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Neste trecho, tirado das memórias de 1887, o P. João Bosco descreve a mais inquietante de suas visões oníricas: a descida às penas do inferno. O sonho, tido na noite entre 2 e 3 de abril, o deixou exausto e trêmulo, tamanha a força da sensação de se encontrar diante do destino eterno dos pecadores. Através de ruídos telúricos, gritos desumanos e figuras monstruosamente deformadas, o santo educador pretende advertir os jovens sobre o destino que aguarda aqueles que se vangloriam dos bens terrenos e negligenciam a alma. A narração, intensa e quase cinematográfica, culmina em um convite urgente à oração e à comunhão frequente, únicos remédios capazes de quebrar as correntes do mal e orientar definitivamente a vida para a salvação.
Na manhã do dia 3 de abril, disse ao P. Viglietti que na noite anterior não conseguiu descansar, relembrando um sonho aterrorizante que teve na noite do dia 2. Tudo isso produziu nele um verdadeiro esgotamento de forças.
– Se os jovens, dizia-lhe, ouvissem o relato do que vi, ou se entregariam a uma vida santa ou fugiriam apavorados para não ouvir até o fim. Além disso, é impossível descrever tudo, como seria difícil representar na sua realidade os castigos reservados aos pecadores na outra vida.
Ele havia visto as penas do inferno. Sentiu primeiro um grande barulho como de terremoto. A princípio não deu muita importância; mas o barulho foi gradualmente aumentando, até que ouviu um estrondo prolongado, aterrorizante, misturado a gritos de horror e de agonia, vozes humanas inarticuladas que, confundidas com o estrondo geral, produziam um alvoroço cheio de medo. Assustado, observou ao seu redor qual poderia ser a causa daquele fim do mundo, mas não viu nada. O barulho, cada vez mais ensurdecedor, se aproximava, e não era mais possível distinguir com os olhos ou com os ouvidos o que estava acontecendo. Don Bosco continuou a descrever:
– Vi, a princípio, como uma massa, um volume informe que aos poucos tomou a forma de um formidável barril de dimensões fabulosas: de lá saíam os gritos de dor. Perguntei, apavorado, o que era, o que significava o que eu via. Então os gritos, até aquele momento inarticulados, tornaram-se mais fortes e mais distintos, de modo que percebi estas palavras: Multi gloriantur in terris et cremantur in igne (Muitos se vangloriam na terra, mas queimarão no fogo). Depois vi dentro daquela espécie de barril pessoas de indescritível deformidade. Os olhos saíam das órbitas; as orelhas, quase destacadas da cabeça, pendiam para baixo; os braços e as pernas estavam deslocados de maneira horripilante. Aos gemidos humanos se uniam miados estridentes de gatos, latidos raivosos de cães, rugidos de leões, gritos de lobos, vozes de tigres, de ursos e de outros animais. Observei melhor e entre aqueles desgraçados reconheci alguns. Então, cada vez mais atônito, perguntei novamente o que significava aquele espetáculo extraordinário. Responderam-me: Gentilibus inenarrabilibus famem patientur ut canes (Os gentios sofrem uma fome indescritível como os cães).
Enquanto isso, com o aumento do barulho, a visão das coisas tornava-se mais viva e mais distinta diante dele; quanto mais conhecia aqueles infelizes, mais claros chegavam até ele seus gritos, mais opressivo se tornava seu terror. Ele interrogou gritando: Mas não poderá haver remédio nem escape para tanta desgraça? É realmente para nós tanto aparato de horror, tão tremenda punição? Que coisas devo fazer eu?
– Sim, respondeu-lhe uma voz, há um remédio, um único remédio. Apressar-se em pagar suas dívidas com ouro e prata.
– Mas essas são coisas materiais.
– Não; aurum et thus (ouro e incenso). Com a oração incessante e com a comunhão frequente, poderá remediar tanto mal.
Durante esse diálogo, os gritos tornavam-se mais angustiantes, os aspectos daqueles que os emitiram apareciam mais monstruosos diante dele, de modo que, tomado por um terror mortal, acordou. Eram três horas da manhã, e não conseguiu mais fechar os olhos. No decorrer de seu relato, um tremor agitava seus membros, ele estava ofegante e chorava.
(MB IT XVIII, 284-285)

