Neste mês que nos lembra as aparições de Lourdes, aproveitamos para apontar o erro no qual, há algum tempo, o autor de uma anti-hagiografia de Dom Bosco caiu em sua tentativa de ridicularizar a devoção a Maria Auxiliadora. Assim escreveu aquele ensaísta: “Em tal impregnação do culto mariano, da história quase considerada sob a ótica de Maria, é surpreendente não encontrar vestígios, na vida de Dom Bosco, de eventos tão importantes como as aparições de Salette (1846) e de Lourdes (1858); e no entanto tudo o que acontecia na França repercutia em Turim, muito mais do que o que estava se desenrolando na Itália. Eu não entendo esta falta de repercussão. Foi o manto de Maria Auxiliadora e da Consolata que formaram uma barreira ciumenta contra outras proteções e descidas da mesma Figura?”
O que é verdadeiramente surpreendente aqui é a surpresa de um escritor que não desconhece as fontes salesianas, porque Dom Bosco falou e escreveu repetidamente sobre as aparições de Salette e Lourdes. Em 1871, ou seja, três anos após a consagração da Igreja de Maria Auxiliadora e o empenho de Dom Bosco em difundir a devoção, ele mesmo compilou e publicou como edição de maio de suas “Leituras Católicas”, o livreto intitulado: Aparição da Santíssima Virgem na montanha de La Salette. Neste pequeno volume de 92 páginas, que teve uma terceira edição em 1877, Dom Bosco descreveu a Aparição em todos os seus detalhes, depois passou a outros eventos prodigiosos atribuídos à Virgem. Dois anos mais tarde, em 1873, ele publicou, como a edição de dezembro das mesmas “Leituras Católicas”, o livreto intitulado: As Maravilhas de Nossa Senhora de Lourdes. A edição saiu anonimamente mas foi precedida por um anúncio “Aos nossos benfeitores, correspondentes e leitores”, assinado por Dom Bosco.
Nas Memórias biográficas E isso não é tudo. Nas Memórias Biográficas, descrevendo a primeira festa da Imaculada Conceição celebrada na Casa Pinardi em Valdocco no dia 8 de dezembro de 1846, o biógrafo, P. João Batista Lemoyne, afirma que a festa foi “animada ainda mais pela fama de uma aparição de Nossa Senhora na França em Salette”; e continua: “Este era o tema favorito de Dom Bosco, repetido por ele uma centena de vezes”.
Para os supercríticos a expressão “uma centena de vezes” parecerá exagerada, mas aqueles que conhecem nossa língua sabem que para nós significa simplesmente “muitas vezes” (“Eu já repeti uma centena de vezes”). E “muitas vezes” não significa “algumas vezes”, muito menos “nunca”. Nas mesmas Memórias foi escrito em relação ao dia 8 de dezembro de 1858: “Encantado com tão prodigioso encorajamento, Dom Bosco celebrava a festa da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria. Tanto mais que nesse ano um evento portentoso tinha feito ressoar a glória e a bondade da Mãe Celestial em todo o mundo e Dom Bosco o tinha narrado várias vezes aos seus jovens e mais tarde deu um relato à imprensa”. Era, evidentemente, sobre Lourdes. Há mais. Uma crônica do ano de 1865 relata a “Boa noite”, ou alocução da noite para os jovens, feita por Dom Bosco em 11 de janeiro daquele ano: “Nesta noite, quero contar coisas magníficas para vocês. Nossa Senhora se dignou aparecer muitas vezes aos seus devotos em poucos anos. Ela apareceu na França em 1846 para duas crianças pastoras, quando, entre outras coisas, ela predisse a doença das batatas e das uvas, como de fato aconteceu; e ela ficou triste que a blasfêmia, o trabalho em dias santos e o estar na igreja como cães, tivesse acendido a ira de seu Filho Divino. Ela apareceu em 1858 à pequena Bernadete perto de Lourdes, recomendando que ela rezasse pelos pobres pecadores…”. Observe-se que, naquele ano, tinham começado os trabalhos para a construção da igreja de Maria Auxiliadora; contudo Dom Bosco não esqueceu as aparições marianas na França. Além disso, basta folhear o Boletim Salesiano para encontrar muitas referências a Lourdes e Salette. Como se pode então insinuar que “o manto de Maria Auxiliadora” formou “uma barreira ciumenta contra outras proteções e descidas da mesma Figura”? Como se pode afirmar que faltem na vida de Dom Bosco vestígios de eventos tão importantes como a Aparição de Salette (1846) e Lourdes (1858)? Nós que estamos sempre em busca de “curiosidades” também quisemos registrar esta, que revela como certa literatura tem muito pouco a ver com um conhecimento histórico autêntico e sério.
Conectar-se com a Mentalidade dos “Millennials” e da “Geração Z”
A comunicação envolve diversos componentes que devemos levar seriamente em consideração: antes de tudo, o emissor que codifica a mensagem escolhendo o meio através do qual a mensagem é transmitida pelo emissor ao receptor. Por sua vez, o receptor analisa a mensagem no seu contexto e a interpreta de acordo com a intenção do emissor ou de maneira diversa. Finalmente, o feedback (retroalimentação) indica se a mensagem foi bem recebida ou não. Hoje, qualquer tentativa de comunicar Cristo parte da compreensão da mentalidade da geração dos jovens de hoje. Este breve artigo vai se concentrar sobre este tema.
Uma geração é um grupo que poderia ser identificado pelo ano de nascimento e por eventos significativos que tenham modelado a personalidade, os valores, as expectativas, as qualidades de comportamento e as capacidades motivacionais. Os sociólogos chamam a geração dos nascidos entre os anos de 1943 e 1960 de ‘Baby Boomers’. A Geração X compreende os nascidos entre 1961 e 1979. Os “Millennials” (chamados também Geração Y) são os que nasceram entre 1980 e 2000. Da Geração Z fazem parte os nascidos depois do ano 2000.
Os emissores são os pastores-educadores salesianos e os animadores de jovens. Os receptores são os jovens e adultos jovens de hoje que são principalmente os “millennials” e a Geração Z. Portanto, esta apresentação se concentrará na tentativa de compreender sua mentalidade, a fim de descobrir os modos de comunicar Cristo para eles nossa mensagem, Jesus Cristo. Não podemos fechar nossos olhos à realidade da ¨brecha digital¨, pois o reflexo é enorme e com crescente desigualdade social entre aqueles que tem fácil acesso à internet e com aqueles que não tem, que na maioria das vezes são os jovens. Então, os fatores sócio-econômicos da brecha digital são variações importantes a considerar, entretanto, o que é apresentado aqui são as características que geralmente são encontradas em todos os contextos. Então, uma resposta importante a este artigo é comparar o que aqui é apresentado com o contexto do leitor.
OS MILLENNIALS Hoje os “millennials” estão entre a faixa etária de 20 a 41 anos. Aprenderam a utilizar a tecnologia e se tornaram dependentes dela numa idade precoce com relação às gerações precedentes. Os “millennials” mais jovens nem poderiam ao menos imaginar a vida sem smartphone e internet. Fazem parte de uma geração que é extremamente conectada através das meios sociais. Vivem numa época em que um post pode atingir inúmeras pessoas e atravessar barreiras linguísticas, culturais e geográficas. Isto despertou neles o desejo de ter todas as informações que querem e que ofereçam respostas e feedback instantâneos.
Os “millennials” querem estar envolvidos, tendo a oportunidade de partilhar seus pensamentos, visto que amam compartilhas as ideias e escolher as melhores. Querem fazer parte da conversa, escutando e falando. Quando suas opiniões são escutadas, sentem-se valorizados e estarão prontos para comprometer-se em qualquer coisa da qual se sentem parte. Os “millennials” querem que sua fé seja holisticamente integrada em suas vidas, incluindo o âmbito da tecnologia.
Os “millennials” são a geração dos aplicativos. Os aplicativos se tornaram para eles um instrumento para se comunicar, elaborar informações, adquirir bens ou também ler as Escrituras e orar. Os “millennials” são peritos em tecnologia e usam os aplicativos até duas horas por dia. Desejam ser descobertos. São otimistas e querem partilhar, preferindo comunicar-se através de textos. Estão concentrados no “agora”, mas tendem a ser idealistas.
A GERAÇÃO Z Os que hoje compõem a Geração Z são os que têm 21 anos ou menos. São os primeiros a ter a internet totalmente ao seu alcance. São nativos digitais porque foram expostos à internet, às redes sociais e aos celulares deste a mais tenra idade. Utilizam a internet para se socializar, sem distinguir os amigos que encontram “on-line” dos que aparecem no mundo físico. Para eles o mundo virtual é tão real quanto o mundo presencial. Estão sempre conectados; para eles não existe mais “off-line”. São vigorosos contribuidores e grandes consumidores de conteúdos “on-line”. Preferem os “sites” de internet para se comunicar e interagir com as pessoas, especialmente usando as imagens. Preferem participar e permanecer conectados mediante a tecnologia disponível.
São criativos, realistas e concentrados no futuro. Têm um amplo conhecimento a respeito de questões e eventos importantes e têm um grande desejo de buscar a verdade. Querem escolher e descobrir a verdade sozinhos. Com efeito, a procura da verdade está no centro do seu comportamento típico e dos seus modelos de consumo.
Os jovens da Geração Z usam as redes sociais como Facebook, WhatsApp, Twitter, Instagram, Tiktok, Tumblr para obter informações sobre as questões sociais, sobre a saúde e a alimentação, sobre a espiritualidade etc. Mas são também grandes utilizadores de plataformas sociais anônimas, como Snapchat, Secret, Whisper, onde qualquer imagem comprometedora desaparece quase instantaneamente. Com uma grande quantidade de informações disponíveis, são mais pragmáticos e menos idealistas do que os “millennials”. O recurso contínuo à conexão “on-line” poderia levá-los ao risco de partilhar excessivamente as informações pessoais no mundo virtual e a se tornarem dependentes da internet. O caráter deles é moldado por aquilo que publicam a respeito de si mesmos “on-line” e por aquilo que os outros publicam e comentam a respeito deles. Entre eles, uma grande maioria em todos os continentes se declara religiosa, mas não se identifica necessariamente com uma religião: crêem sem pertencer, outros pertencem sem acreditar. Aqueles que se declaram não pertencerem a nenhuma religião específica provêm normalmente de famílias sem fé religiosa ou de cristãos tíbios. A Geração Z é muito menos religiosa comparada com os “millenials”.
AS MÍDIAS SOCIAIS É verdade que as mídias sociais poderiam de alguma forma prejudicar as relações interpessoais autênticas. Poderiam também ser utilizadas como plataforma para a distribuição e o acesso a materiais que poderiam causar danos morais, sociais e espirituais. A verdade desta questão é que qualquer meio tem o potencial de ser usado para o mal. É verdade que as mídias sociais têm sido utilizadas, por exemplo, para globalizar o populismo e desencadear revoluções como a Primavera Árabe e os protestos dos coletes amarelos na França.
No entanto, as mídias sociais também permitiram que as pessoas pudessem permanecer conectadas em âmbito global. Permitem a cada um de nós atualizar-nos reciprocamente sobre o que acontece em nossas vidas, partilhar ideias poderosas e convidar as pessoas a conhecer Jesus Cristo. As mídias sociais se tornaram nosso pátio virtual. Portanto, é importante que passemos da demonização dos meios, à educação dos jovens no seu uso correto e o desenvolvimento de seu potencial de evangelização.
COMUNICAR CRISTO O testemunho credível é uma condição para comunicar Cristo. No mundo virtual o testemunho implica visibilidade (manifestamos visivelmente nossa identidade católica), da verdade (asseguremo-nos para ser profetas da verdade e não das falsas notícias) e da credibilidade (as imagens que apresentamos reforçam a mensagem que queremos comunicar). A fé deve ser apresentada aos “millennials” e à Geração Z de maneiras novas e envolventes. Por sua vez, isto lhes abrirá a possibilidade de partilhar a fé com seus próprios coetâneos. Deveríamos resistir à tentação de bombardear as mídias sociais com mensagens e imagens religiosas. Na realidade, esta ação afastará um grande número de jovens. O primeiro anúncio não se referirá a doutrinas cristiana a ser ensinada. O adjetivo ” primeiro ” não deve ser entendido num sentido estritamente linear ou cronológico como sendo o primeiro momento de proclamação, porque na realidade empobrece a sua riqueza. Pelo contrário, é ‘inicial’ no sentido de que o termo arché era compreendido pelos antigos filósofos gregos como o princípio ou o elemento fundamental a partir do qual tudo tem a sua origem, ou aquele a partir do qual todas as coisas são formadas. É o fundamento de uma nova evangelização e de todo o processo de evangelização. Trata-se de promover uma experiência envolvente e entusiasmante, capaz de suscitar o desejo de buscar a verdade e o interesse pela pessoa de Jesus. Esta eventualmente, leva a uma primeira adesão a Ele, ou à revitalização da fé nele. O primeiro anúncio é aquela centelha que leva à conversão. Esta opção por Cristo é o feedback para a mensagem. Depois dele, segue-se o processo de evangelização através do catecumenato e da catequese sistemática. Sem o primeiro anúncio que leva a uma opção pessoal por Cristo, qualquer esforço de evangelização será estéril. O primeiro anúncio é a base da nova evangelização. Ao invés, do desafio para o desafio para cada pastor-educador salesiano, para cada animador de jovens, para cada discípulo missionário, não é fazer conteúdo para as redes sociais. Esta é uma tentação que deve ser fortemente combatida. Sua tarefa é formar e acompanhar os próprios millennials e a Geração Z para que eles possam criar conteúdo baseado na fé nas redes sociais para si próprios e para seus colegas despertando o interesse em conhecer a pessoa de Jesus Cristo. Na realidade, os meios de comunicação social são hoje um fórum privilegiado para comunicar Cristo aos jovens. Cabe a cada um de nós usá-lo com criatividade missionária!
OS AMBIENTES VIRTUAIS JUVENIS DE HOJE Novas intuições numa perspectiva missionária Pesquisa realizada por Juan Carlos Montenegro e Padre Alejandro Rodriguez sdb, Província de São Francisco (SUO), Estados Unidos.
A mandato de Jesus “Ide e fazei discípulos” (Mt 28,19) continua a ecoar para nós hoje. O nosso amor a Cristo desafia-nos a ultrapassar as nossas fronteiras e chegar a todas as pessoas, em particular aos jovens da sociedade atual. Para isso precisamos de ver a realidade do seu ponto de vista, compreender de que modo eles elaboram as informações e como estas informações influenciam o seu comportamento. Todavia, a nossa principal missão como educadores-evangelizadores salesianos consiste em aproximá-los de Cristo e aproximar Cristo deles.
As diferenças geracionais poderiam ser um desafio que não ajuda a pôr-nos a caminho para estar “plenamente” presentes neste novo pátio onde os jovens construíram a sua linguagem, desenvolveram as suas regras, e criaram novas expressões e diversos tipos de relações significativas. Este novo pátio é um mundo virtual em que os jovens vivem, interagem, sonham e sofrem. O amor e o selo missionário de Dom Bosco impelem-nos a abraçar esta nova realidade com esperança, fé e caridade pastoral. Se não conhecermos a nova realidade que os jovens estão a enfrentar no mundo virtual, a nossa proposta e o nosso acompanhamento como educadores-evangelizadores será insignificante e irrelevante. O Quadro de Referência da Pastoral Juvenil Salesiana (2015) chama-nos a estar presentes no “novo pátio”. Agora mais do que nunca, devemos inovar e adaptar o nosso estilo salesiano de presença entre os jovens.
Para compreender o que está a acontecer neste novo pátio digital, o Setor das Missões lançou uma sondagem online a nível da Congregação procurando compreender os nossos jovens, o que pensam, o que fazem, o que esperam no que diz respeito aos conteúdos, às possibilidades e ao uso dos meios de comunicação social. A sondagem online em 6 línguas envolveu 1.731 jovens das nossas comunidades educativo-pastorais salesianas, com idades entre 13 e 18 anos, pertencentes a 37 países e de todos os continentes. É importante ter isto presente porque as respostas dos jovens que não provêm do ambiente salesiano podem ser diferentes.
Pontos mais relevantes: • É sabido que o aumento da internet está associado nos jovens a uma diminuição na comunicação com os membros da família, a um decréscimo da participação na vida social e a um aumento da depressão e da solidão. Estes são temas importantes a ter em mente no que diz respeito ao acompanhamento na nossa planificação pastoral. • 91% dos nossos jovens usa o telemóvel para aceder às redes sociais. Estes dispositivos estão associados a problemas comportamentais e também a possíveis problemas de saúde. 75% dos entrevistados está ligado à internet mais de 6 horas por semana, mas pode ultrapassar as 20 horas em alguns casos. Estar ligado tem muitas implicações, como a mudança das competências sociais, das relações, do conhecimento, etc.
• Os jovens entrevistados consideram que as maiores ameaças no uso das redes sociais são o bulling online, a pedofilia, as fake news, o assédio sexual e os hacker. Ao passo que 26% dos nossos afirma já ter sido vítima de bulling. • Por falta de supervisão e/ou de formação e acompanhamento os jovens estão expostos a conteúdos para adultos; a presença educativa mais urgente dos adultos começa com os rapazes na idade de 11-13 anos porque é o momento em que, segundo o inquérito, são mais vulneráveis aos conteúdos deste tipo de páginas web. • No que diz respeito à nossa presença com conteúdos religiosos, 73% dos jovens que responderam à sondagem tiveram algum tipo de contacto com conteúdos religiosos. 48% acredita que a internet ajuda a desenvolver a sua relação com Deus. • Os nossos jovens visitam sites de vídeo e música, jogos, tutorial, etc. 88% dos entrevistados prefere os vídeos como tipo de conteúdo. • Os jovens preferem o WhatsApp (64%), o Instragram (61%), o Youtube (41%), o Tik Tok ou o Facebook (37%), e o Messenger (33%). Esta informação ajuda-nos a melhorar as nossas modalidades de comunicação com eles porque os adultos poderiam esforçar-se muito para estar presentes em plataformas em que os jovens não estão. Talvez os melhores canais de comunicação poderiam ser o Facebook para os pais, e o Instagram para os nossos jovens.
Este inquérito é um poderoso apelo que nos desafia como educadores e evangelizadores dos jovens a estar presentes entre os nossos jovens de modo relevante e significativo nas redes sociais.
O filho mais inteligente
Há muito tempo havia um homem que tinha três filhos que ele amava muito. Ele não nasceu rico, mas com sua sabedoria e seu trabalho árduo, conseguiu economizar bastante dinheiro e comprar uma fazenda fértil. Quando ficou velho, começou a pensar em como dividir entre seus filhos o que ele possuía. Um dia, quando já estava muito velho e doente, decidiu fazer um teste para ver qual de seus filhos era o mais inteligente. Chamou então seus três filhos à sua cabeceira. Deu a cada um cinco moedas e pediu-lhes que comprassem algo para encher seu quarto, que estava vazio e despojado. Cada um dos filhos pegou o dinheiro e saiu para satisfazer o desejo do pai. O filho mais velho achou que era um trabalho fácil. Ele foi ao mercado e comprou um feixe de palha, que foi a primeira coisa com que se deparou. O segundo filho, por sua vez, refletiu por alguns minutos. Depois de percorrer todo o mercado e de procurar em todas as lojas, ele comprou umas lindas penas. O filho mais novo considerou o problema por um longo tempo. “O que é que custa apenas cinco moedas e pode encher uma sala?”, perguntou ele. Só depois de muitas horas de reflexão, é que ele encontrou algo que lhe convinha, e seu rosto se iluminou. Foi a uma pequena loja escondida em uma rua lateral e comprou, com suas cinco moedas, uma vela e fósforos. No caminho para casa, estava feliz e se perguntava o que seus irmãos teriam comprado. No dia seguinte, os três filhos se reuniram no quarto de seu pai. Cada um trouxe seu presente, o objeto que era para encher um quarto. Primeiro o filho mais velho espalhou a palha no chão, mas infelizmente ela só encheu um pequeno canto. O segundo filho mostrou suas penas: eram muito bonitas, mas mal enchiam dois cantos. O pai ficou muito decepcionado com os esforços de seus dois filhos mais velhos. Então o filho mais novo ficou no meio da sala: todos os outros o olhavam curiosamente, perguntando-se: “O que ele poderia ter comprado?” O rapaz acendeu a vela com o fósforo e a luz daquela chama se espalhou pela sala e a encheu. Todos sorriram. O velho pai estava encantado com o presente de seu filho mais novo. Ele lhe deu todas as suas terras e o seu dinheiro, porque compreendeu que o rapaz era suficientemente inteligente para fazer bom uso delas e que cuidaria com sabedoria de seus irmãos.
Com um sorriso, você pode iluminar o mundo hoje. E isso não custa nada.
Bullying. Uma coisa nova? Havia também no tempo de Dom Bosco
Não é certamente nenhum mistério para os conhecedores mais atentos da “realidade viva” de Valdocco, e não apenas a “ideal” ou “virtual”, que a vida diária em uma estrutura muito pequena para acomodar 24 horas por dia e durante muitos meses do ano várias centenas de crianças, meninos e jovens de diferentes idades, origens, dialetos, interesses, colocavam problemas educacionais e disciplinares muito sérios para Dom Bosco e seus jovens educadores. A esse respeito, relatamos dois episódios significativos, em sua maioria desconhecidos.
O violento confronto No outono de 1861, a viúva do pintor Agostino Cottolengo, irmão do famoso (São) José Bento Cottolengo, tendo que colocar seus dois filhos, José e Mateus Luís, para estudar na capital do recém-nascido Reino da Itália, pediu ao seu cunhado, Luís Cottolengo, de Chieri, para encontrar um internato adequado. Este último sugeriu o oratório de Dom Bosco e assim no dia 23 de outubro os dois irmãos, acompanhados por outro tio, Inácio Cottolengo, frade dominicano, entraram em Valdocco, pagando 50 liras por mês no internato. Antes do Natal, porém, Mateus Luís, de 14 anos, já havia voltado para casa por motivos de saúde, enquanto seu irmão mais velho José, que havia voltado para Valdocco depois das férias de Natal, foi mandado embora um mês depois, por motivos de força maior. O que tinha acontecido? Tinha acontecido que no dia 10 de fevereiro de 1862, José, de 16 anos de idade, tinha brigado violentamente com um tal José Chicco, de nove anos, sobrinho do Cônego Simão Chicco, di Carmagnola, que provavelmente estava pagando sua pensão. Na briga, com um porrete, a criança obviamente levou a pior, ficando gravemente ferida. Dom Bosco cuidou para que ele fosse hospitalizado junto da confiável família Masera, para evitar que a notícia do episódio desagradável se espalhasse dentro e fora da casa. A criança foi examinada por um médico, que elaborou um relatório bastante pesado, “útil a quem de direito”.
O afastamento temporário do agressor Para não correr riscos e por óbvias razões disciplinares, no dia 15 de fevereiro, Dom Bosco foi obrigado a afastar o jovem Cottolengo por algum tempo, sendo acompanhado não a Bra, na casa de sua mãe, que teria sofrido muito, mas a Chieri, junto a seu tio Cônego. Duas semanas depois, este perguntou a Dom Bosco sobre o estado de saúde do menino Chicco e sobre as despesas médicas, para que ele pudesse compensá-las de seu próprio bolso. Perguntou-lhe também se estava disposto a aceitar seu sobrinho de volta a Valdocco. Dom Bosco respondeu que o menino ferido estava agora quase completamente curado e que não havia necessidade de se preocupar com despesas médicas, porque “tratamos com pessoas honestas”. Quanto a aceitar seu sobrinho de volta, ele escreveu “imagine se eu posso recusar”. Mas sob duas condições: que o rapaz reconheça seu erro e que o Côn. Cottolengo escreva ao Côn. Chicco para pedir desculpas em nome de seu sobrinho e lhe peça que “diga apenas uma palavra” a Dom Bosco, para que ele acolher o jovem de volta a Valdocco. Dom Bosco lhe assegurou que o Côn. Chicco não só aceitaria o pedido de desculpas – Dom Bosco já lhe havia escrito sobre isso – como já havia providenciado para que o sobrinho fosse acolhido “na casa de um parente a fim de evitar qualquer publicidade”. Em meados de março, os dois irmãos Cottolengo foram recebidos de volta em Valdocco “de uma maneira gentil”. No entanto, Mateus Luís só permaneceu aí até a Páscoa, devido aos habituais problemas de saúde, enquanto José ficou até o final dos estudos.
Uma amizade consolidada e um pequeno ganho Ainda não satisfeito que o caso tivesse terminado com satisfação mútua, no ano seguinte o Côn. Cottolengo insistiu novamente com Dom Bosco para pagar o médico e os remédios da criança ferida. O Côn. Chicco, interrogado por Dom Bosco, respondeu que a despesa total tinha sido de 100 liras, mas que ele e a família da criança não pediam nada; mas se Cottolengo insistisse em pagar a conta, devolvesse essa soma “a favor do Oratório de São Francisco de Sales”. Foi o que aconteceu. Portanto o episódio de bullying tinha sido resolvido de modo satisfatório e educativo: o culpado tinha se arrependido, a “vítima” tinha sido bem cuidada, os tios tinham se unido para o bem de seus sobrinhos, as mães não tinham sofrido, Dom Bosco e a obra de Valdocco, depois de terem corrido certos riscos, tinham ganho em amizades, simpatia… e, algo sempre apreciado naquele internato para meninos pobres, uma pequena contribuição financeira. Nem todos conseguem tirar um bem de um mal. Dom Bosco conseguiu. Há muito a aprender.
Uma carta muito interessante que apresenta um vislumbre sobre o mundo de Valdocco Mas apresentamos um caso ainda mais grave, que mais uma vez pode ser instrutivo para os pais e educadores de hoje, ao tratarem com meninos difíceis e rebeldes. Eis o fato. Em 1865, um tal Carlos Boglietti, esbofeteado por grave insubordinação pelo assistente na oficina de encadernação, o clérigo José Mazzarello, denuncia o fato ao tribunal da comarca de Borgo Dora, que inicia uma investigação, convocando o acusado, o acusador e três meninos como testemunhas. Dom Bosco, no desejo de resolver o assunto com menos perturbação por parte das autoridades, considera oportuno dirigir-se diretamente e com antecedência por carta ao próprio pretor. Como diretor de uma casa de educação, acredita que pode e deve fazê-lo “em nome de todos […] pronto a dar a maior satisfação a quem quer que seja”.
Duas premissas legais importantes Em sua carta, em primeiro lugar, ele defende seu direito e sua responsabilidade como pai-educador dos filhos que lhe foram confiados: ele imediatamente assinala que o artigo 650 do Código Penal, citado no ato da convocação, “parece totalmente alheio ao assunto em questão, pois se fosse interpretado no sentido exigido pela corte urbana, seria introduzido no regime doméstico das famílias, e os pais e seus tutores não poderiam mais corrigir seus filhos ou evitar insolência e insubordinação, [coisas] que seriam seriamente prejudiciais à moralidade pública e privada”. Em segundo lugar, ele reiterou que a faculdade “de usar todos aqueles meios julgados oportunos […] para manter certos jovens sob controle” lhe fora concedida pela autoridade governamental que lhe enviou as crianças; só em casos desesperados – na verdade “várias vezes” – é que ele teve que chamar “o braço da segurança pública”.
O episódio, os precedentes e as consequências educacionais Quanto ao jovem Carlos em questão, Dom Bosco escreve que, diante de contínuos gestos e atitudes de rebeldia, “foi repetidamente admoestado paternalmente, em vão; que ele se mostrou não apenas incorrigível, mas insultou, ameaçou e destratou o clérigo Mazzarello diante dos seus companheiros”, ao ponto que “aquele assistente de índole muito meiga e mansa ficou tão assustado que desde então esteve sempre doente sem nunca ter podido retomar as suas funções e ainda hoje vive doente”. O rapaz havia então fugido do internato e, através de sua irmã, havia informado seus superiores sobre sua fuga somente “quando soube que a notícia não podia mais ser mantida longe da polícia”, o que não havia sido feito antes “para preservar sua honra”. Infelizmente, seus companheiros haviam continuado em seu violento protesto, tanto que – escreveu novamente Dom Bosco – “foi necessário expulsar alguns deles do estabelecimento, outros com muito pesar para entregá-los às autoridades de segurança pública que os levaram para a prisão”.
Os pedidos de Dom Bosco Diante de um jovem que era “desordeiro, que insultava e ameaçava seus superiores” e que depois tinha “a audácia de citar diante das autoridades aqueles que para seu próprio bem […] consagravam suas vidas e seu dinheiro” Dom Bosco sustentava geralmente que “a autoridade pública deveria sempre vir em auxílio da autoridade privada e não de outra forma”. No caso específico, então ele não se opôs a um processo penal, mas com duas condições precisas: que o rapaz apresente primeiro um adulto para pagar “as despesas que possam ser necessárias e que ele assuma a responsabilidade pelas graves consequências que poderiam eventualmente ocorrer”. Para evitar um possível julgamento, que sem dúvida seria explorado pela imprensa contrária, Dom Bosco se adiantou: pediu antecipadamente que “os danos que o assistente sofreu em sua honra e pessoa fossem reparados pelo menos até que ele pudesse retomar suas ocupações ordinárias, que “as despesas desta causa fossem custeados pelo desordeiro” e que nem o rapaz nem “seu parente ou conselheiro”, o senhor Estêvão Caneparo, viessem a Valdocco “para renovar os atos de insubordinação e escândalos já causados”.
Conclusão Não sabemos como este triste caso foi resolvido; muito provavelmente chegou-se a uma conciliação prévia entre as partes. No entanto, é bom saber que os rapazes de Valdocco não eram todos Domingos Sávio, Francisco Besucco ou mesmo Miguel Magone. Havia também jovens “delinquentes” que faziam com que Dom Bosco e seus jovens educadores passassem por maus bocados. A educação dos jovens sempre foi uma arte exigente e não sem riscos; ontem como hoje, há necessidade de uma estreita cooperação entre pais, professores, educadores, guardiães da ordem, todos interessados no bem exclusivo dos jovens.
Descobrindo a vocação missionária
A experiência de Rodgers Chabala, um jovem missionário zambiano na Nigéria, a partir da redescoberta de Dom Bosco ao visitar seus lugares.
O jovem salesiano Rodgers Chabala faz parte da nova geração de missionários, segundo o paradigma renovado que vai além das fronteiras geográficas ou preceitos culturais: da Zâmbia foi enviado como missionário para a Nigéria. O curso missionário que ele viveu em setembro passado foi para ele um momento forte, sobretudo a atmosfera que respirava nos lugares de Dom Bosco: uma verdadeira experiência espiritual.
Dom Bosco começou seu trabalho com seus próprios rapazes, percebendo que ninguém estava cuidando das almas desses jovens piemonteses, que muitas vezes acabavam na prisão por roubo, contrabando ou outros crimes. Se esses jovens tivessem tido um amigo de confiança, alguém que os instruísse e lhes desse bom exemplo, eles não teriam chegado até lá; e assim Dom Bosco lhes foi enviado por Deus. Podemos dizer que tudo começou com o sonho dos nove anos, que Dom Bosco foi compreendendo com o tempo, graças ao auxílio de muitas pessoas que o ajudaram a discernir. Seu desejo pastoral de cuidar das almas dos jovens chegou ao mundo inteiro graças aos missionários salesianos, a começar por aquele grupo de onze enviados à Patagônia, Argentina, em 1875. Inicialmente, Dom Bosco não tinha a intenção clara de enviar missionários, mas Deus, com o tempo, purificou esse desejo e permitiu que o carisma salesiano se espalhasse por todos os cantos de nossa terra.
A vocação missionária salesiana é uma “vocação dentro de uma vocação”, um chamado à vida missionária dentro da própria vocação salesiana. Desde o início, Rodgers sentiu um forte desejo missionário, mas não foi fácil fazer os outros entenderem quais eram suas motivações. Na época de seu aspirantado, quando ainda não estava familiarizado com a vida salesiana, ficou muito impressionado com o testemunho de um missionário polonês e começou a refletir e a lutar consigo mesmo para decifrar as intenções de seu próprio coração. Quando o missionário perguntou “quem quer ser missionário?”, Rodgers não duvidou e iniciou o caminho do discernimento, a começar pela resposta do salesiano polonês de começar amando seu próprio país. Obviamente, muitos desafios começaram a surgir e não faltaram momentos de desânimo. Como ocorreu com Dom Bosco, para Rodgers a ajuda e a mediação de muitas pessoas foi essencial para distinguir a voz de Deus de outras influências e para purificar as próprias intenções. Deus fala através das pessoas; o discernimento não é apenas um processo individual, tem sempre uma dimensão comunitária.
Em setembro passado, Rodgers participou do curso de formação para novos missionários, que precede o envio oficial do Reitor-Mor. Chegando alguns dias depois dos outros, ele se encontrou novamente, depois de vários anos, com alguns de seus companheiros de noviciado e seu antigo diretor do estudantado de filosofia. Ele se juntou ao grupo e imediatamente notou uma atmosfera especial, rostos sorridentes e verdadeira alegria. As reflexões sobre interculturalidade e outros aprofundamentos fornecidos pelo Setor das Missões foram ferramentas úteis para preparar a partida missionária. Durante o curso, os participantes tiveram a oportunidade de visitar os lugares de Dom Bosco, primeiro no Colle Dom Bosco e depois em Valdocco. O Padre Alfred Maravilla, Conselheiro Geral das Missões, perguntou aos missionários recém-nomeados: “Que efeito essas visitas aos lugares santos de Dom Bosco têm em sua vida”. Quando se lê nos livros sobre a vida de Dom Bosco, podem surgir dúvidas e até ceticismo, mas ver esses lugares com os próprios olhos e respirar a atmosfera de Dom Bosco, refazendo sua história, é algo que dificilmente pode ser narrado. Além da memória histórica do que aconteceu com Dom Bosco, Domingos Sávio e Mamãe Margarida, esses lugares têm a capacidade de revigorar o carisma salesiano e de fazer refletir sobre a vocação de cada um. A simplicidade e o espírito de família de Dom Bosco mostram como a pobreza não é um obstáculo à santidade e à realização do Reino de Deus. Quando falamos de Dom Bosco, muitas vezes corremos o risco de omitir a parte mística, concentrando-nos apenas em atividades e obras. Dom Bosco era verdadeiramente um místico de espírito, que cultivava uma relação íntima com o Senhor; este é o ponto de partida para sua missão juvenil.
Assim chegamos ao dia 25 de setembro de 2022: O P. Ángel Fernández Artime, hoje Dom Bosco, preside a missa com os salesianos da 153ª expedição missionária SDB e das irmãs da 145ª expedição FMA, na Basílica de Maria Auxiliadora, em Valdocco. Rodgers lembra-se de ter-se encontrado, alguns dias antes, com seu novo superior da Inspetoria ANN (Nigéria-Níger), e de ter sentido o peso da responsabilidade pela escolha missionária que havia feito. Durante a missa, diz Rodgers, “recebi a cruz missionária e o desejo de ser missionário foi amplamente concretizado”. “A vocação missionária é uma bela vocação, uma vez terminada cuidadosamente a caminhada de discernimento. Isso exige uma abertura de espírito para apreciar o modo de vida de outros povos. Rezemos, pois, por todos os missionários do mundo e por aqueles que estão discernindo a vocação missionária, para que Deus os guie e inspire em suas vidas”.
Depois de ter encontrado Francisco de Sales através da história da sua vida, olhamos a beleza do seu coração e apresentamos algumas virtudes com o objetivo de despertar em muitos o desejo de aprofundar a rica personalidade deste santo.
A primeira fotografia, aquela que imediatamente fascina aqueles que se aproximam de Francisco de Sales, é a amizade! É o cartão de visita com o qual ele se apresenta.
Há um episódio de Francisco aos vinte anos que poucas pessoas conhecem: após dez anos de estudos em Paris, tinha chegado o momento de voltar para a Savoia, para casa, para Annecy. Quatro de seus companheiros o acompanham até Lyon e se despedem dele em lágrimas.
Este fato ajuda-nos a entender e saborear o que Francisco escreveu no final de sua vida, dando-nos uma rara fotografia de seu coração: “Penso que não há almas no mundo que amem mais cordialmente e com mais ternura e, para dizer de forma muito suave, mais amorosamente do que eu, porque agradou a Deus fazer assim o meu coração. E mesmo assim eu amo almas independentes e vigorosas, porque muita ternura perturba o coração, torna-o inquieto e o distrai da meditação amorosa sobre Deus. O que não é Deus não é nada para nós”.
E fala a uma senhora da sua sede de amizade: “Devo dizer-vos em confidência estas poucas palavras: não há homem no mundo cujo coração seja mais terno e sedento de amizade do que o meu, ou que sinta as separações mais dolorosamente do que eu”.
Antoine FAVRE – Retrato, coleção privada Fonte: Wikipedia
Das centenas de destinatários de suas cartas, escolhi três, escrevendo aos quais Francisco destaca as características da amizade salesiana, como ele a viveu e nos propõe hoje. O primeiro grande amigo que encontramos é seu conterrâneo Antoine Favre. Francisco, um brilhante graduado em direito, tem um grande desejo de conhecer e ganhar a estima deste luminar.
Em uma de suas primeiras cartas encontramos uma expressão, que soa como uma espécie de juramento: “Este dom (a amizade), tão apreciável até mesmo por sua raridade, é verdadeiramente inestimável e ainda mais caro para mim, pois jamais poderia ter-me tocado por meus próprios méritos. Viverá sempre em meu peito o desejo ardente de cultivar diligentemente todas as amizades”!
A primeira característica da amizade é a comunicação, dar notícias, partilhar estados de espírito.
No início de dezembro de 1593, nasceu a última irmãzinha de Francesco, Joana, e ele dá prontamente notícia ao amigo: “Soube que minha querida mãe, que está no seu quadragésimo segundo ano, em breve dará à luz ao seu décimo terceiro filho. Eu corro para ela, sabendo que ela se alegra muitíssimo com a minha presença”.
Estamos a apenas há alguns dias da sua ordenação sacerdotal e Francisco confia ao amigo: “Sois o único homem que eu estimo capaz de compreender plenamente o tumulto do meu espírito; de fato, é tremendo presidir a celebração da Missa e é muito difícil celebrá-la com a devida dignidade”.
Nem um ano após sua ordenação, encontramos Francisco “missionário” no Chablais: ele comunica seu cansaço e amargura ao amigo: “Hoje começo a pregar o Advento a quatro ou cinco pessoas humildes: todos os outros ignoram maliciosamente o que significa o Advento”. Alguns meses depois, dá-lhe alegremente a notícia de seus primeiros sucessos apostólicos: “Finalmente as primeiras espigas de milho estão começando a ficar douradas!”
Outro grande amigo de Francisco foi Juvenal Ancina: os dois se encontram em Roma (1599); ambos seriam consagrados bispos alguns anos mais tarde. Francisco escreveu várias cartas para ele; nesta ele implora ao amigo, bispo de Saluzzo, que o mantenha “intimamente unido a ele em seu coração e também se digne a dar-me com frequência os avisos e lembretes que o Espírito Santo vai lhe inspirar”.
Entre os amigos que ele conheceu em Paris, destaca-se aquela com o famoso P. Peter de Bérulle, que ele conheceu no clube da Madame Acarie. A ele Francisco escreveu alguns dias após sua consagração episcopal: “Sou bispo consagrado desde o dia 8 deste mês, o dia de Nossa Senhora”. Isto me leva a implorar-lhe que me ajude ainda mais cordialmente com suas orações. Não há remédio: precisaremos sempre lavar nossos pés, pois caminhamos na poeira. Que nosso bom Deus nos conceda a graça de viver e morrer no seu serviço”.
Outro grande amigo de Francisco foi Vicente de Paulo. Nasceu entre eles uma amizade que continuou além da morte do fundador da Visitação, quando Vicente levou assumiu a Ordem e tornou-se seu ponto de referência até o final de seus dias (1660). Vicente permaneceu sempre grato ao santo bispo de quem havia recebido salutares reprovações sobre seu caráter impetuoso e suscetível. Fez disso tesouro e aos poucos foi-se corrigindo e, pensando em seu amigo, não hesitou em descrevê-lo como “a pessoa que mais do que qualquer outra tinha representado a imagem viva do Salvador”.
Lendo estas cartas descobrimos algumas das qualidades que devem reger uma verdadeira amizade: comunicação, oração e serviço (perdão, correção…).
Encontramos agora muitos homens e mulheres a quem Francisco dirige cartas de amizade espiritual. Alguns exemplos:
À Senhora de la Fléchère ele escreve: “Tende paciência com todos, mas principalmente convosco mesma. Quero dizer que não deveis aborrecer-vos com vossas imperfeições e ter sempre a coragem de recuperar-vos prontamente”.
São Vicente de Paulo – Fundador da Congregação da Missão (Lazaristas) Retrato, Simon François de Tours; Fonte: Wikipedia
À Senhora de Charmoisy ele escreve: “Deveis ter o cuidado de começar suavemente, e, de vez em quando, olhai o vosso coração para ver se ele se manteve doce. Se não se manteve assim, amolecei-o antes de fazer qualquer coisa”.
Estas cartas são um tratado de amizade, não porque falam de amizade, mas porque quem escreve vive uma relação de amizade, sabendo criar um clima e um estilo para que isso seja percebido e dê frutos de vida boa.
O mesmo se aplica à correspondência com as suas filhas, as Visitandinas.
À Madre Favre, que sente o peso de seu cargo, ele escreve: “Deveis armar-vos de coragem e humildade e rejeitar todas as tentações de desânimo na santa confiança que temos em Deus. Como este cargo vos foi imposto pela vontade daqueles a quem deveis obedecer, Deus se colocará à vossa direita e o carregará convosco, ou melhor, Ele o carregará, mas vós também o carregareis”.
À Madre de Bréchard escreve: “Quem sabe preservar a doçura em meio a tristezas e enfermidades e a paz em meio à desordem das suas muitas ocupações é quase perfeito. Esta constância de humor, esta doçura e suavidade de coração é mais rara do que a castidade perfeita, mas é ainda mais desejável. Desta, como do óleo da lâmpada depende a chama do bom exemplo, pois não há outra coisa que construa tanto como a bondade caridosa”.
Santa Jeanne François FRÉMIOT DE CHANTAL, co-fundadora da Ordem da Visitação de Santa Maria Autor desconhecido, Monastério da Visitação de Maria em Toledo, Ohio (EUA); Fonte: Wikipedia
Entre as várias Madres fundadoras, um lugar especial pertence à Fundadora, Joana de Chantal, a quem Francisco escreve desde o início: “Acredito firmemente que tenho uma vontade viva e extraordinária de servir ao vosso espírito com toda a capacidade das minhas forças. Servi-vos do meu afeto e usai de tudo o que Deus me deu para o serviço do vosso espírito. Eis-me aqui todo vosso”.
E o declara a Joana: “Amo este amor. É forte, amplo, sem medida nem reserva, mas doce, forte, puríssimo e tranquilíssimo; numa palavra, é um amor que só vive em Deus. Deus, que vê todas as dobras do meu coração, sabe que não há nada nele que não seja para Ele e, segundo Ele, sem o qual eu não quero ser nada para ninguém”.
Este Deus que Francisco e Joana pretendem servir está sempre presente, é a garantia, para que este amor permaneça sempre uma consagração somente a Ele: “Gostaria de poder expressar-vos o sentimento que tive hoje de nossa querida unidade ao comungar, porque foi um sentimento grande, perfeito, doce, poderoso, e tal que quase poderia ser chamado de um voto, uma consagração”. “Quem poderia ter fundido dois espíritos tão perfeitamente que não eram mais do que um espírito indivisível e inseparável, se não Aquele que é unidade por essência? […]. Mil e mil vezes por dia meu coração está perto de vós com mil e mil bons votos que ele apresenta a Deus para a vossa consolação”. “A unidade sagrada que Deus fez é mais forte que todas as separações, e a distância dos lugares não pode prejudicá-la minimamente. Que Deus nos abençoe sempre com seu santo amor. Ele nos fez um só coração no espírito e na vida”.
Termino com um augúrio, aquele que Francisco escreveu a uma das primeiras Visitandinas, Jacqueline Favre: “Como está o pobre coração tão amado? É sempre corajoso e vigilante para evitar as surpresas da tristeza? Por favor, não o atormente, nem mesmo quando ele vos pregou alguma partida desagradável, mas levai-o de volta e conduzi-o docemente pelo seu caminho. Este coração se tornará um grande coração, feito segundo coração de Deus.
Animação vocacional no coração da pastoral juvenil
A maior dificuldade no serviço de promoção vocacional hoje não reside tanto na clareza de ideias, mas em três aspectos: primeiro, a modalidade da práxis pastoral; segundo, o envolvimento, o testemunho e a oração de toda a comunidade educativo-pastoral e, dentro dela, da comunidade religiosa na “cultura vocacional”.
Com a “mudança climática” em nossas sociedades, os valores mudam, são transmitidos e às vezes camuflados. Essa mudança parece inevitável e irreversível. No entanto, sentimos a responsabilidade de ser proativos e de gerar propostas educativo-pastorais aos jovens que favoreçam sua resposta ao projeto de Deus com liberdade, autenticidade e determinação. Nos últimos anos, muito se tem falado e escrito sobre animação vocacional a fim de revitalizar nossos esforços, reconhecer os novos movimentos do Espírito, abrir-nos à reflexão da Igreja e desenvolver novos entendimentos de acompanhamento e discernimento vocacional.
Hoje, muitos jovens fazem as mesmas perguntas e nem sempre encontram o espaço para examiná-las e aprofundá-las. As perguntas vêm de dentro, como movimentos internos que muitas vezes não sabem como interpretar ou reconhecer. Cada um de nós precisou mais de uma vez da presença de uma pessoa que pudesse nos dar as ferramentas necessárias para passar dessa agitação interior à confiança em um projeto de vida significativo.
Da mesma maneira, entendemos por “cultura vocacional” esse ambiente, criado pelos membros de uma Comunidade Educativo-Pastoral (não só a comunidade religiosa), que promove a concepção da vida como vocação. É um ambiente que permite a cada indivíduo, crente ou não, entrar em um processo no qual ele seja capaz de descobrir sua paixão e seus objetivos na vida. “Sentir-se chamado a algo” significa sentir-se chamado por uma preciosa realidade da qual posso ler e dar sentido à minha vida. Isso implica não tanto fazer o que queremos, mas descobrir o que somos chamados a ser e a fazer.
Pode-se dizer que essa cultura vocacional tem alguns componentes fundamentais: a gratidão, a abertura ao transcendente, o questionamento sobre a vida, a disponibilidade, a confiança em si mesmo e nos outros, a capacidade de sonhar e de desejar, o assombro pela beleza, o altruísmo. Esses componentes são certamente a base de qualquer abordagem vocacional.
Mas temos que falar também dos componentes específicos dessa cultura vocacional salesiana. Esses são os elementos que favorecem, entre outras coisas: o conhecimento e a valorização do chamado pessoal de Deus (à vida, ao seguimento e a uma missão concreta) e os caminhos da vida cristã (secular e de consagração especial); a prática do discernimento como atitude de vida e meio de fazer uma escolha de vida; os aspectos relevantes do próprio carisma salesiano.
Mas quais são as condições para uma “cultura vocacional”?
1.- A oração persistente é a base de todo trabalho pastoral vocacional. Por um lado, para os agentes de pastoral e para toda a comunidade cristã: se as vocações são um dom, devemos pedir ao Senhor da messe (cf. Mt 9,38) que continue a suscitar cristãos com vocações para as diferentes formas de vida cristã. Por outro lado, uma tarefa fundamental de todo trabalho pastoral será a de ajudar os jovens a rezar.
2 – São as pessoas que promovem as vocações e não as estruturas. Não há nada mais provocador do que o testemunho apaixonado da vocação que Deus dá a cada um, só assim aquele que é chamado desencadeia, por sua vez, o chamado nos outros. Nós, salesianos, devemos nos esforçar para tornar compreensível nossa maneira de viver com o Senhor. Todos nós salesianos somos coração, memória e garantes não só do carisma salesiano, mas também da própria vocação.
3.- Outro ponto focal da “cultura vocacional” é a renovação e revitalização da vida comunitária. Onde se vive e se celebra a própria vocação, as relações fraternas, o compromisso com a missão e a acolhida de todos e de cada um, podem surgir verdadeiros questionamento de caráter vocacional.
4. Com os três pontos acima, quisemos expressar que uma ação pastoral nesse campo que não seja sustentada pela oração e pelo testemunho de vida, é comprometida pela incoerência, como aconteceria em qualquer outra área do trabalho pastoral. Além disso, como a vocação exige resistência e persistência, compromisso e estabilidade, devemos ir além de uma mentalidade ou sensibilidade vocacional e possuir uma práxis vocacional, uma pedagogia vocacional com gestos que a tornem credível e a sustentem no tempo e no espaço. Essa pedagogia tem a ver com a centralidade dos itinerários de fé na iniciação cristã, com as propostas de vida comunitária compartilhada e com o acompanhamento pessoal; uma animação vocacional dentro da pastoral juvenil.
5 – Se a confiança em Deus que chama funciona como um pulmão que oxigena a pastoral vocacional, o outro pulmão é a confiança nos corações generosos dos jovens. Os corações de nossos jovens são feitos para grandes coisas, para a beleza, para o bem, para a liberdade, para o amor…, e essa aspiração aparece continuamente como um apelo interior no íntimo de seus corações. Sob esse ponto de vista, pudemos chegar a duas abordagens vocacionais: a primeira focaliza os jovens mais próximos de nosso carisma, ou seja, aqueles que, por causa de suas ligações com as comunidades e obras salesianas, estão abertos a uma experiência de Deus, a relações comunitárias significativas e ao serviço dos jovens; a segunda focaliza aqueles que podem ser atraídos a aprofundar sua compreensão da vocação salesiana como uma escolha de vida fundamental.
6.- Finalmente, para completar o quadro, não esqueçamos a promoção da vocação de consagração especial. Nessa proposta, define-se um aspecto concreto da promoção vocacional, que procura despertar e acompanhar as pessoas chamadas a uma forma concreta de vida (o ministério ordenado, sua própria congregação ou movimento), como uma forma concreta de seguir a Jesus.
A Igreja de hoje precisa também da vocação do consagrado salesiano. Talvez seja preciso lembrar que o dinamismo do discernimento vocacional é uma tarefa espiritual iluminada pela esperança de conhecer a vontade de Deus; é uma tarefa humilde, porque implica a consciência de não saber, mas exprime a coragem de buscar, de olhar e de caminhar adiante, libertando-se daquele medo do futuro que está ancorado no passado e que nasce da presunção de já saber tudo.
A vocação é um processo que dura toda a vida, percebido como uma sucessão de chamados e respostas, um diálogo na liberdade entre Deus e todo ser humano, que toma a forma de uma missão a ser continuamente descoberta nas diversas fases da vida e em contato com novas realidades. Uma vocação, portanto, é o modo particular como uma pessoa estrutura sua vida em resposta a um chamado pessoal para amar e servir; o modo de amar e servir que Deus quer para cada pessoa.
Partindo da citação do Papa Francisco (Evangelii Gaudium, 107), podemos indicar três caminhos a seguir para uma animação vocacional coerente: viver um fervor apostólico contagiante, rezar com insistência e ousar propor. Em resumo: o que podemos fazer? Rezar, viver e agir.
Há muito mais “sede de Deus” do que se poderia pensar
Hoje há tanta necessidade de escuta, de diálogo livre e gratuito, de encontros pessoais que não julgam e não condenam, e tanta necessidade de silêncio e de presença em Deus.
Caros amigos do Boletim Salesiano, não há muito tempo, assisti ao funeral do Papa emérito Bento XVI. Foi ele mesmo quem, um ano após o início de seu serviço como Pontífice, escreveu a magnífica Encíclica “Deus Caritas est”, e nela esta afirmação que me parece a essência da magnífica fragrância do pensamento cristão: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo.” (Deus Caritas est, 1). Certamente essa Pessoa é Jesus Cristo. E a partir desta afirmação, Bento XVI nos deixa com declarações como estas: – «Jesus Cristo é a Verdade feita Pessoa, que atrai o mundo para si. – A luz irradiada por Jesus é a luz da verdade. Toda outra verdade é um fragmento da Verdade que é ele e ao qual se refere. – Jesus é a estrela polar da liberdade humana: sem ele, perde sua orientação, porque sem o conhecimento da verdade, a liberdade é desvirtuada, isolada e reduzida a arbitrariedades estéreis. – Com ele, redescobre-se a liberdade, ela é reconhecida como criada para o bem e é manifestada através de ações e comportamentos caritativos. – É por isso que Jesus dá ao homem plena familiaridade com a verdade e o convida continuamente a viver nela. – E somente o amor à verdade pode impulsionar a inteligência humana para horizontes inexplorados. – Jesus Cristo, que é a plenitude da verdade, atrai para si o coração de cada homem, expande-o e enche-o de alegria”. Em algumas frases, sólidas e densas, há todo um ensinamento cristão que está longe de ser uma “moral” ou um conjunto de regras frias e rígidas, desprovidas de vida. A vida cristã é, antes de tudo, um verdadeiro encontro com Deus.
E isso foi o que eu disse no título desta mensagem. Em minha opinião e convicção profunda, há muito mais “sede de Deus” do que imaginamos, do que parece. Não é que eu queira mudar as estatísticas dos estudos sociológicos ou desenhar uma realidade fictícia. Certamente não pretendo fazê-lo, mas gostaria de fazer compreender que no encontro “visa vis”, no encontro “face a face” com a vida real de tantas pessoas, de tantos pais e mães, de tantas famílias, de tantos adolescentes e jovens, o que se encontra, muitas vezes, é uma vida que não é fácil, uma vida que precisa ser “curada” todos os dias, relações humanas nas quais o amor é desejado e necessário e que deve ser cuidado em cada pequeno gesto, em cada pequeno detalhe, em cada ação. E nesse “face a face” há tanta necessidade de escuta, de diálogo livre e gratuito, de encontros pessoais que não julgam e não condenam, e tanta necessidade de silêncio e de presença em Deus. Digo isto com grande convicção. Aqui mesmo em Valdocco-Turim, onde estou, me surpreende e me enche de alegria quando um grupo de jovens toma a iniciativa de convidar outros jovens para uma hora de presença, de silêncio e de oração diante de Jesus na Eucaristia,ou seja, uma hora de adoração eucarística, e uma centena de pessoas – tantos são os jovens – respondem à convocação. Ou em Roma, no Sagrado Coração de Jesus, em que costumávamos nos encontrar às quintas-feiras à noite, em que jovens e casais jovens, alguns com seus filhos, e até noivos, estavam presentes nesse momento porque sentiam que sua vida precisava desse encontro com uma Pessoa que dá sentido à nossa vida.
E tenho experimentado isso como um exemplo em muitos países e lugares. É por isso que com esta página os convido a fazer como faria Dom Bosco. Ele não hesitou por um momento em propor a seus meninos a experiência do encontro com Jesus. E aquele Deus que é presença, que é Deus conosco, como celebramos no Natal, é ainda o mesmo Deus que chama, que convida, que tranquiliza em cada encontro pessoal, em cada momento de descanso Nele.
Lembro-me de uma das muitas “surpresas” de Dom Bosco. Ele conta em suas Memórias: “Eu estava entrando na igreja pela sacristia e vi um jovem elevado à altura do santo Tabernáculo atrás do coro, no ato de adoração ao Santíssimo Sacramento, ajoelhado no ar, com a cabeça inclinada e encostada à porta do Tabernáculo, num doce êxtase de amor como um Serafim do céu. Chamei-o pelo seu nome e ele logo se levantou e desceu ao chão todo perturbado, rogando-me que não o revelasse a ninguém. Repito que eu poderia contar muitos outros fatos semelhantes para fazer saber que todo o bem que Dom Bosco faz, ele o deve especialmente a seus filhos”. É possível que Jesus ainda seja o mesmo Deus que quer nos encontrar a todos hoje e a muitos outros, ou será que temos vergonha e medo de seguir por esse caminho? É possível que muitos de nós não ousem convidar outros a experimentar o que estamos experimentando e que nos foi dado e oferecido gratuitamente? É possível que, por nos dizerem que isso é antiquado e desatualizado, acreditemos que há demasiadas mensagens negativas e percamos a força para testemunhar que muitos de nós continuamos a desfrutar de cada encontro pessoal com Aquele que é o Senhor da vida?
O Papa Bento XVI estava convicto de que sua vida e sua fé eram “certas” e isso é grande, um encontro com seu Senhor, e é assim que o Papa Francisco se despede nas últimas palavras de sua homilia: “Bento, fiel amigo do Esposo, que sua alegria seja perfeita ao ouvir sua voz definitiva e para sempre”. Continuemos, portanto, meus amigos, a promover esses encontros da Vida que nos dão vida profunda, porque há mais “sede de Deus” do que dizemos, do que nos fazem crer.