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Dom José Malandrino, IX bispo da diocese de Noto, retornou à Casa do Pai, no último dia 3 de agosto de 2025. Nesse dia se celebrava a festa da Padroeira da Diocese de Noto, Maria Scala del Paradiso [Maria, Escada do Paraíso]. Estava com 94 anos de idade, 70 anos de sacerdócio e 45 anos de consagração episcopal. São números respeitáveis para um homem que serviu a Igreja como Pastor com “o cheiro das ovelhas”, como o Papa Francisco costumava enfatizar.
Para-raios da humanidade
Na experiência como pastor da Diocese de Noto (19.06.1998 – 15.07.2007), teve a oportunidade de cultivar a amizade com o Servo de Deus Nino Baglieri. Quase nunca faltava uma “parada” na casa de Nino quando motivos pastorais o levavam a Módica. Em seu testemunho, Dom Malandrino diz: “…encontrando-me ao lado de Nino, tinha a percepção viva de que este nosso amado irmão enfermo era verdadeiramente um ‘para-raios da humanidade’, segundo uma concepção dos sofredores que me é muito cara e que quis propor também na Carta Pastoral sobre a missão permanente ‘Sereis minhas testemunhas’ (2003).” Dom Malandrino escreve: “É necessário reconhecer nos doentes e sofredores o rosto de Cristo sofredor e assisti-los com o mesmo cuidado e amor de Jesus em sua paixão, vivida em espírito de obediência ao Pai e solidariedade aos irmãos.” Isso foi plenamente encarnado pela querida mãe de Nino, a senhora Peppina. Ela, típica mulher siciliana, com um caráter forte e muita determinação, respondeu ao médico que propôs a eutanásia para seu filho (dadas as graves condições de saúde e a perspectiva de uma vida de paralisia): “se o Senhor quiser, Ele o levará, mas se me deixá-lo assim, fico feliz em cuidar dele por toda a vida.” A mãe de Nino, naquele momento, estava consciente do que estava por vir? Maria, mãe de Jesus, estava consciente da dor que teria que sofrer pelo Filho de Deus? A resposta, vista com olhos humanos, parece não ser fácil, especialmente em nossa sociedade do século XXI, onde tudo é efêmero, flutuante, consumido num “instante”. O “Fiat” da mãe Peppina tornou-se, como o de Maria, um Sim de Fé e adesão àquela vontade de Deus que se cumpre no saber carregar a Cruz, no saber dar “alma e corpo” à realização do Plano de Deus.
Da dor à alegria
A relação de amizade entre Nino e Dom Malandrino já estava iniciada quando este último ainda era bispo de Acireale; de fato, já em 1993, por meio do Padre Atílio Balbinot, um camiliano muito próximo a Nino, ele presenteou-o com seu primeiro livro: “Da dor à alegria”. Na experiência de Nino, a relação com o Bispo de sua diocese era uma relação de filiação total. Desde o momento em que aceitou o Plano de Deus para ele, fazia sentir sua presença “ativa” oferecendo seus sofrimentos pela Igreja, pelo Papa e pelos Bispos (bem como pelos sacerdotes e missionários). Essa relação de filiação era renovada anualmente no dia 6 de maio, data da queda vista depois como o início misterioso de um renascimento. No dia 8 de maio de 2004, poucos dias após celebrar o 36º aniversário da Cruz de Nino, Dom Malandrino foi à sua casa. Em memória daquele encontro, Nino escreveu em suas memórias: “é sempre uma grande alegria toda vez que o vejo e recebo muita força e energia para carregar minha Cruz e oferecê-la com tanto Amor pelas necessidades da Santa Igreja e, em particular, pelo meu Bispo e pela nossa Diocese; que o Senhor lhe conceda cada vez mais santidade para nos guiar por muitos anos sempre com mais ardor e amor…”. Ainda: “… a Cruz é pesada, mas o Senhor me concede muitas Graças que tornam o sofrimento menos amargo e a Cruz se torna leve e suave, a Cruz se faz Dom, oferecida ao Senhor com muito Amor pela salvação das almas e pela Conversão dos Pecadores…”. Por fim, é importante destacar que, nessas ocasiões de graça, nunca faltava o pedido insistente e constante de “ajuda para me tornar Santo com a Cruz de cada dia”. Nino, de fato, queria absolutamente se tornar santo.
Uma beatificação antecipada
Momento de grande relevância foram, nesse sentido, as exéquias do Servo de Deus em 3 de março de 2007, quando justamente Dom Malandrino, no início da Celebração Eucarística, com devoção se inclinou, mesmo com dificuldade, para beijar o caixão que continha os restos mortais de Nino. Foi uma homenagem a um homem que viveu 39 anos de sua existência em um corpo que “não sentia”, mas que irradiava alegria de viver em 360 graus. Dom Malandrino ressaltou que a celebração da Missa, no pátio dos Salesianos que se tornou para a ocasião uma “catedral” a céu aberto, foi uma autêntica apoteose (milhares de pessoas participaram em lágrimas) e se percebia claramente e comunitariamente que não se tratava de um funeral, mas de uma verdadeira “beatificação”. Nino, com seu testemunho de vida, tornou-se um ponto de referência para muitos, jovens ou menos jovens, leigos ou consagrados, mães ou pais de família, que graças ao seu precioso testemunho conseguiam ler sua própria existência e encontrar respostas que não conseguiam achar em outro lugar. Dom Malandrino também enfatizou esse aspecto várias vezes: «de fato, cada encontro com o querido Nino foi para mim, como para todos, uma forte e viva experiência de edificação e – na sua doçura – um poderoso estímulo à doação paciente e generosa. A presença do Bispo lhe conferia imensa alegria porque, além do afeto do amigo que o visitava, ele percebia a comunhão eclesial. É óbvio que o que eu recebia dele era sempre muito mais do que aquele pouco que eu podia lhe dar». A “fixação” de Nino era “se tornar santo”: ter vivido e encarnado plenamente o evangelho da Alegria no Sofrimento, com seus padecimentos físicos e seu dom total para a amada Igreja, fez com que tudo não terminasse com sua partida para a Jerusalém do Céu, mas continuasse ainda, como ressaltou Dom Malandrino nas exéquias: “… a missão de Nino continua agora também através de seus escritos. Ele mesmo havia antecipado isso em seu Testamento espiritual”: “… meus escritos continuarão meu testemunho, continuarei a dar Alegria a todos e a falar do Grande Amor de Deus e das Maravilhas que Ele fez em minha vida”. Isso ainda está se cumprindo porque não pode ficar escondida “uma cidade situada sobre um monte e não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo do alqueire, mas no candelabro, para iluminar todos os que estão em casa” (Mateus 5,14-16). Metaforicamente, quer-se destacar que a “luz” (entendida em sentido amplo) deve ser visível, mais cedo ou mais tarde: o que é importante virá à luz e será reconhecido.
Relembrar nestes dias – marcados pela morte de Dom Malandrino, seus funerais em Acireale (5 de agosto, Madonna della Neve [Nossa Senhora da Neve]) e em Noto (7 de agosto) com sepultamento na sequência na catedral que ele mesmo desejou fortemente reformar após o desabamento de 13 de março de 1996 e que foi reaberta em março de 2007 (mês em que Nino Baglieri faleceu) – significa revisitar esse laço entre duas grandes figuras da Igreja de Noto, fortemente entrelaçadas e ambas capazes de deixar nela uma marca que não se apaga.
Roberto Chiaramonte