13 Dez 2025, Sáb

P. João Bocchi (1929-2016). Um missionário salesiano entre Itália e Camarões

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Em maio de 2026 completar-se-á o décimo aniversário da morte do P. João Bocchi, salesiano, que dedicou quinze anos de sua vida à missão nos Camarões, deixando uma marca indelével na Igreja local e na formação de numerosas vocações sacerdotais e religiosas. Como um dos muitos jovens camaroneses que se beneficiaram de seu ministério pastoral e de seu acompanhamento espiritual, sinto o dever de testemunhar o impacto que esse missionário teve em nossa Igreja e na minha própria vocação.
Este retrato biográfico baseia-se em documentos de arquivo, testemunhos diretos e escritos do próprio P. Bocchi vindos dos Camarões. É uma tentativa de ressaltar a figura de um homem de Deus que soube ser ponte entre culturas diferentes, pai espiritual de gerações de jovens e testemunha autêntica do Evangelho em terra de missão.

As raízes “garfagninas” e a formação salesiana
João Bocchi nasceu em 8 de março de 1929 em Pugliano, distrito de Minucciano, na alta Garfagnana, província de Lucca, filho de José Bocchi e Anunciata Bertoni. Era um mundo campesino, marcado pelos ritmos da natureza e por uma fé simples e robusta. Nesse contexto montanhoso, dominado pelo Pizzo d’Uccello e pelo Pisanino, o jovem João amadureceu a sensibilidade humana e espiritual que o marcaria: o valor do esforço, da solidariedade e do essencial.

Aos dezessete anos entrou na congregação salesiana. Em 27 de agosto de 1946 cruzou a soleira do noviciado de Varazze, iniciando um longo percurso de formação. Em 28 de agosto de 1947 fez a primeira profissão religiosa trienal em Varazze, prometendo viver na pobreza, castidade e obediência. Renovou os votos em 25 de agosto de 1950, também em Varazze. Em 7 de setembro de 1952, em Alassio, fez a profissão perpétua, vinculando-se para sempre à congregação salesiana.

O caminho rumo ao sacerdócio prosseguiu com os estudos teológicos em Bollengo, onde recebeu progressivamente as ordens: leitor (1º de janeiro de 1955), acólito (30 de junho de 1955), subdiácono (1º de julho de 1956) e diácono (1º de janeiro de 1957). Finalmente, em 1º de julho de 1957, foi ordenado presbítero em Bollengo. Aos vinte e oito anos, o P. João Bocchi era padre para sempre, pronto para dedicar sua vida à salvação das almas. Na escola de Dom Bosco assimilou o Sistema Preventivo, baseado na razão, na religião e na amabilidade, transformando-o em um estilo de vida.

Os primeiros passos do ministério na Itália
De 11 de setembro de 1963 a 11 de setembro de 1966, o P. Bocchi ocupou o cargo de diretor da casa salesiana de Savona. Mas seu escritório era o pátio, sua mesa de trabalho era o confessionário. Gostava de estar no meio dos rapazes, que viam nele um pai e um amigo. Foi justamente nesses anos que se manifestou sua particular vocação como confessor e diretor espiritual. Entre seus penitentes estava Vera Grita, jovem professora que viria a se tornar Cooperadora Salesiana e cuja causa de beatificação está atualmente em andamento. O P. Bocchi a acompanhou em seu caminho espiritual a partir de 1963, ajudando-a a discernir a vontade de Deus.

De 11 de setembro de 1966 a 22 de julho de 1970, em Gênova-Sampierdarena, o P. Bocchi foi delegado inspetorial para os apostolados sociais. Dedicou-se ao atendimento dos operários e de suas famílias, levando o Evangelho às fábricas e aos bairros populares. Era um padre de fronteira, que procurava promover a dignidade humana e cristã dos trabalhadores. Essa experiência enriqueceu sua sensibilidade pastoral e o preparou para compreender as dinâmicas da pobreza que encontraria depois na África.

Em 22 de julho de 1970 chegou a La Spezia-Canaletto, cidade que se tornaria sua segunda casa por muitos anos. De 1º de setembro de 1976 a 23 de junho de 1981 foi pároco de Maria Auxiliadora no Canaletto, demonstrando ser um pastor incansável. Sua porta estava sempre aberta, sua pregação simples e profunda. Mas era sobretudo no confessionário que o P. Bocchi exercia seu maior carisma: passava horas ouvindo, consolando, perdoando. Era um ministro da misericórdia de Deus.

Em 23 de junho de 1981 foi nomeado diretor da comunidade salesiana de La Spezia. Mas seu coração estava sempre voltado aos jovens, à missão. Sentia fortemente o desejo de partir para terras distantes.

O chamado da África
Em 1982, quando o P. João Bocchi partiu para Camarões, já tinha mais de cinquenta anos. Não era mais um jovem, mas um sacerdote maduro, com sólida experiência pastoral. Sua decisão de abraçar a missão africana representou uma escolha corajosa, que testemunhava sua profunda liberdade interior e sua total disponibilidade à vontade de Deus.

A congregação salesiana vivia um forte impulso missionário rumo à África, no âmbito do “Projeto África” lançado pelo Reitor-Mor, P. Egídio Viganò. Como escreveria anos depois, a África havia se tornado “o motivo de orgulho” de sua vida sacerdotal. Com o entusiasmo de um noviço e a sabedoria de um veterano, preparou-se para se tornar “africano com os africanos”.

Fundação de uma nova presença salesiana
Em 1º de setembro de 1982, o P. João Bocchi chegou a Camarões para fundar, junto com os coirmãos P. Rizzato e P. De Marchi
, uma nova presença salesiana em Ebolowa. A cidade, com cerca de 38.000 habitantes, acabara de se tornar capital da província Centro-Sul. A paróquia confiada aos salesianos apresentava dimensões incríveis: abrangia quase toda a cidade com 13 bairros e incluía 5 estradas com um total de cerca de 160 km, ao longo das quais se encontravam mais de 40 vilarejos, cada um com sua capela. Geograficamente cobria mais de 9.000 km², com 45.000 habitantes.

As visitas pastorais duravam meses, e o sacerdote ficava fora de casa três ou quatro dias por semana. Era um campo de trabalho imenso, que os três missionários enfrentaram com dedicação extraordinária.

O P. Bocchi lançou-se imediatamente no aprendizado da língua local, o Bulu, para comunicar-se eficazmente com a população. Além do ministério paroquial, empenhou-se no desenvolvimento de obras educativas e sociais que mudariam o rosto da missão. A escola católica tornou-se rapidamente uma das maiores do Sul de Camarões, com 1.350 alunos do ensino primário.

Paralelamente, foram criadas obras de formação profissional: uma grande carpintaria, seguida pela mecânica automotiva e pela reparação de áudio e vídeo. Tinha uma visão integral da educação, que não se limitava ao ensino, mas incluía a formação profissional e o acompanhamento humano. As pessoas o chamavam de “Fata” (pai) e o recebiam com carinho.

O encontro que mudou minha vida
Foi nesse contexto que aconteceu meu encontro pessoal com o P. Bocchi, um encontro que mudaria o rumo da minha vida. Frequentava o seminário menor São João XXIII de Ebolowa, convicto de que deveria tornar-me sacerdote diocesano – meu pai era catequista formado pelos missionários espiritanos.

O P. Bocchi vinha regularmente ao nosso seminário como confessor. A atitude dos salesianos para conosco era surpreendente em relação à distância institucional a que estávamos acostumados. Nunca tinha visto padres tão próximos dos jovens, tão solidários, tão paternos, tão sorridentes, que se deixavam aproximar, tocar e sujar pelas crianças e pelos jovens.

Tudo começou com uma partida de futebol entre nós, seminaristas, e os jovens do Centre des Jeunes Don Bosco [Centro Juvenil Dom Bosco]. Foi nessa ocasião que vi pela primeira vez padres que jogavam com os rapazes, que riam e brincavam com naturalidade. Era um estilo pastoral que me interrogava profundamente.

O “mal-entendido” que virou vocação
Meu irmão mais novo, Lucas, frequentava o oratório salesiano, amigo do P. Alcides (P. Alcides Baggio, hoje missionário em Kinshasa, na República Democrática do Congo). Quando lhe expressei minha admiração por esse modo de ser padres, ele disse ao P. Bocchi que eu desejava tornar-me salesiano. Mas o P. Bocchi não se limitou a tomar nota. Ofereceu-me as Memórias do Oratório e uma biografia de Domingos Sávio: “Leia, e depois conversamos.”

Não impunha, mas propunha; oferecia instrumentos de discernimento. Essa atitude revelava sua profunda confiança na liberdade da pessoa e na ação do Espírito Santo. É verdade também que, sendo ele meu confessor e amigo de meu pai, podia dizer que me conhecia bem. A leitura desses textos abriu-me um horizonte completamente novo: quando descobri a vida de Dom Bosco e de seu aluno Domingos Sávio, compreendi a razão da atitude que os salesianos tinham para conosco, os jovens.

As dificuldades institucionais e a coragem pastoral
Minha escolha de aproximar-me dos salesianos não foi bem vista pelos superiores do seminário diocesano. O bispo me convocou: “Ouça-me bem, filho. Se por algum motivo você não continuar com os salesianos, nunca mais volte à minha diocese, porque foi até eles sem a minha permissão.”

Era uma ameaça que me assustou profundamente. Mas o P. Bocchi, ao tomar conhecimento da situação, ficou escandalizado. Acompanhou-me pessoalmente a Sangmelima, onde me apresentou ao bispo Dom João Batista Ama, para esclarecer a questão, assegurando-me que se aquilo fosse realmente a vontade de Deus, eu poderia prosseguir sem problemas. Sua firmeza em defender a liberdade de consciência foi determinante para minha vocação.

O P. Bocchi também possuía o dom do humor. Vendo-me ainda indeciso, disse-me com um sorriso: “Se Deus te chama, ninguém pode opor-se. Eu mesmo, quando jovem, tentei resistir, e veja o que Deus me fez” – e indicou brincando sua cabeça sem cabelo. Daquele medo inicial, comecei a rir. Era seu modo: com bondade e afeto ajudava você a descobrir o projeto de Deus, transformando até os momentos de tensão em ocasiões de crescimento.

Seu acompanhamento caracterizava-se por alguns elementos fundamentais: respeito pela liberdade (“Reza, reflete, e depois decide”), paciência no tempo do discernimento, confiança na Providência (“Se é vontade de Deus, encontrará seu caminho”) e proximidade humana concreta.

Livorno e depois Yaoundé: o sonho do Santuário
Em 26 de junho de 1990, o P. Bocchi retornou temporariamente à Itália. De 26 de junho de 1990 a 26 de junho de 1992 foi diretor da comunidade salesiana de Livorno. Foi um período de descanso necessário após oito anos intensíssimos na África, mas também um tempo em que manteve vivos os contatos com a missão camaronesa e se dedicou à sensibilização missionária junto aos benfeitores toscanos. Permaneceu em contato com grupos de amigos na Toscana, e o grupo de Livorno foi um dos mais ativos em acompanhar o P. Bocchi em iniciativas de sensibilização e solidariedade.

Em 26 de junho de 1992, o P. Bocchi retornou a Camarões, desta vez a Yaoundé, na paróquia de Mimboman. Inicialmente foi encarregado (de 1º de setembro de 1992 a 1º de setembro de 1993), mas seu serviço duraria, com interrupções, até 1999. A transferência representava um novo desafio: da realidade provincial de Ebolowa à complexidade de uma grande metrópole africana em rápido crescimento, com urbanização desordenada, desemprego juvenil e difusão de novas seitas religiosas.

De 6 de julho de 1993 a 1º de setembro de 1995, o P. Bocchi foi chamado de volta à Itália como diretor da comunidade salesiana de Pietrasanta. Foi um período relativamente breve, mas significativo, no qual continuou seu ministério sacerdotal no território toscano. Em 1º de setembro de 1995 o P. Bocchi retornou a Yaoundé-Mimboman, desta vez como vigário (1995-1996) e depois como pároco (de 1º de setembro de 1996 a 1º de setembro de 1999), exercendo simultaneamente também o papel de vigário no último ano; dedicou-se com paixão à animação do oratório de Mimboman, que rapidamente se tornou um ponto de referência para centenas de jovens do bairro e da cidade. Seu estilo permanecia o de sempre: proximidade aos jovens, amor pelos pobres, zelo pelas almas.

O projeto do Santuário de Maria Auxiliadora
O projeto mais ambicioso foi a idealização de um Santuário dedicado a Maria Auxiliadora, uma empreitada audaciosa que parecia além das forças humanas. Mas o P. Bocchi via a sede de Deus no povo, o desejo de um lugar sagrado. O Santuário deveria ser um centro de irradiação da fé, não apenas um edifício. Ele envolveu a comunidade cristã, procurou benfeitores, mobilizou amigos na Itália. Embora não tenha conseguido ver a obra concluída devido ao seu retorno por motivos de saúde, lançou as bases para uma realização que outros, até hoje, tentam levar adiante.

Para ele, Maria não era uma devoção entre muitas, mas a mãe, a guia, a inspiradora de toda a sua vida de salesiano e missionário. Aprendera com Dom Bosco a confiar nela, a invocá-la nos momentos de dificuldade.

O retorno definitivo à Itália e os últimos anos
Em 1999, após quinze anos de intensa atividade missionária na África, também marcados por períodos de serviço na Itália, a saúde do P. Bocchi começou a declinar seriamente, posta à prova pelo clima e pela vida de sacrifício. Foi forçado, com grande dor, a deixar sua amada terra africana, enfrentando essa nova provação com a mesma fé e entrega que caracterizaram seu ministério.

Aquele ano, em 11 de julho, representou para ambos uma virada radical e definitiva. Foi exatamente naquele Oratório e naquela paróquia destinada a se tornar futuro santuário que o P. Bocchi pôde assistir à minha ordenação sacerdotal. Para ele, era o cumprimento de uma missão educativa: havia escrito e apresentado pessoalmente minha candidatura ao bispo, segundo o rito litúrgico, acompanhando-me desde os treze anos até a idade adulta, encontrando-me até uma família adotiva: Franco e Carla Sommella, em La Spezia, Vezzano Ligure.

No dia da ordenação sacerdotal, fiquei sem palavras. Lia em seus olhos a mesma alegria que brilhava nos olhos dos meus pais africanos. A separação que se seguiu, embora dolorosa, marcou para ele a conclusão de um percurso: meu confessor e pai espiritual via sua obra realizada, concluída no sinal de uma missão cumprida.

Entre Pisa e La Spezia: o ministério do perdão
Menos de dois meses depois, portanto de 1º de setembro de 1999 a 30 de junho de 2000, o P. Bocchi retornou brevemente a La Spezia-Canaletto, a comunidade que já conhecera nos anos setenta. De 30 de junho de 2000 a 1º de setembro de 2004 foi diretor e pároco da paróquia de Dom Bosco e São Ranieri, em Pisa. Apesar da idade e dos achaques, entregou-se generosamente.

Em 1º de setembro de 2004 foi transferido para La Spezia, na paróquia de Nossa Senhora da Neve, onde até o fim de seus dias se dedicou ao que gostava de chamar de “ministério do perdão.” Recebia todos com um sorriso luminoso que transmitia alegria e serenidade. Tornou-se um ponto de referência espiritual para toda a cidade. Sua fama de confessor sábio e misericordioso espalhou-se rapidamente: os fiéis que iam ao seu confessionário eram realmente um rio, e para eles “don Gianni” [P. João] estava sempre disponível. Recebia todos com a mesma paciência, a mesma bondade. Não olhava o relógio, não se cansava de escutar. Para ele, cada alma era um tesouro precioso.

O privilégio da indulgência plenária recebido na África
Nesses anos, o P. Bocchi exerceu um privilégio especial que recebera do Papa João Paulo II durante uma visita a Camarões: a faculdade de conceder a indulgência plenária. Era um reconhecimento de sua santidade de vida e de sua fidelidade ao Evangelho. Exerceu esse privilégio com grande humildade, feliz por poder oferecer aos fiéis não apenas o perdão, mas também a remissão total da pena.

Os últimos anos foram marcados pela doença, que se agravou progressivamente. Mas nunca perdeu a serenidade. Continuou a rezar, a ofertar, a abençoar. Preparou-se para o encontro com o Senhor com paz no coração, com a certeza de ter combatido o bom combate.

A última despedida
O P. João Bocchi faleceu em 1º de maio de 2016 em La Spezia, aos oitenta e sete anos. Os funerais foram celebrados na igreja de Nossa Senhora da Neve em La Spezia, presididos por Dom Luís Ernesto Palletti, bispo da diocese, com numerosos sacerdotes presentes e uma grande multidão emocionada. Foi o último abraço coral a um pai, testemunho do afeto e da estima conquistados ao longo de todos os anos de seu ministério.

O testemunho do P. Karim Madjidi
Ao rito participou o P. Karim Madjidi, então vigário inspetorial da Circunscrição Central (2015-2018), que ilustrou a figura e a obra do P. Bocchi. Realçou como ele fora um grande sacerdote que soube dar toda a sua vida ao Senhor, acolhendo todas as suas obediências, mudando continuamente de cidade, sempre a serviço, no oratório.

O P. Karim evidenciou o impacto duradouro na Igreja camaronesa: o P. Bocchi havia acompanhado muitos jovens que se prepararam para se tornarem sacerdotes, muitas irmãs. Seu modo de ser sacerdote – que convidava todos a rezar a Nossa Senhora, a aproximar-se da confissão, da Eucaristia; porém, com um sentido humano, verdadeiramente humano, próximo – deixou uma marca profunda.

Os restos mortais repousam agora no cemitério de sua terra natal, Pugliano, entre as montanhas que o viram nascer. É um retorno simbólico às raízes, à terra que o formou, às montanhas que lhe ensinaram a solidez da fé.

A herança espiritual
A herança mais preciosa do P. João Bocchi não está nas obras materiais, por maiores que sejam, mas nos corações que transformou. Sua pregação, e sobretudo seu testemunho, favoreceram muitas conversões à fé e o surgimento de numerosas vocações religiosas e sacerdotais.

Muitos jovens, graças ao seu ministério, abraçaram a vida sacerdotal ou religiosa. Outros comprometeram-se como leigos na Igreja e na sociedade. A minha própria vocação é fruto de seu acompanhamento. Hoje, como psicólogo da educação, pregador e há alguns anos membro do Conselho Geral dos Salesianos, levo adiante a herança daquela semente que ele plantou em meu coração de jovem seminarista incerto.

Os “João Bocchi” de Camarões
Ainda hoje, aqui em Camarões, muitas crianças carregam o nome “João Bocchi” em honra do missionário. Para as mães africanas, dar o nome de uma pessoa aos próprios filhos é o reconhecimento mais alto: significa que aquela pessoa salvou suas vidas ou as de suas famílias. É um gesto que vai além do afeto, que testemunha uma gratidão profunda. Essas crianças são a memória viva de um pai que amou sem reservas.

Um método educativo universal
O P. Bocchi soube encarnar o carisma salesiano em terra africana, adaptando-o ao contexto local sem trair sua essência. Demonstrou a validade universal do Sistema Preventivo de Dom Bosco. Aprendeu nossa língua bulu, compreendeu as dinâmicas sociais, soube tornar-se africano com os africanos sem perder sua identidade de salesiano. Seu testemunho demonstra que a evangelização autêntica não é imposição de modelos externos, mas a encarnação do Evangelho na cultura local, respeitosa das diversidades e valorizadora das riquezas humanas de cada povo.

Quase dez anos após sua morte, a figura do P. João Bocchi permanece viva. Para nós, em Camarões, ele foi um pai na fé, que soube ajudar-nos sem assistencialismo, formar-nos e desafiar-nos sem colonialismo cultural. Acreditou em nossas potencialidades e respeitou nossa dignidade.

Sua herança continua nas obras que fundou, nas vocações que suscitou, nos “João Bocchi” que levam seu nome. Mas, sobretudo, continua no método educativo que transmitiu e no amor aos jovens que testemunhou.

P. Afonso OWOUDOU, SDB
Conselheiro Regional África Central e Ocidental

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