cinco anos no total – entre o bacharelado e a licenciatura – que me formaram profundamente do ponto de vista teológico.

Posteriormente, me ofereci para as missões, e os superiores me enviaram para a Tunísia, junto com outro salesiano, para restabelecer a presença salesiana no país. Assumimos uma escola administrada por uma congregação feminina que, não tendo mais vocações, estava prestes a fechar. Era uma escola com 700 alunos; por isso tivemos que aprender francês e também árabe. Para nos prepararmos, passamos alguns meses em Lyon, na França, e depois nos dedicamos ao estudo do árabe.
Fiquei lá três anos. Foi outra grande experiência, porque nos encontramos a viver a fé e o carisma salesiano num contexto em que não se podia falar explicitamente de Jesus. No entanto, era possível construir percursos educativos baseados em valores humanos: respeito, disponibilidade, verdade. O nosso testemunho era silencioso, mas eloquente. Naquele ambiente, aprendi a conhecer e a amar o mundo muçulmano. Todos – alunos, professores e famílias – eram muçulmanos e nos acolheram com grande calor. Fizeram-nos sentir parte da sua família. Voltei várias vezes à Tunísia e sempre encontrei o mesmo respeito e apreço, independentemente da nossa pertença religiosa.

Depois dessa experiência, voltei para Malta e trabalhei durante cinco anos na área social. Em particular, numa casa salesiana que acolhe jovens que precisam de um acompanhamento educativo mais atento, também em regime residencial.

Após estes oito anos de pastoral (entre a Tunísia e Malta), foi-me oferecida a possibilidade de concluir o doutorado. Optei por voltar à Irlanda, porque o tema estava relacionado com a consciência segundo o pensamento do cardeal John Henry Newman, hoje santo. Concluído o doutorado, o Reitor-Mor da época, P. Juan Edmundo Vecchi – de grata memória – pediu-me para ingressar como professor de teologia moral na Pontifícia Universidade Salesiana.

Olhando para todo o meu percurso, desde o aspirantado até ao doutorado, posso dizer que foi um conjunto de experiências não só de conteúdos, mas também de contextos culturais muito diferentes. Agradeço ao Senhor e à Congregação, porque me ofereceram a possibilidade de viver uma formação tão variada e rica.

Então o senhor conhece o maltês porque é sua língua materna, o inglês porque é a segunda língua em Malta, o latim porque o senhor o ensinou, o italiano porque estudou na Itália, o francês e o árabe porque esteve em Manouba, na Tunísia… Quantas línguas o senhor conhece?

Cinco, seis línguas, mais ou menos. Mas, quando me perguntam sobre línguas, eu sempre digo que são um pouco coincidências históricas.
Em Malta, já crescemos com duas línguas: o maltês e o inglês, e na escola se estuda uma terceira língua. Na minha época, também se ensinava italiano. Além disso, eu tinha um talento natural para línguas e também escolhi o latim. Mais tarde, quando fui para a Tunísia, foi necessário aprender francês e também árabe.
Em Roma, vivendo com muitos estudantes de espanhol, o ouvido se acostuma e, quando fui eleito Conselheiro para a Pastoral Juvenil, aprofundei um pouco o espanhol, que é uma língua muito bonita.

Todas as línguas são bonitas. Claro, aprendê-las requer empenho, estudo, prática. Há quem tenha mais facilidade, outros menos: faz parte da disposição pessoal. Mas não é um mérito, nem uma culpa. É simplesmente um dom, uma predisposição natural.

De 2008 a 2020, o senhor foi Conselheiro Geral da Pastoral Juvenil por dois mandatos. Como sua experiência nesta missão o ajudou?

Quando o Senhor nos confia uma missão, levamos conosco toda a bagagem de experiências que acumulamos ao longo do tempo.
Tendo vivido em contextos culturais diferentes, não corria o risco de ver tudo através do filtro de uma única cultura. Sou europeu, venho do Mediterrâneo, de um país que foi colônia inglesa, mas tive a graça de viver em comunidades internacionais e multiculturais.

Os anos de estudo na UPS também me ajudaram muito. Tínhamos professores que não se limitavam a transmitir conteúdos, mas nos educavam a fazer síntese, a construir um método. Por exemplo, se estudávamos história da Igreja, compreendíamos como era essencial para compreender a patrística. Se abordávamos a teologia bíblica, aprendíamos a relacioná-la com a teologia sacramental, com a moral, com a história da espiritualidade. Em suma, ensinavam-nos a pensar de forma orgânica.
Essa capacidade de síntese, essa arquitetura do pensamento, torna-se então parte da sua formação pessoal. Quando se estuda teologia, aprende-se a identificar pontos fixos e a conectá-los. O mesmo vale para uma proposta pastoral, pedagógica ou filosófica. Quando se encontra pessoas com grande profundidade, absorve-se não só o que dizem, mas também como o dizem, e isso forma o seu estilo.

Outro elemento importante é que, no momento da minha eleição, eu já tinha vivido experiências em ambientes missionários, onde a religião católica era praticamente ausente, e tinha trabalhado com pessoas marginalizadas e vulneráveis. Também tinha adquirido alguma experiência no mundo universitário e, paralelamente, tinha-me dedicado muito ao acompanhamento espiritual.

Além disso, entre 2005 e 2008 – logo após a experiência na UPS –, a Arquidiocese de Malta me pediu para fundar um Instituto de Formação Pastoral, na sequência de um Sínodo diocesano que reconheceu a necessidade do mesmo. O arcebispo me confiou a tarefa de começar do zero. A primeira coisa que fiz foi formar uma equipe com padres, religiosos, leigos – homens e mulheres. Criamos um novo método de formação, que ainda é usado hoje. O instituto continua funcionando muito bem e, de certa forma, essa experiência foi uma preparação valiosa para o trabalho que realizei posteriormente na pastoral juvenil.
Desde o início, sempre acreditei no trabalho em equipe e na colaboração com os leigos. Minha primeira experiência como diretor foi justamente nesse estilo: uma equipe educativa estável, hoje diríamos uma CEP (Comunidade Educativa-Pastoral), com encontros sistemáticos, não ocasionais. Nós nos reuníamos todas as semanas com os educadores e profissionais. E essa abordagem, que com o tempo se tornou um método, permaneceu para mim uma referência.

A isso se soma também a experiência acadêmica: seis anos como professor na Pontifícia Universidade Salesiana, na qual chegavam estudantes de mais de cem nações, e depois como examinador e diretor de teses de doutorado na Academia Alfonsiana.

Acredito que tudo isso me preparou para viver essa responsabilidade com lucidez e visão.

Assim, quando a Congregação, durante o Capítulo Geral de 2008, me pediu para assumir este cargo, eu já trazia comigo uma visão ampla e multicultural. E isso me ajudou, porque reunir diversidades não era algo difícil para mim: era parte da normalidade. Claro, não se tratava simplesmente de fazer uma “salada” de experiências: era preciso encontrar os fios condutores, dar coerência e unidade.

O que pude viver como Conselheiro Geral não foi um mérito pessoal. Acredito que qualquer salesiano, se tivesse tido as mesmas oportunidades e o apoio da Congregação, poderia ter vivido experiências semelhantes e dado a sua contribuição com generosidade.

Há uma oração, uma boa noite salesiana, um hábito que o senhor nunca deixa de fazer?

A devoção a Maria. Em casa, crescemos com o Rosário diário, rezado em família. Não era uma obrigação, era algo natural: fazíamos antes de comer, porque sempre comíamos juntos. Naquela época era possível. Hoje talvez seja menos, mas naquela época era assim que se vivia: a família reunida, a oração compartilhada, a mesa comum.

No início, talvez eu não percebesse o quanto era profunda essa devoção mariana. Mas com o passar dos anos, quando se começa a distinguir o que é essencial do que é secundário, compreendi o quanto essa presença materna acompanhou minha vida.
A devoção a Maria se expressa de diferentes formas: o Rosário diário, quando possível; um momento de pausa diante de uma imagem ou estátua da Virgem Maria; uma oração simples, mas feita com o coração. São gestos que acompanham o caminho da fé.

Naturalmente, há alguns pontos fixos: a Eucaristia diária e a meditação diária. São pilares que não se discutem, se vivem. Não só porque somos consagrados, mas porque somos crentes. E a fé só se vive alimentando-a.
Quando a alimentamos, ela cresce em nós. E só se crescer em nós, podemos ajudar a que cresça também nos outros. Para nós, que somos educadores, é evidente: se a nossa fé não se traduz em vida concreta, todo o resto se torna fachada.

Essas práticas – a oração, a meditação, a devoção – não são reservadas aos santos. São expressão de honestidade. Se fiz uma escolha de fé, também tenho a responsabilidade de cultivá-la. Caso contrário, tudo se reduz a algo exterior, aparente. E isso, com o tempo, não se sustenta.

Se pudesse voltar atrás, faria as mesmas escolhas?

Absolutamente sim. Na minha vida, houve momentos muito difíceis, como acontece com todos. Não quero passar por “vítima de plantão”. Acredito que toda pessoa, para crescer, precisa passar por fases de escuridão, momentos de desolação, de solidão, de se sentir traída ou acusada injustamente. E eu vivi esses momentos. Mas tive a graça de ter um diretor espiritual ao meu lado.

Quando se vive certas dificuldades acompanhado por alguém, consegue-se intuir que tudo o que Deus permite tem um sentido, tem um propósito. E quando se sai desse “túnel”, descobre-se que se é uma pessoa diferente, mais madura. É como se, através dessa provação, fôssemos transformados.

Se eu tivesse ficado sozinho, teria corrido o risco de tomar decisões erradas, sem visão, cego pelo cansaço do momento. Quando se está zangado, quando se sente sozinho, não é hora de decidir. É hora de caminhar, de pedir ajuda, de se deixar acompanhar.

Viver certas passagens com a ajuda de alguém é como ser uma massa colocada no forno: o fogo a cozinha, a torna madura.
Portanto, à pergunta se mudaria alguma coisa, a minha resposta é: não. Porque mesmo os momentos mais difíceis, mesmo aqueles que eu não compreendia, ajudaram-me a tornar-me na pessoa que sou hoje.
Sinto-me uma pessoa perfeita? Não. Mas sinto que estou a caminho, todos os dias, tentando viver diante da misericórdia e da bondade de Deus.

E hoje, ao dar esta entrevista, posso dizer com sinceridade que me sinto feliz. Talvez ainda não tenha compreendido plenamente o que significa ser Reitor-Mor – isso leva tempo –, mas sei que é uma missão, não um passeio. Traz consigo as suas dificuldades. No entanto, sinto-me amado, estimado pelos meus colaboradores e por toda a Congregação.

E tudo o que sou hoje, sou graças ao que vivi, mesmo nos momentos mais difíceis. Não mudaria nada. Eles fizeram de mim quem sou.

O senhor tem algum projeto que lhe seja particularmente caro?

Sim. Se fecho os olhos e imagino algo que realmente desejo, gostaria de ver uma Congregação mais santa. Mais santa. Mais santa.

Fiquei profundamente inspirado pela primeira carta do padre Pascual Chávez, de 2002, intitulada “Sede santos”. Essa carta me tocou profundamente, deixou uma marca em mim.
Os projetos são muitos, e todos válidos, bem estruturados, com visões amplas e profundas. Mas que valor têm, se são levados adiante por pessoas que não são santas? Podemos fazer um trabalho excelente, podemos até ser apreciados – e isso, em si, não é negativo –, mas não trabalhamos para obter sucesso. O nosso ponto de partida é uma identidade: somos pessoas consagradas.

O que propomos só faz sentido se nasce daí. É claro que desejamos que nossos projetos tenham sucesso, mas ainda mais desejamos que tragam graça, que toquem as pessoas profundamente. Não basta ser eficiente. Temos que ser eficazes, no sentido mais profundo: eficazes no testemunho, na identidade, na fé.
A eficiência pode existir mesmo sem qualquer referência religiosa. Podemos ser excelentes profissionais, mas isso não basta.
Nossa consagração não é um detalhe: é o fundamento. Se ela se torna marginal, se a colocamos de lado para dar espaço à eficiência, então perdemos nossa identidade.

E as pessoas nos observam. Nas escolas salesianas, reconhece-se que os resultados são bons – e isso é bom. Mas será que também nos reconhecem como homens de Deus? Essa é a questão.
Se nos veem apenas como bons profissionais, então somos apenas eficientes. Mas a nossa vida deve alimentar-se Dele – Caminho, Verdade e Vida – não do que “eu penso” ou “eu quero” ou “do que me parece”.

Portanto, mais do que falar de um projeto pessoal, prefiro falar de um desejo profundo: tornar-me santo. E falar disso de forma concreta, não idealizada.
Quando Dom Bosco falava aos seus jovens sobre estudo, saúde e santidade, não se referia a uma santidade feita apenas de oração na capela. Ele pensava em uma santidade vivida na relação com Deus e alimentada pela relação com Deus. A santidade cristã é o reflexo dessa relação viva e cotidiana.

Que conselho o senhor daria a um jovem que se questiona sobre a vocação?

Eu diria para descobrir, passo a passo, qual é o projeto de Deus para ele.
O caminho vocacional não é uma pergunta que se faz, esperando uma resposta pronta da Igreja. É uma peregrinação. Quando um jovem me diz: “Não sei se quero ser salesiano ou não”, tento afastá-lo dessa formulação. Porque não se trata simplesmente de decidir: “Vou ser salesiano”. A vocação não é uma opção em relação a uma “coisa”.

Também na minha própria experiência, quando disse ao meu diretor espiritual: “Quero ser salesiano, tenho que ser”, ele, com muita calma, me fez refletir: “É realmente a vontade de Deus? Ou é apenas um desejo seu?”

E é justo que um jovem procure o que deseja, é algo saudável. Mas quem o acompanha tem a tarefa de educar essa busca, de transformá-la de entusiasmo inicial em caminho de amadurecimento interior.
“Você quer fazer o bem? Ótimo. Então conheça a si mesmo, reconheça que é amado por Deus”.
É somente a partir dessa relação profunda com Deus que pode surgir a verdadeira pergunta: “Qual é o projeto de Deus para mim?”
Porque o que hoje desejo, amanhã pode não me bastar mais. Se a vocação se reduz ao que “gosto”, então será algo frágil. A vocação é, pelo contrário, uma voz interior que interpela, que pede para entrar em diálogo com Deus e para responder.

Quando um jovem chega a este ponto, quando é acompanhado a descobrir aquele espaço interior onde habita Deus, então começa realmente a caminhar.
E por isso, quem acompanha deve ser muito atento, profundo, paciente. Nunca superficial.
O Evangelho de Emaús é uma imagem perfeita: Jesus se aproxima dos dois discípulos, os escuta, mesmo sabendo que estão falando confusamente. Depois de ouvi-los, começa a falar. E eles, no final, o convidam: “Fica conosco, porque já está ficando tarde”.
E o reconhecem no gesto de partir o pão. Então dizem: “Não ardia em nós o nosso coração enquanto ele nos falava pelo caminho?”

Hoje, muitos jovens estão em busca. Nossa tarefa, como educadores, é não ser apressados. Mas ajudá-los, com calma e gradualidade, a descobrir a grandeza que já está em seus corações. Porque lá, naquela profundidade, eles encontram Cristo. Como diz Santo Agostinho: “Tu estavas dentro de mim, e eu estava fora. E lá eu te procurava”.

O senhor teria uma mensagem a transmitir hoje à Família Salesiana?

É a mesma mensagem que compartilhei também nestes dias, durante o encontro da Consulta da Família Salesiana: A fé. Enraizar-nos cada vez mais na pessoa de Cristo.

É desse enraizamento que nasce um conhecimento autêntico de Dom Bosco. Os primeiros salesianos, quando quiseram escrever um livro sobre o verdadeiro Dom Bosco, não o intitularam “Dom Bosco apóstolo dos jovens”, mas “Dom Bosco com Deus” – um texto escrito pelo P. Eugênio Ceria em 1929.
E isso nos faz refletir. Por que eles, que o viam em ação todos os dias, não escolheram destacar o Dom Bosco incansável, organizador, educador? Não, eles quiseram contar o Dom Bosco profundamente unido a Deus.
Quem o conheceu bem não se deteve nas aparências, mas foi à raiz: Dom Bosco era um homem imerso em Deus.

À Família Salesiana, eu digo: recebemos um tesouro. Um dom imenso. Mas todo dom implica uma responsabilidade.
No meu discurso final, eu disse: “Não basta amar Dom Bosco, é preciso conhecê-lo.”
E só podemos conhecê-lo verdadeiramente se formos pessoas de fé.

Devemos olhar para ele com os olhos da fé. Só assim podemos encontrar o crente que foi Dom Bosco, em quem o Espírito Santo agiu com força: com dýnamis, com cháris, com carisma, com graça.
Não podemos nos limitar a repetir certas máximas suas ou a contar seus milagres. Porque corremos o risco de nos determos nas histórias de Dom Bosco, em vez de nos determos na história de Dom Bosco, porque Dom Bosco é maior do que Dom Bosco.
Isso significa estudo, reflexão, profundidade. Significa evitar toda superficialidade.

E então poderemos dizer com verdade: “Esta é a minha fé, este é o meu carisma: enraizados em Cristo, seguindo os passos de Dom Bosco”.




Dom Bosco e o Sagrado Coração. Custodiar, reparar, amar

Em 1886, às vésperas da consagração da nova Basílica do Sagrado Coração, no centro de Roma, o “Boletim Salesiano” quis preparar seus leitores – cooperadores, benfeitores, jovens, famílias – para um encontro vital com “o Coração transpassado que continua a amar”. Durante um ano inteiro, a revista apresentou aos olhos do mundo salesiano um verdadeiro “rosário” de meditações: cada número ligava um aspecto da devoção a uma urgência pastoral, educativa ou social que Dom Bosco – já exausto, mas muito lúcido – considerava estratégica para o futuro da Igreja e da sociedade italiana. Quase cento e quarenta anos depois, essa série continua sendo um pequeno tratado de espiritualidade do coração, escrito em tom simples, mas cheio de ardor, capaz de conjugar contemplação e prática. Apresentamos aqui uma leitura unificada desse percurso mensal, mostrando como a intuição salesiana ainda sabe falar aos dias de hoje.


Fevereiro – A guarda de honra: vigiar o Amor ferido
            O novo ano litúrgico se abre, no Boletim, com um convite surpreendente: não apenas adorar Jesus presente no sacrário, mas “fazer-lhe guarda” – um turno de uma hora escolhido livremente em que cada cristão, sem interromper as atividades cotidianas, torna-se sentinela amorosa que consola o Coração transpassado pela indiferença do carnaval. A ideia, nascida em Paray-le-Monial e florescida em muitas dioceses, torna-se um programa educativo: transformar o tempo em espaço de reparação, ensinar aos jovens que a fidelidade nasce de pequenos atos constantes, fazer do dia uma liturgia difundida. O voto associado – destinar o produto do Manual da Guarda de Honra à construção da Basílica romana – revela a lógica salesiana: contemplação que se traduz imediatamente em tijolos, porque a verdadeira oração edifica (literalmente) a casa de Deus.

Março – Caridade criativa: o cunho salesiano
            Na grande conferência de 8 de maio de 1884, o cardeal Parocchi sintetizou a missão salesiana em uma palavra: “caridade”. O Boletim retoma esse discurso para lembrar que a Igreja conquista o mundo mais com gestos de amor do que com disputas teóricas. Dom Bosco não funda escolas de elite, mas internatos populares; não tira os jovens do meio só para protegê-los, mas para devolvê-los à sociedade como cidadãos sólidos. É a caridade “segundo as exigências do século”: resposta ao materialismo não com polêmicas, mas com obras que mostram a força do Evangelho. Daí a urgência de um grande santuário dedicado ao Coração de Jesus: fazer sobressair no coração de Roma um sinal visível desse amor que educa e transforma.

Abril – Eucaristia: “obra-prima do Coração de Jesus”
            Para Dom Bosco, nada é mais urgente do que levar os cristãos de volta à comunhão frequente. O Boletim lembra que “não há catolicismo sem Nossa Senhora e sem a Eucaristia”. A mesa eucarística é “gênese da sociedade cristã”: dela nascem a fraternidade, a justiça, a pureza. Se a fé enfraquece, é preciso reacender o desejo do Pão vivo. Não por acaso São Francisco de Sales confiou às Visitandinas a missão de custodiar o Coração Eucarístico: a devoção ao Sagrado Coração não é um sentimento abstrato, mas um caminho concreto que conduz ao sacrário e daí se derrama pelas ruas. E é novamente o canteiro romano que serve de verificação: cada lira oferecida para a basílica torna-se um “tijolo espiritual” que consagra a Itália ao Coração que se doa.

Maio – O Coração de Jesus resplandece no Coração de Maria
            O mês mariano leva o Boletim a entrelaçar as duas grandes devoções: entre os dois Corações existe uma comunhão profunda, simbolizada pela imagem bíblica do “espelho”. O Coração Imaculado de Maria reflete a luz do Coração Divino, tornando-a suportável aos olhos humanos: quem não ousa olhar para o Sol, olha para o seu brilho refletido na Mãe. Culto de latria para o Coração de Jesus, de “hiperdulia” para o de Maria: distinção que evita os equívocos dos polemistas jansenistas de ontem e de hoje. O Boletim refuta as acusações de idolatria e convida os fiéis a um amor equilibrado, onde contemplação e missão se alimentam mutuamente: Maria introduz ao Filho e o Filho conduz à Mãe. Em vista da consagração do novo templo, pede-se que se unam as duas invocações que se erguem nas colinas de Roma e Turim: Sagrado Coração de Jesus e Maria Auxiliadora.

Junho – Consolações sobrenaturais: o amor operante na história
            Duzentos anos após a primeira consagração pública ao Sagrado Coração (Paray-le-Monial, 1686), o Boletim afirma que a devoção responde à doença do tempo: “arrefecimento da caridade por excesso de iniquidade”. O Coração de Jesus – Criador, Redentor, Glorificador – é apresentado como o centro de toda a história: da criação à Igreja, da Eucaristia à escatologia. Quem adora esse Coração entra num dinamismo que transforma a cultura e a política. Por isso, o Papa Leão XIII pediu a todos que concorressem ao santuário romano: monumento de reparação, mas também “barreira” contra a “torrente imunda” do erro moderno. É um apelo que soa atual: sem caridade ardente, a sociedade se desintegra.

Julho – Humildade: a fisionomia de Cristo e do cristão
            A meditação de verão escolhe a virtude mais negligenciada: a humildade, “joia transplantada pela mão de Deus no jardim da Igreja”. Dom Bosco, filho espiritual de São Francisco de Sales, sabe que a humildade é a porta das outras virtudes e o selo de todo verdadeiro apostolado: quem serve os jovens sem buscar visibilidade torna presente “o ocultamento de Jesus durante trinta anos”. O Boletim desmascara a soberba disfarçada de falsa modéstia e convida a cultivar uma dupla humildade: do intelecto, que se abre ao mistério, e da vontade, que obedece à verdade reconhecida. A devoção ao Sagrado Coração não é sentimentalismo: é escola de pensamento humilde e de ação concreta, capaz de construir a paz social porque tira do coração o veneno do orgulho.

Agosto – Mansidão: a força que desarma
            Depois da humildade, a mansidão: virtude que não é fraqueza, mas domínio de si mesmo, “o leão que gera mel”, diz o texto, remetendo ao enigma de Sansão. O Coração de Jesus se mostra manso ao acolher os pecadores, firme em defender o templo. Os leitores são convidados a imitar esse duplo movimento: doçura para com as pessoas, firmeza contra o erro. São Francisco de Sales volta a ser modelo: com um tom pacato, derramou rios de caridade na turbulenta Genebra, convertendo mais corações do que teriam conquistado as contendas acirradas. Em um século que “pecava por ser sem coração”, construir o santuário do Sagrado Coração significava erguer um ginásio de mansidão social – uma resposta evangélica ao desprezo e à violência verbal que já envenenavam o debate público.

Setembro – Pobreza e questão social: o Coração que reconcilia ricos e pobres
            O estrondo do conflito social, adverte o Boletim, ameaça “reduzir a escombros o edifício civil”. Estamos em plena “questão operária”: os socialistas agitam as massas, os capitais se concentram. Dom Bosco não nega a legitimidade da riqueza honesta, mas lembra que a verdadeira revolução começa no coração: o Coração de Jesus proclamou bem-aventurados os pobres e viveu em primeira pessoa a pobreza. O remédio passa por uma solidariedade evangélica alimentada pela oração e pela generosidade. Enquanto o templo romano não estiver concluído – escreve o jornal –, faltará o sinal visível da reconciliação. Nas décadas seguintes, a doutrina social da Igreja desenvolverá essas intuições; mas a semente já está aqui: a caridade não é esmola, é justiça que nasce de um coração transformado.

Outubro – Infância: sacramento da esperança
            “Ai daquele que escandalizar um destes pequeninos”: nos lábios de Jesus, o convite torna-se advertência. O Boletim recorda os horrores do mundo pagão contra as crianças e mostra como o cristianismo mudou a história, confiando aos pequenos um lugar central. Para Dom Bosco, a educação é um ato religioso: na escola e no oratório guarda-se o tesouro da Igreja futura. A bênção de Jesus às crianças, reproduzida nas primeiras páginas do jornal, é manifestação do Coração que “se aperta como um pai” e anuncia a vocação salesiana: fazer da juventude um “sacramento” que torna Deus presente na cidade. Escolas, colégios, laboratórios não são opcionais: são a maneira concreta de honrar o Coração de Jesus vivo nos jovens.

Novembro – Triunfos da Igreja: a humildade que vence a morte
            A liturgia recorda os santos e os defuntos; o Boletim medita sobre o “triunfo manso” de Jesus que entra em Jerusalém. A imagem torna-se chave de leitura da história da Igreja: sucessos e perseguições se alternam, mas a Igreja, como o Mestre, ressuscita sempre. Os leitores são convidados a não se deixarem paralisar pelo pessimismo: as sombras do momento (leis anticlericais, redução das ordens, propaganda maçônica) não apagam o dinamismo do Evangelho. O templo do Sagrado Coração, erguido entre hostilidades e pobreza, será o sinal tangível de que “a pedra selada foi removida”. Colaborar na sua construção significa apostar no futuro de Deus.

Dezembro – Bem-aventurança da dor: a Cruz acolhida pelo coração
            O ano termina com a mais paradoxal das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os que choram”. A dor, escândalo para a razão pagã, torna-se no Coração de Jesus caminho de redenção e fecundidade. O Boletim vê nesta lógica a chave para ler a crise contemporânea: sociedades fundadas no divertimento a todo custo produzem injustiça e desespero. Aceita em união com Cristo, porém, a dor transforma os corações, fortalece o caráter, estimula a solidariedade, liberta do medo. Até as pedras do santuário são “lágrimas transformadas em esperança”: pequenas ofertas, às vezes fruto de sacrifícios ocultos, que construirão um lugar de onde choverão, promete o jornal, “torrentes de castas delícias”.

Um legado profético
            Na montagem mensal do Boletim Salesiano de 1886, impressiona a pedagogia do crescendo: parte-se da pequena hora de guarda e chega-se à consagração da dor; do fiel individual ao canteiro nacional; do tabernáculo com torres do oratório aos baluartes do Esquilino. É um itinerário que entrelaça três eixos fundamentais:
            Contemplação – O Coração de Jesus é antes de tudo mistério a ser adorado: vigília, Eucaristia, reparação.
            Formação – Cada virtude (humildade, mansidão, pobreza) é proposta como remédio social, capaz de curar as feridas coletivas.
            Construção – A espiritualidade torna-se arquitetura: a basílica não é ornamento, mas laboratório de cidadania cristã.
            Sem forçar, podemos reconhecer aqui o pré-anúncio de temas que a Igreja desenvolverá ao longo do século XX: o apostolado dos leigos, a doutrina social, a centralidade da Eucaristia na missão, a proteção dos menores, a pastoral da dor. Dom Bosco e seus colaboradores captam os sinais dos tempos e respondem com a linguagem do coração.

            Em 14 de maio de 1887, quando Leão XIII consagrou a Basílica do Sagrado Coração, por meio de seu vigário Cardeal Lucido Maria Parocchi, dom Bosco – muito fraco para subir ao altar – assistiu escondido entre os fiéis. Naquele momento, todas as palavras do Boletim de 1886 tornaram-se pedra viva: a guarda de honra, a caridade educativa, a Eucaristia centro do mundo, a ternura de Maria, a pobreza reconciliadora, a bem-aventurança da dor. Hoje, essas páginas pedem um novo fôlego: cabe a nós, consagrados ou leigos, jovens ou idosos, continuar a vigília, erguer canteiros de esperança, aprender a geografia do coração. O programa continua o mesmo, simples e audacioso: custodiar, reparar, amar.

Na foto: Pintura do Sagrado Coração, colocada no altar-mor da Basílica do Sagrado Coração, em Roma. A obra foi encomendada por Dom Bosco e confiada ao pintor Francesco de Rohden (Roma, 15 de fevereiro de 1817 – 28 de dezembro de 1903).