Cardeais Salesianos

Ao longo da história da Congregação Salesiana, os papas escolheram alguns de seus membros como cardeais, ou seja, como seus colaboradores mais próximos, no governo da Igreja Universal. Sempre um motivo de alegria e tristeza: alegria pelo reconhecimento do serviço prestado por alguns salesianos, tristeza pelo fato de a Congregação ter que prescindir de um de seus membros mais preciosos.

O nome “cardeal” vem do latim e significa “dobradiça”, ou seja, um ponto em torno do qual gira uma porta. Ou talvez possa ser melhor compreendido se nos lembrarmos das virtudes cardeais, ou seja, as virtudes em torno das quais giram todas as outras virtudes humanas.
Os cardeais são pessoas que receberam o sacramento da Ordem Sagrada e são chamados pelo Papa para desempenhar uma missão ao lado dele na Igreja Universal, seja individualmente ou em um colegiado. Eles ocupam os cargos mais importantes na Cúria Romana.
Sua importância também reside no fato de que são eles que têm a missão de eleger o novo pontífice (são apenas os eleitores, ou seja, aqueles que não atingiram a idade de 80 anos), com o Colégio de Cardeais reunido em Conclave, quando ocorre a Sede Vacante.
Há três grupos de cardeais: cardeais-bispos, que são os titulares das dioceses suburbanas (fora dos muros de Roma ou nos arredores da cidade) e, por decisão após o Concílio Vaticano II, os patriarcas orientais elevados ao cardinalato (que retêm o título de sua própria sede patriarcal); cardeais-presbíteros – os mais numerosos – e cardeais-diáconos. As duas últimas ordens recebem, respectivamente, títulos ou diaconias (igrejas) em Roma. Esses títulos honoríficos refletem sua proximidade com o papa.
Normalmente, há 6 cardeais-bispos (há 6 sedes suburbanas), mas atualmente, em virtude de uma dispensa papal, mais 4 cardeais-bispos são nomeados “ad personam” (sem que o título cardinalício seja elevado a um título episcopal) e mais 2 patriarcas, em um total de 12, dos quais 6 são eleitores.
Há 182 cardeais-presbíteros, dos quais 97 são eleitores.
Os cardeais diáconos são 27, dos quais 16 são eleitores.
No total, há 221 cardeais, dos quais 119 são eleitores.

Os cardeais geralmente são escolhidos entre bispos, arcebispos, metropolitas ou patriarcas, mas também houve nomeações entre padres. O papa São João Paulo II nomeou 9 padres como cardeais, o papa Bento XVI nomeou 5 padres como cardeais e o papa Francisco nomeou até agora 8 padres como cardeais, 10 se considerarmos o último anúncio em 9 de julho.

O primeiro salesiano a ser elevado à dignidade de cardeal foi o arcebispo João Cagliero, em 6 de dezembro de 1915. Depois dele, 18 outros salesianos receberam o barrete cardinalício e o vigésimo, P. Ángel FERNÁNDEZ ARTIME, o receberá em 30 de setembro próximo. Ele é o primeiro Reitor-Mor a receber a púrpura cardinalícia.
Para muitas pessoas que olham de fora, a primeira coisa que veem é a dignidade que isso implica; mas, mesmo que seja real, o Papa Francisco lhes lembra de que não é um privilégio, mas um serviço, e a cor vermelha significa que deve ser realizado até o derramamento de sangue. E é um serviço não especificado que exige disponibilidade total. Para Abraão, Deus pediu que ele partisse sem especificar aonde iria, para provar sua fé; da mesma forma, para os novos cardeais.

Desejamos ao nosso Reitor-Mor, P. Ángel, muitas graças do Senhor para guiá-lo em sua nova missão e asseguramos-lhe nossas orações.

Na esperança de tornar cada vez mais conhecidos os cardeais salesianos, apresentamos abaixo a lista de todos esses cardeais com as datas e os cargos mais importantes que ocuparam ou continuam ocupando até hoje.

João CAGLIERO  
Nascido 11.01.1838, Castelnuovo d’Asti, Itália
Ordenado sacerdote 14.06.1862
Consagrado bispo 07.12.1884
Criado cardeal 06.12.1915
Brasão de armas  
Lema Recto fixus Calli ero
Vigário Apostólico da Patagônia Norte (Argentina) 30.09.1884 – 24.03.1904
Bispo Titular de Magyddus 30.10.1884 – 24.03.1904
Arcebispo Titular de Sebastia 24.03.1904 – 06.12.1915
Delegado Apostólico na Costa Rica, Nicarágua e Honduras 07.08.1908 – 06.12.1915
Cardeal Pároco de São Bernardo nas Termas 09.12.1915 – 16.12.1920
Cardeal-bispo de Frascati 16.12.1920 – 28.02.1926
Foi inspetor por 2 anos e bispo por 41 anos, dos quais 10 como cardeal  
Falecido 28.02.1926, Roma, Itália, † 88
   
August HLOND, Venerável  
Nascido em 05.07.1881, Brzęczkowice, Polônia
Ordenado sacerdote 23.09.1905
Consagrado bispo 03.01.1926
Criado Cardeal 20.06.1927
Brasão de armas  
Lema Da mihi animas cetera tolle
Administrador Apostólico da Alta Silésia (Polônia) 07.11.1922 – 28.10.1925
Bispo de Katowice (Polônia) 28.10.1925 – 24.06.1926
Presidente da Conferência Episcopal Polonesa 1926 – 22.10.1948
Arcebispo Metropolitano de Poznań (Polônia) 24.06.1926 – 03.05.1946
Arcebispo Metropolitano de Gniezno (Polônia) 24.06.1926 – 22.10.1948
Cardeal-Presbítero de Santa Maria da Paz 22.12.1927 – 22.10.1948
Fundador da Sociedade de Cristo para Imigrantes Poloneses 08.09.1932
Arcebispo Metropolitano de Varsóvia (Polônia) 13.06.1946 – 22.10.1948
Cardeal e religioso dos Salesianos de São João Bosco  
Servus Dei. Foi Inspetor por 3 anos, Administrador Apostólico por 3 anos, Arcebispo de Varsóvia por 23 anos e Cardeal Primaz da Polônia por 21 anos. A causa de canonização está em andamento  
Falecido 22.10.1948, Varsóvia, Polônia, † 67
   
Raúl SILVA HENRÍQUEZ  
Nascido em 27.09.1907, Talca, Chile
Ordenado sacerdote 03.07.1938
Consagrado bispo 29.11.1959
Criado Cardeal 19.03.1962
Brasão de armas  
Lema Caritas christi urget nos
Bispo de Valparaíso (Chile) 24.10.1959 – 14.05.1961
Arcebispo Metropolitano de Santiago (Chile) 14.05.1961 – 03.05.1983
Presidente da Caritas Internationalis 1962 – 1965
Cardeal-Presbítero de São Bernardo nas Termas 22.03.1962 – 09.04.1999
Presidente da Conferência Episcopal do Chile 1963 – 1968
Presidente da Conferência Episcopal do Chile 1972 – 1976
Foi Bispo de Valparaíso por 3 anos, Arcebispo de Santiago do Chile por 11 anos e Cardeal por 22 anos  
Falecido 09.04.1999, Santiago, Chile, † 91
   
Stepán TRÓCHTA  
Nascido em 26.03.1905, Francova Lhota, República Tcheca
Ordenado sacerdote 29.06.1932
Consagrado bispo 16.11.1947
Criado cardeal in pectore 28.04.1969
Revelado como cardeal 05.03.1973
Brasão de armas  
Lema Actio sacrificium caritas
Bispo de Litoměřice (República Tcheca) 27.09.1947 – 06.04.1974
Cardeal-Presbítero de São João Bosco na Via Tuscolana 12.04.1973 – 06.04.1974
Foi bispo de Litoměřice (República Tcheca) por 26 anos e cardeal por 5 anos  
Falecido 06.04.1974, Litoměřice, República Tcheca, † 69
   
Inácio Antonio VELASCO GARCÍA  
Nascido em 17.01.1929, Acarigua, Venezuela
Ordenado sacerdote 17.12.1955
Consagrado bispo 06.01.1990
Criado Cardeal 21.02.2001
Lema  
Bispo Titular de Utimmira Servus Christi pro fratribus
Vigário Apostólico de Puerto Ayacucho (Venezuela) 23.10.1989 – 27.05.1995
Administrador Apostólico de San Fernando de Apure (Venezuela) 23.10.1989 – 27.05.1995
Arcebispo Metropolitano de Caracas (Venezuela) 27.05.1992 – 12.07.1994
Cardeal-Presbítero de S. Maria Domingas Mazzarello 27.05.1995 – 06.07.2003
Foi inspetor por 6 anos, conselheiro regional por 6 anos, bispo por 13 anos e cardeal por 2 anos 21.02.2001 [24.05.2001] – 06.07.2003
Falecido  
  06.07.2003, Caracas, Venezuela, † 74
   
Afonso Maria STICKLER  
Nascido em 23.08.1910, Neunkirchen, Áustria
Ordenado sacerdote 27.03.1937
Consagrado Bispo 01.11.1983
Criado Cardeal 25.05.1985
Brasão de armas  
Lema Omnia et in omnibus Christus
Reitor Magnífico do Pontifício Ateneu Salesiano 1958 – 1966
Prefeito da Biblioteca Apostólica do Vaticano 1971 – 07.09.1983
Arcebispo Titular de Bolsena 07.09.1983 – 25.05.1985
Pró-Bibliotecário da Biblioteca Apostólica Vaticana 07.09.1983 – 27.05.1985
Pró-Arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano 09.07.1984 – 27.05.1985
Cardeal Diácono de São Jorge in Velabro 25.05.1985 – 29.01.1996
Arquivista dos Arquivos Secretos do Vaticano 27.05.1985 – 01.07.1988
Bibliotecário da Biblioteca Apostólica Vaticana 27.05.1985 – 01.07.1988
Cardeal-Pároco de São Jorge in Velabro 29.01.1996 – 12.12.2007
Foi arcebispo titular de Bolsena por 2 anos e cardeal por 22 anos  
Falecido 12.12.2007, Estado da Cidade do Vaticano, † 97
   
Rosalio José CASTILLO LARA  
Nascido em 04.09.1922, San Casimiro, Venezuela
Ordenado sacerdote 04.09.1949
Consagrado bispo 24.05.1973
Criado Cardeal 25.05.1985
Brasão de armas  
Lema Misericordia et veritas
Bispo Coadjutor de Trujillo (Venezuela) 26.03.1973 – 05.10.1981
Bispo titular de Præcausa 26.03.1973 – 26.05.1982
Secretário da Pontifícia Comissão para a Revisão do Código de Direito Canônico 12.02.1975 – 22.05.1982
Presidente da Comissão Disciplinar da Cúria Romana 05.10.1981 – 1990
Pró-presidente da Pontifícia Comissão para a Interpretação Autêntica do Código de Direito Canônico 22.05.1982 – 18.01.1984
Arcebispo Titular de Præcausa 26.05.1982 – 25.05.1985
Pró-presidente da Pontifícia Comissão para a Interpretação Autêntica do Código de Direito Canônico 18.01.1984 – 27.05.1985
Cardeal-Diácono de Nossa Senhora de Coromoto em São João de Deus 25.05.1985 – 29.01.1996
Presidente do Conselho Pontifício para a Interpretação dos Textos Legislativos 27.05.1985 – 06.12.1989
Presidente da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica 06.12.1989 – 24.06.1995
Presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano 31.10.1990 – 14.10.1997
Cardeal-Presbítero de Nossa Senhora de Coromoto em São João de Deus 29.01.1996 – 16.10.2007
Presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano por 7 anos  
Falecido 16.10.2007, Caracas, Venezuela, † 85
   
Miguel OBANDO BRAVO  
Nasceu 02.02.1926, La Libertad, Nicarágua
Ordenado sacerdote 10.08.1958
Consagrado bispo 31.03.1968
Criado Cardeal 25.05.1985
Brasão de armas  
Lema Omnibus omnia factus
Bispo titular de Putia in Byzacena 18.01.1968 – 16.02.1970
Bispo auxiliar de Matagalpa (Nicarágua) 18.01.1968 – 16.02.1970
Arcebispo Metropolitano de Manágua (Nicarágua) 16.02.1970 – 01.04.2005
Presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua 1971 – 1975
Presidente do Secretariado Episcopal da América Central e Panamá 1976 – 1981
Presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua 1979 – 1983
Presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua 1985 – 1989
Cardeal-Presbítero de São João Evangelista em Spinaceto 25.05.1985 – 03.06.2018
Presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua 1993 – 1997
Presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua 1999 – 2005
Foi Bispo Auxiliar de Matagalfa por 2 anos, Bispo de Manágua por 15 anos Cardeal por 15 anos  
Falecido 03.06.2018, Manágua, Nicarágua, † 92
   
Antonio María JAVIERRE ORTAS  
Nascido em 21.02.1921, Siétamo, Espanha
Ordenado sacerdote 24.04.1949
Consagrado Bispo 29.06.1976
Criado Cardeal 28.06.1988
Brasão de armas  
Lema Ego vobiscum sum
Reitor Magnífico da Universidade Pontifícia Salesiana 1971 – 1974
Secretário da Congregação para a Educação Católica 20.05.1976 – 26.05.1988
Arcebispo titular de Meta 20.05.1976 – 28.06.1988
Cardeal-Diácono de S. Maria Liberatrice em Monte Testaccio 28.06.1988 – 09.01.1999
Arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano 01.07.1988 – 24.01.1992
Bibliotecário da Biblioteca Apostólica do Vaticano 01.07.1988 – 24.01.1992
Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos 24.01.1992 – 21.06.1996
Cardeal-Presbítero de S. Maria Liberatrice em Monte Testaccio 09.01.1999 [24.04.1999] – 01.02.2007
Foi arcebispo titular de Meta por 12 anos e cardeal por 18 anos  
Falecido 01.02.2007, Roma, Itália, † 85
   
Óscar Andrés RODRÍGUEZ MARADIAGA  
Nascido em 29.12.1942, Tegucigalpa, Honduras
Ordenado sacerdote 28.06.1970
Consagrado bispo 08.12.1978
Criado Cardeal 21.02.2001
Brasão de armas  
Lema Mihi vivere Christus est
Bispo Titular de Pudentiana 28.10.1978 – 08.01.1993
Bispo auxiliar de Tegucigalpa (Honduras) 28.10.1978 – 08.01.1993
Secretário Geral da Conferência Episcopal de Honduras 1980 – 1988
Administrador Apostólico de Santa Rosa de Copán (Honduras) 1981 – 27.01.1984
Secretário Geral do Conselho Episcopal Latino-Americano 1987 – 1991
Administrador Apostólico de San Pedro Sula (Honduras) 1993 – 11.11.1994
Arcebispo Metropolitano de Tegucigalpa (Honduras) 08.01.1993 – 26.01.2023
Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano 1995 – 1999
Presidente da Conferência Episcopal de Honduras 1996 – 13.06.2016
Cardeal-Presbítero de Santa Maria da Esperança 21.02.2001 [27.05.2001] – …
Presidente da Caritas Internationalis 05.06.2007 [09.06.2007] – 15.05.2015
Coordenador do Conselho de Cardeais 13.04.2013 – 07.03.2023
Cardeal Emérito 2023
Anos 80
   
Tarcisio BERTONE  
Nascido 02.12.1934, Romano Canavese, Itália
Ordenado sacerdote 01.07.1960
Consagrado Bispo 01.08.1991
Criado Cardeal 21.10.2003
Brasão de armas  
Lema Fidem custodire concordiam servare
Reitor Magnífico da Universidade Pontifícia Salesiana 01.06.1989 – 04.06.1991
Arcebispo Metropolitano de Vercelli (Itália) 04.06.1991 – 13.06.1995
Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé 13.06.1995 – 10.12.2002
Arcebispo Metropolitano de Gênova (Itália) 10.12.2002 – 29.08.2006
Cardeal-Presbítero de S. Maria Auxiliadora em Via Tuscolana 21.10.2003 [24.03.2004] – 10.05.2008
Secretário de Estado da Secretaria de Estado 15.09.2006 – 15.10.2013
Presidente da Comissão Interdicasterial sobre Igrejas Particulares 15.09.2006 – 15.10.2013
Presidente da Comissão Interdicasterial para a Igreja na Europa Oriental 15.09.2006 – 15.10.2013
Cardeal Protetor da Pontifícia Academia Eclesiástica 15.09.2006 – 15.10.2013
Membro da Comissão Cardinalícia de Vigilância sobre o Instituto para as Obras de Religião 14.10.2006 – .03.2008
Camerlengo da Santa Igreja Romana da Câmara Apostólica 04.04.2007 – 20.12.2014
Presidente da Comissão Cardinalícia de Vigilância sobre o Instituto para as Obras de Religião 03.2008 – 15.01.2014
Cardeal Bispo de Frascati 10.05.2008 [03.10.2009] – …
Cardeal Camerlengo emérito da Santa Igreja Romana 2014
Anos 88
   
Joseph ZEN ZE-KIUN  
Nascido 13.01.1932, Xangai, China
Ordenado sacerdote 11.02.1961
Consagrado bispo 09.12.1996
Criado Cardeal 24.03.2006
Brasão de armas  
Lema Ipsi cura est
Cardeal-Presbítero de Santa Maria Mãe do Redentor em Tor Bella Monaca  
Bispo Coadjutor de Hong Kong 13.09.1996 – 23.09.2002
Bispo de Hong Kong 23.09.2002 – 15.04.2009
Cardeal-Presbítero de S. Maria Mãe do Redentor em Tor Bella Monaca 24.03.2006 [31.05.2006] – …
Cardeal Emérito de Hong Kong  
Anos 91
   
Rafael FARINA  
Nascimento 24.09.1933, Buonalbergo, Itália
Ordenado sacerdote 01.07.1958
Consagrado bispo 16.12.2006
Criado Cardeal 24.11.2007
Brasão de armas  
Lema Dominus spes nostra
Reitor Magnífico da Universidade Pontifícia Salesiana 1977 – 1983
Secretário do Pontifício Comitê de Ciências Históricas 1981 – 1989
Subsecretário do Pontifício Conselho para a Cultura 1986 – 1991
Reitor Magnífico da Universidade Pontifícia Salesiana 1991 – 1997
Prefeito da Biblioteca Apostólica Vaticana 25.05.1997 – 25.06.2007
Bispo Titular de Oderzo 15.11.2006 – 25.06.2007
Arcebispo Titular de Oderzo 25.06.2007 – 24.11.2007
Arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano 25.06.2007 – 09.06.2012
Bibliotecário da Biblioteca Apostólica Vaticana 25.06.2007 – 09.06.2012
Cardeal-Diácono de S. Giovanni della Pigna 24.11.2007 [05.04.2008] – 19.05.2018
Presidente da Pontifícia Comissão para o Instituto de Obras de Religião 24.06.2013 – 22.05.2014
Cardeal-Presbítero de S. Giovanni della Pigna 19.05.2018 – …
Cardeal Emérito 2014
Anos 89
   
Angelo AMATO  
Nascimento 08.06.1938, Molfetta, Itália
Ordenado sacerdote 22.12.1967
Consagrado Bispo 06.01.2003
Criado Cardeal 20.11.2010
Brasão de armas  
Lema Sufficit gratia mea
Pró-reitor da Pontifícia Universidade Salesiana 01.10.1991 – 02.12.1991
Prelado-Secretário da Pontifícia Academia de Teologia 1999 – 19.12.2002
Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé 19.12.2002 – 09.07.2008
Arcebispo Titular de Sila 19.12.2002 – 20.11.2010
Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos 09.07.2008 – 31.08.2018
Cardeal-Diácono de Santa Maria in Aquiro 20.11.2010 [11.02.2011] – 03.05.2021
Cardeal-Presbítero de Santa Maria in Aquiro 03.05.2021 – …
Cardeal emérito 2018
Anos 85
   
Ricardo EZZATI ANDRELLO  
Nascimento 07.01.1942, Campiglia dei Berici, Itália
Ordenado sacerdote 18.03.1970
Consagrado Bispo 08.09.1996
Criado Cardeal 22.02.2014
Brasão de armas  
Lema Para evangelizar
Bispo de Valdivia (Chile) 28.06.1996 – 10.07.2001
Bispo Titular de La Imperial 10.07.2001 – 27.12.2006
Bispo Auxiliar de Santiago (Chile) 10.07.2001 – 27.12.2006
Arcebispo Metropolitano de Concepción (Chile) 27.12.2006 – 15.12.2010
Presidente da Conferência Episcopal do Chile .11.2010 – 11.11.2016
Arcebispo Metropolitano de Santiago (Chile) 15.12.2010 – 23.03.2019
Cardeal-Presbítero do Santíssimo Redentor em Valmelaina 22.02.2014 [11.10.2014] – …
Cardeal Emérito 2019
Anos 81
   
Charles MAUNG BO  
Nascimento 29.10.1948, Mohla, Myanmar
Ordenado sacerdote 09.04.1976
Consagrado Bispo 16.12.1990
Criado Cardeal 14.02.2015
Brasão de armas  
Lema Omnia possum in Eo
Administrador Apostólico de Lashio (Myanmar) 1985 – 1986
Prefeito Apostólico de Lashio (Mianmar) 1986 – 07.07.1990
Bispo de Lashio (Mianmar) 07.07.1990 – 13.03.1996
Bispo de Pathein (Mianmar) 13.03.1996 – 24.05.2003
Presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Mianmar 2000 – 2006
Arcebispo Metropolitano de Yangon (Mianmar) 24.05.2003 – …
Cardeal-Presbítero de Santo Irineu em Centocelle 14.02.2015 [21.10.2015] – …
Presidente da Federação das Conferências Episcopais da Ásia 16.11.2018 [01.01.2019] – …
Presidente da Conferência Episcopal de Mianmar 2020 – …
Administrador Apostólico de Myitkyina (Mianmar) 18.11.2020 – …
Anos 74
   
Daniel Fernando STURLA BERHOUET  
Nascido em 04.07.1959, Montevidéu, Uruguai
Ordenado sacerdote 21.11.1987
Consagrado Bispo 04.03.2012
Criado Cardeal 14.02.2015
Brasão de armas  
Lema Servir al Señor con alegría
Bispo Titular de Phelbes 10.12.2011 – 11.02.2014
Bispo Auxiliar de Montevidéu (Uruguai) 10.12.2011 – 11.02.2014
Arcebispo Metropolitano de Montevidéu (Uruguai) 11.02.2014 – …
Cardeal-Presbítero de S. Galla 14.02.2015 [17.05.2015] – …
Vice-Presidente da Conferência Episcopal do Uruguai 16.11.2021 [01.04.2022] – …
Anos 64
   
Cristóbal LÓPEZ ROMERO  
Nascimento 19.05.1952, Vélez-Rubio, Espanha
Ordenado sacerdote 19.05.1979
Consagrado bispo 10.03.2018
Criado Cardeal 05.10.2019
Brasão de armas  
Lema Adveniat Regnum Tuum
Arcebispo de Rabat (Marrocos) 29.12.2017 – …
Administrador Apostólico de Tánger (Marrocos) 24.05.2019 – 25.02.2022
Cardeal-Presbítero de São Leão I 05.10.2019 [16.02.2020] – …
Presidente da Conferência Episcopal Regional do Norte da África 15.02.2022 – …
Anos 71
   
Virgilio DO CARMO DA SILVA  
Nascimento 27.11.1967, Venilale, Timor Leste
Ordenado sacerdote 18.12.1998
Consagrado Bispo 19.03.2016
Criado Cardeal 27.08.2022
Brasão de armas  
Lema Ad Deum Patrem Omnipotentem
Vice-Presidente da Conferência Episcopal de Timor 2016 – …
Bispo de Díli (Timor Leste) 30.01.2016 – 11.09.2019
Arcebispo Metropolitano de Díli (Timor Leste) 11.09.2019 – …
Cardeal-Presbítero de Santo Alberto Magno 27.08.2022 [07.05.2023] – …
Anos 55
   
Ángel FERNÁNDEZ ARTIME  
Nascimento 21.08.1960, Gozón-Luanco, Espanha
Ordenado sacerdote 04.07.1987
Criado Cardeal 30.09.2023
Consagrado Bispo 2024 – ?
Brasão de armas  
Lema Sufficit tibi gratia mea
Anos 63



Brasão de armas do Cardeal Ángel Fernández Artime

Apresentamos o brasão de armas de Sua Eminência Reverendíssima, o Cardeal Ángel FERNÁNDEZ ARTIME SdB, Reitor-Mor da Pia Sociedade de São Francisco de Sales (Salesianos de Dom Bosco).

Todo clérigo que é nomeado pelo papa como cardeal deve compor um brasão para representá-lo.
Um brasão não é apenas uma formalidade tradicional. Ele representa o que há de mais importante para uma pessoa, uma família ou uma instituição e permite a identificação no espaço e no tempo. De acordo com algumas pesquisas, surgiram na época das Cruzadas, quando os cavaleiros cristãos os aplicavam em suas roupas, adereços de cavalos, escudos e estandartes, para reconhecer claramente aliados e adversários. Mais tarde, se diversificaram e foram passados para as famílias nobres e também para a Igreja, tanto que também surgiu uma ciência, a heráldica, que trata de seu estudo.
Na Igreja, os brasões eclesiásticos foram padronizados em 1905, pelo Papa São Pio X, no motu proprio “Inter multiplices curas”. Assim, um brasão eclesiástico é composto por um escudo pessoal (brasão), vários ornamentos externos que refletem as insígnias das dignidades às quais se referem (o do cardeal é um chapéu vermelho com 15 borlas vermelhas) e um lema pessoal, geralmente em latim, como uma declaração de fé. Os elementos do brasão se referem ao nome do titular, suas origens, sua sede e símbolos religiosos que lembram mensagens teológicas e valores espirituais ou resumem ideais de vida e programas pastorais.

BRASONARIA
“De prata, dividido[i] de azul. No I à figura característica de Jesus Bom Pastor, encontrada nas Catacumbas de São Calisto, em Roma, totalmente ao natural[ii]; No II ao monograma MA, de ouro, estampado[iii] por uma coroa do mesmo; no III à âncora de dois ganchos[iv], de prata, com cordão vermelho. O escudo é estampado com um chapéu[v] com cordões e borlas vermelhas. As borlas, em número de trinta, estão dispostas quinze de cada lado, em cinco ordens de 1, 2, 3, 4, 5[vi] , Sob o escudo, na fita de prata, o lema em letras maiúsculas pretas: “SUFFICIT TIBI GRATIA MEA” [BASTA-TE MINHA GRAÇA].

EXEGESE
“O homem medieval (…) vive em uma ‘floresta de símbolos’. Santo Agostinho disse: o mundo é feito de ‘signa’ e ‘res’, de sinais, isto é, símbolos, e coisas. A ‘res’, que é a verdadeira realidade, permanece oculta; o homem só capta os sinais. O livro essencial, a Bíblia, contém uma estrutura simbólica. A cada personagem, cada evento no Antigo Testamento corresponde um personagem, um evento no Novo Testamento. O homem medieval está constantemente empenhado em ‘decifrar’, o que reforça sua dependência de clérigos, eruditos no campo do simbolismo. O simbolismo preside a arte e, em particular, a arquitetura, onde a igreja é, antes de tudo, uma estrutura simbólica. Ele prevalece na política, onde o peso das cerimônias simbólicas, como a consagração do rei é considerável, onde as bandeiras, as armas e os emblemas são de suma importância. Reina na literatura, onde muitas vezes assume a forma de alegoria”[vii] .
Os gestos e símbolos referem-se, portanto, a algo mais profundo: a uma mensagem, a um valor, a uma ideia que vai além do próprio sinal.

“Na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar importante. Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais por meio de sinais e de símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para comunicar-se com os outros, pela linguagem, por gestos, por ações. Vale o mesmo para sua relação com Deus”[viii].
Na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar importante. Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais por meio de sinais e de símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para comunicar-se com os outros, pela linguagem, por gestos, por ações. Vale o mesmo para sua relação com Deus.

“O erudito e famoso heraldista Goffredo di Crollalanza, em Genesi e Storia del Linguaggio Blasonico (1876), entre outras coisas, escreve: «A heráldica teve a cavalaria como seu autor, a necessidade como sua motivação, o troféu como seu propósito, os torneios e as cruzadas como sua ocasião, o campo de batalha como seu berço, a armadura como seu campo, o desenho como seu meio, o símbolo como seu auxiliar, a criação como sua matéria, a ideologia como seu conceito e o brasão como sua consequência.» E acrescenta: «O brasão não é a ilustração; assim como a mente não é a alma, mas a manifestação da alma»”[ix] .

“A heráldica é uma linguagem complexa e particular, composta por uma infinidade de figuras, e o brasão é uma marca que visa enaltecer um feito particular, um fato importante, uma ação a ser perpetuada.”

Essa ciência documental da história foi inicialmente reservada aos cavaleiros e participantes de feitos de armas, sejam eles bélicos ou esportivos, que se tornavam reconhecíveis por seu brasão, colocado no escudo, no capacete, na bandeira e também na gualdrapa, representando a única maneira de se distinguirem uns dos outros.

A heráldica dos cavaleiros foi quase imediatamente imitada pela Igreja, embora as entidades eclesiásticas no período pré-heráldico já tivessem seus próprios sinais distintivos, tanto que, quando a heráldica surgiu no século XII, essas figuras assumiram as cores e a aparência daquela simbologia.

Em nosso tempo, a heráldica eclesiástica é viva, atual e amplamente utilizada. Para um prelado, entretanto, o uso de um brasão hoje deve ser definido como um símbolo, uma figura alegórica, uma expressão gráfica, uma síntese e uma mensagem de seu ministério.

Deve-se lembrar que os eclesiásticos sempre foram proibidos de exercer a milícia e portar armas, e por isso o termo ‘escudo’ ou ‘armadura’ próprio da heráldica não deveria ter sido adotado; no entanto, deve-se dizer que, até recentemente, os eclesiásticos usavam o brasão de sua família, muitas vezes desprovido de qualquer simbolismo religioso.

O próprio simbolismo da Igreja Romana é extraído do Evangelho e é representado pelas chaves dadas por Cristo ao apóstolo Pedro.

A heráldica eclesiástica em nosso tempo é viva, atual e amplamente utilizada. Para um cardeal, o uso de um brasão hoje deve ser definido como um símbolo, uma figura alegórica, uma expressão gráfica, uma síntese e uma mensagem de seu ministério”[x] .

No primeiro período, os brasões eclesiásticos tinham o escudo estampado pela mitra com as ínfulas esvoaçantes; com o passar do tempo, no entanto, o chapéu prelatício com os cordões e as várias ordens de borlas ou laços, de diferentes números de acordo com a dignidade, todos em verde (se bispos, arcebispos e patriarcas), todos em vermelho (se cardeais da Santa Igreja Romana), foi consolidado no topo do escudo.

Também observamos que a “Instrução sobre as vestes, títulos e brasões de cardeais, bispos e prelados inferiores”, de 31 de março de 1969, assinada pelo Cardeal Secretário de Estado Hamlet Cicognani, declara textualmente no Artigo 28: “É permitido aos cardeais e aos bispos o uso do brasão de armas. A configuração desse brasão deve estar em conformidade com as normas que regulam a heráldica e ser adequadamente simples e claro. Tanto o báculo quanto a mitra devem ser removidos do brasão”[xi].

Logo no Artigo 29, é especificado que os cardeais têm permissão para ter seu brasão afixado na fachada da igreja que lhes foi atribuída como título ou diaconia.

Os excelentíssimos e reverendíssimos bispos estampam, na verdade, o escudo, preso a uma cruz processional simples (com uma barra transversal), dourada, trifoliada, colocada em uma haste, com o chapéu, cordões e borlas verdes. As borlas, em número de doze, estão dispostas seis de cada lado, em três ordens de 1, 2, 3.

Os excelentíssimos e reverendíssimos arcebispos estampam o escudo, preso a uma cruz patriarcal processional de ouro, trifoliada, colocada em haste, com o chapéu, cordões e borlas de verde. As borlas, em número de vinte, estão dispostas dez de cada lado, em quatro ordens de 1, 2, 3, 4.

Os excelentíssimos e reverendíssimos Patriarcas estampam o escudo, preso a uma cruz patriarcal processional de ouro, trifoliada, colocada em uma haste, com o chapéu, cordões e borlas de verde. As borlas, em número de trinta, estão dispostas quinze de cada lado, em cinco ordens de 1, 2, 3, 4, 5[xii].

Os mais eminentes e reverendos cardeais da Santa Igreja Romana estampam o escudo, preso a uma cruz patriarcal processional de ouro, trifoliada, colocada em uma haste, com o barrete, cordões e borlas de vermelho. As borlas, em número de trinta, estão dispostas quinze de cada lado, em cinco ordens de 1, 2, 3, 4, 5.

Diz-se que a origem e o uso de chapéus verdes para patriarcas, arcebispos e bispos derivou da Espanha, onde, na Idade Média, os prelados usavam um chapéu verde. É por isso que os escudos dos bispos, arcebispos e patriarcas são estampados com um chapéu verde.

Em 1245, no Concílio de Lion, o Papa Inocêncio IV (1243-1254) concedeu aos cardeais um chapéu vermelho, como um distintivo especial de honra e reconhecimento entre outros prelados, para ser usado ao cavalgar pela cidade. Ele o prescreveu em vermelho para admoestá-los a estarem sempre prontos para derramar seu sangue para defender a liberdade da Igreja e do povo cristão. E é por esse motivo que, desde o século XIII, os cardeais estampam seu escudo com um chapéu vermelho, adornado com cordões e borlas da mesma cor.

Por fim, o Eminentíssimo e Reverendíssimo Cardeal Camerlengo da Santa Igreja Romana usa o escudo com o mesmo chapéu que os outros cardeais, mas estampado com a bandeira papal, durante munere [ao exercer o ofício], ou seja, durante a vacância da Sé Apostólica. A bandeira papal ou estandarte papal, também chamado de basílica, tem a forma de um grande guarda-sol com triângulos vermelhos e amarelos e com os pingentes cortados em vaio e de cores contrastantes, sustentado por uma haste em forma de lança com um travessão e atravessado pelas chaves papais, uma de ouro e outra de prata, decussadas, encostadas uma na outra, com as pontas voltadas para cima, amarradas com fita vermelha.

As mesmas cores de verde ou vermelho também devem ser usadas na tinta dos selos e brasões apostos aos documentos, estes últimos com os sinais convencionais prescritos para indicar as cores.

A brasonaria – descrição heráldica – do Cardeal Ángel FERNÁNDEZ ARTIME SdB não traz o escudo preso a uma cruz processional dourada, colocada em uma haste, porque ele não é bispo. Ele será consagrado à ordem episcopal no ano que vem, depois que deixar o serviço como Reitor-Mor dos Salesianos de Dom Bosco; naquela ocasião ao seu escudo será anexado a uma cruz processional, colocada em uma haste.

Ao longo dos séculos, o Antigo e o Novo Testamento, a Patrística, as legendas dos Santos e a Liturgia ofereceram à Igreja os mais variados temas para seus símbolos, destinados a se tornarem figuras heráldicas.

Esses símbolos quase sempre fazem alusão a tarefas pastorais ou apostólicas de institutos eclesiásticos, tanto seculares quanto regulares, ou tendem a indicar a missão do clero, lembram antigas tradições de adoração, memórias de santos padroeiros, piedosas devoções locais.

OS ESMALTES
Uma das regras fundamentais que regem a heráldica afirma que aquele que tem menos tem mais, no que diz respeito à composição dos esmaltes, figuras e posições do escudo.
E as armas que examinaremos agora são compostas pelos metais ouro e prata e pelas cores azul e vermelho.

Portanto, buscar o próprio brasão, o verdadeiro, poder erguê-lo como estandarte, com o qual timbrar as próprias cartas, compreender plenamente seus símbolos, não é, de alguma forma, buscar a si mesmo, a própria imagem, a própria dignidade?
É assim que um ato, que poderia ser lido apenas formalmente, pode adquirir um significado simbólico e altamente significativo.

Então ouro, prata, azul e vermelho são os esmaltes que aparecem no brasão de armas do Eminentíssimo Cardeal Ángel FERNÁNDEZ ARTIME SdB, mas que símbolos esses esmaltes contêm e emitem, que mensagens eles transmitem à humanidade, muitas vezes atordoada, agora no século XXI?

Os “metais”, ouro e prata, recordam heraldicamente as antigas armaduras dos cavaleiros que, de acordo com seu grau de nobreza, eram de fato douradas ou prateadas; além disso, o ouro é um símbolo da realeza divina, enquanto a prata faz alusão a Maria. A “cor” azul lembra o mar que os cruzados atravessaram em seu caminho para a Terra Santa, enquanto a “cor” vermelha, que foi considerada por muitos heraldistas como a primeira entre as cores das armas, representa o sangue vivo derramado pelos cruzados.

Analisando mais especificamente o simbolismo heráldico dos “esmaltes”, lembramos que, entre os “metais”, o ouro representa a Fé entre as virtudes, o sol entre os planetas, o leão entre os signos do zodíaco, julho entre os meses, domingo entre os dias da semana, o topázio entre as pedras preciosas, a adolescência até os vinte anos entre as idades do homem, o girassol entre as flores, o sete entre os números e ele mesmo entre os metais; a prata representa a Esperança entre as virtudes, a lua entre os planetas, Câncer entre os signos do zodíaco, junho entre os meses, segunda-feira entre os dias da semana, a pérola entre as pedras preciosas, a água entre os elementos, a infância até os sete anos entre as idades do homem, o fleumático entre os temperamentos, o lírio entre as flores, o dois entre os números e ela mesma entre os metais.

Entre as “cores”, o azul claro simboliza a Justiça entre as virtudes, Júpiter entre os planetas, Touro e Libra entre os signos do zodíaco, abril e setembro entre os meses, terça-feira entre os dias da semana, safira entre as pedras preciosas, ar entre os elementos, verão entre as estações, infância até os quinze anos entre as idades do homem, colérico entre os temperamentos, rosa entre as flores, seis entre os números e estanho entre os metais, enquanto o vermelho, Caridade entre as virtudes teologais, Marte entre os planetas, Áries e Escorpião entre os signos zodiacais, março e outubro entre os meses, quarta-feira entre os dias da semana, rubi entre as pedras preciosas, fogo entre os elementos, outono entre as estações, virilidade até os cinquenta anos entre as idades do homem, sanguíneo entre os temperamentos, cravo entre as flores, três entre os números e cobre entre os metais.

O vermelho: “é também uma lembrança do Oriente e das expedições ao exterior, além de demonstrar justiça, crueldade e raiva. Ignescunt irae [eles queimam de raiva], disse Virgílio. Finalmente, como foi consagrado a Marte pelos antigos, significa impulsos intrépidos, grandiosos e fortes. Os espanhóis chamam o campo vermelho de “sangriento”, ou sangrento, porque ele traz à mente as batalhas que travaram contra os mouros. Encontramos um nome semelhante na Alemanha em blütige Fahne, vexillum cruentum [bandeira sangrenta], um campo totalmente vermelho sem qualquer figura, indicando direitos de realeza, e encontrado nas armas da Prússia, Anhalt, etc. O vermelho é, juntamente com o azul, uma das duas cores mais usadas no brasão de armas, mas é encontrado com mais frequência nas armas das famílias borgonhesas, normandas, gascões, bretões, espanholas, inglesas, italianas e polonesas… Nas bandeiras, o vermelho representa ousadia e coragem e parece ter sido adotado no início pelos adoradores do fogo[xiii].

 Entre as “cores”, “ao natural” é “uma figura reproduzida em sua cor natural (ou seja, como aparece na natureza) e não como um esmalte heráldico”[xiv] .

Gostaríamos de salientar que também foi necessário criar sinais convencionais para entender e identificar os “esmaltes” do escudo quando o brasão é reproduzido em selos e impressões em preto e branco. Assim, os heraldistas, ao longo do tempo, usaram vários sistemas; por exemplo, escreveram nos vários campos ocupados pelos esmaltes a inicial da primeira letra correspondente à cor do esmalte, ou identificaram as cores inscrevendo as sete primeiras letras do alfabeto ou, ainda, reproduziram, nos campos do esmalte, os sete primeiros números cardinais.

No século XVII, o heraldista francês Vulson de la Colombière propôs sinais convencionais especiais para reconhecer a cor dos esmaltes em escudos reproduzidos em preto e branco. O heraldista Padre Silvestre di Pietrasanta, da Companhia de Jesus, foi o primeiro a utilizá-los em sua obra Tesserae gentilitiae ex legibus fecialium descriptae, difundindo assim seu conhecimento e uso.

Esse sistema de classificação, que ainda é usado atualmente, identifica o vermelho com linhas perpendiculares grossas, o azul com horizontais, o verde com diagonais da esquerda para a direita, o roxo com diagonais da direita para a esquerda e o preto com horizontais e verticais cruzadas, enquanto o dourado é pontilhado e o prateado sem hachuras.

Para representar a cor “au naturel” [ao natural], alguns heraldistas preveem outros sinais convencionais, mas pretendemos adotar a tese do heraldista Goffredo di Crollalanza, em que, para a cor “ao natural”, depois de lembrar que ela pode ser colocada sobre o metal e sobre a cor indiferentemente, sem infringir a lei da sobreposição de esmaltes, ele esclarece que ela é expressa[xv] em desenhos deixando a peça em branco e sombreando a figura nos locais apropriados.

Também era dessa opinião o ilustre heraldista Arcebispo Bruno Bernard Heim, que nos brasões pontifícios dos Papas João XXIII e João Paulo I que ele desenhou, naqueles reproduzidos em preto e branco, no chefe patriarcal de Veneza retrata o leão de São Marcos sem nenhum sinal convencional, na presença de um chefe patriarcal, dentre os mais famosos e belos.

AS FIGURAS

Jesus, o Bom Pastor
A figura de Jesus, o Bom Pastor, responde a uma profunda aspiração do homem antigo. Os judeus viam Deus como o verdadeiro pastor que guia seu povo. Moisés, por sua vez, havia recebido a tarefa de ser o pastor e guia de seu povo. Os gregos conheciam a imagem do pastor em um grande jardim, carregando uma ovelha nos ombros. O jardim lembra o paraíso.

Os gregos associam o pastor ao seu anseio por um mundo puro e não corrompido. Em muitas culturas, o pastor é uma figura paterna, um pai cuidadoso com seus filhos, uma imagem da preocupação paterna de Deus com a humanidade.

Os primeiros cristãos fazem da aspiração de Israel e da Grécia a sua própria aspiração. Jesus é, como Deus, o pastor que conduz seu povo à vida. Os cristãos da cultura helenística associam a figura do bom pastor à de Orfeu, o cantor divino. Seu canto domava feras ferozes e ressuscitava os mortos. Orfeu geralmente é retratado em uma paisagem idílica, cercado por ovelhas e leões.

Para os cristãos helenísticos, Orfeu é uma figura de Jesus. Jesus é o cantor divino que, com suas palavras, torna pacífico o que há de selvagem e feroz em nós e revive o que está morto. Jesus, apresentando-se no evangelho de João como o bom pastor, realiza as imagens arquetípicas da salvação contidas na alma humana sob as imagens do pastor. Essa figura, no escudo, precisamente por causa de seu significado, é carregada na postura principal.

Monograma de Maria Auxiliadora
Esse monograma, MA, estampado com uma coroa, todo em ouro, simboliza Maria Auxiliadora, a Nossa Senhora de Dom Bosco. Depois do nome de Jesus, não há nome mais doce, mais poderoso, mais consolador do que o de Maria; um nome diante do qual os anjos se curvam em reverência, a terra se alegra, o inferno treme.

São João Bosco confidenciou certa vez a um de seus primeiros salesianos, o P. João Cagliero, grande missionário na América Latina e futuro cardeal, que “Nossa Senhora quer que a honremos com o título de Auxílio dos Cristãos”, acrescentando que: “Os tempos são tão tristes que precisamos da Virgem Santa para nos ajudar a preservar e defender a fé cristã”.

Esse título mariano, na verdade, já existia desde o século XVI nas Ladainhas Lauretanas e o Papa Pio VII instituiu a festa de Maria Auxiliadora em 1814 e a fixou em 24 de maio, em sinal de ação de graças, pelo retorno a Roma, naquele dia aclamado pelo povo, após o exílio decretado por Napoleão. Mas foi graças a Dom Bosco e à construção do Santuário de Maria Auxiliadora, em Turim Valdocco – desejada pela própria Nossa Senhora, que apareceu em uma visão ao Santo, indicando que queria ser honrada no lugar exato onde morreram os primeiros mártires de Turim, Aventor, Otávio e Solutor, soldados cristãos da Legião Tebana – que o título de Auxiliadora voltou a ser corrente na Igreja. O P. Lemoyne, secretário particular do santo, em sua monumental biografia, escreve textualmente: “O que parece claro e irrefutável é que entre Dom Bosco e Nossa Senhora havia certamente um pacto. Todo o seu gigantesco trabalho foi feito não só em colaboração, mas também em associação com a Virgem Maria”.

Dom Bosco, portanto, recomendou a seus salesianos que difundissem a devoção a Nossa Senhora, sob o título de Auxílio dos Cristãos, onde quer que estivessem no mundo. Mas Dom Bosco não deixou a devoção a Maria Auxiliadora apenas à devoção espontânea; deu-lhe estabilidade com uma Associação que tomou o seu nome. Testemunhas diretas viram na Associação dos Devotos de Maria Auxiliadora uma das iniciativas mais queridas de Dom Bosco e de maior ressonância, depois das duas congregações religiosas (Salesianos e Filhas de Maria Auxiliadora) e da Associação dos Cooperadores.

De fato: “não foi Dom Bosco que escolheu Maria; foi Maria que, enviada por seu Filho, tomou a iniciativa de escolher Dom Bosco e de fundar, por meio dele, a obra salesiana, que é sua obra, ‘seu negócio’, para sempre”[xvi] .

A âncora
O âncora lembra, em primeiro lugar, que o Cardeal Ángel FERNÁNDEZ ARTIME SdB é filho de um pescador do mar da Espanha.

Depois, é preciso lembrar que “o brasão salesiano é uma condensação de estímulos essenciais para qualificar todo verdadeiro filho de Dom Bosco”. São João Bosco também quis que as virtudes teologais fossem representadas no escudo: para a Fé, a estrela; para a Esperança, a âncora e para a Caridade, o coração. Poderia parecer ausente do brasão salesiano a presença indispensável de Maria Auxiliadora, de quem – dizia Dom Bosco – deriva tudo o que é salesiano. Mas o próprio Fundador, e todos os primeiros coirmãos, sempre identificaram nos símbolos da âncora, da estrela e do coração, também a referência a Jesus e à sua Mãe; e este é outro aspecto da densidade significativa que o brasão encerra”[xvii].

De fato, a vida e as ações do salesiano são uma expressão: de sua fé, a estrela brilhante; de sua esperança, a grande âncora; e de sua caridade pastoral, o coração ardente.

A âncora, na heráldica, simboliza a constância[xviii]. “Instrumento usado na navegação mediterrânea, já na antiguidade se atribuía importância a ela como símbolo do deus do mar. A âncora prometia estabilidade e segurança e, portanto, tornou-se o símbolo da fé e da esperança. Empregada inicialmente em imagens de túmulos pré-cristãos como indicação profissional e como marcador de túmulos de marinheiros, devido à sua forma de cruz, tornou-se no início do cristianismo um símbolo disfarçado da redenção”[xix].

Assim como o homem, também o símbolo é o que foi para ser autenticamente o que será.
Portanto, é necessário fazer memória e ter esperança nessa fonte riquíssima e inesgotável, da qual ainda é possível tirar proveito para nossos dias.

Jorge ALDRIGHETTI

Brasonaria e exegese do heraldista Jorge Aldrighetti de Chioggia (Veneza), membro ordinário do Istituto Araldico Genealogico Italiano [Instituto Heráldico Genealógico Italiano]. Miniaturas do heraldista Enzo Parrino de Monterotondo (Roma).


[i] Divisória heráldica que consiste em um escudo dividido em três seções, de dois esmaltes diferentes, obtidas por duas linhas curvas que, a partir do ponto médio da parte superior do escudo, atingem os pontos médios das duas abas laterais do escudo. (L. Caratti di Valfrei, Dictionary of Heraldry, Milão 1997, p. 50. verbete Cappato.

[ii] “Trata-se de uma figura reproduzida em sua cor natural (ou seja, como aparece na natureza) e não como um esmalte heráldico” (Ibid., p. 18, entrada em natural).

[iii] “São todas as diferentes ornamentações externas de um brasão, colocadas acima de um escudo”. Nesse caso, sobre o monograma). (Ibid., p: 203, carimbo de entrada).

[iv] “Eles são os grampos da âncora” (La Caratti di Valfrei, Dictionary of Heraldry, cit., p. 211, verbete hooks).

[v] Chapéu prelatício, um sinal de dignidade eclesiástica, representado com um gorro hemisférico e aba redonda e plana característico do galero, um cocar de aba larga usado desde o final da Idade Média até tempos recentes por cardeais e outros prelados. Usado como um adorno externo não litúrgico do escudo. Ele assume cores diferentes e é adornado com cordas das quais um ou mais arcos geralmente pendem em forma de pirâmide em ambos os lados; a dignidade e o papel desempenhado pelo portador podem ser deduzidos do número de arcos e dos esmaltes do conjunto. (A. Cordero Lanza di Montezemolo-A. Pompili, Manuale di Araldica Ecclesiastica, cit., p. 116, entrada sobre o chapéu prelatício).

[vi] Os mais eminentes e reverendos cardeais da Santa Igreja Romana estampam seu escudo – preso a uma cruz processional de ouro, trifoliada, colocada em uma haste, se tiverem consagração episcopal – com seu chapéu, cordas e borlas vermelhas. As borlas, em número de trinta, estão dispostos quinze de cada lado, em cinco ordens de 1, 2, 3, 4, 5.

[vii] Jacques Le Goff, The Medieval Man, Bari 1994, p. 34.

[viii] Catecismo da Igreja Católica, Cidade do Vaticano 1999, n.1146.

[ix] A. Cordero Lanza di Montezemolo – A. Pompili, Manuale di Araldica Ecclesiastica, cit., p. 18.

[x] P. F. degli Uberti, Gli Stemmi Araldici dei Papi degli Anni Santi, Ed. Piemme, s. d

[xi] de L’Osservatore Romano, 31 de março de 1969.

[xii] O heraldista Sua Excelência Reverendíssima Bruno Bernard Heim para o Brasão Patriarcal afirma: “Os Patriarcas adornam seu escudo com um chapéu verde do qual descem duas cordas, também verdes, terminando em quinze borlas verdes de cada lado“. (B. B. Heim, The Heraldry of the Catholic Church, Origins, Uses, Legislation, Vatican City 2000, p. 106).

[xiii] G. Crollalanza (di), Enciclopedia heraldico-cavalleresca, Pisa 1886, pp. 516-517, entrada Rosso.

[xiv] L Caratti di Valfrei, Dictionary of Heraldry, Milão 1997, p. 18, entrada em natural.

[xv] A. Cordero Lanza di Montezemolo – A. Pompili, Manuale di Araldica Ecclesiastica, cit., p. 28, entrada Al naturale.

[xvi] Cooperadores de Deus, Roma 1976-1977, Edizioni Cooperatori, p. 69

[xvii] G. Aldrighetti, The Wood and the Roses (O bosque e as rosas). Nosso brasão de armas. Boletim Salesiano, dezembro de 2018.

[xviii] L Caratti di Valfrei, Dictionary of Heraldry, cit., p. 21, entrada Ancora.

[xix] H. Biedermann, Encyclopaedia of Symbols, Milão, 1989, p. 30, entrada Ancora.




Desejo continuar servindo aos outros… de uma maneira diferente. MINHA NOMEAÇÃO COMO CARDEAL

Sinto que compartilho a afirmação de 1884 do nosso santo Fundador: “Vejo cada vez mais o futuro glorioso que está preparado para a nossa Sociedade, a extensão que terá e o bem que poderá realizar”.

Caros amigos do carisma salesiano, que a minha saudação sincera, fraterna e afetuosa chegue a todos e a cada um de vocês.
Foi-me “sugerido” pelo Boletim Salesiano preparar esta saudação não como das outras vezes, contando algo significativo que vivi, mas falando de mim, desta nova realidade que me espera. E experimentei algo que havia estudado sobre a pessoa de nosso pai Dom Bosco. Era difícil para ele falar de si mesmo e ainda mais difícil expressar seus sentimentos. No meu caso, devo admitir que é um pouco difícil para mim falar ou escrever sobre os últimos fatos que me aconteceram; mas admito que, mais cedo ou mais tarde, tenho de fazê-lo, e a mensagem do Boletim Salesiano que chega às mãos e aos corações de tantos amigos do carisma de Dom Bosco é uma boa maneira de enviar essa mensagem pessoal.
Depois da notícia inesperada (especialmente para mim), com a qual o Santo Padre Francisco também anunciou o meu nome entre as 21 pessoas que ele escolheu para serem “criadas” como Cardeais da Igreja no próximo Consistório de 30 de setembro, milhares de pessoas se perguntaram, especialmente entre os Salesianos de Dom Bosco e os membros da Família Salesiana em todo o mundo: e agora, o que acontecerá? Quem acompanhará a vida da Congregação em um futuro próximo? Que passos a aguardam? Vocês podem compreender que essas são as mesmas perguntas que eu também tenho feito a mim mesmo, enquanto agradeço ao Senhor com fé por esse dom que o Papa Francisco nos concedeu como Congregação Salesiana e como Família de Dom Bosco.
Com uma leitura de fé, conhecendo as grandes coisas que Deus fez e o que sabemos por meio de sua Palavra, pode-se dizer que Deus ama as surpresas.  Normalmente, na Bíblia, Deus diz: “Retirai-vos! O caminho se revelará”.  Uma coisa importante que aprendemos com Dom Bosco: que nada nos perturbe e que confiemos na Providência de Deus.
Sinto que compartilho a declaração de 1884 do nosso santo fundador: “Vejo cada vez mais o futuro glorioso que está preparado para a nossa Sociedade, a extensão que ela terá e o bem que poderá realizar”.
Tive a oportunidade de falar pessoalmente com o Santo Padre, o Papa Francisco, após o anúncio do Ângelus, assegurando-lhe minha disponibilidade para contar comigo em qualquer serviço. Respondi como Dom Bosco fez quando lhe pediram para construir o templo do Sagrado Coração em Roma, no caso dele um Dom Bosco idoso e doente, que também sentia o peso e a responsabilidade de uma Congregação incipiente: Dom Bosco respondeu: “Se esta é a ordem do Papa, eu obedeço!”
Com simplicidade, eu disse ao Santo Padre que nós, salesianos, aprendemos com Dom Bosco a estar sempre disponíveis para o bem da Igreja e, em particular, para o que o Papa pedir. Portanto, enquanto agradeço a Deus por este dom que pertence a toda a Congregação e à Família Salesiana, expresso a minha gratidão ao Papa Francisco assegurando-lhe, em nome de todos os membros da nossa grande Família, uma oração mais fervorosa e intensa. Oração que, como já disse, será sempre acompanhada de nosso sincero e profundo afeto.

O que acontecerá agora?
Devo compartilhar com vocês que fiquei profundamente tocado pela sensibilidade do nosso Papa Francisco ao perceber que meu serviço como Reitor-Mor não mudaria imediatamente de um dia para o outro. Por essa razão, cerca de meia hora após o anúncio da nomeação durante a oração do Ângelus no domingo, 9 de julho, o Santo Padre me enviou uma carta na qual falava do tempo necessário para me preparar para o Capítulo Geral de nossa Congregação antes de assumir o que ele pretende me confiar. Como sempre, o Santo Padre se mostrou atento, cordial, profundo admirador do carisma de Dom Bosco e particularmente afetuoso. Sentimentos que, em meu nome e em nome de toda a Família Salesiana, retribuí.
Gostaria de compartilhar com vocês as disposições que o Santo Padre me comunicou.
O Papa decidiu que, para o bem da nossa Congregação, após o Consistório de 30 de setembro de 2023, poderei continuar o meu serviço como Reitor-Mor até 31 de julho de 2024. Após essa data, apresentarei minha renúncia como Reitor-Mor, conforme prescrito por nossas Constituições e Regulamentos, a fim de assumir das mãos do Santo Padre o serviço que ele me confiará.
Foi isso que o próprio Papa me comunicou. Poderemos antecipar o 29º Capítulo Geral em um ano, ou seja, em fevereiro de 2025. Meu Vigário, o P. Stefano Martoglio, assumirá o governo da Congregação ad interim, conforme estipulado em nossas Constituições, até a celebração do CG29. Por fim, resta-me dizer e responder a outra pergunta que muitos de vocês devem ter: que tarefa o Santo Padre me confiará? O Papa Francisco ainda não me disse. Além disso, com essa ampla margem de tempo, acho que é a coisa mais oportuna.
Em todo caso, peço a todos vocês, queridos irmãos e membros dos grupos da nossa Família Salesiana, que continuem a intensificar a oração. Especialmente pelo Papa Francisco. Ele mesmo o pediu expressamente no final da audiência privada que me concedeu.
Por fim, peço-lhes também que rezem por mim, colocado diante da perspectiva de um novo serviço na Igreja que, como filho de Dom Bosco, aceito em obediência filial, sem tê-lo procurado, porque acredito verdadeiramente que, na Igreja, os serviços que prestamos não podem e nunca devem ser procurados ou exigidos como se se tratasse de fazer uma carreira pessoal. O que é próprio do “mundo” é impróprio para nós como servos em nome de Jesus. E devemos diferir (espero que muito) de alguns dos padrões do mundo. Testemunha de tudo isso é nosso amado Pai Dom Bosco perante o Senhor Jesus.
Agradeço o carinho e a proximidade expressos nessas semanas com as muitas mensagens que recebi de todo o mundo.
Sinto como se fossem dirigidas a mim as mesmas expressões que Nossa Senhora disse a Dom Bosco no sonho dos nove anos – cujo segundo centenário será celebrado no próximo ano: “No devido tempo você entenderá tudo”. E sabemos que para o nosso Pai isso aconteceu quase no fim de sua vida, diante do altar de Maria Auxiliadora na Basílica do Sagrado Coração de Jesus, que havia sido consagrada no dia anterior, em 16 de maio de 1887. Da Basílica de Maria Auxiliadora, envio-lhes uma saudação afetuosa e agradecida, confiando todos e cada um a Ela, a Mãe, que continuará a nos acompanhar e apoiar. Como sempre, eu os saúdo com imenso afeto.




Você já pensou em sua vocação? São Francisco de Sales poderia ajudar você (4/10)

(continuação do artigo anterior)

4. Onde está seu coração?

Queridos jovens,
vocês me escreveram perguntando algo sobre o discernimento, o que, eu lhes lembro, significa estar atentos à voz de Deus que está no fundo do seu coração. Como Jesus nos diz, “onde está o teu coração, aí está o teu tesouro”. Em outras palavras, quem sou eu e para quem estou preparado para dar meu coração? A jornada até as profundezas do coração nem sempre é fácil, pois, junto com os sussurros de Deus, há também gritos altos e outras vozes competindo com Ele e tentando chamar sua atenção. Essas vozes podem se manifestar em nossos pensamentos, sentimentos e desejos. Isso significa que temos de ignorá-las para ouvir a voz de Deus? Eu diria o contrário: precisamos aprender a discernir essas vozes. Devemos peneirar nossos pensamentos, sentimentos e desejos para entender o que pertence ao que sabemos ser tentações e, em vez disso, entender as inspirações que vêm de Deus e nos levam a Ele. É exatamente por meio dessas inspirações que Deus comunica os desejos ao nosso coração.

Como vocês sabem pelos meus escritos, sou um grande admirador de São Paulo. Devemos seguir suas sugestões e ensinamentos: “Não vos conformeis com a mentalidade deste século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que possais discernir a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito para ele”. Se decidirmos simplesmente seguir nossos pensamentos, emoções e desejos superficiais, nunca perceberemos verdadeiramente a voz de Deus, falando no fundo de nosso coração. Portanto, é realmente necessário que nos questionemos:
– Em primeiro lugar: esses sentimentos, pensamentos e desejos vêm de Deus ou de outra coisa?
– Em segundo lugar: eles estão me ajudando a chegar a Deus ou estão me afastando dele?
Depois de estabelecer essa base, vocês podem continuar a discernir e buscar a voz de Deus que já está presente em seu espírito.
Infelizmente, gastamos muito tempo e energia girando em torno de emoções em constante mudança e de uma “multiplicidade de desejos” que nos impedem de fazer as escolhas que nos levariam a maior profundidade. Esse processo simplesmente produz inconstância, impaciência e um desejo constante de mudança.

Em meus Entretenimentos, lembrei as palavras de São Paulo de que cada um é um templo de Deus (1Cor 3,16): como no templo de Jerusalém, precisamos passar por uma série de pátios em nosso coração para chegar ao lugar mais íntimo e profundo chamado Santo dos Santos.
Tomando a ideia de uma invenção de seu tempo, gostaria de usar a imagem do elevador. Você entra no elevador com seus pensamentos, sentimentos e desejos; se eles se tornarem inspirações, podem levá-los às profundezas do Santo dos Santos. O elevador os levará cada vez mais para baixo à medida que vocês aprendem a verdade contida nesses sentimentos, pensamentos e desejos.
Finalmente, vocês chegarão ao núcleo, embora eu prefira o termo bíblico “coração”. Lá as palavras não são mais necessárias. De fato, no coração, o Espírito pode alcançar a alma de cada um de vocês e tornar-se plenamente seu Mestre. Aqui a mente é chamada ao silêncio e não há mais necessidade de raciocínio ou palavras que levem à distração. Aqui entendemos o que é o discernimento espiritual porque Deus é Espírito e Ele fala diretamente à sua alma, iluminando seu caminho e mostrando-lhe o caminho a seguir. Se vocês vivem no Espírito, andem de acordo com o Espírito (Gl 5,26).

Escritório de Animação Vocacional

(continua)




A entrega da Cruz Missionária Salesiana

No dia 24 de setembro, o Reitor-Mor presidiu a entrega da cruz missionária aos membros da 154ª expedição missionária da Congregação Salesiana. Esse foi o 154º grupo desde que Dom Bosco presidiu o primeiro envio missionário em Valdocco, no dia 11 de novembro de 1875.

O envio missionário na Basílica de Maria Auxiliadora em Valdocco é um gesto com que a Congregação Salesiana renova, diante de Maria Auxiliadora, o seu compromisso missionário. A peça central dessa comovente celebração é o missionário que recebe a Cruz Missionária do Reitor-Mor, o sucessor de Dom Bosco. A Cruz Missionária Salesiana é entregue, de fato, pelo Reitor-Mor somente àqueles que oferecem o dom radical e completo de si que, por sua própria natureza, implica uma disponibilidade total e sem limite de tempo (ad vitam).

Receber a Cruz Missionária desperta muitas emoções e envolve desafios espirituais. Todos eles são expressos nos desenhos da própria Cruz que os missionários recebem. A vida do missionário está centrada na pessoa de Cristo e em Cristo crucificado. Isso implica que o missionário primeiro recebe e depois transmite o grande ensinamento da Cruz: o amor infinito do Pai que dá o melhor de si, o seu Filho; o amor até o fim que é obediente e generoso ao se entregar à vontade do Pai para a salvação da humanidade. Para cada missionário salesiano “Nossa ciência mais eminente é […] conhecer Jesus Cristo; e a alegria mais profunda, revelar a todos as insondáveis riquezas do seu mistério” (Constituições SDB, art. 34).

O Bom Pastor na Cruz Missionária Salesiana revela a cristologia salesiana: a caridade pastoral é o núcleo do espírito salesiano, “o estilo que conquista com a mansidão e o dom de si” (Constituições SDB art. 10-11).

Da Mihi Animas cetera Tolle (dai-me almas, tirai o resto): este é o lema que caracteriza os Filhos de Dom Bosco desde o início. Em contexto missionário, essa breve oração salesiana assume um significado especial: deixar tudo, até mesmo a própria terra, a própria cultura e as coisas que dão segurança, para se dedicar sem limites àqueles a quem se é enviado, para ser para eles um instrumento de salvação.

O Espírito Santo que desce sobre o Bom Pastor, como no rio Jordão, desce agora sobre Cristo presente no dinamismo pastoral da Igreja. Sem o Espírito Santo, e sem a luz, o discernimento, o poder e a santidade que descem do Espírito, toda atividade missionária não passaria de uma série de atividades, às vezes vazias, realizadas em lugares distantes.

Enfim, o texto escrito na parte de trás da cruz: “Euntes ergo docete omnes nationes baptizantes eos in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti” (Mt 28,19) (Ide, portanto, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo) representa o coração do mandato missionário dado pelo Senhor ressuscitado. O texto dá o mandato de ensinar todos os homens a se tornarem seguidores e discípulos de Jesus (o texto grego enfatiza mathêteúsate, “fazer discípulos”, que é mais do que docete, “ensinar”). A evangelização, a plenitude da graça, passa por palavras e ações, sendo que a maior de todas as graças sacramentais é o batismo, que mergulha a pessoa no mistério da comunhão com Deus.

Em 1875, Dom Bosco enviou 10 salesianos italianos para a Argentina. Hoje, os missionários são enviados para os cinco continentes. Cada salesiano, cada Inspetoria é corresponsável pela atividade missionária de toda a Congregação. Graças aos missionários salesianos, o carisma de Dom Bosco está hoje presente em 134 países. As reflexões de alguns membros das 154 expedições missionárias revelam o quanto os missionários salesianos tocaram a vida das pessoas, gerando novas vocações missionárias salesianas.

O clérigo Jorge DA LUÍSA JOÃO, salesiano de Bengo, Angola, tem 31 anos. “A semente da minha vocação missionária surgiu quando assistíamos a vídeos missionários na comunidade salesiana de Benguela, onde me tornei aspirante externo. Depois, durante o pré-noviciado, o noviciado e o pós-noviciado, ela se desenvolveu com o acompanhamento do meu guia espiritual. Agora que o Reitor-Mor aceitou o meu pedido de missão e está me enviando para Cabo Verde, onde meu sonho é dar toda a minha vida na terra de missão aonde serei enviado e ser enterrado lá, assim como os missionários que deram tudo por Angola e cujos corpos repousam em solo angolano”.

O clérigoSoosai ARPUTHARAJ é de Michaelpalayam, Tamilnadu, Índia. “Minha vocação missionária nasceu quando eu estava no início de minha formação inicial, mas eu tinha medo de contar a alguém sobre o meu desejo missionário. Mas durante o encontro dos jovens salesianos em nossa Inspetoria, eles nos contaram sobre a experiência missionária. Isso me fez perguntar: “Por que não posso me tornar um missionário ad gentes na congregação salesiana?”. Sou grato ao Vigário do meu Inspetor que me guiou para finalmente tomar a decisão de me oferecer ao Reitor-Mor para ir aonde ele me enviar. Assim, aceitei de bom-grado a proposta do Conselheiro-Geral para as Missões de me enviar para a Romênia. Sei que esse é o chamado de Deus para dar a minha vida aos jovens da Romênia”.
O Clérigo Joshua TARERE, 30 anos, originário de Vunadidir, Nova Bretanha Oriental, Papua Nova Guiné. Ele é o primeiro missionário salesiano da Oceania. “Quando eu era criança, só conhecia o padre diocesano da minha paróquia. Como estudante secundário, não frequentei uma escola salesiana. Mas graças aos salesianos de Dom Bosco Rapolo, que vinham à minha paróquia para a missa dominical, fui inspirado por seu trabalho missionário. Eles costumavam ir ao meu vilarejo para servir aos jovens. Essa experiência de serviço e disponibilidade para os outros me ajudou a me identificar com sua vocação missionária.
Durante o noviciado, meu mestre de noviços, P. Philip Lazatin, incentivou-me a discernir e esclarecer meu interesse missionário. No pós-noviciado, continuei meu discernimento com meu Reitor, P. Ramon Garcia, e meu guia espiritual, para descobrir se meu desejo de ser missionário salesiano era realmente um chamado de Deus. Depois de um longo período de discernimento, finalmente decidi fazer o pedido ao Reitor-Mor e me colocar à disposição, para onde quer que ele me enviasse. Fiz isso livremente, sem pressão de ninguém. Dizem que sou o primeiro salesiano da Oceania a ser missionário. Mas para mim isso não é importante. O que importa é minha disposição de responder generosamente ao chamado pessoal de Deus.
Como missionário no Sudão do Sul, experimento um sentimento misto de medo e coragem. A mídia apresenta todas as imagens negativas da violência e das pessoas deslocadas no Sudão do Sul. Mas também me sinto inspirado a ser corajoso porque sei que o Senhor que me enviou para sua missão certamente cuidará de mim. Meus medos não superaram meu grande desejo de servir, amar e me inserir na nova cultura e o povo para o qual fui enviado”.

O Clérigo Francois MINO NOMENJANAHARY, de Antananarivo, capital de Madagascar, tem 25 anos. Designado para a Visitadoria de Papua Nova Guiné e Ilhas Salomão, ele nos oferece seu testemunho hoje. “Devo admitir que nunca tinha ouvido falar de Papua Nova Guiné até que o Padre Alfred Maravilla propôs que eu fosse para lá. Aceitei de bom grado ser enviado porque ofereci minha disposição de atender ao chamado de Deus para ser missionário. Também tive de explicar aos meus pais e à minha família qual era o meu destino missionário. Graças a Deus, eles aceitaram. É claro que, como todo mundo, tenho meus temores. Estou feliz por ter conhecido missionários de Papua Nova Guiné neste curso. Fico feliz em saber que o primeiro padre católico de Papua Nova Guiné, Luís Vangeke, se formou no seminário em Madagascar. Isso também me faz sentir conectado à minha terra de missão”.

O P.Michał CEBULSKI, de Katowice, Polônia, tem 29 anos. Ele foi ordenado há poucos meses, em junho. “Como jovem salesiano, ele passou um ano de tirocínio prático na Irlanda. Desde criança, ouvi histórias de missionários que desenvolveram em mim o desejo de ser como eles. Estou feliz por ter sido enviado à Lituânia, o país que faz fronteira com a Polônia. Embora meu país faça fronteira com a Lituânia e tenhamos semelhanças na comida e na cultura, o idioma lituano não será fácil para mim. Meu novo provincial me disse que terei de estudar italiano por alguns meses. Mas quando estiver na Lituânia, minha prioridade será me aproximar das pessoas e entender sua cultura. Espero que o povo lituano possa descobrir o amor de Deus por meio de meu serviço. Quero ajudar os jovens a viver com verdadeira alegria, que, como Dom Bosco nos disse, vem de um coração puro”.

O Sr. Kerwin P. VALEROSO, um salesiano coadjutor de 35 anos de Pura, Tarlac, Filipinas, está prestes a partir para a nova Circunscrição do Norte da África (CNA). “Uma vez vi fotos das três primeiras expedições missionárias dos salesianos. Pensando nos lugares que eles alcançaram, nas obras que construíram, nos corações que tocaram e nas almas que salvaram, senti que essa era a minha vocação. Sou grato aos meus instrutores, mentores e amigos que compartilharam a jornada comigo para purificar e fortalecer minha vocação missionária.
Sou grato à minha família, irmãos e amigos que me fizeram sentir seu apoio, suas orações e seus votos de felicidades quando me propus a responder à minha vocação missionária. Não escondo o fato de que sinto um misto de alegria e medo ao ir para o norte da África, cujo idioma, cultura e povo ainda não conheço. Nem mesmo conheço o Islã. Entretanto, minha principal tarefa é aprender bem o idioma francês este ano. Devo dizer que nossos irmãos em Paris, na França, fizeram com que eu me sentisse muito bem-vindo. Também sou grato à minha Província de origem (FIN) que, apesar da grande quantidade de trabalho no apostolado, me encorajou generosamente a me oferecer para as obras missionárias de nossa Congregação”.

O Clérigo Dominic NGUYEN QUOC OAT, 30 anos, é de Dong Nai, Vietnã. “Eu me interessei pela missão desde que estava na escola secundária. Até compartilhei com meus colegas de classe o meu sonho de me tornar missionário. Como jovem salesiano, fiz discernimento porque acredito que Deus está me convidando para ser missionário para Ele e Seu povo; então pedi para me comprometer com a missão por toda a vida, onde quer que o Reitor-Mor me envie.
Deus me ofereceu a oportunidade de ser um missionário na Grã-Bretanha. Estou feliz por aceitar meu destino missionário, embora tenha algumas preocupações por ser um asiático sendo enviado para a Europa. Preciso aprender melhor o idioma e a cultura do país de minha missão. Mas acredito que Deus, que me chamou para ser missionário salesiano, continuará a me abençoar com sua graça para cumprir a missão que me confiou”.

O Padre André DELIMARTA é um dos dois primeiros salesianos indonésios. Aos 55 anos, ele foi Mestre de Noviços, Reitor e Pároco em sua Visitadoria (INA). Ele é membro da 153ª expedição missionária do ano passado à Malásia, mas só receberá a cruz missionária em 24 de setembro. “Eu cresci com os salesianos. O amor, o trabalho árduo, o compromisso e o espírito de sacrifício de missionários salesianos como o padre Alfonso Nacher, o padre José Carbonell, o diácono Baltasar Pires e o padre José Kusy tiveram um grande impacto sobre mim. Foram eles que me ensinaram sobre Dom Bosco, me apresentaram à Congregação e fizeram me apaixonar por seu zelo missionário.
Quando eu estava na formação inicial, queria ser missionário, mas meus formadores me proibiram porque diziam que Dom Bosco deveria estar enraizado na Indonésia. De fato, como primeiro salesiano indonésio, eu havia insistido para que o carisma de Dom Bosco fosse enraizado na Indonésia como nossa prioridade. Mas quando o insistente apelo por missionários foi transmitido à nossa Visitadoria, minha vocação missionária foi reacendida. Meu amor por Dom Bosco e pela Congregação fez com que eu decidisse me oferecer como missionário. Se a Congregação precisa de missionários, então eu quero dizer: «Aqui estou! Eu vou!»”.

Aqui estão todos os 24 membros da 154ª Expedição Missionária Salesiana:

– Shivraj BHURIYA, da Índia (Inspetoria de Mumbai – INB) para a Eslovênia (SLO);
– Thomas NGUYEN QUANG QUI, do Vietnã (VIE) para a Grã-Bretanha (GBR);
– Dominic NGUYEN QUOC OAT, do Vietnã (VIE) para a Grã-Bretanha (GBR);
– Jean Bernard Junior Gerald GUIELLE FOUETRO, da República do Congo (Inspetoria África Congo-Congo – ACC) para a Alemanha (GER);
– Blaise MULUMBA NTAMBWE, da Rep. Dem. do Congo (Inspetoria da África Central – AFC) para a Alemanha (GER);
– P. Michael CEBULSKI, da Polônia (Inspetoria de Cracóvia – PLS) para a Lituânia (Circunscrição Especial Piemonte-Vale de Aosta – ICP)
– Kerwin VALEROSO, das Filipinas (Inspetoria das Filipinas Norte – FIN) para a Circunscrição da África Norte (CNA);
– Joseph ONG DUC THUAN, do Vietnã (VIE) para a Circunscrição da África Norte (CNA);
– P. Domenico PATERNÒ, da Itália (Inspetoria Sícula – ISI) para a Circunscrição da África Norte (CNA);
– David Broon, da Índia (Inspetoria de Tiruchy – INT) para a Albânia (Inspetoria da Itália Sul – IME);
– Elisée TUUNGANE NZIBI, da Rep. Dem. do Congo (Inspetoria da África Central – AFC) à Albânia (Inspetoria da Itália Sul – IME);
– P. George KUJUR, da Índia (Inspetoria de Dimapur – IND) ao Nepal (Inspetoria da Índia-Calcutá – INC);
– Soosai ARPUTHARAJ, da Índia (Inspetoria de Chennai – INM) para a Romênia (Inspetoria da Itália Nordeste – INE);
– John the Baptist NGUYEN VIET DUC, do Vietnã (VIE) para a Romênia (Inspetoria da Itália Nordeste – INE);
– Mario Alberto JIMÉNEZ FLORES, do México (Inspetoria de Guadalajara – MEG) para a Delegação do Sudão do Sul (DSS);
– Sarathkumar RAJA, da Índia (Inspetoria de Chennai – INM) para o Sri Lanka (LKC);
– Lyonnel Richie Éric BOUANGA (da República do Congo (Inspetoria África Congo-Congo – ACC) para a Visitadoria de Papua-Nova Guiné–Ilhas Salomão (PGS);
– Joshua TARERÉ, de Papua-Nova Guiné (PGS) para a Delegação do Sudão do Sul (DSS);
– Nomenjanahary François MINO, de Madagascar (MDG) para a Visitadoria Papua-Nova Guiné–Ilhas Salomão (PGS);
– Jean KASONGO MWAPE, da Rep. Dem. do Congo (Inspetoria da África Central – AFC) para o Brasil (Inspetoria Brasil-Porto Alegre – BPA);
– Khyliait WANTEILANG, da Índia (Inspetoria de Shillong – INS) para o Brasil (Inspetoria Brasil-Porto Alegre – BPA);
– P. Joseph PHAM VAN THONG, do Vietnã (VIE) para a África do Sul (Inspetoria África Meridional – AFM);
– P. Miguel Rafael Coelho GIME, de Angola (ANG) para Moçambique (MOZ);
– Klimer Xavier SANCHEZ, do Equador (ECU) para Moçambique (MOZ).




Progresso

Um explorador estava viajando através das imensas florestas da Amazônia na América do Sul.

Ele estava procurando por possíveis depósitos de petróleo e estava com muita pressa. Durante os dois primeiros dias, os nativos que ele havia contratado como carregadores adaptaram-se ao ritmo rápido e ansioso que o homem branco queria impor a todas as coisas.

Mas, na manhã do terceiro dia, eles ficaram em silêncio, imóveis, com um ar totalmente ausente.

Ficou claro que não tinham nenhuma intenção de partir de novo.

O explorador, impaciente, apontando para seu relógio, com amplos gestos tentou fazer entender ao chefe dos carregadores que eles tinham que se mover, porque o tempo urgia.

– É impossível, respondeu o homem, com calma. Esses homens caminharam depressa demais e agora esperam que suas almas os alcancem.

Os homens de nossa época estão sempre se movendo cada vez mais rápido. E eles estão inquietos, aturdidos e infelizes. Porque suas almas ficaram para trás e não conseguem mais alcançá-los.




Experiência missionária no Peru

Entrevista com José Gallego Vázquez, salesiano coadjutor, que depois de muitos anos de serviço em sua terra natal a deixou para partir em missão, atendendo a muitas necessidades.

1 – Quem é o senhor e como nasceram as missões no Peru?
Olá, eu sou o coadjutor salesiano José Gallego Vázquez. Nasci há 54 anos em Vigo, na Espanha. Trabalhei em várias casas na antiga Inspetoria de São Tiago Maior de León por 22 anos, antes de partir como missionário para o Peru em 2010.
Os salesianos chegaram ao Peru em 1891 e dirigem um oratório no bairro de Rímac, em Lima, onde dão aulas, preparam para os sacramentos e brincam com as crianças.

2 – O que os salesianos fazem no Peru?
Servimos três áreas missionárias na selva, escolas, abrigos, oratórios e centros juvenis, escolas profissionais, paróquias, grupos de famílias salesianas e outras atividades pastorais e de assistência.

3.- Desafios da vida missionária?

Trabalho há mais de sete anos na Missão Amazônica de San Lorenzo, que tem uma população de 11.000 habitantes e está localizada às margens do rio Marañón, na região de Loreto. Sou responsável pelos oratórios e pelo Centro da Juventude. Frequentamos cinco oratórios uma vez por semana (um oratório dois dias por semana) e um centro juvenil de terça a sábado à noite. Os oratórios e o centro juvenil são frequentados por 430 crianças e jovens por semana. Temos momentos de formação humana (palestras com instituições da cidade, valores cívicos, etc.), formação cristã, boas noites, esportes, campeonatos, noites salesianas, convivência, oficinas (dança, futebol, artesanato, ecologia, etc.).
As crianças e os jovens que atendemos vêm de famílias de baixa ou muito baixa renda, de famílias numerosas e com pais que coabitam e que muitas vezes vêm de outros núcleos familiares.

Desde 2016, também administramos um centro de treinamento profissional, especializado em carpintaria, agricultura e criação de animais e mecânica de automóveis. Esse centro está voltado para os povos indígenas da província. Temos uma residência a cinco horas de distância da missão, em uma pequena comunidade indígena. Cuidamos de até 50 jovens, homens e mulheres. Eles também recebem formação humana e cristã e, aqueles que o solicitam, são preparados para os sacramentos.

4.- O que o senhor pode dizer sobre as visitas e a itinerância da comunidade?
A comunidade missionária cobre uma área de cerca de 30.000 quilômetros quadrados, na qual atendemos três paróquias e cerca de 130 comunidades indígenas e mestiças. É uma comunidade missionária itinerante; os rios são nossos pontos de encontro com os mestiços e os indígenas, pois atendemos até sete povos nativos (Shawi, Kandozi, Chapra, Kocama, Aguajun, Achuar e Wampis). A acolhida deles é sempre boa, esperada e desejada, alimentada pelo nosso desejo de rezar a missa, uma palavra do padre ou do salesiano coadjutor. Gostaríamos de chegar a eles com mais frequência, mas as distâncias, o custo das viagens e a falta de missionários tornam muito difícil ajudar e acompanhar nossos irmãos e irmãs. É por isso que encorajo aqueles que leem estas linhas a dar uma mãozinha por algum tempo, judando a apoiar essas missões com recursos e a sensibilizar todos a rezar ao Senhor pelos nossos destinatários, pelos missionários e pelas novas vocações nativas.

5 – Sua experiência pessoal como missionário.
Conhecendo os missionários, caminhando na selva, comendo como eles, dormindo em suas casas, vivendo com eles e aprendendo muito com eles, aprendemos gradualmente a apreciá-los, a relativizar tantas coisas no mundo, a apreciar e valorizar a vida com uma maneira diferente de administrar o tempo e o ambiente. Aprecio muito o equilíbrio em que eles vivem em contato com a natureza, que sentem e vivenciam como parte deles, formando um todo, quando caçam, quando pescam, quando se reúnem nos campos ou pomares, quando têm seus momentos de wayús ou masato, ou em assembleias comunitárias para regular a vida da comunidade.
Também aprendemos e apreciamos como os animadores cristãos das comunidades, muitos pais e mães de família, animam a vida cristã de sua comunidade com a celebração da Palavra aos domingos, a preparação dos sacramentos para crianças e adultos, etc. Alguns deles estão lá há 30, 40 ou mais anos. Trata-se de um exemplo generoso e um testemunho de perseverança e vocação de serviço para ajudar a manter viva a fé da comunidade cristã.

6 – Que processo é seguido para os jovens interessados na vida religiosa?

Minhas últimas linhas são para refletir sobre a dimensão vocacional nessas terras de missão. Vemos que há jovens com preocupações vocacionais, que expressam o desejo de se tornarem sacerdotes ou religiosos. O acompanhamento com um plano de formação e planejamento é fundamental para ajudá-los em seu discernimento nesses primeiros momentos de inquietação e busca. A atividade e o envolvimento pastoral os ajudarão, em seu desempenho responsável, a amadurecer em suas vidas como pessoas e como cristãos comprometidos, antes de dar outros passos. Tudo isso dará frutos, se toda a comunidade missionária estiver envolvida nessa jornada, contribuindo e facilitando a aproximação e a convivência com o jovem. Por isso é tão importante sermos comunidades abertas e acolhedoras que convidam e compartilham a vida e a missão com eles.

Esse caminho precede o envio ao encontro vocacional inspetorial, que é organizado todos os anos, para continuar o processo em outra casa salesiana, seja como voluntário ou como aspirante ou pré-noviço. É um processo personalizado, lento e paciente.

Ao agradecer a José Gallego Vázquez pelo seu serviço aos mais necessitados, rezamos para que o Senhor suscite mais vocações para as missões salesianas, lembrando que Deus abençoa essa generosidade com muitas outras vocações. E lembremo-nos de que, embora a oração seja essencial, devemos também fazer a nossa parte, como dizia Dom Bosco: “falar muitas vezes das vocações, falar muito das missões, mandar ler as cartas dos missionários” (MB XIII,86).

Marco Fulgaro




Você já pensou em sua vocação? São Francisco de Sales poderia ajudar você (3/10)

(continuação do artigo anterior)

3. Se eu não me conheço, posso ser livre para escolher?

Prezados jovens,
é uma grande alegria para mim receber e compartilhar as preocupações vocacionais de vocês. Vocês estão vivendo um período muito bonito da vida, sentem profundamente o desejo de viver plenamente e, diante de vocês, estão abertos todos os caminhos para alcançá-lo. Tenham a coragem de procurar pacientemente e, acima de tudo, de chegar a uma decisão que preencha seus anseios com a mais verdadeira felicidade. Não é uma tarefa fácil: implica assumir a própria fragilidade e descobrir a verdade fundamental de que a vida é um dom maravilhoso que nos foi dado, um dom misterioso que nos ultrapassa.
Deus nos deu a vida e a fé. A vocação cristã é precisamente a resposta ao chamado à vida e ao amor com que Deus nos criou. Somos chamados a ser filhos de Deus e a viver como filhos, sentindo e agindo de acordo com o amor que Deus derramou em nossos corações. Somos chamados a ser seus discípulos e a sê-lo com paixão. Ao respondermos a isso, encontramos o caminho para a verdadeira felicidade.
O que buscamos, o que queremos ser, tem como base e fundamento o que somos. A partir da aceitação amorosa do que somos, o Senhor nos chama a construir nossa identidade. Dificilmente conseguiremos viver essa busca e esse esforço sozinhos. Temos a grande sorte de que o próprio Jesus quer nos acompanhar. Mantenham Jesus sempre perto de vocês, como seu companheiro e amigo. Ninguém como ele pode ajudá-los a encontrar o caminho para Deus e serem felizes. Ao lado dele, invocando-o com simplicidade e com muita confiança, vocês poderão descobrir melhor o significado da existência e da sua vocação.
Buscar sua vocação significa preocupar-se em como responder ao sonho de Deus para vocês. Vocês foram criados e sonhados por Ele. Qual é o sonho de Deus para a sua vida? E como vocês podem responder a esse sonho? Que seja sempre a vontade de Deus, a vontade divina, aquilo que guia suas vidas. Busquem, amem e se esforcem para fazer a vontade de Deus. Ele lhes deu a vida para doá-la, para que vocês a deem, a compartilhem, a entreguem, não para que a guardem para si. A quem vocês querem dar sua vida? Ela tem um destino divino. Por amor, vocês foram criados à imagem e semelhança de Deus e somente Ele preencherá seu desejo de bondade, felicidade e amor.
A primeira e mais importante tarefa que vocês têm em suas mãos é descobrir e construir sua vocação. Ela não é algo estabelecido desde o início, de antemão. É fruto da liberdade, de uma liberdade construída aos poucos, capaz de se aventurar no caminho da doação. Somente com grande liberdade interior vocês podem chegar a uma decisão vocacional autêntica. A liberdade e o amor, de fato, são as duas grandes asas para enfrentar o caminho da vida, para doá-la e entregá-la.
Concluo assegurando-lhes que sempre me lembrarei e os recomendarei ao Senhor, para que Ele os acompanhe, os guie e dirijam sua vida pelo caminho da graça e do amor. De sua parte, busquem sempre o bom Jesus, tenham-no como amigo de sua alma, invoquem-no, compartilhem com ele suas dores, suas angústias, suas preocupações, suas alegrias e suas tristezas. E ousem comprometer-se seriamente com Ele e com Sua causa. Ele está esperando por vocês.

Escritório de Animação Vocacional

(continua)




Venerável Dom Antônio de Almeida Lustosa “pai e amigo dos pobres”

No dia 22 de junho de 2023, o Santo Padre Francisco recebeu em audiência o Cardeal Marcelo Semeraro, Prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, e durante a Audiência o Sumo Pontífice autorizou o mesmo Dicastério a promulgar o Decreto relativo às virtudes heroicas do Servo de Deus Antônio de Almeida Lustosa, da Sociedade Salesiana de São João Bosco, Arcebispo de Fortaleza; nascido em 11 de fevereiro de 1886 em São João del Rei (Brasil) e falecido em 14 de agosto de 1974 em Carpina (Brasil).

Uma vida à luz da Imaculada
Antônio de Almeida Lustosa nasceu na cidade de São João del Rei, em Minas Gerais (Brasil), em 11 de fevereiro de 1886, no dia do aniversário da primeira aparição da Imaculada em Lourdes, circunstância que o marcou profundamente, dando-lhe uma devoção filial a Nossa Senhora, tanto que foi definido, já sacerdote, como o poeta da Virgem Maria.
De seus pais, João Baptista Pimentel Lustosa e Delphina Eugênia de Almeida Magalhães, cristãos exemplares, recebeu uma boa formação cristã e humana. Menino inteligente, de boa e generosa disposição, filho de um juiz, desde cedo deu sinais visíveis de uma forte vocação sacerdotal. Por isso, aos dezesseis anos ingressou no Colégio Salesiano de Cachoeira do Campo, em Minas Gerais, e três anos depois estava em Lorena como noviço e assistente de seus companheiros. Após sua primeira profissão religiosa, em 1906, tornou-se também professor de filosofia, enquanto estudava teologia.
A profissão perpétua ocorreu três anos depois, enquanto o dia 28 de janeiro de 1912 marcou a data de sua ordenação sacerdotal.
Depois de várias atribuições dentro de sua congregação religiosa, em 1916 foi diretor e mestre de noviços em Lavrinhas, no Colégio São Manoel, para onde haviam sido transferidos os de Lorena, dos quais havia sido mestre no ano anterior. Nos cinco anos que ali passou, o jovem Lustosa desenvolveu o melhor de si como sacerdote e como salesiano, deixando marcas indeléveis, segundo os que o conheceram.

Ministério episcopal

Após sua atuação como diretor do ginásio Maria Auxiliadora, em Bagé, e sua nomeação como vigário da paróquia anexa, foi ordenado bispo de Uberaba em 11 de fevereiro de 1925, dia escolhido por ele para comemorar a presença de Nossa Senhora em sua vida.
Em 1928, foi transferido para Corumbá, no Mato Grosso, e em 1931 foi promovido a Arcebispo de Belém do Pará, onde permaneceu por 10 anos.
Em 5 de novembro de 1941, tomou posse como Arcebispo de Fortaleza, capital do Estado do Ceará.
Juntamente com um número extraordinariamente grande de iniciativas e ações de caráter social e caritativo, criou mais de 30 novas paróquias, 45 escolas para os carentes, 14 centros de saúde na periferia de Fortaleza, a Escola de Serviço Social, os hospitais São José e Cura d’Ars, para mencionar apenas algumas das obras mais significativas atribuídas ao seu episcopado.

Monsenhor Lustosa ingressa na Arquidiocese de Belém do Pará (15.12.1931)

Sua ação pastoral está particularmente articulada no campo da catequese, da educação, das visitas pastorais, do aumento das vocações, da valorização da ação católica, da melhoria das condições de vida dos mais pobres, da defesa dos direitos dos trabalhadores, da renovação do clero, da criação de novas ordens religiosas no Ceará, sem falar na sua rica e frutífera atividade como poeta e escritor.
Mesmo antes do Concílio Vaticano II, o Padre Antônio já havia definido a catequese como o objetivo principal de sua ação pastoral. Para isso, fundou duas congregações religiosas, o Instituto dos Cooperadores do Clero e a Congregação das Josefinas. Atualmente, as Josefinas estão espalhadas por todo o Nordeste do Brasil, bem como na Diocese de Rio Branco, no Acre.
Por onde passou e onde trabalhou, seu nome e sua memória eram lembrados com respeito e veneração, como um homem de Deus, verdadeiro modelo de virtude e santidade.
Onze anos depois de sua renúncia à Arquidiocese, após a qual se retirou para a Casa Salesiana de Carpina, e confinado a uma cadeira de rodas devido a uma queda desastrosa que lhe causou uma fratura no fêmur, faleceu em 14 de agosto de 1974, demonstrando, mesmo durante sua doença e sofrimento, uma atitude exemplar de aceitação plena e incondicional da vontade de Deus.
Seu corpo foi transportado para Fortaleza, onde seu funeral foi celebrado com um número incalculável de fiéis e autoridades eclesiásticas e civis prestando suas últimas homenagens. Seu sepultamento tornou-se, para todos os efeitos, uma verdadeira consagração popular de uma vida, como a que viveu o Servo de Deus P. Lustosa, inteiramente dedicada a Deus e ao bem do próximo.

Abandonado à vontade de Deus
Bispo virtuoso e místico, marcado pela obediência e pelo forte desejo de fazer sempre e em tudo a vontade do Pai, o P. Lustosa exigia o mais total abandono de si mesmo à causa de Deus e do próximo.
Sua grande preocupação era, de fato, corresponder às expectativas de Deus e da Igreja no exercício de seu ministério episcopal.

Viajou por várias regiões do Brasil, de norte a sul, levando sempre consigo os dons que a Divina Providência lhe tinha reservado.
Nessa profícua atividade, deixou legados significativos, não só pelas obras materiais que realizou, mas principalmente pela lembrança de sua presença luminosa e evangelizadora.
Homem humilde e simples, que evitava qualquer ostentação ou busca de reconhecimento público de suas ações pastorais a serviço da Igreja e da sociedade em que estava inserido, era dotado de um carisma extraordinário, de uma perseverança incansável e de uma visão religiosa e social rica e fecunda.
Ele se esforçou para tirar as pessoas das regiões em que serviu das condições precárias e pobres em que se encontravam. Quanto maior o desafio, maior a sua dedicação em encontrar alternativas que, pelo menos, minimizassem o sofrimento daqueles com quem entrava em contato.

Monsenhor Lustosa abençoa a pedra fundamental da escola agrícola (09.02.1932)

Procurou oferecer e criar oportunidades para que as pessoas mais desfavorecidas pudessem cuidar de suas famílias, trabalhou para dar-lhes uma formação religiosa e cultural, a fim de libertá-las do analfabetismo e fornecer-lhes as ferramentas para conquistar um lugar na sociedade.

Pastor com um grande coração
Durante 22 anos na região do Ceará, Dom Lustosa mostrou toda a força de seu trabalho cultural, religioso e social, antecipando e realizando obras que mais tarde seriam incorporadas pelas autoridades governamentais, tanto em nível estadual quanto municipal.
Conscientizou a classe trabalhadora de seu valor e importância, acolhendo os que estavam à margem da sociedade, como mães solteiras, empregadas domésticas, crianças órfãs e abandonadas, moradores de rua, necessitados de moradia, analfabetos, doentes, exaltando os direitos e deveres de cada um e restaurando e/ou reconhecendo sua dignidade.
Colocou-se totalmente a serviço de Deus e da humanidade, respondeu fielmente à inspiração divina que guiou seus passos e ações em direção a uma sociedade mais próxima da justiça, apoiada na doutrina social da Igreja – sub umbra alarum tuarum [sob a sombra das tuas asas].
Ele irradiou luzes de santidade para todos aqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo e conviver com ele, continuando até hoje a espalhar seu brilho sobre todos aqueles que entram em contato mais ou menos direto com sua figura e suas obras.
Com sua meritória ação pastoral, não só guiou almas, mas também corações, em uma ação harmoniosa que levou a uma verdadeira espiritualização cristã do imenso rebanho do qual era Pastor.
Seu trabalho de orientação espiritual foi considerado e reconhecido na época, e ainda mais hoje, como um trabalho de harmonia social e bálsamo espiritual em situações difíceis de conflito. Sua ação pessoal operava o milagre de desarmar os espíritos, ultrapassando os limites da pregação dogmática, litúrgica e teológica, conseguindo incutir nas pessoas um elevado senso religioso e dando-lhes uma maior e/ou nova consciência do direito à liberdade e à justiça.
A obra de Dom Lustosa, que exalta a alma popular, enobrece o sentido da fé, difunde o sentimento de solidariedade humana e a virtude da fraternidade, ultrapassa as fronteiras geográficas e se afirma internacionalmente.

Uma personalidade rica

Monsenhor Lustosa recebe a visita do Reitor-Mor, Dom Luigi Ricceri, em Carpina (27.06.1970)

A personalidade do ilustre arcebispo Dom Antônio de Almeida Lustosa é multifacetada, gerada desde a mais tenra idade e consolidada ao longo de sua vida terrena, sempre pautada pelo bem comum e pela defesa e promoção dos princípios e valores cristãos.
Padre Antônio deixou um rastro de espiritualidade, tanto pelos livros que publicou quanto pela catequese que levou às regiões mais distantes e inacessíveis.
Uma característica marcante de sua rica espiritualidade era seu extraordinário espírito de oração, intimamente enraizado nele e nunca ostentado. Ele também era um homem que impunha a si mesmo mortificações, sacrifícios e jejuns.

Outra nobre dedicação de seu espírito era sua verve literária. Grande foi a sua obra literária, desde cartas pastorais até artigos em jornais e periódicos e numerosas obras, publicadas e inéditas, de caráter histórico, folclórico, religioso, geográfico, cultural, antropológico, espiritual e ascético.
Ele foi, como Dom Bosco, um escritor prolífico em vários campos: teologia, filosofia, espiritualidade, hagiografia, literatura, geologia, botânica.
Suas obras literárias revelam sua profunda espiritualidade e o grau de suas preocupações sociais na evangelização de seu rebanho. Com sua pena, levou o Evangelho a todos.
Dom Antônio de Almeida Lustosa é um exemplo fiel de uma vocação plenamente realizada. Ele provou isso em sua longa atividade pastoral nas dioceses que liderou e guiou com as mãos de um mestre espiritual.
Foi um modelo de bispo de seu tempo, caracterizado por um fervor inquebrantável e firmeza de espírito.
Um verdadeiro homem de Deus, ele sempre se preocupou com o bem-estar das pessoas; por isso era conhecido como “o pai e amigo dos pobres”.
Dom Lustosa procurou ser fiel ao fundador da Congregação Salesiana – São João Bosco – seguindo seus passos, abraçando seus exemplos, implementando assim o carisma salesiano no Brasil, tanto que foi reconhecido como o Bispo da justiça social.
As palavras que o então Postulador Geral da Causa, P. Pasquale Liberatore, pronunciou em homenagem ao Servo de Deus, no 19º aniversário de sua morte, resumem de forma eloquente e eficaz a importância e o significado de sua mensagem na Igreja e na sociedade de seu tempo, bem como sua atualidade: «Era um grande asceta (até pela aparência externa: “um envelope aéreo”, dizia-se de sua pessoa física), mas com uma vontade adamantina, que traduzia o fogo que ardia dentro dele. Graças à sua fisionomia interior, foi capaz de realizar um trabalho excepcional, cujos vestígios permanecem nos mais diversos campos: buscador apaixonado da verdade, estudioso sério, escritor e poeta, criador de muitas obras: o pré-seminário Cura d’Ars, o Instituto Cardeal Frings, o Hospital São José, o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, a rádio Assunção Cearense, a Casa do Menino Jesus, escolas populares, círculos operários, etc., e, sobretudo, fundador de uma congregação religiosa.
Grande e simples ao mesmo tempo, soube fazer conviver os muitos compromissos do bispo com o catecismo para crianças e – nos últimos anos de sua vida – as sábias lições de latim com a humilde coleção de selos. Pastor zeloso, amava seu povo, nunca abandonava seu rebanho, sentia a urgência das vocações e enchia seus seminários com elas.
Em seu coração, permaneceu sempre salesiano. Dizia-se dele um “eterno salesiano”. Já “Mestre de Noviciado” desde que foi ordenado sacerdote, permaneceu um forjador de almas no estilo salesiano durante toda a sua vida.
Um asceta, eu disse no início. Na realidade, ele personificou o lema que Dom Bosco nos deixou: trabalho e temperança.
O segredo de sua santidade se encontra no fato de ter abominado todas as formas de mediocridade. Era um atleta do espírito – talvez seja por isso que gostamos de lembrá-lo “sempre de pé” (embora em seus últimos anos estivesse preso a uma cadeira de rodas). Sempre de pé! Até hoje. Como alguém que continua a ensinar uma lição. A lição mais difícil e mais exigente: a da santidade».

Dra. Cristiana Marinelli
Colaboradora da Postulação Geral dos Salesianos




Ásia Sul. Dom Bosco entre os jovens

Vejamos o que significa hoje viver a missão de Dom Bosco em relação aos jovens, especialmente aqueles que são pobres em recursos na Ásia Sul.

O Senhor disse claramente a Dom Bosco que ele deveria dirigir sua missão, antes de tudo, aos jovens, especialmente aos mais pobres. Essa missão para com os jovens, especialmente os mais pobres, tornou-se a razão da existência da Congregação Salesiana.

Como nosso pai Dom Bosco, todo salesiano diz a Deus no dia de sua profissão religiosa: “Ofereço-me totalmente a Vós,         comprometendo-me a dar todas as minhas forças       àqueles a quem me enviardes, especialmente aos jovens mais pobres”. Todo colaborador salesiano está comprometido com essa mesma missão.

O último Capítulo Geral da Congregação renovou o pedido de dar prioridade absoluta aos mais pobres, abandonados e indefesos.

Quando me foi oferecida a oportunidade de escrever um artigo para o Boletim Salesiano, meus pensamentos imediatamente se voltaram para o que considero ser uma das maiores intervenções em favor dos jovens mais pobres na Região da Ásia Sul da Congregação Salesiana, ou seja, a preparação dos jovens pobres para o emprego por meio de treinamento profissional de curto prazo. Após o 28º Capítulo Geral, a Região da Ásia Sul fez a opção de ajudar os jovens a eliminar a pobreza de suas famílias. Mas antes de falar sobre isso, deixe-me apresentar a Região Ásia Sul da Congregação Salesiana.

A Região Ásia Sul compreende todas as obras salesianas na Índia, Sri Lanka, Bangladesh, Nepal, Kuwait e Emirados Árabes Unidos. São 11 Inspetorias e uma Visitadoria. Com mais de 3.000 salesianos professos, a Região da Ásia Meridional representa 21,5% dos salesianos do mundo; estes trabalham em 413 casas religiosas salesianas, o que equivale a 23,8% das casas salesianas da Congregação. A idade média dos irmãos é de 45 anos. É providencial que tantos salesianos trabalhem na região que tem a maior população de jovens e de jovens pobres do mundo.

A Família Salesiana na Região inclui, além dos Salesianos, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (1789), a Associação dos Salesianos Cooperadores (3652), a Confederação Mundial dos Ex-Alunos (34091), o Instituto Secular das Voluntárias de Dom Bosco (15), as Irmãs Missionárias de Maria Auxiliadora (915), a Associação de Maria Auxiliadora (905), as Irmãs Catequistas de Maria Imaculada Auxiliadora (748), as Discípulas – Instituto Secular Dom Bosco (317), as Irmãs de Maria Auxiliadora (102) e as Irmãs da Visitação de Dom Bosco (109).

As obras dos Salesianos, em colaboração com outros membros da Família Salesiana e outros religiosos e leigos, atingem mais de 21.170.893 beneficiários. Uma variedade de obras (educação técnica formal e não formal, obras para jovens em risco [YaR, youth at risk], escolas, educação superior, paróquias, centros juvenis, oratórios, trabalho social etc.) são destinadas a servir aos beneficiários. Os outros membros da Família Salesiana têm obras independentes que atingem muitos outros.

O mundo, sob a liderança das Nações Unidas, estabeleceu o objetivo de “acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares” como o primeiro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. As obras salesianas atingem essas metas de muitas maneiras, mas um trabalho proeminente entre elas é o treinamento de habilidades de curto prazo oferecido aos jovens pobres, que são então ajudados a encontrar emprego e ganhar a vida para serem os principais atores que tiram suas famílias da pobreza.

A Conferência Inspetorial Salesiana da Ásia Sul (SPCSA) criou a Don Bosco Tech (DBTech) como um veículo para coordenar os esforços de todas as Inspetorias salesianas nessa área de trabalho. Fundada em 2006, o modelo DBTech e seu nome foram imitados em outras partes do mundo. Nos últimos anos, a rede (DBTech Índia) treinou mais de 440.000 jovens. O trabalho é realizado por meio de várias instituições salesianas, bem como por meio de uma ampla rede de colaboração com outras congregações diocesanas e religiosas e um grande grupo de colaboradores leigos altamente motivados, comprometidos em trabalhar para a seção mais pobre da juventude.

Embora os resultados alcançados ao longo dos anos em favor dos jovens mais pobres tenham sido ótimos, gostaria de enfatizar os resultados para 2022-2023, a fim de valorizar o trabalho de todos os salesianos e seus colaboradores para levar adiante o sonho de Dom Bosco de nos dedicarmos aos jovens, especialmente aos mais pobres.

Escolhi apresentar-lhes este trabalho em particular porque ele alcançou o maior e melhor resultado para as famílias mais pobres.

Aqui temos uma rede com 26.243 alunos treinados em um ano! Pouquíssimas instituições de grande porte no mundo podem se gabar de ter tantos alunos formados (20.121) em um ano. Mesmo entre elas, é raro que tantos formandos venham dos segmentos mais pobres da sociedade.

Desses, cerca de 18.370 encontraram emprego ao final de seu treinamento profissional (cerca de 70% dos formados).

Todos esses alunos receberam treinamento e colocação no mercado de trabalho de forma totalmente gratuita. Isso foi alcançado graças à generosa contribuição de benfeitores e parceiros de Responsabilidade Social Corporativa (CSR). A DBTech tem mais de 30 parceiros de financiamento, incluindo empresas, fundações e governo.

A preferência dos salesianos pelos jovens mais pobres é evidenciada pelo fato de que quase todos os tirocinantes (98%) vêm dos “setores economicamente mais fracos” da sociedade.

É ainda mais importante observar que 10.987 (55%) dos 20.121 alunos que já se formaram (os outros estão em treinamento, aguardando a conclusão de seus cursos) vêm de famílias com renda anual inferior a 100.000 rúpias, ou cerca de 1.111 euros por ano (calculados a uma taxa de câmbio de 1 euro = 90 rúpias). Essa é uma renda familiar de menos de 100 euros por mês. Isso significa que as famílias vivem com menos de 3 euros por dia. Estamos falando de famílias e não de indivíduos!

Renda familiar anual Renda familiar diária aproximada Total de jovens formados % dos jovens formados
Abaixo de 1 Lakh / Abaixo de 1.111 Euros Abaixo de  3 Euros 10.987 55%
1-3 Lakh Abaixo de 3-9 Euros 8144 40%
3-5 Lakh Abaixo de 9-15 Euros 469 2%
5-7 Lakh Abaixo de 15-21 Euros 161 1%
7 Lakh e mais 21 euros e mais 360 2%
Total geral   20.121 (+ 6.302 em aula)  
Observação: 1 euro = 90 rúpias

Após a educação gratuita, esses jovens pobres agora ganham uma média 10.000 rúpias por mês, o que fez com que sua renda anual pessoal fosse maior do que a renda familiar anual de suas famílias.

No contexto da necessidade de intervenções transformadoras baseadas em resultados, a Família Salesiana da Ásia Sul, com o papel principal desempenhado pelos jovens que são qualificados e empregados, está realmente formando “cidadãos honestos”. Os jovens que foram treinados e colocados no mercado de trabalho estão hoje contribuindo para a construção da nação. A renda anual gerada por esses alunos empregados após o treinamento gratuito é de cerca de 2.204.400.000 rúpias, o que equivale a cerca de 24.493.333 euros por ano.

A duração do treinamento varia de acordo com as áreas de intervenção. Os cursos de treinamento são oferecidos em vários setores: Agricultura e afins; Vestuário, maquiagem e mobília doméstica; Automóvel; Bancos e finanças; Beleza e bem-estar; Bens de capital; Construção; Eletrônica e hardware de TI; Processamento de alimentos; Móveis e acessórios; Empregos verdes; Artesanato e tapetes; Saúde; TI-ITES; Logística; Mídia e entretenimento; Administração de escritórios; Encanamento; Energia; Varejo; Turismo e hospitalidade e outros.

Deve-se notar também que, nos países em desenvolvimento, onde as meninas e as mulheres são mais fracas e indefesas, os serviços oferecidos pelos salesianos estão mais a serviço das mulheres: mais de 53% dos formandos que concluíram o curso são mulheres.

As histórias dos jovens que transformaram suas vidas, aproveitando as oportunidades oferecidas pelas obras salesianas, são muito importantes na narrativa do cuidado salesiano com os mais pobres.

Os salesianos receberam, de fato, o apoio de muitas pessoas generosas, fundações, empresas e governos para transformar tantos jovens desfavorecidos em cidadãos íntegros e produtivos. Somos verdadeiramente gratos a todos eles. Deus também abençoou a região com o crescimento das vocações salesianas.

Para obter mais informações, pode-se visitar o site da DBTech Índia, https://dbtech.in.

Esse trabalho, como nos diria Dom Bosco, é “nossa maior satisfação”! Dirige-se aos mais pobres. Envolve uma colaboração em larga escala entre entidades religiosas e seculares. É um grande exemplo de colaboração entre leigos. Dirige-se a todos os jovens: 72% dos jovens beneficiários pertencem à religião hindu, que é a religião mais numerosa na região da Ásia Sul.

Nas Memórias Biográficas, lemos as palavras de Dom Bosco: “Tentem sempre se ater às crianças pobres do povo. Não falhem em seu objetivo principal e deixem que sua sociedade sempre o tenha em vista: não aspirem a coisas maiores. […] Se educarem os pobres, se forem pobres, se não fizerem alarde, ninguém terá inveja de vocês, ninguém os procurará, eles os deixarão em paz e vocês farão o bem.” (MB IX, 566).

Apresentamos também alguns jovens que mudaram suas vidas depois do encontro com o carisma de Dom Bosco.

Adna Javaid

As lutas de Adna Javaid começaram em uma idade jovem. Ela cresceu na pobreza. Nasceu em Bemina, uma região no coração de Srinagar, a capital de verão de Jammu e Caxemira, na Índia. O pai de Adna, Javaid Ahmad Bhat, era um comerciante que mal conseguia sustentar a família. Ela abandonou a escola depois de concluir a 12ª série e ficou em casa por alguns anos. Ela queria perseguir seus sonhos, mas não conseguia encontrar uma maneira de realizá-los.
Apesar das circunstâncias difíceis, ela começou a escrever peças de teatro e a apresentá-las em pequenos locais de sua região. No entanto, seus primeiros esforços não foram bem-sucedidos e ela enfrentou uma rejeição depois da outra. Em 2021, Adna encenou sua primeira peça, “Sei que sou uma menina”, em sua comunidade. A peça foi mal recebida e Adna perdeu todas as suas economias. No entanto, ela continuou a ter fé e, aos poucos, construiu seu futuro.
Durante a mobilização do Don Bosco Tech em Srinagar, perto de sua localidade, Adna viu a equipe do Don Bosco Tech e conversou com eles sobre seus problemas. A equipe a convenceu a participar do treinamento e lhe garantiu assistência no emprego; então ela decidiu entrar para o CRM Domestic Voice Domain.

A descoberta de Adna veio em 2021, quando ela percebeu que estava mais perto de seus sonhos após o treinamento no Don Bosco Tech Training Centre em Srinagar. 
Desde então, Adna se tornou uma das figuras mais influentes e bem-sucedidas do setor de terceirização de processos de negócios. Apesar de enfrentar obstáculos e contratempos significativos, ela perseverou, continuou a trabalhar duro e acreditou em si mesma e em sua visão.
Atualmente, ela trabalha como executiva de processos de atendimento ao cliente no Banco J&K, com o apoio da DigiTech, Call System Pvt. Ltd, com um salário mensal de 12.101 rúpias.
Adna agora está muito satisfeita com sua vida e também está ajudando muitas meninas a participar de treinamentos profissionais no Don Bosco Tech Training Centre, Rajbagh, Srinagar.

Peesara Niharika

Peesara Niharika vem de uma localidade rural distante do centro Don Bosco Tech, em Karunapuram. Ela se formou com o apoio de seus pais, que são trabalhadores diaristas. Dificuldades e deficiências têm sido as palavras de ordem de sua vida desde muito cedo. Em um determinado momento de sua vida, chegou a abandonar a escola e sustentou seus pais financeiramente, trabalhando em uma fazenda com os moradores do lugar. Mas ela ansiava por buscar estudos superiores quando via seus colegas de classe indo para a universidade enquanto ela trabalhava no campo de arroz.
Um dia, enquanto procurava uma oportunidade de emprego, Niharika se deparou com a ala de mobilização em Karunapuram, organizada pela equipe do Don Bosco Tech Centre, e tomou a firme decisão de se inscrever no programa de treinamento profissional. Interessada em gestão de relacionamento com clientes, ela se inscreveu no programa CRM Domestic Non-Voice no Don Bosco Tech Centre, em Karunapuram.
Ela foi muito ativa e versátil durante o programa de treinamento, tentando se comunicar de forma eficaz com todos os participantes de seu grupo. Ela tem vários talentos, com habilidades como dançar, cantar e tocar, e espalha com entusiasmo a positividade ao seu redor. Graças às sessões de habilidades para a vida, ela conseguiu se livrar da timidez e do medo do palco.

Na época da entrevista, ela foi contratada pela Ratnadeep em Hyderabad para o cargo de Representante de Atendimento ao Cliente com um salário de 14.600 rúpias por mês, incluindo seguro. Agora ela pode cuidar de sua família e sustentar seus pais, que são extremamente gratos à Don Bosco Tech Society pela enorme transformação na vida de sua filha. Niharika afirma com veemência que sua jornada no centro Don Bosco Tech Karunapuram permanecerá uma lembrança feliz para o resto de sua vida.

Chanti V.

A diferença entre quem és e quem queres ser é o que fazes”.
Chanti vem de uma família de baixa renda em Vepagunta, Vishkapattanam. Depois de concluir o ensino médio, ele queria fazer um curso superior, mas não podia arcar com as despesas das mensalidades. Foi então que ele ficou sabendo do centro de treinamento Don Bosco Tech em Sabbavaram por meio de um amigo da vizinhança e de uma atividade de mobilização em seu vilarejo. Ele ficou sabendo pelos conselheiros que esse instituto oferece treinamento gratuito com certificações da National Skill Development Corporation.
Depois de se matricular no Don Bosco Tech, além do curso de comércio eletrônico, Chanti também aprendeu inglês falado e a usar um computador. Os instrutores ainda se lembram de que, em seu primeiro dia no Don Bosco Tech, notaram sua pouca habilidade de comunicação e seu conhecimento mínimo de informática. Em seu vilarejo, não havia um sistema educacional adequado nem instalações que lhe permitissem adquirir essas habilidades. Mas sua perseverança para consolidar o aprendizado de uma nova matéria e a necessidade de um emprego melhor convenceram os instrutores a colocá-lo no setor de comércio eletrônico.
Ele conseguiu um emprego na empresa Ecom Express como garoto de recados. Depois de perceber seu talento, a empresa lhe deu mais responsabilidades e agora ele ganha 20.000 rúpias por mês.

Ele e seus pais estão extremamente felizes com sua conquista. Ele é muito grato ao Instituto por ter feito dele o que ele é hoje. Ele agora se tornou um exemplo inspirador para os meninos de sua aldeia que estão lutando para encontrar um emprego decente. Ele informou muitos deles sobre a DB Tech, Sabbavaram, e muitos expressaram o desejo de se matricular no instituto.

Klerina N Arengh

Klerina N Arengh, de Meghalaya, concluiu seu 10º ano em 2009 como candidata particular. Então, ela ouviu falar da Don Bosco Tech Society, que oferece treinamento gratuito e colocações fora do estado. Ela ficou muito interessada e decidiu participar do treinamento.
Ela se inscreveu no curso Skill Meghalaya F&B Service Associate Batch-2 no centro Don Bosco Tech em Shillong. Todos os seus colegas de classe eram mais jovens do que ela, então a maioria deles a provocava e a chamava de mãe, mas ela os ignorava.
Ela era muito pontual, respeitosa e aprendia muito bem. Ela aprendia tudo mais rápido do que seus colegas de grupo. Durante os dois meses de treinamento, ela demonstrou disciplina e obteve excelentes resultados. Finalmente, depois de concluir o treinamento, a DB Tech ofereceu a ela um emprego no JW Marriott Sahar Mumbai, como Administradora, com um salário mensal de 15.000 rúpias.
Ela é muito grata à DBTech e à MSSDS Skill Meghalaya por lhe darem a oportunidade de ganhar a vida decentemente. Agora, com o salário, ela poderá sustentar financeiramente seus pais.

dom Biju Michael, SDB
Conselheiro Geral para a Ásia Sul