Rumo a uma visão missionária renovada

As missões salesianas no exterior, uma das características da Congregação fundada por São João Bosco, iniciadas durante a sua vida, continuam, mesmo que os conceitos de missão e de missionários tenham mudado devido às necessidades dos tempos.

Hoje nos encontramos em um contexto diferente dos projetos missionários que expandiram a Congregação para a América (1875), Ásia (1906) e África (1980). Novas perspectivas e questões trouxeram novas reflexões missiológicas. Uma visão renovada das missões salesianas é necessária com urgência.

Em muitos países, inclusive naqueles de antiga tradição cristã, há centros urbanos, ou bairros, onde vivem pessoas que não conhecem Jesus; outras que, depois de conhecê-lo, o abandonaram; ou ainda outras que vivem sua fé como tradição cultural. Portanto, hoje “as missões” não podem ser entendidas apenas em termos geográficos, de movimento para “terras de missão” como no passado, mas também em termos sociológicos, culturais e até digitais. Hoje, as “missões” são encontradas onde quer que haja a necessidade de proclamar o Evangelho. E os missionários vêm dos cinco continentes e são enviados aos cinco continentes.

Os missionários salesianos colaboram com a Igreja no cumprimento da sua missão de evangelizar (Mt 28,19-20). Anunciar o Evangelho, especialmente aos jovens, é a primeira tarefa missionária de todo salesiano. As iniciativas salesianas para a promoção humana, motivadas por uma fé profunda, são um Primeiro Anúncio de Jesus Cristo. Como educadores-pastores, todos os salesianos apreciam os “raios da Verdade” nas culturas e em outras religiões. Em contextos onde o nome de Jesus não pode sequer ser mencionado, nós o proclamamos com o testemunho de vida salesiana pessoal e comunitária. É a intencionalidade na promoção do Primeiro Anúncio que pode nos ajudar a superar o perigo de sermos vistos como prestadores de serviços sociais ou assistentes sociais, em vez de testemunhas do primado de Deus e proclamadores do Evangelho.

Os jovens missionários salesianos de hoje trazem um novo paradigma de missões e um modelo renovado de missionários: o missionário salesiano não é apenas aquele que dá, que traz projetos e talvez arrecade dinheiro, mas sobretudo aquele que vive com o seu povo, que dá grande importância às relações interpessoais; ele não apenas ensina, mas sobretudo aprende com as pessoas a quem serve, que não são apenas receptoras passivas de seus esforços. De fato, não é o fazer que conta, mas o ser, que se torna uma proclamação autorizada de Jesus Cristo.

Ainda existem missionários salesianos que oferecem suas vidas pelo testemunho de Jesus? Sim, e eles não vêm mais da Europa como antigamente, mas vêm de todo o mundo e vão a todo o mundo. Apresentamos alguns jovens missionários que responderam ao chamado divino.

Falamos do malgaxe Francisco Tonga, de 28 anos, que foi como missionário à Albânia para dar testemunho de sua identidade religiosa cristã e salesiana. Sua tarefa como tirocinante na casa salesiana da capital, Tirana, é coordenar as aulas de mais de 800 crianças. Não é um desafio pequeno aprender a língua e compreender a cultura albanesa, dar testemunho em um contexto de maioria muçulmana, mesmo que – graças a Deus – não se viva em uma situação de choque entre religiões, mas de respeito mútuo. É um testemunho feito de presença e assistência entre crianças pobres e marginalizadas, e de oração pelos jovens que eles encontram todos os dias. E a resposta não demora a chegar: os jovens, os pais e os colaboradores ajudam e oferecem boa acolhida.

Esse também é o caso de outro jovem de 28 anos, Joel Komlan Attisso, togolês de origem, que aceitou ser enviado como tirocinante missionário para a Escola Secundário Técnica Dom Bosco, em Kokopo, na Província de Nova Bretanha Oriental, em Papua Nova Guiné. A missão, com a graça de Deus, de sermos chamados e enviados para servir a todos – e especialmente aos jovens – já dá frutos: acolhimento, abertura, ajuda e amor são trocados, mesmo que se pertença a realidades culturais diferentes. Isso nos traz à mente o sonho de Dom Bosco sobre a Oceania, quando ele viu uma multidão de jovens dizendo: “«Venham em nosso auxílio! Por que não fazem o trabalho que seus padres começaram?». […] Parece-me que tudo isso junto indica que a Providência divina estava oferecendo uma parte do campo evangélico aos salesianos, mas em um momento futuro. Seus trabalhos darão frutos, porque a mão do Senhor estará constantemente com eles, se não desmerecerem o seu favor”.

Falamos também do vietnamita José Thuan Thien Truc Tran, 30 anos, coadjutor salesiano, formado em ciências da computação, enviado a Juba, no Sudão do Sul, onde não faltam compromissos: três escolas primárias, uma escola secundária, uma escola técnica, uma paróquia, um campo para deslocados e um pré-noviciado; no total, um complexo de cerca de 5 mil alunos. Atraído pelo testemunho de um salesiano que trabalhou como médico no Sudão, o padre João Lee Tae Seok decidiu dizer o seu “sim” de total disponibilidade para ser enviado à missão indicada pelos superiores, confiando exclusivamente na fé e na graça de Deus, tão necessárias em um dos países considerados entre os mais perigosos do mundo.

Outro jovem salesiano tirocinante que se disponibilizou para as missões é Rolphe Paterne Mouanga, da República do Congo (Congo-Brazzaville ou antigo Congo Francês). Enviado à casa salesiana “Dom Bosco Central”de Santa Cruz, na Bolívia, em um trabalho que inclui oratório, escola primária, escola secundária e paróquia, ele é um dos dois primeiros missionários da África nesse país, junto com seu compatriota Davi Eyenga. Suas origens africanas o ajudam a se familiarizar com os jovens, que ficam curiosos e interessados em conhecê-lo, e esse relacionamento é fortalecido por meio do esporte, para o qual ele tem grande inclinação. A diversidade cultural da Bolívia é um verdadeiro desafio, pois não se trata apenas de se integrar à cultura local, mas também de ser flexível para se adaptar a todas as situações. Entretanto, a abertura, a aceitação, a cooperação e o compartilhamento dos jovens e dos colegas de trabalho o ajudam nessa empreitada. Ele quer se mostrar aberto e disposto a se integrar com o que ele agora considera “seu povo”.

O outro compatriota de Rolphe, Davi Eyenga, também foi enviado à Bolívia, mas para a casa salesiana de Kami, em Cochabamba: uma presença salesiana complexa que inclui uma escola técnica agrícola, uma paróquia, uma obra de assistência e promoção social, um internato e até uma estação de rádio. As diferenças culturais também são fortemente sentidas nessa área, na maneira como se relacionam com os outros, especialmente em termos de hospitalidade, refeições, danças e outras tradições locais. Isso exige muita paciência para que possa se relacionar com a mentalidade local. Esperamos e oramos para que a presença dos missionários também seja um estímulo para as vocações locais.

Emanuel Jeremias Mganda, 30 anos, de Zanzibar, Tanzânia, é outro jovem que aceitou o chamado de Deus para a missão. Ele foi enviado para a Amazônia, no Brasil, entre os Yanomami, uma tribo indígena que vive em comunidades em Maturacá. Suas tarefas educacionais no oratório e na atividade religiosa o enriqueceram pastoral e espiritualmente. A acolhida que recebeu, também demonstrada no nome dado, “YanomamiInshiInshi” (Yanomami Negro), fez com que ele se sentisse como um deles, ajudou-o muito a se integrar, entender e compartilhar o amor pela Criação e a proteção desse bem de Deus.

Há esperança de que as missões iniciadas por Dom Bosco, há quase 150 anos, continuem? Que o sonho de Dom Bosco – ou melhor – que os sonhos de Dom Bosco se tornem realidade? Só há uma resposta: a vontade divina não pode falhar, basta que os salesianos abram mão de seus confortos e comodidades e estejam dispostos a ouvir o chamado divino.




O olhar de Dom Bosco

Mas quem acreditaria nisso? Com essa visão, Dom Bosco… viu tantas coisas!
Um velho sacerdote, ex-aluno de Valdocco, escreveu em 1889: “O que mais se destacava em Dom Bosco era seu olhar, doce mas penetrante até as profundezas do coração, que dificilmente se resistia a olhar para ele. Portanto, pode-se dizer que seu olhar atraía, intimidava, aterrissava no propósito desejado. Em minhas viagens pelo mundo nunca encontrei uma pessoa cujo olhar fosse mais impressionante que o dele. Geralmente retratos e pinturas não revelam essa singularidade, e me fazem dele um bom homem.
Outro ex-aluno dos anos 70, Pedro Pons, revela em suas recordações: “Dom Bosco tinha dois olhos que furavam e penetravam na mente… Ele andava por aí falando e olhando para todos com aqueles dois olhos que giravam para todos os lados, eletrizando os corações com alegria”.
O salesiano P. Pedro Fracchia, aluno de Dom Bosco, recordou um encontro que teve com o santo sentado à sua mesa. O jovem ousou perguntar-lhe por que escrevia assim de cabeça baixa e se virava para a direita, acompanhando a caneta. Dom Bosco, sorrindo, respondeu-lhe: “A razão é esta, veja! Deste olho Dom Bosco não enxerga mais, e deste outro bem pouco, bem pouco”. – “O senhor enxerga tão pouco mesmo? Mas então como é que outro dia, no pátio, enquanto eu estava longe, o senhor me lançou um olhar tão vivo, tão brilhante, tão penetrante como um raio de sol”? – “Mas vá lá…! Vocês pensam e veem logo quem sabe o quê…!”
E no entanto era assim. E os exemplos podiam ser multiplicados. Com seu olhar perscrutador, Dom Bosco penetrava e adivinhava tudo nos jovens: o caráter, a sagacidade, o coração. Alguns deles tentavam de propósito escapar de sua presença, porque não conseguiam suportar seu olhar. O Padre Domingos Belmonte assegurou que tinha testemunhado pessoalmente o fato: “Muitas vezes Dom Bosco olhava para um jovem de maneira tão especial que seus olhos diziam o que os lábios não expressavam naquele momento, e lhe faziam compreender o que ele queria deles”.
Muitas vezes, com seu olhar, ele seguia um jovem no pátio, enquanto conversava com os outros. De repente, o olhar do jovem encontrava o de Dom Bosco e ele o compreendia. Aproximava-se dele para lhe perguntar o que queria dele e Dom Bosco lhe sussurrava ao ouvido. Talvez fosse um convite à confissão.
Uma noite um aluno não conseguia pegar no sono. Ele suspirava, mordia os lençóis, chorava. O colega que dormia ao seu lado, acordado por essa agitação, perguntou-lhe: “Qual é o seu problema? O que se passa com você?” – “O que há de errado comigo? Ontem à noite Dom Bosco olhou para mim”. – “Grande coisa! Isso não é novidade. Não é preciso perturbar todo o dormitório por causa disso!” – Pela manhã ele contou a Dom Bosco e ele respondeu: “Pergunte-lhe o que sua consciência lhe diz”! Pode-se imaginar o resto.

Mais testemunhos na Itália, na Espanha e na França

Dom Bosco aos 71 anos – Sampierdarena, 16 de março de 1886

O P. Miguel Molineris, em sua Episódios da vida de Dom Bosco, publicado postumamente no Colle, em 1974, relata outra série de testemunhos sobre o olhar de Dom Bosco. Referimos apenas três deles, também para lembrar esse estudioso do santo que, além do mais, teve um conhecimento único dos lugares e das pessoas da infância de Dom Bosco. Mas vejamos os testemunhos que ele recolheu.
Dom Félix Guerra, recordando pessoalmente a vivacidade do olhar de Dom Bosco, declarou que ele penetrava como uma espada de dois gumes a ponto de sondar os corações e comover as consciências. Mas “de um olho ele não podia enxergar e mesmo o outro lhe era de pouca utilidade!”.
O Padre João Ferrés, pároco de Gerona, na Espanha, que viu Dom Bosco em 1886, escreveu que “tinha olhos muito vivos, um olhar penetrante… Olhando para ele, senti-me obrigado a inclinar-me e examinar como estava a minha alma”.
O Sr. Accio Lupo, porteiro do Ministério Francisco Crispi, que havia apresentado Dom Bosco ao escritório do estadista, lembrou-se dele como “um sacerdote muito magro… com olhos penetrantes!”

E finalmente, recordamos as impressões recolhidas de suas viagens à França. O Cardeal João Cagliero relatou o seguinte fato, que ele viu pessoalmente quando acompanhou Dom Bosco. Depois de uma conferência realizada em Nice, Dom Bosco deixou o presbitério da igreja para ir até a porta, cercado pela multidão que não o deixava andar. Um indivíduo de aparência sombria estava imóvel, observando-o como se estivesse tramando algo ruim. Dom Cagliero, que estava de olho nele, inquieto com o que poderia acontecer, viu o homem se aproximando. Dom Bosco dirigiu-se a ele: “O que o senhor deseja? – Eu? Nada!”. – “Mas o senhor parece ter algo a me dizer”. – “Não tenho nada a lhe dizer” – “O senhor quer se confessar?” – “Confessar-me? Nem por sonho!” – “Então o que o senhor está fazendo aqui?” – “Estou aqui porque… não posso ir embora!” – “Entendi… Senhores, deixem-me a sós por um momento”, disse Dom Bosco aos que o rodeavam. Os vizinhos se afastaram, Dom Bosco sussurrou algumas palavras ao ouvido daquele homem que, caindo de joelhos, se confessou ali no meio da igreja.
Mais curioso foi o acontecimento em Toulon, que aconteceu durante a viagem de Dom Bosco à França, em 1881.
Depois de uma conferência na igreja paroquial de Santa Maria, Dom Bosco, com um prato de prata na mão, deu a volta à igreja pedindo esmola. Quando Dom Bosco apresentava o prato, um operário virou o rosto, encolhendo rudemente os ombros. Dom Bosco, de passagem, olhou-o com carinho e disse: “Deus o abençoe! – Então o operário meteu a mão no bolso e colocou um centavo no prato. Dom Bosco, olhando-o de frente, lhe disse: – Deus o recompense! – O outro, repetindo o gesto, ofereceu dois centavos. E Dom Bosco: – Oh, meu caro, que Deus o recompense cada vez mais! – O homem, ouvindo isso, pegou sua bolsa e deu um franco. Dom Bosco deu-lhe um olhar cheio de emoção e foi embora. Mas aquele homem, como atraído por uma força mágica, o seguiu pela igreja, foi atrás dele até a sacristia, saiu atrás dele para a cidade e não deixou de segui-lo até vê-lo desaparecer. O poder do olhar de Dom Bosco!
Jesus disse: “Os olhos são como a lâmpada para o corpo; se seus olhos são bons, você estará totalmente na luz”.
Os olhos de Dom Bosco estavam totalmente na Luz!




O carisma da presença e da esperança. Um ano de viagem com o P. Ángel

A desaceleração da pandemia permitiu ao Reitor-Mor retomar suas viagens para encontrar a Família Salesiana em todo o mundo, para animá-la a viver e transmitir o carisma do santo fundador, São João Bosco. Espanha, Zimbábue, Zâmbia, Tailândia, Hungria, Brasil, Índia, Itália, Croácia, Estados Unidos e Peru acolheram e escutaram o sucessor de Dom Bosco. Apresentamos a introdução do livro que conta a história dessas viagens.

O globe-trotter do carisma salesiano

O livro que tenho a honra de apresentar é muito especial: é a crônica da viagem ao redor do mundo feita pelo Reitor-Mor dos Salesianos nos últimos quinze meses (do início de 2022 até março de 2023), dedicada a visitar as casas de uma Congregação que está presente há muito tempo em todos os continentes e que constitui a maior “família religiosa” da Igreja Católica. É uma família que atua em 136 países do mundo, cujas dimensões globais levam seu presidente (e seus colaboradores mais próximos) a viver continuamente de mala na mão, para encontrar os irmãos e irmãs espalhados nas várias nações, para conhecer as situações específicas, para monitorar a eficácia, nas diferentes culturas, do carisma educativo de Dom Bosco, que é a marca registrada dessa singular “multinacional” da fé.

O livro, portanto, ilustra uma das tarefas mais importantes ligadas ao papel do Reitor-Mor dos Salesianos, a de guiar uma Congregação mundial não apenas remotamente (permanecendo na sede em Roma), mas tanto quanto possível “de visu” [presencialmente], uma vez que, mesmo na era digital, as relações face a face, o conhecimento pessoal, a partilha de experiências, o “estar lá” em certos momentos “particularmente importantes”, representam o valor agregado de todo empreendimento humano e espiritual. Um valor, além disso, que é totalmente compatível com os traços humanos do P. Ángel Fernández Artime, o décimo sucessor de Dom Bosco, que desde que está à frente da Família Salesiana (desde 2014) já visitou cerca de 100 obras em todo o mundo; dessa forma, alinhando-se (em uma escala mais limitada, é claro) com o estilo “globe-trotter” do catolicismo que caracterizou os pontífices mais recentes, especialmente João Paulo II e o papa atual.
A turnê mundial do P. Artime, depois de ter sofrido uma interrupção forçada em 2020-2021 (devido ao surto da pandemia em todos os lugares), retomou seu curso com vigor renovado em 2022, com uma série de etapas que gradualmente o levaram a solo ibérico, em dois países africanos (Zimbábue e Zâmbia), nas pegadas da missão salesiana na Tailândia, na Hungria, na França, em Brasília e Belo Horizonte, em seis inspetorias da Índia (em dois períodos diferentes), na Croácia, nos Estados Unidos e no Canadá, no Peru e em algumas regiões italianas.

Visitas gerais, não apenas celebrações

Viedma, Argentina – março de 2023

As imagens da “sonata e fuga” ou da mera celebração de eventos importantes não combinam com as visitas do Reitor-Mor. Sua presença é frequentemente solicitada pelas casas ou inspetorias salesianas para celebrar um marco significativo em sua história, como o centenário ou o cinquentenário da fundação, o início de uma nova obra, a profissão dos votos ou a ordenação sacerdotal de novos irmãos, a comemoração de figuras salesianas exemplares para as diversas terras e para toda a Igreja. A intenção celebrativa, porém, é sempre parte de um encontro rico de conteúdos e de comparações sobre o estado de saúde do carisma salesiano na realidade local.

Daí o caráter multifacetado dessas visitas, marcadas por momentos de festa e de olhares para o alto, de corte de fita e de discernimento, de envolvimento afetivo e de compromissos recíprocos, de relato da situação e de atenção aos desafios educativos; todos os momentos que envolvem os vários ramos da grande família (Salesianos, Filhas de Maria Auxiliadora, ex-alunos, etc.), muitas vezes também os Bispos, e toda a Igreja; mas especialmente os jovens, cuja escuta e protagonismo está no DNA da pedagogia salesiana.
O sucessor de Dom Bosco não é apenas homenageado (e, nas áreas mais “quentes” do globo, “recebido como um rei”, honrado com as “vestes e os símbolos das autoridades locais”); mas é também objeto de grandes expectativas, de uma “palavra” que tranquiliza e amplia os horizontes. Aqui emerge uma das características mais preciosas dessas visitas “ad gentes”: a atitude do Reitor-Mor de atuar como “vaso comunicante”, como “conector”, entre o que a Família Salesiana vive e projeta nas diversas áreas do mundo: do ritmo maduro, reflexivo, às vezes cansado, observado no velho continente, ao dinamismo presente na África e no Oriente; das “boas práticas” existentes em alguns países às dificuldades e aos problemas encontrados em outros. Outra comparação diz respeito à recepção, nas várias inspetorias salesianas, das indicações que emergiram do último Capítulo Geral da Congregação (o 28º), para garantir que todos estejam sintonizados com os objetivos comuns.
E é na ligação entre as diversas áreas e “almas” salesianas do mundo que o Reitor-Mor fala dos “milagres” que testemunha. Quando lembra a todos que o que engrandece a Congregação são, sobretudo, as presenças “mínimas”, como aquele missionário salesiano da República Tcheca que vive na Sibéria, no meio do gelo, e tem uma comunidade a 1000 km de distância, à qual consegue se unir não mais do que uma vez por mês; uma ocasião abençoada pelos fiéis do lugar, que os faz dizer que “Deus não se esqueceu de nós”.
Ou ainda quando leva ao conhecimento de todos o resgate de uma terra que, em dezembro de 2004, foi atingida pelo maior desastre natural dos tempos modernos, o tsunami que causou 230.000 mortos, milhares de desaparecidos e destruiu regiões inteiras. Precisamente em uma das áreas mais atingidas, renasceu uma casa salesiana para acolher muitos órfãos, que estão florescendo novamente depois de muitos anos: “12% desses meninos/meninas de Dom Bosco foram para a universidade; 15% continuaram seus estudos técnicos em nossas escolas profissionalizantes; mais de 50%, depois de terminarem a escola pública, encontraram um emprego com o qual começar suas vidas de forma independente”.

As palavras-chave
Há um “leitmotiv” em todas essas visitas: a evocação de certas palavras-chave que reafirmam a missão particular dos filhos de Dom Bosco, chamados a cuidar dos jovens, mas com uma atenção e um método distintos, com uma pedagogia “salesiana” de fato, que foi objeto de longa reflexão ao longo da história. Alguns desses “ícones” são os aforismos introduzidos pelo santo fundador para resumir as suas intuições educativas; outros são mais recentes, mas têm a mesma natureza, servem para atualizar o carisma salesiano ao longo dos anos, diante de novos e exigentes desafios.

Os relatórios das visitas do Reitor-Mor às casas salesianas de todo o mundo estão repletos desses apelos. Antes de tudo, “acreditar nos jovens”, “ser fiéis aos jovens”, confiar no seu potencial, transmitir confiança; isto implica não ter preconceitos em relação a eles, acompanhá-los com empatia em seu caminho, apoiá-los nos momentos difíceis, compartilhar valores e inspirar liberdade.
Incluído no apelo à confiança está o compromisso de “dar vida aos sonhos dos jovens”, de fazê-los pensar grande novamente, de não viver com as asas cortadas; um aviso que parece mais aplicável às novas gerações em sociedades maduras (no Ocidente) do que àquelas em países emergentes.

Austrália – abril de 2023

Há também muitas referências a dois conceitos (amor e coração) muito maltratados na cultura contemporânea, mas que na pedagogia de Dom Bosco representam os pontos fortes de uma perspectiva educativa: “amar os jovens”, fazê-los entender que “os amamos” (dedicamos a vida por eles) e “fazer-se amar”; imagens estas que derivam diretamente da grande intuição do Santo de que “a educação é coisa do coração”.
Outras imagens fecundas são aquelas dedicadas à duradoura “atualidade do sistema preventivo” e ao critério que pode torná-lo eficaz: aquele “sacramento salesiano da presença entre os jovens” (como definiu o Reitor-Mor) que favorece o conhecimento, produz a partilha, cria intercâmbio e paixão educativa.
O ícone mais recente é o convite sincero a todas as comunidades salesianas do mundo para “serem outra Valdocco”, para permanecer fiéis às características essenciais de uma missão nascida no século XIX em Turim, mas que tem valor universal no tempo e no espaço. Ser “outra Valdocco” significa renovar em todas as latitudes a escolha do campo da educação popular, dedicando a própria vida àquela parte da sociedade que no tempo de Dom Bosco era a “juventude pobre e abandonada”, e que hoje assume o perfil da juventude desfavorecida, “em risco”, explorada e descartada pela sociedade, isto é, daqueles que habitam as periferias urbanas e existenciais. “Valdocco” é o símbolo do “bairro humano” global ao qual se deve dar cidadania, que deve descobrir seu protagonismo, para a plena inclusão/emancipação na sociedade.

Ambientes cada vez mais multiculturais
A volta ao mundo do Reitor-Mor torna evidente também como a fisionomia da Congregação está mudando, como resultado dos recentes fluxos migratórios do Sul e do Leste do mundo (em parte devido a eventos/situações dramáticas) em direção ao Velho Continente e à América do Norte; de uma evolução demográfica que se aglomera nos países emergentes e sobrecarrega as nações mais desenvolvidas; e, de modo mais geral, por causa da tendência à miscigenação das populações no planeta Terra.

Zâmbia – abril de 2022

O ambiente salesiano (como todo o catolicismo) também está envolvido nessas dinâmicas e não cessa de modificar-se. A África e o Oriente são hoje as áreas mais generosas de vocações e com a maior porcentagem de salesianos em formação; por isso, de terras de missão, estão gradualmente destinadas a ter um peso sempre maior no equilíbrio da Congregação.

Em todas as latitudes, as casas salesianas acolhem jovens de culturas diversas, muitas vezes de religiões e etnias diferentes; porque o carisma de Dom Bosco (embora nascido em um contexto cultural e religioso particular) não conhece fronteiras “confessionais”, contagia também aqueles que vivem e creem de outra forma. Assim, essa impressão multicultural caracteriza hoje muitos ambientes salesianos (oratórios e escolas) na Europa e na América do Norte, e é uma característica constitutiva das obras dos filhos de Dom Bosco na Ásia, na África e na América Latina. Na Ásia, por exemplo, os salesianos estão presentes em áreas onde a população é 90% muçulmana ou budista, em um contexto que, por um lado, os desafia profundamente e, por outro, exige diálogo e confronto. Nessas terras contaminadas por culturas e religiões diferentes, nesses laboratórios de confronto antropológico, há toda uma bagagem de reflexões e experiências que merece ser recolhida e aprofundada; também para melhor posicionar uma Congregação e uma Igreja chamada a testemunhar uma mensagem específica em um mundo sempre mais global.

Novos desafios educacionais
Como já foi falado, a Congregação sempre considerou a educação dos jovens como sua tarefa inalienável e como um desafio. Mas é um desafio que assume características particulares, dependendo dos momentos históricos. Hoje, de acordo com os diálogos do P. Artime com os jovens que ele encontrou em sua turnê mundial, emergem algumas prioridades dignas de nota nesse campo.
Por um lado, a educação deve se adaptar à cultura digital que agora permeia a experiência das novas gerações, cujo grande potencial deve ser compreendido dentro da estrutura de um uso harmonioso, para evitar desequilíbrios ou consequências penalizantes. A proposta de criação de “pátios digitais”, que circula nos círculos salesianos, responde, portanto, a essa necessidade, não demonizando um instrumento que hoje é vital, mas inserindo-o em uma abordagem construtiva.

Por outro lado, “preparar os jovens para a vida” envolve também – na época atual – a atenção que as novas gerações devem prestar à questão ambiental, ao cuidado e à proteção de uma criação ameaçada por um sistema mundial insensato, pelo qual os adultos têm uma séria responsabilidade, mas cujos imensos custos serão suportados pelos jovens. Eis, portanto, outra peça que enriquece e atualiza o projeto educativo.
Aqui e ali, nos ambientes salesianos (e nos jovens que os frequentam), percebe-se um interesse maior pelo “compromisso político”, entendido em sentido amplo, como contribuição para a realização de uma sociedade mais humana, menos desigual, mais inclusiva.

Tailândia – maio de 2022

Foi isso que emergiu, em particular, durante a visita do Reitor-Mor ao Peru e aos Estados Unidos, onde o discurso educativo e o voluntariado social são certamente considerados pelos jovens como atividades “pré-políticas”, mas que devem ser cada vez mais entendidas como um compromisso com a justiça social, com a redução das desigualdades, com a possibilidade de uma vida digna para todos. O lema de Dom Bosco de formar os jovens para “serem bons cristãos e honestos cidadãos” assume aqui uma nova ênfase, mais congruente com as sensibilidades e os desafios dos tempos atuais.

Finalmente, as fotos
Por fim, há as fotografias espalhadas por essa extensa crônica, que falam mais do que palavras, testemunhando a atmosfera da longa jornada, dando espaço a rostos, posturas, sentimentos. Onde o décimo Sucessor de Dom Bosco aparece presidindo a Eucaristia ou em mangas de camisa, rodeado de jovens ou de coirmãos: os dois ícones de um estilo salesiano que vê na sua presença com os jovens um sinal da benevolência de Deus.

Franco GARELLI
Universidade de Turim




Servos de Deus João Świerc e oito Companheiros de martírio. Pastores que doaram suas vidas

As ideologias extremistas, ou seja, as ideias elevadas à categoria de verdades absolutas, sempre trazem sofrimento e morte quando querem se impor a qualquer custo contra aqueles que não as aceitam. Às vezes, basta pertencer a uma nação ou a um grupo social para sofrer as consequências. Esse é o caso dos mártires salesianos poloneses apresentados neste artigo.

Ao número de vítimas do nazismo pertencem também nove sacerdotes salesianos poloneses, Servos de Deus P. João Świerc e os oito Companheiros: P. Inácio Antonowicz, P. Carlos Golda, P. Włodzimierz Szembek, P. Francisco Harazim, P. Ludovico Mroczek, P. Inácio Dobiasz, P. Casimiro Wojciechowski e P. Francisco Miśka, que foram mortos in odium fidei[por ódio à fé] nos campos de extermínio nazistas nos anos de 1941-1942. Como sacerdotes, todos os Servos de Deus estavam engajados na Polônia em várias atividades pastorais e de governo e no magistério. Eles não estavam envolvidos nas tensões políticas que agitaram a Polônia durante a ocupação em tempo de guerra. No entanto, foram presos e martirizados in odium fidei pelo simples fato de serem sacerdotes católicos.
A fortaleza e a perseverança serena preservadas pelos Servos de Deus no desempenho de seu ministério sacerdotal, mesmo durante a prisão, representaram um verdadeiro ato de desafio para os nazistas: embora exaustos pelas humilhações e pelas torturas, desafiando qualquer proibição, os Servos de Deus foram guardiões até o fim das almas que lhes foram confiadas e, apesar da fraqueza humana, se mostraram prontos a aceitar a morte com Deus e por Deus.
O campo de concentração de Auschwitz, conhecido por todos como o campo da morte, e o de Dachau para o P. Miśka, tornaram-se assim o lugar do compromisso sacerdotal desses padres salesianos: à negação da dignidade humana e da vida, o P. João Świerc e oito companheiros responderam oferecendo, através dos sacramentos, o poder da graça e a esperança da eternidade. Eles acolheram, sustentaram por meio da Eucaristia e da confissão e prepararam muitos companheiros de prisão para uma morte serena. Esse serviço não raramente era prestado às escondidas, aproveitando a escuridão da noite e sob a ameaça constante e premente de punições severas ou, mais frequentemente, da morte.
Os Servos de Deus, como verdadeiros discípulos de Jesus, nunca proferiram palavras de desprezo ou ódio contra seus perseguidores. Presos, espancados, humilhados em sua dignidade humana e sacerdotal, ofereceram seu sofrimento a Deus e permaneceram fiéis até o fim, certos de que aquele que confia tudo na vontade divina não fica desiludido. Sua serenidade interior e seu comportamento, manifestados até mesmo na hora da morte, foram tão extraordinários que deixaram seus carcereiros atônitos e, em alguns casos, irritados.
Apresentamos seus perfis biográficos.



Padre Inácio Antonowicz

Inácio Antonowicz nasceu em 1890 em Więsławice, condado de Włocławek, centro-norte da Polônia. Em 1901, ingressou no ginásio salesiano em Oświęcim, onde permaneceu até 1905. Entre 1905 e 1906, completou o noviciado em Daszawa. Fez sua profissão perpétua em agosto de 1909 na Itália, em Lanzo Torinese. Foi ordenado sacerdote em 22 de abril de 1916, em Roma. O padre Inácio lecionou dogmática no Estudantado Teológico de Foglizzo (Turim) entre 1916 e 1917. Em 1919, durante a Guerra Russo-Polonesa, foi capelão militar do exército polonês. Entre 1919 e 1920, esteve em Cracóvia como professor no Estudantado Teológico. Em 1º de julho de 1934, foi nomeado conselheiro da Inspetoria Polonesa de São Jacinto, em Cracóvia, até o final de 1936. Em 1936, assumiu o cargo de diretor do Estudantado Teológico Salesiano Imaculada Conceição, em Cracóvia, que ocupou até sua prisão em 23 de maio de 1941. Ficou detido por um mês na prisão de Montelupich, em Cracóvia, e depois foi levado para o campo de concentração de Oświęcim. Ele foi morto em 21 de julho de 1941. Tinha 51 anos de idade, 34 anos de profissão religiosa e 25 anos de sacerdócio.

Padre Carlos Golda

Carlos Golda nasceu em 23 de dezembro de 1914 em Tychy, na Alta Silésia. Depois de terminar a quarta série, foi para o ginásio “Boleslaw Chrobry” em Pszczyna. Ele cursou a sexta série no ginásio salesiano em Oświęcim. Em junho de 1931, foi para a Casa de Czerwińsk para iniciar o noviciado. Em 15 de janeiro de 1937, fez sua profissão religiosa perpétua em Roma. Em 18 de dezembro de 1938, foi ordenado sacerdote em Roma, onde permaneceu por mais seis meses para obter a licenciatura em Teologia. Em julho de 1939, retornou à Polônia. Estourou a Segunda Guerra Mundial e o P. Carlos foi para a Silésia em outubro de 1939 e depois para Oświęcim, onde permaneceu, pois as autoridades de ocupação não lhe permitiram viajar para a Itália. O padre Carlos Golda foi encarregado de lecionar teologia no Instituto Salesiano de Oświęcim e foi nomeado conselheiro escolar. Ele foi preso por oficiais da Gestapo em 31 de dezembro de 1941 e morto em 14 de maio de 1942, depois de apenas três anos e meio de sacerdócio.

Padre Włodzimierz Szembek

O Servo de Deus P. Włodzimierz Szembek, filho dos Condes Zygmunt e Klementyna da família Dzieduszycki, nasceu em 22 de abril de 1883 em Poręba Żegoty, perto de Cracóvia. Em 1907, ele se formou em engenharia agrícola na Universidade Jagiellonian, em Cracóvia. Por cerca de vinte anos, ele se envolveu na administração das propriedades de sua mãe e no apostolado leigo. Quando completou 40 anos, a vocação religiosa do Servo de Deus amadureceu. Em 4 de fevereiro de 1928, entrou para o aspirantado em Oświęcim. No final de 1928, começou seu noviciado em Czerwińsk. Fez sua profissão religiosa em 10 de agosto de 1929. Em 3 de junho de 1934, recebeu a ordenação sacerdotal em Cracóvia. Em 9 de julho de 1942, foi preso pela Gestapo e levado para Nowy Targ. No dia 19 de agosto seguinte, foi levado para o campo de concentração de Auschwitz, onde morreu em 7 de setembro de 1942, exausto pelo sofrimento e como resultado dos maus-tratos que sofreu. Ele tinha 59 anos de idade, 13 de profissão e 9 de sacerdócio.

Padre Francisco Harazim

Francisco Ludovico Harazim nasceu em 22 de agosto de 1885 em Osiny, distrito de Rybnik, na Silésia. Frequentou a escola primária primeiro em Baranowicze e depois em Osiny. Em 1901, entrou no Instituto Salesiano em Oświęcim para frequentar o ginásio. Completou o noviciado em Daszawa em 1905/1906. Em 24 de março de 1910, fez seus votos perpétuos. Foi ordenado sacerdote em Ivrea em 29 de maio de 1915.  Entre 1915 e 1916, lecionou no Ginásio Oświęcim, do qual foi nomeado diretor entre 1916 a 1918. Nos anos 1918-1920 lecionou filosofia no seminário maior salesiano de Cracóvia (Łosiówka). Nos anos 1922-1927, o Servo de Deus ocupou o cargo de diretor do ginásio salesiano em Aleksandrów Kujawski. Em 1927, voltou novamente ao seminário maior de Cracóvia como conselheiro, professor e educador dos clérigos. Em julho de 1938, o P. Francisco foi nomeado professor na casa de Cracóvia-Łosiówka. Ele foi preso pela Gestapo em Cracóvia em 23 de maio de 1941. Primeiro foi levado para a rua Konfederacka e depois, junto com os outros coirmãos, para a prisão de Montelupich. Um mês depois, em 26 de junho de 1941, foi levado para o campo de concentração de Auschwitz. Foi morto em 27 de junho de 1941 na famosa Ghiaione. Ele ainda não tinha completado 56 anos de idade: desses, 34 eram de profissão religiosa e 26 de sacerdócio.

Padre Ludovico Mroczek

Ludovico Mroczek nasceu em Kęty (Cracóvia) em 11 de agosto de 1905. Em 1917, depois de frequentar a escola em Kęty, foi admitido no instituto salesiano em Oświęcim, onde completou seus estudos ginasiais. Fez o noviciado em Klecza Dolna. Concluiu-o em 7 de agosto de 1922. Emitiu os votos perpétuos em 14 de julho de 1928 em Oświęcim. Em Przemyśl recebeu a ordenação sacerdotal em 25 de junho de 1933. Ordenado sacerdote, trabalhou em Oświęcim (em 1933), em Lviv (em 1934), em Przemyśl (em 1934 e em 1938/39), em Skawa (em 1936/37), em Częstochowa (em 1939). Em 22 de maio de 1941, assim que terminou de celebrar a missa, foi preso e transferido com outros coirmãos para o campo de concentração de Oświęcim. Lá ele morreu em 5 de janeiro de 1942: tinha 36 anos de idade, 18 anos de profissão religiosa e 8 anos de sacerdócio.

Padre João Świerc

João Świerc nasceu em Królewska Huta (hoje Chorzów, na Alta Silésia) em 29 de abril de 1877. Ele concluiu seus estudos ginasiais em Turin Valsalice. Entre 1897 e 1898, fez o noviciado em Ivrea. Aí emitiu seus votos perpétuos em 3 de outubro de 1899. Em 6 de junho de 1903, foi ordenado sacerdote em Turim. Em 1911, foi nomeado Diretor da Casa de Cracóvia pelo então Reitor-Mor, P. Paulo Álbera. De setembro de 1911 a abril de 1918, foi diretor do Instituto Lubomirski em Cracóvia. Em 1924, por um período de sete meses, esteve empenhado como missionário na América. De novembro de 1925 a outubro de 1934, foi diretor e pároco em Przemyśl. Em 15 de agosto de 1934, foi nomeado Diretor da Casa de Lviv. Em julho de 1938, assumiu o cargo de diretor e pároco da casa da Rua Konfederacka, 6, em Cracóvia, para o triênio de 1938 a 1941. Em 23 de maio de 1941, foi preso pela Gestapo junto com outros coirmãos e levado para a prisão em Montelupich. Em 26 de junho de 1941, foi transferido para o campo de concentração de Auschwitz e, depois de apenas um dia, foi morto: tinha 64 anos de idade, 42 anos de profissão religiosa e 38 anos de sacerdócio.

Padre Inácio Dobiasz

Inácio Dobiasz nasceu em Ciechowice (na Alta Silésia) em 14 de janeiro de 1880. Tendo completado a escola primária, em maio de 1894 foi para a Itália, para Turim Valsalice, para fazer seus estudos ginasiais. Em 16 de agosto de 1898, entrou no noviciado salesiano de Ivrea. Emitiu os votos perpétuos em São Benigno Canavese em 21 de setembro de 1903. Completou seus estudos filosóficos e teológicos em São Benigno Canavese e em Foglizzo, entre 1904 e 1908. Em 28 de junho de 1908, foi ordenado sacerdote em Foglizzo. Em seguida, retornou à Polônia: exerceu suas atividades pedagógicas e pastorais em Oświęcim (em 1908, 1910, 1921 e 1923), em Daszawa (em 1909), em Przemyśl (1912-1914) e em Cracóvia (entre 1916 e 1920 e em 1922). Em 1931, ele estava em Varsóvia como vigário. Em novembro de 1934, foi para Cracóvia, onde permaneceu como confessor e colaborador paroquial. Aqui foi preso junto com outros irmãos salesianos em 23 de maio de 1941. Depois de uma breve detenção na prisão de Montelupich, foi deportado para o campo de concentração de Auschwitz. Em 27 de junho de 1941, morreu de maus-tratos e trabalho desumano. Tinha 61 anos de idade, 40 anos de profissão e 32 anos de sacerdócio.

Padre Casimiro Wojciechowski

Casimiro Wojciechowsky nasceu em Jasło (Galícia) em 16 de agosto de 1904. Ficou órfão de pai quando tinha apenas cinco anos de idade e foi acolhido no instituto do Príncipe Lubomirski, em Cracóvia. Começou o ginásio em 1916 no Instituto Salesiano de Oświęcim. Em 1920, começou seu noviciado em Klecza Dolna. Emitiu os votos perpétuos em 2 de maio de 1928 em Oświęcim. Entre 1924 e 1925 ensinou música e matemática em Ląd. Em 19 de maio de 1935, foi ordenado sacerdote em Cracóvia. Entre 1935 e 1936 esteve em Daszawa e em Cracóvia, onde lecionou religião e foi nomeado diretor do oratório e da Associação da Juventude Católica. O Servo de Deus foi preso em Cracóvia em 23 de maio de 1941 com outros irmãos salesianos. Em 26 de junho de 1941, foi deportado para o campo de concentração de Auschwitz, onde, depois de apenas um dia, foi morto. Tinha 37 anos de idade, 19 de profissão e 6 de sacerdócio.

Padre Francisco Miśka

Francisco Miśka nasceu em Swierczyniec (Alta Silésia) em 5 de dezembro de 1898. Concluiu o ginásio no Instituto Salesiano de Oświęcim. Entrou no noviciado em Pleszów em 1916. Fez sua profissão perpétua em Oświęcim em 25 de julho de 1923. Completou seus estudos teológicos em Turim-Crocetta. Foi ordenado sacerdote em 10 de julho de 1927, em Turim. Em seguida, retornou à Polônia. Em 1929, foi nomeado conselheiro e catequista no orfanato de Przemyśl. Em 1931 e nos cinco anos seguintes, esteve em Jaciążek como diretor. Em 1936, foi nomeado pároco da paróquia de Ląd. Em 1941, tornou-se diretor da casa dos Filhos de Maria e pároco de Ląd. Em 6 de janeiro de 1941, o instituto salesiano de Ląd foi transformado pela Gestapo em prisão para os sacerdotes da diocese de Włocławek e Gniezno-Poznań. As autoridades alemãs confiaram ao padre Francisco a tarefa de manter a ordem e cuidar dos prisioneiros. Por motivos não especificados, foi transferido várias vezes para Inowrocław e lá foi brutalmente torturado. Em 30 de outubro de 1941, o Servo de Deus foi transportado para o campo de concentração de Dachau (Alemanha). Lá, submetido a trabalhos forçados e condições de vida desumanas, morreu em 30 de maio de 1942, dia da Santíssima Trindade, no quartel-hospital do campo. Ele tinha 43 anos de idade, quase 25 anos de profissão religiosa e quase 15 anos de sacerdócio.

A fama da santidade e do martírio dos Servos de Deus P. João Świerc e oito Companheiros, embora tenha sido prejudicada durante o período comunista, espalhou-se assim que eles morreram e continua viva até hoje. Eles eram considerados sacerdotes exemplares, dedicados ao trabalho pastoral e às obras de caridade, afáveis, sempre disponíveis, interessados em dar glória somente a Deus, por cuja causa foram fiéis até o derramamento do próprio sangue.

No dia 28 de março de 2023, os Consultores Históricos do Dicastério para as Causas dos Santos emitiram votos afirmativos sobre a Positio super martyrio dos Servos de Deus João Świerc e VIII Companheiros, Sacerdotes Professos da Sociedade de São Francisco de Sales, que foram mortos em odium fidei nos campos de extermínio nazistas nos anos 1941-1942. Rezamos para que eles sejam elevados às honras dos altares o mais rápido possível.

Mariafrancesca Oggianu
Colaboradora da Postulação Geral dos Salesianos




A Crônica do P. Júlio Barberis: o dia a dia em Valdocco com Dom Bosco

Em 21 de fevereiro de 1875, alguns salesianos decidiram constituir uma “comissão histórica” para “recolher as memórias da vida de Dom Bosco”, comprometendo-se a “escrever e ler juntos o que será escrito, a fim de obter a maior exatidão possível” (assim lemos na ata escrita pelo padre Miguel Rua). Entre eles estava um jovem sacerdote de 28 anos, que havia sido recentemente nomeado por Dom Bosco para organizar e dirigir o noviciado da Congregação Salesiana, segundo as constituições oficialmente aprovadas no ano anterior. Seu nome era P. Júlio Barberis, mais conhecido por ter sido o primeiro mestre de noviços dos Salesianos de Dom Bosco, função que exerceu por vinte e cinco anos. Mais tarde, foi inspetor e depois diretor espiritual da congregação, de 1910 até sua morte em 1927.
Ele esteve mais envolvido do que os outros na “comissão histórica”, preservando recordações e testemunhos das atividades de Dom Bosco e da vida do Oratório de Valdocco de maio de 1875 a junho de 1879, quando deixou Turim para se mudar para o novo local do noviciado em São Benigno Canavese. Deixou-nos uma copiosa documentação que ainda se conserva no Arquivo Central Salesiano, entre os quais se destacam, por sua importância, os quinze cadernos manuscritos que intitulou Cronichetta[Pequena Crônica], dos quais muitos estudiosos e biógrafos de São João Bosco se valeram (a começar pelo P. Lemoyne para as suas Memórias Biográficas), mas que até agora permaneciam inéditos. Uma edição crítica foi publicada no ano passado, tornando disponível para todos esse testemunho importante e direto sobre Dom Bosco e os primórdios da congregação que ele fundou.

O P. Júlio Barberis, formado pela Universidade de Turim, era um homem atento e preciso em seu trabalho, e lendo as páginas de sua Cronichetta pode-se ver o quanto ele tentou, com paixão e cuidado, completar também essa obra. Infelizmente, com pesar e tristeza, ele repetidamente aponta que, seja por motivos de saúde ou por causa de seus inúmeros outros compromissos, ele teve que suspender a redação dos cadernos ou limitar-se a resumir ou apenas sugerir certos fatos. Em um determinado momento, ele se vê obrigado a escrever: “Que suspensão dolorosa. Perdoe-me, minha cara Cronichetta: se eu a suspendo tantas vezes e com suspensões tão longas; não é que eu não te ame acima de qualquer outro trabalho, mas é por necessidade, ou seja, para cumprir meus deveres primeiro, pelo menos na maior parte” (Caderno XI, p. 36). Portanto, não nos surpreende que a forma de suas anotações nem sempre seja cuidadosa, com algumas frases mal construídas ou algumas imprecisões ortográficas; isso, na verdade, não prejudica o que ele nos transmitiu.

Os cadernos, na verdade, são uma mina de informações com a vantagem do imediatismo em relação com outras narrativas posteriores, que são mais literalmente editadas, mas necessariamente reelaboradas e reinterpretadas. Neles, encontramos evidências de eventos importantes, como a primeira expedição missionária de 1875, cuja preparação, partida e efeitos são relatados em detalhes.

As festas mais importantes são descritas (por exemplo, Maria Auxiliadora ou o nascimento de São João Batista, dia do onomástico de Dom Bosco) e como elas eram celebradas. Podemos aprender sobre as atividades ordinárias e extraordinárias de Valdocco (a escola, o teatro, a música, as visitas de várias personalidades…): como eram preparadas e administradas, o que funcionava bem e o que precisava ser melhorado, como os salesianos sob a orientação de Dom Bosco se organizavam e trabalhavam juntos, sem esconder alguns aspectos críticos. Há também pequenos aspectos da vida cotidiana: saúde, alimentação, economia e muitos outros detalhes. Dessas crônicas, porém, emerge também o espírito que animou toda a obra: a paixão que sustentou o empenho muitas vezes avassalador, o afeto por Dom Bosco tanto dos salesianos quanto dos jovens, o estilo e as escolhas educativas, o cuidado com o crescimento das vocações e a formação dos jovens salesianos. Em certo momento, o autor observa: “Oh, se assim fosse de verdade, que pudéssemos consumir toda a nossa vida até o último suspiro no trabalho na congregação para a maior glória de Deus, mas de tal modo que nem mesmo um respiro da nossa vida tivesse outro objetivo” (Caderno VII, p. 9).

A Cronichetta também apresenta um retrato preciso de Dom Bosco em seus anos de maturidade. Em 15 de agosto de 1878, o padre Barberis escreveu: “Aniversário de Dom Bosco. Nascido em 1815, completou 63 anos. Foi realizada uma festa. A ocasião serviu para distribuir prêmios aos aprendizes. Foram impressos poemas, como de costume, e muitos foram lidos” (caderno XIII, p. 82). Muitos registros se debruçam sobre as características da personalidade do pai e mestre dos jovens, incluindo certos aspectos que se perderam em narrativas biográficas posteriores, como seu interesse pelas descobertas arqueológicas e científicas de sua época. Mas, acima de tudo, aparece a dedicação total ao seu trabalho, naqueles anos em particular o empenho em consolidar a Congregação Salesiana e em ampliar cada vez mais o seu raio de ação com a fundação de novas casas na Itália e no exterior.

É difícil, porém, resumir o riquíssimo conteúdo desses cadernos. Na introdução do volume, foi feita uma tentativa de identificar alguns núcleos temáticos que vão da história da Congregação Salesiana e da vida de Dom Bosco (há várias passagens em que Barberis menciona “coisas antigas do oratório”) ao modelo de formação de Valdocco e aos aspectos gerenciais e organizacionais. A introdução também trata de outras questões relacionadas ao documento: o uso feito dele, com referência especial às Memórias Biográficas, o valor histórico a ser atribuído às informações, a finalidade para a qual foi escrito e a linguagem e o estilo usados. Quanto a esse último ponto, notamos como o autor, de acordo com o que aprendeu com o próprio Dom Bosco, enriqueceu sua crônica com diálogos, episódios divertidos, “boas-noites” e sonhos de Dom Bosco, tornando a leitura também interessante e agradável.

O volume também dá um testemunho mais geral do momento histórico em que foi escrito, em particular o período conturbado que se seguiu à unificação italiana. Em março de 1876, houve uma mudança de governo pela primeira vez, liderada pelo partido da esquerda histórica. No oitavo caderno da Cronichetta, de 6 de agosto de 1876, encontramos o registro da recepção realizada no colégio salesiano de Lanzo, por ocasião da inauguração da nova estrada de ferro, da qual participaram vários ministros. A interação de Dom Bosco com os políticos e seu interesse pelos assuntos da Itália e de outros estados estão bem documentados, e as notas históricas no final de cada caderno fornecem informações essenciais. Até mesmo notícias mais comuns encontram seu lugar nas várias entradas, como a colocação de cabos submarinos para o telégrafo elétrico ou algumas crenças médicas e de saúde da época.

Esta publicação é uma edição crítica, portanto, voltada principalmente para os estudiosos da história salesiana, mas também aqueles que desejam se aprofundar em certos aspectos da pessoa do santo fundador dos salesianos e de sua obra encontrarão grande benefício na leitura, que, tendo superado o obstáculo do italiano do século XIX, é muitas vezes agradável.

dom Massimo SCHWARZEL, sdb




Um centro de proteção para meninos de rua: em Lagos, Nigéria

Em Lagos, na Nigéria, em uma cidade superpovoada e em crescimento, onde mais de 40% da população são jovens com menos de 18 anos, os salesianos abriram uma casa para meninos de rua.

Lagos é um dos 36 estados da Nigéria federal. É praticamente uma cidade-estado, capital do país até 1991, quando Abuja foi oficialmente reconhecida como a nova capital, no centro do país. Com seus 16 milhões de habitantes, é a segunda área urbana mais populosa da África, depois do Cairo, e com sua área metropolitana de 21 milhões de habitantes, é uma das mais populosas do mundo. Além disso, está em constante crescimento, tanto que se tornou a primeira cidade da África e a sétima do mundo em termos de velocidade de crescimento populacional.
Com um clima muito quente, situada a apenas 6 graus ao norte da linha do Equador, está localizada no continente, abrindo-se para o Lago Lagoon e o Oceano Atlântico. Graças à sua localização, sempre foi uma cidade comercial, tanto que, embora a capital tenha sido transferida, continua sendo o centro comercial e econômico do estado e um dos portos mais importantes da África Ocidental.
Com 230 milhões de habitantes, a Nigéria é o país mais populoso da África e o sexto país mais populoso do mundo. A Nigéria tem a terceira maior população jovem do mundo, depois da Índia e da China, com mais de 90 milhões de habitantes com menos de 18 anos.
A situação da juventude nessa cidade é comparável à de Turim na época de Dom Bosco. Muitos jovens pobres da zona rural e urbana migram para a cidade de Lagos em busca de trabalho e de uma vida melhor, mas estão sujeitos à exploração, abandono, pobreza e privações. Correm o risco de permanecerem na rua, de sofrerem abusos, de serem vítimas do tráfico de pessoas, de entrarem em conflito com a lei ou de abusarem de drogas.

Os salesianos vieram em auxílio destes meninos e jovens, com uma Casa Dom Bosco, um centro de proteção para meninos de rua, aprovado pelo Ministério da Juventude e Desenvolvimento Social do Estado de Lagos, como uma casa de reabilitação para meninos vulneráveis. É uma casa dedicada a melhorar a vida dos meninos de rua, meninos vulneráveis, proporcionando-lhes um ambiente familiar alternativo, abrigo, educação, apoio emocional, proteção e aprimoramento das habilidades para a vida. O ponto de partida é a crença de que toda criança tem um potencial positivo e que os jovens representam o futuro do país. Se o ambiente for bom, se receberem uma boa educação e virem bons exemplos, eles também poderão crescer e se tornar uma esperança para os outros.

A Casa Dom Bosco inclui hóspedes residentes e não residentes.
Os meninos residentes são aqueles que moram na casa, frequentam a escola dentro da casa e participam de todas as atividades que os levarão a se tornarem pessoas melhores e a se reintegrarem às suas famílias e comunidades. Alguns dos programas realizados na casa, na área de aquisição de habilidades e capacitação, são alfaiataria, corte de cabelo, confecção de sapatos, enquanto na área de desenvolvimento de talentos são música, teatro, dança e coreografia. Os meninos também participam de várias atividades terapêuticas, esportivas e recreativas para promover seu desenvolvimento social e físico.

Em seu trabalho com esses meninos, os salesianos perceberam o potencial da música, especialmente na reabilitação das crianças mais novas. Ao ajudá-las a conhecer e usar instrumentos musicais, é possível aliviar o peso de suas experiências de vida, ajudando-as a superar vários traumas e também fortalecendo um bom relacionamento familiar entre elas. O mesmo acontece com a dança. As crianças são muito atraídas pela coreografia, querem tentar e não desanimam quando percebem que erraram, mas tentam novamente com perseverança até conseguirem, aprendendo com seus erros. A dança incentiva os meninos a experimentar e a encontrar caminhos diferentes para esquecer seus problemas.

Mas a Casa Dom Bosco não fecha suas portas para aqueles que não querem ficar. Os hóspedes não residentes são aqueles que vivem nas ruas e muitas vezes vêm em busca de abrigo temporário. A casa serve como um ponto de parada para que eles descansem, brinquem, tomem banho, troquem de roupa, recebam medicamentos e alimentos. Nessas ocasiões, também lhes são oferecidas atividades de acompanhamento: aconselhamento e reabilitação psicológica, localização e reintegração familiar, continuação da educação, aquisição de habilidades, cuidados médicos e de saúde complexos e colocação no mercado de trabalho.

Essa é uma ajuda valiosa, pois a maioria desses jovens tem entre 14 e 24 anos e muitos deles estão envolvidos em algum tipo de trabalho, o que lhes permite ganhar algo para cobrir suas despesas diárias com alimentação, roupas e outras necessidades. Boa parte deles trabalha no setor informal, ajudando em casamentos, em canteiros de obras, carregando cargas em estacionamentos de ônibus, vendendo sacos de água e bebidas na rua, fazendo os trabalhos mais humildes. E é bom ver isso, porque significa que querem ganhar a vida honestamente, mas nem sempre encontram alguém para ajudá-los.

Como se pode imaginar, as meninas não estão em uma situação melhor e isso representa um desafio para os salesianos: pensar também nelas de alguma forma. É também por isso que os salesianos pedem apoio para melhorar as habilidades de sua equipe e da administração em geral, e estão abertos a receber assistência para melhorar a qualidade do trabalho. Sozinhos, eles podem fazer pouco, mas junto com outros podem fazer muito.

P. Rafael AIROBOMAN, sdb
Diretor do Don Bosco Home Child Protection Centre, Lagos, Nigéria




O milagre

.Esta é a verdadeira história de uma menina de oito anos que sabia que o amor pode fazer maravilhas. Seu irmão mais novo estava destinado a morrer por causa de um tumor cerebral. Seus pais eram pobres, mas tinham feito tudo para salvá-lo, gastando todas as suas economias.

Certa noite, o pai disse à mãe lacrimosa: “Não há mais nada a fazer, querida. Acho que acabou. Só um milagre poderia salvá-lo”.
Num canto da sala, prendendo a respiração, a menina tinha escutado.
Ela correu para seu quarto, quebrou o cofrinho e, sem fazer barulho, dirigiu-se para a farmácia mais próxima. Ela esperou pacientemente a sua vez. Ela se aproximou do balcão, se ergueu na ponta dos pés e, diante do farmacêutico atônito, colocou todas as suas moedas no balcão.
“Para que é isso? O que você quer, menina?”
“É para o meu irmãozinho, senhor farmacêutico. Ele está muito doente e eu vim para comprar um milagre”.
“O que você está dizendo?” murmurou o farmacêutico.
“O nome dele é André; e ele tem uma coisa crescendo dentro de sua cabeça, e o papai disse à mamãe que tudo acabou, que não há mais nada a fazer, e que seria preciso um milagre para salvá-lo. O senhor sabe, eu amo tanto meu irmãozinho, por isso peguei todo o meu dinheiro e vim comprar um milagre”.
O farmacêutico meneou a cabeça com um sorriso triste.
“Minha menina, aqui não se vendem milagres”.
“Mas se esse dinheiro não for suficiente, posso procurar e encontrar mais. Quanto custa um milagre”?

Na farmácia havia um homem alto e elegante, com um ar muito sério, que parecia interessado na estranha conversa.
Desanimado, o farmacêutico abriu seus braços. A menina, com lágrimas nos olhos, começou a contar suas moedinhas. O homem se aproximou dela.
“Por que você está chorando, menina? Qual é o seu problema?”.
“O senhor farmacêutico não me vende um milagre nem sequer me diz quanto custa… É para meu irmãozinho André, que está muito doente. A mãe diz que seria preciso uma operação, mas o pai diz que custa muito e que não podemos pagar e que seria preciso um milagre para salvá-lo. É por isso que trouxe tudo o que tenho”.
“E quanto você tem?”
“Um dólar e onze centavos… Mas, o senhor sabe…” Ela acrescentou com um fio de voz: “Ainda consigo encontrar alguma coisa…”.
O homem sorriu: “Olhe, eu acho que isso não é necessário. Um dólar e onze centavos é exatamente o preço de um milagre para seu irmãozinho!” Com uma mão ele recolheu a pequena soma e com a outra tomou gentilmente a mão da menina.
“Leve-me até sua casa, menina. Quero ver seu irmãozinho e também seu pai e sua mãe e ver com eles se podemos encontrar o pequeno milagre de que você precisa”.
O homem alto e elegante e a menina saíram de mãos dadas.

Esse homem era o professor Carlton Armstrong, um dos maiores neurocirurgiões do mundo. Ele operou o pequeno André, que pôde voltar para casa algumas semanas depois totalmente curado.

“Esta operação”, murmurou a mãe, “foi um verdadeiro milagre. Pergunto-me quanto teria custado…”.
A irmãzinha sorriu sem dizer nada. Ela sabia quanto o milagre tinha custado: um dólar e onze centavos…. mais, é claro, o amor e a fé de uma menininha.

“Se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: «Vai daqui para lá, e ela irá». Nada vos será impossível”. (Evangelho de São Mateus, 17,20




A carga dos 101. Casa Salesiana Monterosa

“Que emoção… há um ano o Padre Ángel estava conosco!”.
Foi assim que começamos a festa da nossa Comunidade no domingo, 8 de maio de 2022. Há apenas um ano, o nosso Reitor-Mor esteve conosco em Turim, no Oratório Miguel Rua, para celebrar os 100 anos da Obra. E com ele estava também o prefeito da cidade!
Sim… 100 anos!

Era o verão de 1922 quando um grande grupo de jovens, a União dos Pais de Família e a Comissão das Patronesses, liderados pelo P. Lunati, inauguraram o Oratório Miguel Rua, com seus salões, igreja, pátio, creche dirigida pelas FMA e escola de costura. A construção foi possível graças à ajuda de muitos voluntários e também ao apoio de muitos benfeitores, o primeiro entre muitos, o Papa Bento XV, com sua generosa doação de 10.000 liras. Desde então, o trabalho nunca parou e se expandiu logo depois com o Teatro e, em 1949, com a Escola de Treinamento Industrial, a fim de preparar os jovens para o trabalho.
Em 1958, a Comunidade se tornou Paróquia, um justo reconhecimento pelo trabalho religioso e social que os Salesianos realizavam no Bairro Monterosa há quarenta anos; nos anos seguintes, a Escola Profissionalizante se tornou Escola Média.

Casa Salesiana de Monterosa, década de 1960. Fora da sala de jogos

Graças a várias contribuições, à vontade e ao sacrifício de jovens e voluntários, nos anos 70 chegou a Escola Infantil e, em 1991, o Ginásio e os novos campos de futebol. Em 2008, com a preciosa presença das FMA, foi acrescentada a Escola Primária e ampliado o grupo dos Amigos do Berço e da Oficina Mamãe Margarida. Tantos caminhos se abriram e garantiram que as crianças e os jovens do bairro encontrassem um lugar seguro e acolhedor, mesmo durante os momentos mais difíceis, começando com a guerra, o fascismo… até o fechamento devido à pandemia em 2020. E mesmo durante o confinamento, nossos Salesianos e FMA fizeram sentir sua presença com reuniões on-line, cantos nos telhados e jogos organizados em plataformas digitais.

Reler a história do nosso Oratório nos dá arrepios… um telheiro, o pátio e um galpão disponibilizados por um benfeitor num bairro popular, onde as crianças se reuniam pelas ruas à procura de alguém que cuidasse delas e as amasse. Pois foi justamente ali que os Salesianos decidiram estabelecer-se, para ficar aí naquela realidade tão próxima à de Dom Bosco. E ainda: o Centro Recreativo Mamãe Margarida, o número de crianças aumentando e o telheiro que se torna insuficiente, a disponibilidade de tantos pais e mães que oferecem suas habilidades e capacidades.

Casa Salesiana de Monterosa. Time de futebol de Bandina, 1952

Tudo começou em 1922 e, portanto, em 2022, comemoramos nossos primeiros 100 anos. Foi um ano precioso em muitos aspectos. Olhar para a história e ver quantas semelhanças existem entre o passado e nossa vida cotidiana nos deu um maravilhoso impulso de entusiasmo. Hoje, como naquela época, as crianças estão procurando por aqueles que possam amá-las, que com sua presença diária possam testemunhar a elas o quanto são importantes, o quanto são valiosas. E assim, no Miguel Rua, temos as escolas infantil, primária e secundária; temos o teatro e o Centro Poliesportivo; temos a creche em colaboração com os serviços sociais da cidade de Turim; temos o catecismo e os grupos formativos. Tanta coisa para os jovens e adolescentes, mas também tanta coisa com e para as famílias: Grupo Familiar, “Baby Rua”, Jovens Recém-Casados, Grupo Evergreen, Oficina Mamãe Margarida e Amigos do Miguel Rua.

Tal realidade funciona porque aqueles que passam por ela a experimentam como um lar, como sua comunidade. E é por isso que, por ocasião do Centenário, a Comunidade Educativo-Pastoral decidiu empreender um caminho sinodal, verificando o território e analisando as necessidades para tentar, juntos, dar respostas e oferecer propostas aos muitos jovens que hoje cruzam a soleira dos nossos pátios.

Um caminho, o do Centenário, que, com os pés firmemente plantados no presente e a história do passado clara em nossas mentes, nos questionou sobre o futuro. Identificamos as palavras-chave de nosso ser neste bairro e decidimos nos deixar guiar por: família, acolhimento, trabalho, formação, evangelização e juventude. Em torno dessas pedras angulares, lançamos as bases para recomeçar e colocar todos de volta no caminho certo para o bem dos jovens que entram pela porta do Oratório. No “novo” Miguel Rua há agora uma Oficina para alfaiataria, carpintaria, robótica e criação de vídeos, onde crianças e jovens podem ter uma experiência de oficina, a fim de aprenderem fazendo. Nas oficinas instaladas no primeiro andar, voluntários experientes oferecem seu tempo para ajudar as crianças a se expressarem, tentando trabalhar juntos em um pedaço de madeira, com o pirógrafo ou a serra, ou em um pedaço de tecido com agulha e linha. Mas isso não é tudo: há também salas de aula ao ar livre para nossas escolas e uma horta educacional que oferece feijão verde e tomate para as crianças que se revezam no cuidado de suas mudas.
Em um bairro multiétnico e diversificado como o nosso, a prioridade sempre foi as famílias mais pobres e, por isso, com a nossa paróquia, além dos serviços de caridade habituais para pagar as contas de gás ou oferecer uma sacola de compras, nasceram dois novos projetos importantes: o Amigo Clique, para oferecer ferramentas úteis àqueles que têm dificuldade de entrar no mundo digital, como criar um e-mail ou marcar um médico on-line, e o Amigo Fala, para que todos os recém-chegados possam conhecer e usar bem o idioma italiano.

E, com o impulso do Centenário, não paramos de reinventar o presente; estamos nos movendo para o futuro próximo. Estamos repensando como reestruturar as instalações da antiga cancha de bochas, que está em desuso há algum tempo, para ser uma presença cada vez mais ativa na área, atendendo às necessidades atuais. Gostaríamos de retomar a ideia de 1949 do “Treinamento Industrial” e estudar uma moderna Central de Trabalho para os jovens que não conseguem seguir percursos estruturados e contínuos; gostaríamos de estar presentes para todas as crianças que não conseguem se “encaixar” na escola, especialmente por causa dos efeitos deixados pelos períodos de confinamento, e assim criar um centro profissional pós-escolar que ofereça métodos de estudo, acompanhamento para as famílias e serviços individualizados. E, como queria Dom Bosco, estamos determinados a relançar todas as atividades relacionadas ao nosso Teatro: música, dança, declamação. Começaremos com a encenação de um novo musical que entusiasmará as crianças e revelará seus talentos.

Hoje, em nossos pátios, há mais de 100 crianças brincando todos os dias, temos mais de 500 crianças matriculadas em atividades esportivas e 200 em atividades formativas do Oratório. Temos os grupos de crianças do catecismo e pelo menos 50 crianças por semana que vêm para as atividades depois da escola. Temos mais de 520 crianças matriculadas em nossas escolas e 20 que frequentam nossa creche todos os dias. Quando nos reunimos para comer na Festa da Comunidade, preparamos mais de 500 pratos de polenta e ensopado… e depois muitos se matriculam nas Colônias de Férias, acampamentos de verão à beira-mar e nas montanhas.

Tudo isso é possível graças aos Salesianos e às Filhas de Maria Auxiliadora que estão incansavelmente presentes, cada um servindo com sua própria faceta e disponibilidade. Graças aos inúmeros animadores, voluntários que vivem em nossos pátios como se fossem suas próprias casas e nunca se ausentam para realizar os mais diversos serviços.

Casa Salesiana de Monterosa. Atividades com os meninos, 2023

Obrigado aos funcionários que acreditam em sua vocação e não cruzam a porta apenas para fazer seu trabalho. Obrigado às instituições locais que aconselham, sugerem e trabalham em rede. Obrigado aos muitos benfeitores que não deixam de apoiar as inúmeras despesas. Obrigado às famílias que continuam a acreditar na parceria educativa que pode ser criada entre adultos para o bem das crianças. Obrigado àqueles que nos deixaram, mas que continuam a apoiar-nos e a proteger nossas atividades.
Sobretudo, graças a Maria Auxiliadora, São Domingos Sávio, Dom Bosco e Madre Mazzarello que nos guiam, abençoam e enchem de graças.

Por ocasião do centenário, pedimos àqueles que passaram por aqui que nos contassem um pouco de suas vidas no Miguel Rua, e chegaram 100 histórias lindas, cheias de emoção e paixão. Pois bem, em todas elas há a lembrança de alguém, padre, freira, animador, catequista… que ofereceu um pedaço de sua vida para outros em nossa Obra. É por isso que o Miguel Rua é assim, uma presença viva no Distrito Barreira de Milão.

Voltando à primeira frase da nossa história, no domingo celebramos a festa da Comunidade no 101º aniversário da fundação da Obra e, como disse o nosso Inspetor, temos muito a comemorar novamente… e como o dálmata da história de Walt Disney, carregados e entusiasmado, partimos para a CARGA do 101!

Uma voluntária.




Dom Bosco na Albânia. Um pai para muitos jovens

O carisma salesiano está enraizado na Albânia, um país onde a obra salesiana é viva e fecunda: desde os inícios, nos anos 90, ao olhar para o futuro, as experiências contadas pelo padre José Liano, missionário guatemalteco a serviço da juventude albanesa, na comunidade de Escodra [Shkodër).

Como surgiu a presença salesiana na Albânia? O P. Orestes Valle conta que, diante da dramática situação italiana nos portos de Bari e Bríndisi em 1991, foi o próprio Papa São João Paulo II que pediu ao então Reitor-Mor, P. Egídio Viganò, a disponibilidade imediata dos salesianos para ir à Albânia. A chegada daqueles navios sobrecarregados de pessoas em busca de um futuro melhor partia seu coração e imediatamente lhe fez compreender que não se podia limitar à acolhida no porto: havia também a necessidade urgente de fazer o caminho inverso e ir ao encontro daqueles jovens pobres e abandonados deixados em casa.
A primeira expedição salesiana da Itália chegou no final de 1991. Oficialmente, a presença salesiana começou em 25 de setembro de 1992, em Escodra (Shkodër), no norte da Albânia, destinada a construir um futuro promissor, a partir de um presente pleno e alegre. O contexto era uma cidade historicamente importante, de grande cultura e fé, em meio a uma pobreza terrível, um número inimaginável de jovens, com a lembrança de muito sangue derramado, o sangue dos mártires católicos e de outras religiões.
A obra se desenvolveu em torno das necessidades dos jovens e de suas famílias: do oratório, coração e gênese da presença salesiana, à escola profissionalizante, depois ao internato, ao templo e à paróquia. Um desenvolvimento segundo o critério oratoriano: pátio, escola, casa e paróquia, como queria Dom Bosco. Depois de Escodra, os horizontes se abriram na capital Tirana, depois em Kosovo, em Prishtina e Gjilan, e, há quase três anos, também em Lushnje, no sul da Albânia.

A casa salesiana de Escodra está localizada no centro da cidade: há um número significativo de meninos matriculados no internato e o oratório continua a ser um pátio lotado todas as tardes. Desde os pequenos que vêm para o treino de futebol ou para a escola de dança folclórica, até os “grandes” que gostam de jogar vôlei, basquete ou simplesmente se encontram para conversar e passar um tempo juntos no oratório.
Todos os dias, às 18 horas, todas as atividades são interrompidas para a boa noite e oração, como é tradição salesiana. Todos os finais de semana os grupos de catequese se reúnem (sexta-feira) e os grupos de formação (sábado).
Isso de forma ordinária, porque depois teríamos de acrescentar os encontros vocacionais, as experiências de apostolado, o treinamento para os vários esportes e festas de acordo com o tempo litúrgico. Tudo isso é animado por uma comunidade crente bastante numerosa e por um número significativo de meninos e jovens animadores.

Poder-se-ia dizer que a beleza e a originalidade das obras salesianas albanesas é que, em seu conjunto, são acolhidas centenas de crianças e famílias de diferentes credos, oferecendo um serviço de educação e comunhão em um contexto inter-religioso. O nome e a tradição de “Don Bosko” (com k) são reconhecidos como um modelo de confiança, de trabalho e de bem generoso para a sociedade. Cada comunidade realiza sua missão em um contexto totalmente diferente em termos de fé, de proposta pastoral e de diálogo com a cidade; mas são feitos esforços para compartilhar, na medida do possível, entre salesianos e Filhas de Maria Auxiliadora.
Para os jovens, tudo parece ser um único pátio em lugares diferentes. Essa harmonia e confiança são o trunfo para poder propor jogos, cursos, orações e itinerários de crescimento sem serem julgados como “propagandistas da fé” ou “interessados apenas no próprio bem”.

Quem entra em um ambiente salesiano se sente acolhido e capaz de acolher os outros, sem distinção. E, para os católicos, fazer parte do grupo de animadores e do pátio significa viver a própria vocação a serviço dos jovens, segundo o estilo salesiano, com a beleza de vê-los rezar, confessar-se e participar da missa regularmente.
O que está questionando os salesianos atualmente é encontrar as respostas certas para as necessidades dessa geração.
O fenômeno da migração é desolador, os indicadores de pobreza estão aumentando e as chances de um futuro digno em Escodra estão dramaticamente reduzidas. Tanto para estudar quanto para encontrar um emprego, é preciso ter muita sorte ou então é preciso ir embora. Os salesianos sonham com um centro diurno e um centro para jovens, com uma escola profissionalizante digna e eficiente e uma escola de idiomas, artes e esportes, o que daria aos seus sonhos uma forma, um presente e um futuro. Infelizmente, sem apoio financeiro, esses sonhos permanecem apenas como tinta em folhas de papel em branco. E, enquanto isso, os jovens e as famílias continuam indo embora daqui.
Mas os salesianos não param de sonhar, vivendo o presente como um dom verdadeiramente precioso de Deus. O P. José LIANO, missionário salesiano da Guatemala, nos diz: “Pessoalmente, sinto-me o salesiano mais sortudo do mundo: compartilhar a missão com salesianos de todo o mundo (Vietnã, Congo, Itália, Zâmbia, Índia, Eslovênia, Eslováquia, Guatemala, Albânia e Kosovo), com jovens e salesianos tão fiéis, em uma cidade tão bonita, dedicando-me a animar o oratório… não acontece todos os dias! Tudo isso, com a consciência de que entrar no contexto, conhecer a realidade e entender a língua foram processos lentos e custosos; mas, depois de um tempo, percebe-se o quanto valeu a pena. Uma missão tão desafiadora e bela é um estímulo à fidelidade criativa e à santidade!
Para a Albânia de hoje, se descortina um futuro complexo. Não faltam problemas. Ultimamente, o apoio econômico e os projetos que chegavam à Albânia têm sido direcionados a destinatários mais necessitados, especialmente na Ucrânia e na Turquia; isso sugere que também é hora de começar não apenas a receber, mas também a gerar apoio, embora ainda não seja possível cobrir totalmente os custos. Os jovens, fiéis e fortes, estão lá, pela graça de Deus. Hoje o desafio é encontrar o ponto de impulso, a maneira de transformar o contexto em uma certeza, um “oásis” para as gerações futuras e uma fonte de vocações, de santidade e de beleza.

Marco Fulgaro




Cinquenta anos de serviço. Padre Rolando Fernandez

O padre Rolando Fernandez, missionário salesiano das Filipinas, atualmente na comunidade de Dili – Comoro, pertencente à Visitadoria Timor Leste (TLS), completou 50 anos de serviço sacerdotal, 40 dos quais no Timor Leste.

Os fiéis de Baucau celebraram os 50 anos de vida sacerdotal do P. Rolando Fernandez, sdb, missionário de Pangasinan, Filipinas, no dia da festa de São Domingos Sávio. Participaram da concelebração da Missa de Ação de Graças o Inspetor TLS, P. Anacleto Pires, sacerdotes da Diocese de Baucau e sacerdotes salesianos. Participaram muitas pessoas, entre as quais algumas religiosas e Filhas de Maria Auxiliadora, membros da Família Salesiana, noviços e pré-noviços, representantes do governo, estudantes e jovens, reunidos na Catedral de Baucau e animados por um alegre espírito de ação de graças, celebrando o amor de Deus através da pessoa do P. Rolando Fernandez, em seus quarenta anos de vida e de serviço em favor do povo timorense.

Amu Orlando, como é chamado pelo povo, passou seus dez anos de vida missionária em Papua Nova Guiné, antes de se juntar a outros missionários que trabalhavam no Timor Leste em meados da década de 1980. Esta celebração foi realizada em Baucau, porque o padre Rolando trabalhou lá como pároco (1992-1994) e diretor e fundador da conhecida Escola Secundária Santo Antônio (ESSA) Teulale-Baucau. Além disso, o padre Rolando realizou muitos outros trabalhos em Baucau. Para citar apenas alguns, traduções da Palavra de Deus para o idioma nacional, o Tetum e outras obras impressas. Ele fez um grande esforço para oferecer aos fiéis orações e textos de adoração para as celebrações litúrgicas. O último de seus legados, mas não menos importante, que permanecerá nos corações dos jovens timorenses em todo o país, é a organização do evento Cruz Jovens para os jovens do Timor Leste, iniciado pelo Papa São João Paulo II em Roma, em 22 de abril de 1984 (o primeiro Dia Mundial da Juventude).

Em sua homilia, o Padre Rolando foi ao cerne do significado da assistência. Em primeiro lugar, ele falou sobre a indignidade do homem para se tornar um sacerdote. O sacerdócio não é um direito, mas um dom de Deus. É Deus quem chama, em seu grande amor, e dá essa graça de se tornar um sacerdote. É da confiança de Deus escolher e elevar homens para servir ao seu povo. Isso também se reflete na segunda Oração Eucarística, na qual o sacerdote diz: “…e vos agrademos porque nos tornastes dignos de estar aqui na vossa presença e vos servir”. Por essa grande dádiva, o Padre Rolando agradeceu a Deus por tê-lo chamado e por ter-lhe dado a oportunidade de servir.
Depois, olhando para o passado, para sua jornada de vida, o P. Rolando viu como o dedo de Deus lhe apontou, mostrou e preparou o caminho para esse dom do sacerdócio ordenado por meio das experiências que ele começou em sua devota família de pais e irmãos, e por meio dos missionários salesianos que conheceu. Podemos acrescentar que foi mais uma vez confirmado o ditado: “o fruto não cai longe da árvore”.
Um dos eventos memoráveis que mudaram sua vida foi o fato de seu pai ter ficado impressionado depois de visitar uma escola técnica de Dom Bosco. Lá, ele viu os meninos fazendo sapatos, costurando, desenvolvendo trabalhos de carpintaria, de mecânica e eletricidade. Seu pai comprou um par de sapatos para ele e, naquela ocasião, um padre salesiano lhe deu um libreto com imagens de Maria Auxiliadora, Dom Bosco e Domingos Sávio. Quando chegou em casa, seu pai lhe disse: “No próximo ano, você irá para a escola Dom Bosco”. De fato, ele foi para lá. Viu a vida dos salesianos, aprendeu com eles, desejou ser como eles e, no final, tornou-se um deles, um salesiano coadjutor e depois um salesiano sacerdote para sempre. Finalmente, o padre Rolando sentiu um grande desejo de se tornar um sinal e portador do amor de Deus, especialmente para os jovens. Para ele, o amor de seus coirmãos e superiores que confiavam nele, que lhe confiavam algumas responsabilidades além de suas capacidades, o amor de seus ex-alunos, dos jovens e do povo, enriqueceram sua vida de significado. E essas não são palavras vazias: muitos eventos e experiências de amor dos salesianos e do povo poderiam ser enumerados. Pôde sentir profundamente o amor deles, também quando esteve doente.
Depois, recordando as palavras de Dom Bosco que dizia: “Pão, trabalho e paraíso: são três coisas que eu posso oferecer em nome do Senhor”, comentou que o pão, para ele, nunca faltou, mas se não houvesse trabalho, o risco era de não ter nem mesmo o paraíso. O trabalho intenso consome a vida rapidamente, mas ele não tem medo da morte porque tem fé nas palavras que Dom Bosco deixou como testamento: “Quando acontecer de um salesiano sucumbir e deixar de viver trabalhando pelas almas, então se pode dizer que a nossa Congregação obteve um grande triunfo e as bênçãos do Céu descerão abundantemente sobre ela”. E essa confiança nas palavras de Dom Bosco continua, dando crédito às Constituições Salesianas que afirmam no artigo 54: “Para o salesiano, a morte é iluminada pela esperança de entrar na alegria do seu Senhor”. E – dizemos nós – é válida essa confiança nas Constituições, porque o próprio Dom Bosco dizia: “Se me amastes no passado, continuai a amar-me no futuro, mediante a exata observância das nossas Constituições.

Depois da homilia, o P. Rolando renovou mais uma vez seus votos religiosos diante do inspetor, P. Anacleto Pires, do P. Manuel Ximenes, sdb, pároco de Baucau, e do P. Agnelo Moreira, sdb, Reitor da comunidade de Baucau. Ele deu um testemunho vivo do amor de Deus pela humanidade, especialmente pelos jovens.
Após a bênção final, houve uma série de discursos de vários representantes que expressaram sua gratidão ao P. Rolando por sua presença, sua vida e seu trabalho para a Igreja no Timor Leste, particularmente em Baucau. Graças ao seu exemplo de vida, há muitas vocações para a vida religiosa, muitas freiras e padres. O Padre Rolando Fernandez, como uma gota de mel, atraiu muitos jovens, meninos e meninas, para abraçar a vida religiosa ou sacerdotal. Como sinal de gratidão em nome dos irmãos de Timor-Leste, o padre Anacleto presenteou o padre Rolando com uma estátua de Dom Bosco. E, em memória desse evento, uma árvore também foi plantada em Baucau pelo padre Anacleto e pelo padre Rolando.

dom Julian Mota, sdb